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Estratégias para reduzir a retenção e promover a conclusão do doutoramento

2. Tempos de conclusão, fatores que influenciam a conclusão do grau de doutor e

2.3 Estratégias para reduzir a retenção e promover a conclusão do doutoramento

Mainhard e colaboradores, propuseram um modelo de supervisão intitulado Interpersonal behavior

supervision model, já apresentado na página 78 Fig. 20, que se baseia em duas dimensões, a influência e a

liderança, de ajuda / amizade, compreensivo, responsável / liberdade, de incerteza, insatisfeito, de advertência (Mainhard, van der Rijst, van Tartwijk e Wubbels, 2009). Estes autores propõem que a interação desenvolvida entre aluno e supervisor é bidirecional, que ambos os elementos influenciam a comunicação e a relação interpessoal que é estabelecida. A interação entre supervisor e aluno é única, pois não existe um padrão relacional entre o supervisor e os alunos que ele supervisiona. Neste contexto, o supervisor deve apoiar, com sua experiência e conhecimento, o aluno ao longo do processo de investigação, dando-lhe tempo e feedback de qualidade, para que o aluno desenvolva capacidades de investigação de elevado nível. Neste relacionamento as expectativas e os próprios padrões relacionais estão mudando / desenvolvendo ao longo do tempo (Mainhard et al., 2009)

Lee, Kamler, Welligton e Lindsay (2008) consideram a questão de ensinar o aluno de doutoramento a escrever a tese e os artigos como uma das atribuições / obrigações do supervisor que devem ser praticadas regularmente. Pesquisas sobre o modelo contínuo de escrita de tese destacaram que esta é uma atividade de produção de conhecimento que pode apoiar o estudante de doutoramento no seu percurso doutoral e ajuda- lo a monitorizar seu trabalho de doutoramento (Lee & Kamler, 2008; Welligton, 2010; Lindsay, 2015).

Outra estratégia específica que pode contribuir para envolver os estudantes nos doutoramento é a criação e imersão dos doutorandos em ambientes de aprendizagem, com atividades que dão sentido de competência e pertença, promovem autonomia e auto-eficàcia (Virtanen & Pyhältö, 2012). Num artigo recente, Beck (2016) analisa retenção doutoral usando uma abordagem teórica baseada na teoria da autodeterminação e propõe estratégias relacionadas com o desenvolvimento de autonomia, das competências e afiliação para reduzir a retenção dos estudantes.

O encaixe entre a perceção dos supervisores e dos alunos os papéis, do supervisor, do doutorando e sobre o processo de pesquisa doutoral também promove o envolvimento dos alunos e a uma supervisão efetiva (Pyhältö & Vekkaila, 2012). A compreensão das necessidades do aluno em matéria de supervisão, recursos institucionais e desafios do processo doutoral poderão permitir reduzir o tempo de conclusão dos doutoramentos (Vekkaila, Pyhältö, Hakkarainen, Keskinen & Lonka, 2012; Orellana, Darder, Pérez & Salinas, 2016). O feedback oportuno e atempado também é relatado como sendo muito importante para o tempo de conclusão, bem como reuniões frequentes e monitorização da pesquisa do doutoramento (com marcos de pesquisa explícitos, que permitem que os alunos e os supervisores monitorizem o processo) (Latona & Browner, 2001; Schoot, et al., 2013).

Algumas práticas de supervisão que podem reduzir o desgaste e abandono do doutoramento são seguidamente elencadas: escrita e aceitação por estudantes de doutoramento e supervisor de direitos e obrigações (contrato escrito / regras definidas por ambos); treino de habilidades / competências de indução e / ou pesquisa; desenvolvimento da capacidade dos alunos de equilibrar criatividade e crítica; seminàrios regulares sobre o progresso da pesquisa; participação em conferências e workshops ou a participação em reuniões entre pares formalizadas; supervisão por painéis académicos, encontros informais e reuniões colaborativas; redação de relatórios escritos sobre a pesquisa (para monitorizar o progresso) e feedback de

qualidade do supervisor durante todo o doutoramento; uso de livros de registo de pós-graduação – logs ou

logbooks; o incremento do apoio financeiro a estudantes; a socialização dos alunos no grupo de investigação

a que pertencem e que compreende um bom clima institucional; a promoção do sentimento de pertença; a inclusão de estudantes em atividades de departamento; a atribuição de espaço físico (escritório) ao estudante e o suporte técnico (Dorn, Papalewis & Brown, 1995; Pearson, 1996; Fraser & Mathews, 1999; Burnett, 1999; Latona & Browne, 2001; Gatfield, 2005; Gardner, 2008; Pearson, 2012; Beck, 2016). É importante referir que o sentimento de pertença poderà estar aliado ao da continuidade pedagógica que ocorre qundo um doutorando é integrado num grupo de investigação, se esta for entendida como “inter-generational transmission of knowledge and skills, and to the reproduction of academic habitus (in its diferente guises)” (Delamont, Parry & Atkinson, 1997). O grupo de investigação fornece redes de relações sociais que podem servir de suporte ao doutorando, sendo o estudante doutoral enculturado nos hábitos da sua área disciplinar o que inclui “embodied craft skills and a commitment of faith in their experiments” e ainda partilha de capital académico (equipamento, problemas e pessoal). Uma das práticas de supervisão usualmente utilizada é a operacionalização dos programas doutorais através da realização de seminàrios de investigação/ pesquisa74. Esta estratégia/prática permite não só ter um currículo para a pesquisa, mas também criar

ambientes propícios para o desenvolvimento não só dos doutorandos mas também dos outros elementos do grupo de investigação (Malfroy & Yales, 2003). Outra proposta para ajudar os doutorandos é a utilização de planos de aprendizagem (learning plans) que podendo ser aplicados online, permitem que tanto o estudante como o supervisor monitorizem o trabalho que está a ser desenvolvido (Ayers, Kiley, Jones, McDermott & Hawkins, 2016). O suporte de estudantes pelos seus pares é outra estratégia proposta, que demonstrou poder ajudar os doutorandos a superar as dificuldades encontradas durante o doutoramento. Esta estratégia beneficiou tanto os mentores como os estudantes que recebiam o apoio, e permitiu uma melhor integração destes últimos (Mason & Hickman, 2017). Tal como Vekkaila, Pyhältö, Hakkarainen, Keskinen e Lonka, perceberam no seu estudo em 2012, com estudantes Filandeses, os doutorandos enfatizaram o significado pessoal da participação na academia, e o seu desenvolvimento como estudiosos e investigadores, que desenvolvem competências de pesquisa específicas das ciências naturais, mas também aprendem a gerir as tarefas institucionais e a pesquisa doutoral. Eles situam as experiências de aprendizagem-chave em contextos académicos colaborativos, identificando-as com as actividades de pesquisa, os cursos de formação e encontros entre pares e com outros investigadores.

Tal como já foi referido, em 2005 Gatfield publicou um estudo, baseado em Análise de literatura sobre conclusão dos doutoramentos, onde apresentou factores que foram identificados como estando relacionados com a conclusão dodoutoramento, agrupando-os em factores estruturais, factores de suporte e factores exogenous (já apresentados na secção 2.1 do capítulo 3). Este estudo fornece pistas para se perceber o porquê da conclusão não atempada dos doutoramentos, mostrando que há muitos factores que podem

contribuir para tempos de conclusão superiores aos espectàveis, Tabela 12, 13 e 14. Estes factores podem ser usados pelas instituições como forma de averiguar a extensão com que estão a ser implementadas e que apoios poderão ser dados aos doutorandos nessas áreas.

Tabela 12 Factores estruturais relacionados com a conclusão do PhD (Tabela retirada de Gatfield, 2005).

Tabela 13 Fatores de suporte relacionados com a conclusão do PhD (Tabela retirada de Gatfield, 2005).

Duke e Denicolo (2017) num artigo de revisão, revisitam a educação doutoral nos últimos anos e apresentam recomendações para doutorandos, supervisores e universidades. Para supervisores que pretendam fazer uma supervisão doutoral inclusiva, estes autores recomendam “Open and honest communication about expectations, with space for negotiation in order to best meet individual researcher’s needs; Active support of their doctoral researchers’ integration into the broad research culture within the university and the Discipline; Supportive attitude towards a range of skills development and career opportunities. Active participation in and commitment to their own continued professional development, enhancing their supervisory skills and their understanding of the new research context”. Para doutorandos activos é recomendado que “Anyone taking the bold leap into doctoral research should prepare well by investigating for goodness of fit of their needs and expectations with the available supervisory arrangements, the doctoral programme structure(s), the research culture of the potential venue (university) and the training opportunities provided.; 2. Begin the process of becoming an independent researcher by ensuring that discussions, and then negotiations, with supervisors about expectations about the process and relationship take place early and frequently; 3. Seek out and weave into the research process opportunities for skills training, presenting, teaching, networking, publishing and so on, to facilitate development as a researcher and to enhance future career prospects.4. Become active members of local research communities, shaping this to suit own and fellow doctoral researcher’s needs. 5. Consider from the outset the potential real world benefit of the doctoral project and engage with a variety of stakeholders outside of academy, throughout the research process”. Estes investigadores deixam ainda recomendações para as Universidades no âmbito da supervisão doutoral “1. Transparency about course length, expectations and career outcomes for doctoral programmes, at the point of application. 2. Career support tailored for doctoral and postdoctoral researchers to prepare them for the range of career options. 3. Employability skills training with opportunities to translate these skills across context. 4. The creation of inclusive and supportive research communities within universities that incorporate all stages of researcher development and encourage interdisciplinary networks. 5. Continuing professional development for supervisors so that they are better able to support themore diverse doctoral candidate population in preparation for careers in a wide variety of sectors.” (Duke & Denicolo, 2017, s/p).

Parte II| Estudo empírico. A supervisão

doutoral na Universidade Nova de Lisboa

“ Placement in prestigious research institutions for STEM (science, technology, engineering, and mathematics) PhD recipients is generally considered to be optimal.(…). We find that doctoral institutional prestige plays a significant role in matching individuals with their preferred institutional type, but that advisor involvement only has an impact on those with a preference for research oriented institutions.”

(Pinheiro, Melkers & Newton, 2016: 56)

A supervisão doutoral é uma das áreas da educação doutoral que tem maior impacto na conclusão do doutoramento e no perfil do futuro doutorado. Boas práticas de supervisão levam a tempo de conclusão dos doutoramentos menores, a melhores formações e melhores profissionais e aumentam o prestígio da instituição onde ocorrem. Neste contexto e numa era de globalização, onde a imagem da instituição é relevante para a sua sobrevivência, é importante para a Universidade Nova de Lisboa, conhecer as práticas de supervisão que os seus orientadores e coorientadores promovem e perceber de que forma estas estão a ser sentidas e vivênciadas pelos doutorandos.

Pelos dados apresentados na página da UNL, a diversidade de estudantes a frequentarem a instituição é um facto: no ano lectivo 2015/2016 dos 19867 estudantes inscritos, 2119 eram estudante estrangeiros de 103 Nacionalidades) (http://www.unl.pt/nova/factos-e-numeros), sendo necessário adequar as práticas de ensino, mas também as práticas de supervisão não só ao nível dos mestrados mas também ao nível dos doutoramentos.

Outro factor relevante é visibilidade da UNL a nível internacional: esta encontra-se no ranking “TOP UNDER 50” (sendo a única Universidade Portuguesa entre as 50 melhores do mundo com menos de 50 anos), no “LEIDEN RANKING 2016 “(onde lidera, pelo segundo ano consecutivo, a nível nacional, o impacto da produção científica, que está acima da média mundial) e no U-MULTIRANK 2016 (a UNL é a universidade portuguesa com maior número de pontuações màximas nas áreas avaliadas) (http://www.unl.pt/nova/factos-e-numeros, informações retiradas a 1 de Julho de 2018), o que aumenta a responsabilidade não só de se manter como também de melhorar a sua prestação e por consequência a sua classificação.

De realçar que a área de investigação, intimamente relacionada com o terceiro ciclo, apresenta uma boa performance, tendo havido 4151 Publicações (ano 2014), das quais 1489 foram publicações indexadas na Web of Science (ano 2014), usufruindo ainda de 12 Bolsas European Research Council (http://www.unl.pt/nova/factos-e-numeros, informações retiradas a 18 de Julho de 2018).

Por todas as razões enumeradas, atualmente é o momento certo para se fazer um estudo sobre as práticas de supervisão doutoral, não só do ponto de vista dos supervisores como também do ponto de vista dos doutorandos.