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2 HISTÓRICO ACERCA DA INSTALAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA

2.4 DO GATT À ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO – OMC

2.4.1 Primeira fase: 1947 a 1967

A primeira conferência de negociações iniciou-se ainda no ano de 1947, em Genebra, na Suíça, quando participaram vinte e três países. Os Estados contratantes concluíram cento e vinte e três acordos que abrangiam, aproximadamente, quinze mil itens tarifários. Esses itens correspondiam, à época, a 40% do comércio mundial.77

Acerca dessa primeira rodada, interessante mencionar acerca da cláusula da nação mais favorecida. Assim, se um país reduzisse a tarifa de uma negociação com um de seus parceiros comerciais, a redução tarifária deveria se estender a todos os demais países.78

A segunda rodada negocial acerca das questões tarifárias realizou-se em Annecy, França, em outubro de 1949. Dessa vez, a negociação tarifária não se deu entre os vinte e três países participantes da primeira rodada, mas sim entre eles e os onze países que aderiram ao processo de negociação. Consequentemente, as concessões tarifárias ficaram restritas a cinco mil itens.79

Outro impulso no crescimento do comércio mundial veio com a instituição, no ano de 1948, da Organização Europeia de Cooperação Econômica – OECE. Um dos

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SILVA, Roberto Luiz. op. cit., p. 76. 77

Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 197. 78 Ibidem.

seus principais objetivos era administrar o Plano Marshall para a reconstrução da Europa devastada pela segunda Guerra Mundial.

Acerca da OECE descreve-se no Relatório da OMC de 2007:

Os membros da OECE decidiram colocar em prática um programa com o objetivo de eliminar progresivamente, dentro da Europa, as barreiras ao comércio, como as restrições em materia relativas a licenças, quotas e câmbio. O primeiro passo para a eliminação de quotas, em 1949-1950, conduziu a uma forte recuperação do volúme de comércio intra-europeu, a qual ajudou a fomentar o caminho para a criação de um Mercado Comum alguns anos depois.80

As reduções tarifárias estabelecidas nas Rodadas de Genebra e Annecy iriam se expirar em 1º de janeiro de 1951. Desse modo, os Estados contratantes reuniram-se em 1950, na cidade de Torquay, na Inglaterra a fim de decidir sobre a prorrogação dos acordos estabelecidos anteriormente. Inicia-se, assim, a terceira rodada de negociação.

Nessa rodada de negociações, na qual participaram trinta e quatro países, decidiu-se manter intacta a grande maioria das concessões feitas durante as Rodadas de Genebra e Annecy. Além disso, os países decidiram acrescentar ao acordo outros oito mil e setecentos itens tarifários. Nesse ponto, a Rodada de Torquay foi um sucesso.81

No entanto, deve-se frisar que as negociações seriam ainda melhores se não fossem dois fatores. O primeiro referente à alegação de alguns países europeus de que haviam esgotado sua capacidade de negociação nas últimas rodadas e, diante disso, não podiam fazer novas concessões a outros países. E em segundo, a decisão do governo Truman, em 1950, de não submeter a Carta constitutiva da OIC a consideração congressual, tal como já relatado nesse trabalho.82

Confirmada a não concretização da OIC, os países contratantes do GATT resolvem se reunir, em 1954, para deliberar sobre o futuro desse acordo a longo prazo, haja vista que deixaria de ser temporário. Realiza-se, assim, um período de revisão do GATT denominado de Período de Sessão de Revisão. Surge, nesse Período, novamente a proposta de instituir uma organização internacional que tivesse por objetivo regular o sistema de comércio internacional. Era a Organização

80 O referido Mercado Comum mencionado na citação refere-se à Comunidade do Carvão e do Aço criada em 1951, e, posteriormente, a Comunidade Econômica Europeia, conforme será exposto na primeira nota de rodapé do capítulo 5. Cf. Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 197. Tradução livre.

81 Ibidem.

de Cooperação Comercial – OCC. Não obstante os esforços, o Congresso americano novamente decidiu não aprovar a ratificação da Carta da OCC.83

Sendo assim, os países contratantes tiveram de se contentar com a revisão dos dispositivos do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – GATT.

Praticamente o GATT sofreu três modificações substanciais. A primeira modificação foi referente ao Artigo XVIII que continha exceções a fim de amparar indústrias novas. Desse modo: “flexibilizaram-se as normas relativas ao uso de restrições quantitativas com a finalidade de ajudar as indústrias iniciantes”.84 A

segunda modificação importante se referiu a aplicação de restrições quantitativas na balança de pagamentos por parte dos países em desenvolvimento em momentos de crise. E por fim, introduziu-se o artigo XXVIII bis por meio do qual se estabeleceu utilização mais flexível de proteção tarifária pelos países menos desenvolvidos.85

Concluído esse período de revisão do GATT, vinte e dois países, reúnem-se em Genebra, no ano de 1956, para celebrar a quarta rodada de negociações comerciais multilaterais. Obteve-se sucesso nas reduções e consolidações das tarifas comerciais. No entanto, a preocupação dos Estados participantes ficou por conta de como se daria a integração dos países em desenvolvimento no sistema que se instalava.

Nesse interim, seis países europeus – Bélgica, Luxemburgo, França, Alemanha, Itália e Países Baixos – adotam, em 1957, o Tratado de Roma, por meio do qual se estabeleceu a Comunidade Econômica Europeia – CEE. A assinatura desse tratado teve por primórdio a criação, por esses mesmos seis países, da Comunidade Europeia do Carvão e do Ação – CECA, em 1951.86

Surge, assim, outra dúvida entre os participantes do GATT. Como se daria a relação dos membros da CEE com os demais Estados contratantes? Essa interrogação foi a mola propulsora para que, em setembro de 1960, quarenta e cinco países dessem início a quinta rodada de negociações comerciais denominada de Rodada Dillon.87

83 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 198. 84

Ibidem. Tradução livre.

85 Interessante observar que apesar do trato mais favorecido aos países em desenvolvimento, a participação deles, no mercado mundial, à época, diminuiu. Ibidem, p. 197.

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Acerca dessas duas Comunidades maiores explicações serão dadas na nota de rodapé 621 no Capítulo 5.

87 As negociações receberam o nome de Rodada Dillon em homenagem ao Subsecretario de Estado dos Estados Unidos, senhor Douglas Dillon, o qual propôs as negociações.

Assim, o objetivo por essa nova rodada era elaborar uma lista tarifária comum que seria aplicada aos seis membros da CEE na relação com terceiros Estados. Além disso, a Tarifa Externa Comum – TEC estabelecida na CEE não poderia ser maior do que a média das tarifas de cada um dos seis países, em separado, tal como previsto no artigo XXIV do GATT. Caso os Estados membros da CEE se afastassem dessa norma, deveriam fazer concessões tarifárias sobre outros itens como forma de compensação.88

Essas negociações, apesar de satisfatórias não incluíam a agricultura. Acerca desse tema, os membros da CEE não chegaram a um consenso sobre a aplicação da TEC, razão pela qual não aceitaram fazer concessões sobre os produtos agrícolas e agropecuários.89

Conquanto o insucesso acerca dos produtos agrícolas, bem como ínfima participação dos países em desenvolvimento, a Rodada Dillon, encerrada em julho de 1962, teve como resultado positivo a concessão de quatro mil tarifas entre os países participantes. Concessões essas que representavam intercâmbio comercial no valor de quase cinco milhões de dólares. Outro resultado advindo dessa rodada foi o Acordo relativo a tecidos de algodão.90

Acerca da Rodada Dillon, descreve-se no Relatório da OMC: “em suma, por essa Rodada visualizou-se as dificuldades que marcariam as rodadas posteriores, principalmente em relação a agricultura e a integração dos países em desenvolvimento no sistema mundial de comércio”.91

A última rodada de negociações dessa fase foi a Rodada denominada Kennedy que se realizou em Genebra, de 1963 a 1967. Foram dois os fatores que a motivaram. O primeiro em virtude de os países em desenvolvimento quererem integrar o sistema de comércio abrindo assim novas oportunidades de exportações.

E o segundo foi devido à mensagem enviada pelo Presidente dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy, ao Congresso americano na qual enumerava cinco desafios do atual governo, a saber: o crescimento do Mercado Comum Europeu; a pressão cada vez maior sobre a posição da balança de pagamentos; a necessidade de acelerar o crescimento econômico nos Estados Unidos; a ofensiva

88

Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 199. 89

Ibidem. 90 Ibidem.

dos países comunistas em matéria de assistência e comércio; e a necessidade de novos mercados para o Japão e países em desenvolvimento.92

Por essa mensagem, o Presidente norte-americano convenceu o Congresso da necessidade de realização de novas rodadas de negociações comerciais. O Congresso, então, estabeleceu, em 1962, Lei de Expansão do Comércio. Facultou- se por ela que o Presidente assinasse acordos que reduzissem em 50% a tarifas comerciais, com exceção de alguns produtos. Excepcionou-se, também, a concessão tarifária aos países comunistas ou sob influência comunista.93

Em decorrência disso, em maio de 1963, iniciou-se a sexta rodada de negociações. Vários temas foram colocados na mesa de negociação, dentre os quais, a liberação de produtos agrícolas, a inclusão de medidas não tarifárias e o trato diferenciado aos países em desenvolvimento.94

Nas negociações, os Estados participantes aceitarem firmar acordos nos moldes aprovado pelo Congresso norte-americano. Além disso, chegou-se ao consenso de que não se negociaria uma TEC, em separado, com cada país do CEE, mas sim se negociaria com o próprio bloco, como uma única pessoa jurídica de direito internacional.95

Outros sucessos dessa rodada foram: a elaboração, em 1967, de um código denominado de Código Antidumping por meio do qual se abordou o problema do

dumping enfrentado pelos países; celebração de um acordo que abrangia várias

medidas não tarifárias; redução significativa das tarifas dos produtos industrializados. Quanto às reduções tarifárias aplicáveis aos produtos têxteis e agrícolas, e às restrições quantitativas e impostos internos, as negociações não lograram muito êxito.96

Finalizada a Rodada Kennedy, encerra-se a primeira fase de rodadas de negociação – conhecida como “anos dourados do GATT” – na tentativa de instituir um sistema multilateral de comércio.

92 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 200. 93 Ibidem. 94 Ibidem. 95 Ibidem. 96 Ibidem.