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Foi realizada uma entrevistas ao vice reitor106 responsàvel pelo terceiro ciclo em 2017. A organização

e escolha das questões relativas às entrevistas pretendeu obter dados que permitissem dar pistas sobre o entendimento institucional do terceiro ciclo. O guião da entrevista encontra-se em anexo. Fez-se a transcrição da mesma (em anexo) e enviou-se ao vice-reitor para o mesmo validar a entrevista. Após a validação da transcrição da entrevista, pelo coordenador do terceiro ciclo em 2017(via e-mail), efectuou-se a Análise de conteúdo da mesma. Elaboraram-se tabelas temáticas onde se indicaram domínios de Análise e ideias-chave, que emergiram da Análise de conteúdo (em anexo). Destas é possível identificar ideias-chave que surgiram durante a entrevista e que surgem como linhas orientadoras da atuação da instituição.

Algumas ideias-chave

Relativamente à instituição (UNL), surgem como ideias basilares a sua função (a educação, a investigação e a inovação), as suas rotinas e rituais que dependem de escola para escola. Outra ideia basilar remete para as diferentes culturas das escolas que constituem a UNL e para a sua autonomia, que não favorecem a uniformização de regras ou procedimentos comuns a todas as escolas no que se refere ao terceiro ciclo, em particular às práticas de supervisão, monitorização e avaliação da mesma.

Dos graus académicos que a instituição atribui, o doutoramento é o mais elevado. Este tem valor intrínseco para os doutorandos, sendo um momento de crescimento pessoal, de desenvolvimento profissional onde se promove a autonomia, mas também é um momento de solidão.

Nos últimos anos houve alterações do perfil dos estudantes de doutoramento a nível dos objetivos após o doutoramento; se no início pretendiam “ser bons académicos”, seguiu-se a fase de pretenderem “ser bons na investigação”, a que se seguiu “trabalharem em empresas/indústria”, sendo actualmente “ser empreendedor/ ter a sua própria empresa”. Os motivos que desencadearam esta mudança foram o desencanto dos doutorandos por não conseguirem entrar na comunidade académica. Deve-se realçar que a instituição não dà esta informação explicitamente (não há mecanismos formais que alertem os alunos sobre as opções após o doutoramento) mas que os doutorandos após algum tempo apercebem-se do cenàrio. Nesse sentido, e como é enfatizado pelo entrevistado, os alunos após entrar no doutoramento têm a perceção da dificuldade de entrar na comunidade académica, por isso doutorar-se deve corresponder a uma vocação.

Mas esta mudança de paradigma aconteceu em poucos anos, não só nos doutorandos como na própria instituição. A escola doutoral da UNL é uma plataforma que promove o desenvolvimento de soft- skills, de competências transversais nos estudantes e acrescentar valor, que frequentam cursos. Ela tem

106 Entrevista ao professor Paulo Crespo Vice-Reitor da Universidade Nova de Lisboa (11 Abril 2017). O professor é formado na

área da Engenharia Química pela Faculdade de ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, estando a sua carreira ligada à FCT com breve passagem pela Quimigal (no início).

como alvos, não só os estudantes de doutoramento como os orientadores e coorientadores. O seu caracter voluntàrio é uma mais valia.

Relativamente à formação em supervisão ser exigida para o desempenho da supervisão de doutorandos, desta entrevista emerge a ideia da autonomia das escolas da UNL. Estas, caso queriam, têm a liberdade de propor a obrigatoriedade dos orientadores frequentarem cursos sobre supervisão, mas depois deverão propor mecanismos de reforço. Atualmente o recrutamento de supervisores é aleatório, não havendo critérios definidos na UNL. Estes normalmente estão ligados a projectos que poderão ser financiados externamente ou não. Os Programas doutorais tem um mecanismo de alinhamento (fit/ mach) entre temas e supervisores. O doutorando normalmente escolhe o tema. No caso das bolsas de projetos financiados é o supervisor que procura o aluno- O perfil do estudante é escolhido pelo supervisor (entrevistas, conversas informais…) e em alguns casos o conhecimento prévio entre supervisor e estudante é condição necessária.

Relativamente às regras de seleção/seriação de alunos para frequentarem um doutoramento, realça- se a ideia de que estas são essencais para a qualidade dos mesmos. Devem ser justas e os critérios de seriação devem ser adequados ao curso mas conhecidos (públicos). No entanto não faz sentido na UNL esses serem comuns a todas as escolas uma vez que estas têm particularidades. O número de artigos publicados antes do doutoramento não deve ser usado como critério de seriação.

Em relação às características de um bom supervisor, destacam-se algumas características pessoais e interpessoais referidas pelo entrevistado (o supervisor deve gostar do que faz, deve saber comunicar o seu entusiamo ao doutorando, deve ser tranquilo, não deve colocar pressão sobre o doutorando, não deve transferir medo ou incerteza ao estudante e deve perspetivar e ajudar o aluno a perspetivar o seu projecto e os seus obstáculos) bem como uma característica profissional (ter referenciais de qualidade para o projeto doutoral).

Nesse sentido é relevante perceber quais são as finalidades de se ser orientador doutoral, sendo referidas quatros ideias-chave: construção de um profissional na área de investigação; o amadurecimento e crescimento pessoal dos estudantes; o desenvolvimento de competências do estudante.

Da reflexão sobre a supervisão surgem focos temàticos que se revelam importantes para perceber a supervisão doutoral como um todo e como algo que se constrói pela reflexão pessoal:

O trabalho de supervisão não está incluído no trabalho docente.

 Há pressão para se publicar/fazer investigação

 O supervisor deve preparar o aluno para o mundo do trabalho (mundo fora da academia)

 Os supervisores muitas das vezes já não estão na bancada (não fazem o trabalho pràtico)

 O supervisor deve estar presente (acompanhar) no processo de investigação e deve acompanhar com regularidade o estudante

 O supervisor deve discutir o trabalho com o estudante

 O supervisor deve refletir sobre o seu trabalho de supervisão (mas…a reflexão surge com a idade e a maturidade

 Há poucos momentos, mesmo que informais, para refletir sobre a supervisão (A escola doutoral criou um espaço de reflexão).

 Deve haver reuniões com discussão das práticas de supervisão e troca de experiências entre supervisores

As relações entre supervisor e doutorando, que se estabelecem durante a supervisão doutoral, não devem ser hieràrquicas, sendo esta um processo dinâmico e intercomunicativo, que implica colaboração, discussão e debate. Estas relações devem basear-se na confiança, lealdade e ética, mas também em amizade, uma vez que condicionam as práticas de supervisão. A outra condicionante da supervisão é a forma como o supervisor prceciona o doutorando… mão-de-obra qualificada para a investigação ou …um investigador em construção.

As ideias emergentes relativamente às práticas de supervisão remetem para que as mesmas sejam adequados às áreas do doutoramento, ao número de doutorandos que se orienta e para o conhecimento alargado que o supervisor deve possuir das mesmas. Assim são referidas ao longo da entrevista práticas de supervisão: reuniões semanais ou com outra periodicidade, mas sempre que necessário; reuniões individuais; dinamização de grupos; apresentação oral de problemas/dificuldade sentidas no projeto de investigação seguida de discussão

Outra ideia-chave que surge desta entrevista é a pertinência de se conhecer a realidade doutoral, face à atual inexistência de recolha de informação/dados sobre o terceiro ciclo. Nesse contexto faz sentido falar sobre a monitorização do terceiro ciclo, que está ligada ao projecto doutoral (quanto tempo demoram os alunos do supervisor x a doutorarem-se, publicaram, etc.), mas também à comissão de acompanhamento e à comissão científica que é a garantia da qualidade do curso. É possível monitorizar e avaliar o resultado de uma supervisão através das competências adquiridas pelo estudante, das publicações, e da sua empregabilidade. Na UNL não há recolha de dados sobre as práticas, a monitorização tal como a avaliação da supervisão doutoral.

Relativamente à tese, na visão do entrevistado, esta é do aluno, mas tem a marca do supervisor, caso este tenha um papel ativo na supervisão. Já os artigos são da coautoria do supervisor, devendo estes ser escritos durante o doutoramento, já que são uma das aprendizagens que o estudante deve realizar no doutoramento.

A frequência de palavras obtida após a análise de conteúdo pode ser observada na Fig. 38 (NVivo 10). É possível constatar que as palavras-chave desta entrevista são aluno, doutoramento e supervisor. Num segundo plano é ainda possível destacar palavras como supervisão, processo, mecanismo, sentido, trabalho, importante e diferente.

Figura 38 Frequência de palavras obtidas por ánálise de conteúdo à entrevista do vice-reitor, usando o programa NVivo 10.

Efectuou-se ainda a análise da frequência com que palavras semelhantes e conceitos que surgiam na entrevista do vice-reitor (Fig. 39). A palavra aluno(s)/aluna/estudantes foram as que tiveram maior frequência no discurso, bem como as palavras supervisão/ supervisionar/ supervisores e doutorais/ doutoramentos/ doutoral/ doutora. Inferindo-se que estas são centrais ao discurso do vice-reitor.

A entrevista ao vice –reitor permitiu realçar a importância deste estudo, representando neste trabalho a voz da instituição. Dela podem ser inferidos alguns assuntos/temas importantes para a discussão sobre a supervisão doutoral, sobre o qual se faz este estudo. Ela também ancorou o desenvolvimento posterior deste projecto, ao permitir focar a tese em temas relevantes para a UNL.

O estudo preliminar, de carácter predominantemente qualitativo (estudo de caso), teve como objectivo construir e validar um questionário que fosse adapatado à realidade da Universidade Nova de Lisboa (supervisores e doutorandos) e que permitisse concretizar alguns dos objectivos deste trabalho de investigação. A pertinência de validar estes questionários advém de não haver questionários que permitissem alcançar os objectivos deste trabalho e de se pretender ter instrumentos fiáveis e consistentes neste estudo.