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2 HISTÓRICO ACERCA DA INSTALAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA

4.2 SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NO ÂMBITO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL

4.2.4 Fontes de direito utilizadas no âmbito da OMC

4.2.4.1 Tratados

Nos termos do artigo 2.1. “a” da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados – CVDT, de 1969, os tratados podem ser definidos como: “um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação particular”.

Soares expõe que dessa definição pode se inferir quatro importantes consequências.543 Primeira, os tratados celebrados nos moldes dessa Convenção são unicamente os celebrados entre Estados, excluindo se assim os atos celebrados entre Estados e outros sujeitos de Direito Internacional.

Ressalta-se, no entanto, que esse conceito pode ser ampliado se observado a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, de 1986, que contempla os tratados celebrados também entre Estados e Organizações Internacionais ou apenas entre Organizações Internacionais. Nesse sentido o artigo 2.1 “a” da mencionada Convenção de 1986:

Art. 2º (...) 1. Para efeitos da presente Convenção: a) Por “tratado” entende- se um acordo internacional regido pelo direito internacional e celebrado por escrito: i) entre um ou vários Estados e uma ou várias organizações internacionais; ou ii) entre organizações internacionais, quer esse acordo conste de um instrumento único ou de dois ou mais instrumentos conexos e qualquer que seja sua denominação particular.

Outra consequência advinda do conceito, de acordo com Soares, é que os tratados regulados pela CVDT devem ser escritos. Rezek lembra, inclusive, que os tratados internacionais são acordos formais e, portanto, imprescindível a forma escrita. Expõe que essa forma escrita é justamente a diferença entre o tratado e o costume.544

A terceira refere-se ao fato de que os tratados podem apresentar-se num único documento ou em vários, desde que versem sobre um mesmo assunto e contenham as mesmas partes signatárias.

Por fim, extrai-se do conceito mencionado que a denominação é irrelevante para a determinação dos efeitos ou da eficácia do tratado.

543 SOARES, Guido Fernando Silva. op. cit., p. 59. 544 REZEK, José Francisco. op. cit., p. 17.

Sobre a denominação pondera Soares:

Na verdade, a denominação dos tratados internacionais é irrelevante para determinação de seus efeitos ou de sua eficácia. A prática tem mostrado que os Estados não atribuem qualquer consequência jurídica a tal ou qual denominação dos atos bilaterais ou multilaterais internacionais: tratados, acordos, convenções, acordos, ajustes, pactos, ligas, ou outros nomes têm sido utilizados, sem qualquer critério.545

Em se tratando da OMC, mencionou-se no 3.2.3.3.3 o escopo normativo da Organização que compreende os acordos multilaterais e os Plurilaterais anexos ao Tratado de Marraqueche. São esses acordos que compreendem o arcabouço jurídico da OMC e que acabam por se tornarem a fonte de direito mais importante na Organização.546

Interessante observar que o simples ingresso de um novo membro na OMC tem o condão de alterar esse arcabouço que não permanece imutável dada a dinamicidade da própria Organização.

Nesse sentido complementa Amaral:

O complexo dos acordos abrangidos não permanece constante ao longo do tempo: a inserção de emendas aos textos dos compromissos negociados, o ingresso de novos membros na OMC e a celebração dos compromissos negociados, o ingresso de novos membros na OMC e a celebração de convenções inteiramente novas emprestam-lhe caráter dinâmico, a evidenciar a presença de um sistema em contínua expansão. Quando novo membro ingressa na OMC, o Protocolo de Acessão e a respectiva lista de concessões comerciais passam a integrar os acordos abrangidos, de sorte que se tornam exigíveis, desde logo, as obrigações assumidas.547

Lembra Amaral que outros acordos internacionais podem ser fontes de direito na OMC. Nesse sentido expõe Amaral: “alguns acordos abrangidos aludem, expressamente, a outras Convenções Internacionais de modo a incorporar no sistema multilateral de comércio direitos e obrigações já contemplados em outros domínios”.548

É o caso, por exemplo, do artigo XIV bis (1) (c)549 do Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços – GATS que referencia a Carta das Nações Unidas no que tange aos assuntos de manutenção da paz e segurança internacionais. Isso

545 SOARES, Guido Fernando Silva. op. cit., p. 60.

546 AMARAL Jr., Alberto. A Solução de Controvérsias na OMC. São Paulo: Atlas, 2008, p. 132. 547 Ibidem.

548 Ibidem. 549

Artigo XIV – Exceções Relativas à Segurança. 1. Nenhuma disposição do presente Acordo será interpretada no sentido de: c) impedir qualquer Membro de adorar medidas em cumprimento às obrigações contraídas em virtude da Carta das Nações Unidas para a manutenção da paz e segurança internacionais.

“eventualmente permitirá a invocação das resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança com fundamento no capítulo VII da Carta da ONU como meio defesa contra acusações de violação dos tratados da OMC”.550

Outro exemplo é o artigo 2.2 do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio – TRIPs551 no qual se referencia:

a Convenção de Paris sobre Proteção à Propriedade Industrial, a Convenção de Berna sobre Proteção aos Trabalhos Literários e Artísticos, a Convenção de Roma sobre Proteção de Artistas, Produtores de Discos e Organizações de Difusão, e o Tratado sobre a Propriedade Intelectual em matéria de Circuitos Integrados.

Por fim, não se pode deixar de mencionar ainda o artigo 3.2 do ESC. É que nesse artigo referencia-se às regras consuetudinárias de interpretação do direito internacional público e, segundo entendimento do Órgão de Apelação, essas regras são aquelas constantes nos artigos 31 e 32 da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, de 1969.552 Trata-se de dispositivos nos quais constam regras gerais

e suplementares de Interpretação.

Assim dispôs-se nos artigos 31 e 32 da Convenção de 1969:

Artigo 31 – Regra Geral de Interpretação. 1. Um tratado deve ser interpretado de boa fé segundo o sentido comum atribuível aos termos do tratado em seu contexto e à luz de seu objetivo e finalidade. 2. Para os fins de interpretação de um tratado, o contexto compreenderá, além do texto, seu preâmbulo e anexos: a) qualquer acordo relativo ao tratado e feito entre todas as partes em conexão com a conclusão do tratado; b) qualquer instrumento estabelecido por uma ou várias partes em conexão com a conclusão do tratado e aceito pelas outras partes como instrumento relativo ao tratado. 3. Serão levados em consideração, juntamente com o contexto: a) qualquer acordo posterior entre as partes relativo à interpretação do tratado ou à aplicação de suas disposições; b) qualquer prática seguida posteriormente na aplicação do tratado, pela qual se estabeleça o acordo das partes relativo à sua interpretação; c) quaisquer regras pertinentes de Direito Internacional aplicáveis às relações entre as partes. 4. Um termo será entendido em sentido especial se estiver estabelecido que essa era a intenção das partes.

Artigo 32 – Meios Suplementares de Interpretação. Pode-se recorrer a meios suplementares de interpretação, inclusive aos trabalhos preparatórios do tratado e às circunstâncias de sua conclusão, a fim de confirmar o sentido resultante da aplicação do artigo 31 ou de determinar o sentido quando a interpretação, de conformidade com o artigo 31: a) deixa o sentido

550 AMARAL Jr., Alberto. A Solução de Controvérsias na OMC. São Paulo: Atlas, 2008, p. 132-133. 551 ARTIGO 2 – Convenções sobre Propriedade Intelectual 1. Com relação às Partes II, III e IV deste Acordo, os Membros cumprirão o disposto nos Artigos 1 a 12 e 19, da Convenção de Paris (1967). 2. Nada nas Partes I a IV deste Acordo derrogará as obrigações existentes que os Membros possam ter entre si, em virtude da Convenção de Paris, da Convenção de Berna, da Convenção de Roma e do Tratado sobre a Propriedade Intelectual em Matéria de Circuitos Integrados.

ambíguo ou obscuro; ou b) conduz a um resultado que é manifestamente absurdo ou desarrazoado.

Percebe-se, assim, que esses tratados, ao serem referenciados em normas da OMC, acabam por constituir parte do arcabouço jurídico da Organização.