Meios Políticos

Por fim, um conflito internacional pode ser solucionado pacificamente mediante os meios políticos. Os meios políticos enunciados na Carta da ONU são: recursos a entidades e acordos regionais.

Esses métodos consistem na solução do litígio por uma organização internacional, seja ela especializada ou de fins geral, universal ou regional. Assim, os Estados litigantes e que sejam membros de uma mesma Organização, poderão a ela se socorrer a fim de obterem a solução para o conflito.

a) Recursos a entidades internacionais

A expressão recurso, nesse caso, refere-se à possibilidade de um Estado invocar, a uma Organização Internacional da qual seja membro participante, auxílio a fim de solucionar o litígio existente.

No que tange as Nações Unidas, previu-se no tratado constitutivo que qualquer Estado-membro, ainda que não for parte no litígio, poderá solicitar a atenção do Conselho de Segurança ou da Assembleia Geral se se tratar de uma controvérsia que constitua uma ameaça à paz ou a segurança internacional.

Interessante observar que até mesmo um Estado não membro da ONU poderá invocar o auxílio do Conselho de Segurança ou da Assembleia Geral para uma controvérsia que seja parte. Isso dependerá, no entanto, de o Estado concordar previamente com os métodos de soluções pacíficas expostos na Carta constitutiva das Nações Unidas.

Desse modo, no âmbito das Nações Unidas, tanto a Assembleia Geral quanto o Conselho de Segurança podem propor a solução pacífica de controvérsias entre Estados. Lembra Rezek, no entanto, que o Conselho de Segurança tem merecido a preferência dos Estados reclamantes, haja vista ser permanentemente acessível.

A prática revela que o Conselho de Segurança merece a preferência dos reclamantes, por estar permanentemente acessível – ao passo que a Assembleia se reúne apenas durante certo período do ano –, e por contar com meios eficazes de ação, caso decida agir.415

Em se tratando do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o litígio deverá versar especificamente sobre a paz ou a segurança internacional. É o que se interpreta do artigo 37 da Carta da ONU:

Artigo 37 1. No caso em que as partes em controvérsia da natureza a que se refere o Artigo 33 não conseguirem resolvê-la pelos meios indicados no mesmo Artigo, deverão submetê-la ao Conselho de Segurança. 2. O Conselho de Segurança, caso julgue que a continuação dessa controvérsia poderá realmente constituir uma ameaça à manutenção da paz e da segurança internacionais, decidirá sobre a conveniência de agir de acordo com o Artigo 36 ou recomendar as condições que lhe parecerem apropriadas à sua solução.

No artigo 36, referido no artigo 37, encontra-se descrito:

Artigo 36 1. O conselho de Segurança poderá, em qualquer fase de uma controvérsia da natureza a que se refere o Artigo 33, ou de uma situação de natureza semelhante, recomendar procedimentos ou métodos de solução apropriados. 2. O Conselho de Segurança deverá tomar em consideração quaisquer procedimentos para a solução de uma controvérsia que já tenham sido adotados pelas partes. 3. Ao fazer recomendações, de acordo com este Artigo, o Conselho de Segurança deverá tomar em consideração que as controvérsias de caráter jurídico devem, em regra geral, ser submetidas pelas partes à Corte Internacional de Justiça, de acordo com os dispositivos do Estatuto da Corte.

b) Acordos regionais

Previu-se, ainda, nos artigos 52 a 54 da Carta da ONU, a possibilidade da existência de acordos ou entidades regionais que se destinem aos assuntos relacionados à manutenção paz e à da segurança internacional.

Há diversas entidades regionais com esse propósito, como, por exemplo, a Liga dos Estados Árabes, a Organização dos Estados Americanos, entre outras.

Hee Moon Jo menciona que o objetivo da ONU com a permissão dessas cooperações regionais é complementar o sistema da ONU em se tratando de conflitos localizados.

Nesse sentido menciona o doutrinador:

Para reforçar o uso do sistema regional, o art. 52(2) exige que os países- membros de tais sistemas regionais procurem solucionar pacificamente as

controvérsias locais por meio desses sistemas regionais, antes de procurar a ONU.416

Assim encontra-se disposto no artigo 52 da Carta das Nações Unidas:

Artigo 52 1. Nada na presente Carta impede a existência de acordos ou de entidades regionais, destinadas a tratar dos assuntos relativos à manutenção da paz e da segurança internacionais que forem suscetíveis de uma ação regional, desde que tais acordos ou entidades regionais e suas atividades sejam compatíveis com os Propósitos e Princípios das Nações Unidas. 2. Os Membros das Nações Unidas, que forem parte em tais acordos ou que constituírem tais entidades, empregarão todo os esforços para chegar a uma solução pacífica das controvérsias locais por meio desses acordos e entidades regionais, antes de as submeter ao Conselho de Segurança.

Da hermenêutica desse dispositivo resulta que antes de submeter um conflito local ao Conselho de Segurança, os Estados litigantes tentarão solucionar a controvérsia mediante a submissão da controvérsia a entidades regionais. Pretende- se, assim, privilegiar os acordos regionais.

No entanto, salienta-se no artigo 54 da referida Carta, que o Conselho de Segurança deverá sempre ser informado das medidas utilizadas pelas entidades regionais referentes à manutenção da paz e da segurança internacional.

O Conselho de Segurança será sempre informado de toda ação empreendida ou projetada de conformidade com os acordos ou entidades regionais para manutenção da paz e da segurança internacionais.

Concluindo acerca dos meios políticos, observa-se que o caso a ser examinado nesse trabalho remete à utilização de um desses meios, qual seja: recurso à entidade.

Conforme será analisado, ao se socorrer à Organização Mundial do Comércio em virtude das ações tomadas pelo Brasil, a União Europeia fez uso desse modo para a solução pacífica de uma controvérsia comercial.

Dentro da OMC, no entanto, outros meios de solução são utilizados, tal como se analisará no tópico a seguir.

416 _{JO, Hee Moon. op. cit., p. 550.}

4.2 SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NO ÂMBITO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL