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A supervisão no contexto do ensino superior português apresenta duas vertentes, distintas entre si pelas finalidades: a supervisão pedagógica (orientação da prática pedagógica após o mestrado na área da educação) e a supervisão da pesquisa (orientação de um projeto na licenciatura, mestrado ou doutoramento). A supervisão pedagógica ocorre num momento inicial da carreira de um professor do ensino básico ou

secundário, mas irá prolongar-se por todo o seu percurso profissional, já a supervisão da pesquisa é pontual e ocorrerá em tempo limitado (durante a execução de um projeto).

A supervisão pedagógica ocorre na etapa inicial da profissionalização de professores do ensino básico ou secundário, no final de um Mestrado profissionalizante, sendo realizada numa instituição do ensino superior e orientada por um docente, cuja habilitação seja o grau de doutor -o supervisor- mas também por um professor que lecione no ensino básico ou secundário -o professor cooperante. A supervisão pedagógica deve ainda ocorrer ao longo do tempo, com o foco no desenvolvimento profissional sendo neste contexto desenvolvida por pares.

A supervisão da pesquisa ocorre nos períodos que os estudantes fazem projetos na licenciatura, no mestrado, ou durante o doutoramento, podendo os supervisores ser estudantes mais graduados (caso da licenciatura, ou mestrado) em coadjuvação com um orientador com o grau académico de doutor. A supervisão da pesquisa acontece pontualmente no percurso académico do estudante.

Enquanto a primeira (supervisão pedagógica de professores) tem sido objeto de estudo desde os anos oitenta, a segunda (supervisão da pesquisa) tem sido menos estudada, embora as suas repercussões para os estudantes possam ser muito relevantes não só em termos profissionais como pessoais.

4.1 A Supervisão pedagógica: da formação de professores ao seu desenvolvimento

profissional

“The goal of the supervisor is not simply to help teachers solve immediate problems, but also to engage with teachers in the study of the processes of teaching and learning”

(DiPaola & Hoy, 2008: 82)

O conceito de supervisão47 é muito lato, podendo esta ação ser realizada em vàrios contextos, com

diferentes metodologias e práticas, e relativa a diferentes domínios (a supervisão pode ser pedagógica, administrativa e de inspeção) (Rangel, 2001: 57). No caso particular do sistema de ensino português, este conceito é direcionado para a melhoria das práticas letivas de ensino e aprendizagem dos professores do ensino bàsico e secundàrio, sendo essencialmente uma supervisão pedagógica.

O termo supervisão muitas vezes tem um sentido pejorativo, uma vez que é associado a conceitos como “crítica”, “imposição”, “vigia”, “autoritarismo” e “fiscalização” (Vieira, 1993: 60). Nesse contexto a supervisão tem natureza prescritiva, conferindo ao supervisor um papel dominante na tomada de decisões sobre “quem faz o quê, para quê, como, onde e quando” (Vieira, 1993: 60), estando intimamente relacionada com conotações de poder e de relacionamento socioprofissional entre professores orientadores e professores estagiàrios (Alarcão & Tavares, 2010: 3). Mas a supervisão pode também ser entendida como uma monitorização sistemática da prática pedagógica, através de procedimentos de reflexão e de experimentação. O supervisor (experiente, perspicaz, inteligente, sensato e simpàtico, perseverante e imaginativo) deve ter uma postura reflexiva e uma formação especializada.

4.1.1 A supervisão pedagógica- Formação inicial de professores

O conceito de supervisão pedagógica foi introduzido na educação em Portugal por Isabel Alarcão e Tavares (1987), centrando-se esta na sala de aula e no desenvolvimento humano e profissional de professor. Neste contexto a supervisão está diretamente relacionada com a monitorização do desenvolvimento profissional do professor, sendo as áreas abrangidas pela mesma a pedagógica, a científica, a administrativa/organizativa e participativa/social e humana (Alarcão,& tavares, 1987; Rangel 2001; Oliveira- Formosinho, 2002). As tarefas de supervisão da primeira área serão ajudar e orientar o professor, na segunda área (Científica) a observação e interpretação de dados; na terceira área (organizativa e administrativa) a avaliação numa perspetiva formativa e por último na área Humana/social e participativa a sua reorientação (Alarcão & Tavares, 1987; Rangel, 2001).

Também Cortesão (1991) reflete sobre a necessidade de partilha de experiências e reflexão por parte do professor alterando assim o conceito de supervisão pedagógica. A supervisão pedagógica inicial está intimamente relacionada com a socialização profissional de um professor em início de carreira e a sua integração no meio escolar (Roldão, 1999). Em 2000 Sà-chaves salienta a importância de uma supervisão colaborativa e não transmissiva (supervisão que implica a transmissão de conhecimentos entre supervisor e supervisionado).

Donald Schön (1930-1997), numa perspetiva cognitivista-construtivista de formação, considera que a formação deve ser suportada por uma reflexão dialogante entre o que é observado/ experienciado, o que conduz a uma construção ativa do conhecimento na ação, numa perspetiva de aprender a fazer fazendo. Para este autor há três tipos de reflexão: a reflexão na ação (em simultâneo), a reflexão sobre a ação (em retrospeção) e a reflexão sobre a reflexão na ação (sobretudo prospetiva). Para Alarcão (1996) esta última promove o desenvolvimento profissional e a sua construção pessoal. Assim, a função do supervisor pedagógico é questionar, levar o formando a refletir, e a criticamente encontrar soluções para as várias situações com que se depara. O supervisor é um facilitador de aprendizagens que estando próximo do formando o incentiva/ estimula a refletir, a melhorar e a encontrar as suas próprias respostas

Em 2003 um novo entendimento do conceito de supervisão pedagógica é apresentado por Isabel Alarcão e Tavares, refletindo um novo olhar para o que é a escola - a escola é uma instituição dinâmica, aprendente e reflexiva. Neste sentido, um supervisor é um “líder de comunidades formativas “ ou “comunidades aprendentes”, que promove uma supervisão colaborativa (Alarcão & Tavares, 1987; Alarcão 2009: 126). Para estes autores a supervisão pedagógica é não só um processo que compreende várias tarefas e aprendizagens tanto pedagógicas, como didàticas como ainda organizacionais, culturais e de socialização. Esta compreende um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. O formando e o supervisor partilham conhecimento que é re e co-construído diariamente, o que pressupõe uma regulação permanente. Durante este processo o supervisor vai promovendo uma relação entre a teoria e a prática, os saberes académicos e os transversais, ensinando o aluno a analisar, interpretar e refletir no processo. Neste sentido, o papel do supervisor já não é de

controlador, mas de estimulador do trabalho de ser professor. A principal função da supervisão é “(…) fomentar ou apoiar contextos de formação que traduzindo-se numa melhoria de escola, se repercutem num desenvolvimento profissional dos agentes educativos (professores, auxiliares e funcionàrios) e na aprendizagem dos alunos que nela encontram um lugar, um tempo e um contexto de aprendizagem.” (Alarcão, 2001: 19). Se por um lado o supervisor deve ajudar e suportar as ações do professor estagiàrio a principal função do professor passa obrigatoriamente por “colaborar com o supervisor para que” este “processo se desenrole nas melhores condições e os objetivos definidos sejam atingidos” (Alarcão & Tavares, 2003, 59). No âmbito da formação inicial, a supervisão pedagógica designa um processo interativo entre um professor, em princípio mais experiente e mais informado, e um candidato a professor (Tavares & Alarcão, 2003: 16) em que o primeiro orienta o segundo através de uma comunicação dialógica permanente, visando uma autonomia profissional do formando. A supervisão pedagógica é um constructo complexo mas contextualizado pois o processo supervisivo só adquire sentido quando adequado à situação que o motiva e desencadeia. Já para Vieira (2009) a supervisão é a “teoria e prática de regulação de processo de ensino e de aprendizagem em contexto educativo formal, instituindo a pedagogia como o seu objetivo” (Vieira, 2009: 199).

4.1.2 A supervisão pedagógica e o desenvolvimento profissional dos professores

“O professor é a pessoa; e uma parte importante da pessoa é o professor”

(Jennifer Nias citada in Nóvoa, 2000: 9).

Tal como foi referido anteriormente, a supervisão pedagógica no sistema educativo português tem um papel muito importante na formação inicial de professores do ensino bàsico e secundàrio (supervisão vertical), mas também no desenvolvimento profissional dos mesmos (supervisão horizontal) (Alarcão e Tavares, 1987).

A supervisão têm como funções principais, o melhoramento da prática (a nível cognitivo, a nível de sistemas representacionais e sistemas de crenças, a nível da sua dinâmica pessoal em sala de aula e nas suas práticas de ensino - desenvolvimento de estratégias pedagógicas diversificadas e adequadas), o desenvolvimento do potencial individual para a aprendizagem (através do questionamento e da reflexão sistemàticos baseada numa constante colocação e resolução de problemas) e a promoção da capacidade de autorrenovação da organização (rigor, planeamento e eficàcia entre outros) (Formosinho, 2000 e 2002).

O conceito de desenvolvimento profissional é recente, tem caràcter positivo, holístico e dinâmico e, pressupõe a Análise da educação como praxis, isto é, “como prática que se desenvolve em contextos reais, carregada de intenções e de interpretações subjetivas, construída por diversos atores e refletida em usos de natureza prática” (Gimeno, 1999: 79). Neste sentido esta implica uma construção por parte do professor de saberes profissionais que vão ocorrendo ao longo do tempo com base nas suas potencialidades (Ponte, 1998). É neste último contexto que surge em 2012 o decreto regulamentar n.º 26/ 2012 de 21 de Fevereiro, que refere a criação de uma bolsa de avaliadores (professores profissionalizados) com formação em

supervisão pedagógica. Assim, a supervisão implica trabalho interpares. De acordo com Alarcão & Tavares (2003) a supervisão pedagógica é “uma atividade que visa o desenvolvimento e a aprendizagem dos profissionais”, sendo um dos seus objetivos o desenvolvimento, “nos professores, (de) competências metacognitivas que lhes permitam, conhecer, analisar, avaliar e questionar a sua própria prática docente, assim como os substratos éticos e de valor a ela subjacentes” (Garcia, 1999: 153). O professor deve ser capaz de refletir com base nas suas experiências pessoais, nos seus conhecimentos, nas realidades pessoais e contextuais dos seus alunos e das suas aulas, e no constante questionamento das crenças subjacentes às suas atitudes. Neste sentido o conceito de desenvolvimento profissional e pessoal, assume-se como um processo de supervisão que promove mudanças pessoais de foro moral e deontológico.