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Escala de fragilidade do Cardiovascular Health Study

No documento Manual prático de geriatria (páginas 47-49)

Fried  et  al.  (2001)2  analisaram  os  dados  do  Cardiovascular  Health  Study  na  busca  de  um  instrumento  composto  de

variáveis  capazes  de  predizer  eventos  adversos  reconhecidamente  relacionados  com  essa  síndrome.  Propuseram,  a  partir desses dados, uma escala composta por 5 itens – perda de peso, força, lentidão, exaustão e gasto calórico – que teve ampla e imediata aceitação entre os especialistas da área (Tabela 3.1).

Esses autores propuseram que o fenômeno avaliado por esse instrumento era o fenótipo da fragilidade, sendo, portanto, manifestação objetiva da interação de fatores genéticos e ambientais.

Apesar  de  controvérsias  metodológicas  e  limitações  associadas  ao  modelo  adotado,  esse  instrumento  foi  bastante replicado e encontrada uma ampla evidência da associação daqueles definidos como frágeis – 3 ou mais dos 5 itens – com eventos adversos.17

Em 2016, Da Mata et al.18 fizeram uma revisão sistemática e metanálise com o objetivo de determinar a prevalência da

síndrome  de  fragilidade  na  América  Latina  e  no  Caribe.  Embora  os  29  artigos  incluídos  tenham  sido  selecionados  por métodos rigorosos, os autores não consideraram com o mesmo rigor alguns aspectos da definição conceitual e operacional da fragilidade, superestimando fortemente a dimensão de seu principal desfecho, a prevalência de fragilidade, calculada em 19,6%,  variando  de  7,7  a  42,6%.  No  mesmo  ano,  Gray  et  al.19  também  fizeram  uma  revisão  sistemática  dos  principais

instrumentos de rastreio de fragilidade nos países em desenvolvimento. Os autores evidenciaram que o Brasil e o México contribuíram com 60 dos 70 trabalhos analisados. Além disso, a escala de fragilidade proposta por Fried et al.2 foi a mais

empregada, seguida pelo índice de fragilidade do Canadian Study on Health and Aging.20

Tabela 3.1 Escala de fragilidade proposta pelo Cardiovascular Health Study.

Item Medida

Perda de peso Considerados como positivos aqueles com relato de perda não intencional de mais de 4,5 kg em 12 meses. Durante o acompanhamento, foi mensurado o índice de massa corporal (IMC) e quando o resultado comparativo ao ano precedente para o peso era ≥ 0,05 pela fórmula (peso no ano anterior – peso atual/peso no ano anterior), sem relato de perda intencional, era também considerado positivo para perda de peso Força muscular Foi usado um dinamômetro manual no membro superior dominante, solicitando ao participante que, por

vezes, exercesse a maior força possível. Aqueles no primeiro quintil, após ajuste do resultado para sexo e IMC, foram considerados positivos para o quesito “fraqueza muscular”

Sensação de exaustão Foram usadas 2 a rmativas da Center of Epidemiological Studies Depression Scale (CES-D), os itens 7 e 20: “Eu me sinto cansado em tudo que faço” e “Não posso continuar desta forma”. Aqueles que responderam “sim” para qualquer uma das 2 a rmativas foram considerados positivos para o quesito “sensação de exaustão” Lenti cação da marcha Foi avaliado o tempo gasto para caminhar um percurso de 4,6 metros em linha reta e, após ajuste para altura e

sexo, foram considerados positivos para o quesito “lenti cação da marcha” aqueles do primeiro quintil Diminuição da atividade física Foi empregado o questionário Minessota Leisure Time Activities (MLTA) e, para cada atividade exercida pelo

idoso, calculado o gasto calórico semanal. Foram considerados positivos para o quesito “diminuição da atividade física” aqueles do primeiro quintil

Fonte: Fried et al., 2001.2

Com base nos critérios propostos por Fried et al. (2001),2 Moreira e Lourenço (2013)21 estudaram uma amostra de 847

idosos  da  comunidade  na  Zona  Norte  do  Rio  de  Janeiro.  Encontraram  uma  prevalência  de  9,2%  de  fragilidade  entre  os indivíduos  com  65  anos  ou  mais  da  amostra,  observando,  ainda,  associação  significativa  de  fragilidade  com  desfechos indesejáveis.  Os  trabalhos  de  Vieira  et  al.  (2013)22  e  Ricci  et  al.  (2014)23  encontraram  prevalências  semelhantes  (8,7  e

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9,7%,  respectivamente)  pelos  mesmos  critérios  diagnósticos,  em  amostras  comunitárias.  Seus  achados  apontam  que  a fragilidade  foi  diretamente  associada  a  dependência  funcional,  quedas,  idade  avançada,  pior  autopercepção  de  saúde, doenças cardiovasculares e hospitalizações. Ainda no cenário nacional, Yassuda et al. (2012),24 usando os critérios de Fried

et  al.  (2001),2  observaram  que  os  indivíduos  frágeis  apresentaram  pior  desempenho  cognitivo.  Tais  achados  foram

corroborados por Faria et al. (2013).25 No estudo Saúde Bem­Estar e Envelhecimento (SABE), Alexandre et al. (2014)26

observaram que sedentarismo, sintomas depressivos, alterações cognitivas e número de comorbidades foram associados a mais de 1 dos 5 itens que compõem o instrumento proposto por Fried et al. Além disso, Silva et al. (2014)27 identificaram

que os frágeis apresentavam redução da concentração de hemoglobina e elevação de marcadores inflamatórios.

Índice de fragilidade do Canadian Study on Health and Aging

Mitnitski  et  al.  (2004),20  compreendendo  a  complexidade  do  conceito  de  fragilidade,  analisaram  uma  coorte  de  9  mil

idosos.  Examinando  os  indivíduos  por  meio  de  avaliação  geriátrica  ampla  e  analisando  os  resultados  por  um  modelo multidimensional,  esses  autores  observaram  o  comportamento  de  um  conjunto  de  itens  capazes  de  predizer  eventos adversos  na  população  do  Canadian  Study  on  Health  and  Aging.  Esse  modelo  baseou­se  em  2  premissas  principais:  a relação  entre  envelhecimento  (idade  cronológica)  e  aumento  do  risco  de  eventos  adversos;  e  a  acurácia  do  Índice  de Fragilidade – Avaliação Geriátrica Ampla (FI­CGA) na determinação dos indivíduos sob risco de fragilidade. A primeira premissa baseia­se em evidências de vários estudos – quanto mais velho é o indivíduo, maiores são os riscos de apresentar essa condição.28  Já  o  FI­CGA  (Tabela  3.2)  é  composto  por  um  conjunto  de  itens  abordando  as  diversas  dimensões  do

envelhecimento, desde os aspectos biológicos, como patologias apresentadas e limitações nos vários domínios – cognitivo, emocional, físico –, até alterações na capacidade funcional.

A capacidade do instrumento de predizer eventos adversos a partir de um grande número de informações, associada a certa flexibilidade na composição dos itens, consiste em aspecto fortemente positivo. Em contrapartida, a necessidade de submeter  os  indivíduos  a  avaliações  multidimensionais  extensas  impõe  limitações  importantes  quanto  ao  investimento, tanto do ponto de vista financeiro, quanto da disponibilidade de recursos humanos especializados.

Consensos

Apesar  da  ampla  evidência  sobre  os  inúmeros  desfechos  indesejáveis  associados  à  fragilidade,  pesquisadores  de  todo  o mundo ainda encontram limitações em identificá­la. Neste sentido, os consensos, ou seja, o grau de compreensão existente entre os pares sobre determinada questão, vêm sendo cada vez mais usados. Rodríguez­Mañas et al. (2013),29 empregando

o  método  Delphi,  concordaram  em  conceituar  a  fragilidade  biológica  no  ambiente  clínico.  Dentre  os  pesquisadores envolvidos, mais de 80% concordaram em relação a fragilidade: É uma síndrome clínica É diferente de incapacidade funcional É um aumento da vulnerabilidade do indivíduo, no qual o menor estresse pode causar perda funcional Pode ser revertida ou atenuada por intervenções terapêuticas É mandatório que todos os profissionais de saúde saibam identificá­la É útil na atenção primária. Tabela 3.2 Resumo dos itens observados no FI­CGA.* Lista de dé cits Visão Audição

Auxílio para alimentar-se Auxílio para vestir-se Habilidade de autocuidado Auxílio para caminhar

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Auxílio para ir ao banheiro Auxílio para usar o telefone Auxílio para fazer compras Auxílio para preparar refeições Habilidade de medicar-se Problemas nos pés

Habilidade do manejo nanceiro Morar só

Tosse? Cansaço?

Alteração da pressão arterial? Problemas circulatórios? Acidente vascular? Artrite? Doença de Parkinson? Problemas dentários? Controle es ncteriano? Diabetes Problemas de pele *Índice de Fragilidade – Avaliação Geriátrica Ampla. Morley et al. (2013)30 pontuam, entretanto, que este primeiro consenso foi incapaz de definir acertadamente um curso

claro  da  fragilidade,  dada  a  heterogeneidade  de  seus  pesquisadores  e  a  multiplicidade  dos  mecanismos  envolvidos  na síndrome. Todavia, assim como Rodríguez­Mañas et al. (2013),29 Morley et al.30  também  concordaram  que  a  fragilidade

biológica  é  uma  síndrome  clínica  de  múltiplas  causas  e  contribuintes,  na  qual  a  redução  da  força,  o  desempenho  e  as funções  fisiológicas  aumentam  a  vulnerabilidade  do  indivíduo  para  dependência  funcional  e/ou  morte.  Morley  et  al.30

também endossam que todo indivíduo com mais de 70 anos de idade deve ser submetido a uma avaliação de rastreio para fragilidade por meio de instrumentos simples e validados para cada cenário de observação.

No  Brasil,  ao  longo  de  2016,  pesquisadores  reuniram­se  para  elaboração  do  Consenso  Brasileiro  sobre  Fragilidade. Constituído por mais de 20 professores de geriatria e pesquisadores da área de envelhecimento, ementas sobre o conceito da  síndrome  de  fragilidade,  epidemiologia,  fisiopatologia,  diagnóstico,  instrumentos  de  rastreio,  tratamento  e  prevenção, foram  amplamente  discutidas  em  teleconferências,  documentos  eletrônicos  e  encontros  presenciais.  Neste  momento encontra­se em elaboração o relatório final do documento cujas linhas gerais discorrem sobre o estado da arte da síndrome de fragilidade no país.

No documento Manual prático de geriatria (páginas 47-49)