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Potencialização de antidepressivos

No documento Manual prático de geriatria (páginas 74-79)

Lítio,  antipsicóticos  atípicos,  buspirona,  folato  e  hormônio  tireoidiano  são  exemplos  de  fármacos  capazes  de  aumentar  a eficácia antidepressiva do tratamento.

O  lítio,  por  seus  efeitos  colaterais  (como  diabetes  insípido  nefrogênico,  distúrbios  neurológicos,  maior  chance  de intoxicação  por  interação  com  diuréticos  tiazídicos,  principalmente,  e  nefrotoxicidade),  não  é  uma  boa  escolha  para  a população  geriátrica.  Além  disso,  é  necessário  manter  estreita  vigilância  sobre  a  litemia  (janela  terapêutica  estreita).  Os anticonvulsivantes  ácido  valproico,  carbamazepina  e  lamotrigina  são  uma  alternativa  mais  segura  ao  lítio,  usados  no transtorno bipolar.

O uso de antipsicóticos atípicos que, ao contrário dos típicos, como o haloperidol, são antagonistas D2 relativamente fracos,  apresenta  benefícios  nos  transtornos  do  humor  por  seus  efeitos  nos  receptores  serotoninérgicos  (5HT).  Esses medicamentos bloqueiam os receptores 5HT1A, 5HT2A e 5HT2C. O antagonismo desses receptores estimula a liberação de  dopamina  e  NE  no  córtex  pré­frontal  e  exerce  ações  pró­cognitivas,  porém  particularmente  antidepressivas.  Vários antidepressivos  conhecidos  e  experimentais  são  antagonistas  de  5HT2C,  desde  alguns  antidepressivos  tricíclicos  até fluoxetina,  mirtazapina  e  agomelatina.  No  Brasil,  a  Agência  Nacional  de  Vigilância  Sanitária  (Anvisa)  ainda  não  liberou nenhum antipsicótico atípico para esse fim.8,24

A  buspirona  também  é  um  agonista  parcial  5HT1A,  porém  é  mais  fraca  que  a  vilazodona,  ocupando  uma  quantidade bem menor de receptores.8 O folato, por meio da BH4 (tetra­hidrobiopterina), é fundamental para síntese de neurotransmissores monoaminérgicos, interferindo na produção de serotonina, dopamina e NE, e também silencia os genes para produção da COMT (catecol­O­ metiltransferase), enzima que pode diminuir a quantidade de dopamina, principalmente no córtex pré­frontal. A deficiência de folato pode estar associada tanto à depressão quanto à resistência aos antidepressivos.8 A levotiroxina pode estimular os receptores monoamínicos por meio da regulação da organização neuronal, arborização e formação de sinapses. Geralmente é usada em baixa dose (25 mg).8

Escolha do antidepressivo

Deve­se  optar  por  adaptar  o  tratamento  com  antidepressivo  com  base  nos  sintomas  para  escolher  ou  combinar  vários antidepressivos. Essa estratégia leva à criação de um portfólio de diversos agentes para o tratamento de todos os sintomas residuais da depressão unipolar até que o paciente obtenha remissão duradoura. Algumas estratégias são usadas quando o paciente não responde ao tratamento. Há evidências limitadas sobre qual seria a melhor estratégia. Há uma preferência por mudar  o  antidepressivo  quando  o  primeiro  tratamento  tem  efeitos  colaterais  intoleráveis,  ou  quando  não  há  resposta, enquanto  a  preferência  é  potencializar  o  primeiro  tratamento  com  um  segundo  quando  se  obtém  resposta  parcial  ao primeiro.

Na troca de antidepressivos, as substâncias mais comumente usadas, em caso de falha terapêutica na classe dos ISNS (serotoninérgicos e dopaminérgicos), foram a venlafaxina e a duloxetina, e sua eficácia foi incerta naqueles não responsivos a vários ISRS. Já na classe dos tricíclicos, a amitriptilina e a imipramina foram as mais usadas e a eficácia foi comprovada naqueles  não  responsivos  aos  ISRS.  Deve­se  ter  cuidado  com  a  alta  dosagem,  o  que  pode  ser  letal.  A  bupropiona  teve eficácia  similar  aos  ISRS  e  não  provoca  disfunção  sexual,  apresentando  menos  efeitos  colaterais.  A  venlafaxina,  a bupropiona e a sertralina tiveram desempenhos similares, aferidos no STAR*D.8,11,24,25

É  importante  lembrar  que,  na  maioria  dos  países,  muitos  dos  casos  de  depressão  permanecem  não  reconhecidos  em contextos  de  atenção  primária  e  de  que,  em  muitas  culturas,  é  muito  provável  que  os  sintomas  somáticos  (mais  comuns entre  os  idosos)  constituam  a  queixa  apresentada.  Dentre  eles,  insônia  e  perda  de  energia  são  os  mais  uniformemente relatados. Vale salientar que a maneira mais eficaz de se evitar o desfecho mais temido desta doença, o suicídio, ainda é o reconhecimento e tratamento, mais precoce possível, da depressão.3,6,7

Anexo | Instrumentos de avaliação

Escala de depressão de Hamilton

Essa escala é um instrumento auxiliar no diagnóstico da depressão. Pede­se que sejam respondidos todos os itens para que o resultado seja considerado válido.

Responda a todas as situações.  

1. Humor deprimido (tristeza, desesperança, desamparo, inutilidade) ( ) Ausente

( ) Sentimentos relatados apenas ao ser inquirido ( ) Sentimentos relatados espontaneamente com palavras

( ) Comunica os sentimentos não com palavras, isto é, com a expressão facial, postura, voz e a tendência ao choro ( ) Sentimentos deduzidos da comunicação verbal e não verbal do paciente

2. Sentimentos de culpa ( ) Ausente

( ) Autorrecriminação; sente que decepcionou os outros

( ) Ideias de culpa ou ruminação sobre erros passados ou más ações ( ) A doença atual é um castigo

( ) Ouve vozes de acusação ou denúncia e/ou tem alucinações visuais ameaçadoras 3. Suicídio

( ) Ausente

( ) Sente que a vida não vale a pena

( ) Desejaria estar morto ou pensa na probabilidade de sua própria morte ( ) Ideias ou gestos suicidas

( ) Tentativa de suicídio (qualquer tentativa séria, marque esta alternativa) 4. Insônia inicial

( ) Sem di culdades para conciliar o sono

( ) Queixa-se de di culdade ocasional para conciliar o sono, isto é, mais de 30 min ( ) Queixa-se de di culdade para conciliar o sono todas as noites

5. Insônia intermediária ( ) Sem di culdades

( ) O paciente queixa-se de inquietude e perturbação durante a noite

( ) Acorda à noite – qualquer saída da cama, marque esta alternativa (exceto para urinar) 6. Insônia tardia

( ) Sem di culdades

( ) Acorda de madrugada, mas volta a dormir ( ) Incapaz de voltar a conciliar o sono se deixar a cama 7. Trabalho e atividades

( ) Sem di culdades

( ) Pensamento e sentimentos de incapacidade, fadiga ou fraqueza relacionada com atividades, trabalho ou passatempos

( ) Perda de interesse por atividades (passatempos ou trabalho) quer diretamente relatada pelo paciente, quer indiretamente por desatenção, indecisão e vacilação (sente que precisa se esforçar para o trabalho ou atividade)

( ) Diminuição do tempo gasto em atividades ou queda de produtividade. No hospital, marcar 3 se o paciente não passar ao menos 3 h por dia em atividades externas (trabalho hospitalar ou passatempo)

( ) Parou de trabalhar devido à doença atual. No hospital, marcar 4 se o paciente não se ocupar com outras atividades, além de pequenas tarefas do leito ou for incapaz de realizá-las sem ajuda

8. Retardo (lentidão de ideias e fala; di culdade de concentração; atividade motora diminuída) ( ) Pensamento e fala normais

( ) Leve retardo à entrevista ( ) Retardo óbvio à entrevista ( ) Entrevista difícil

( ) Estupor completo 9. Agitação ( ) Nenhuma ( ) Inquietude

( ) Brinca com as mãos, com os cabelos etc. ( ) Mexe-se, não consegue sentar quieto

( ) Torce as mãos, rói as unhas, puxa os cabelos, morde os lábios 10. Ansiedade psíquica

( ) Sem di culdade

( ) Tensão e irritabilidade subjetivas ( ) Preocupação com trivialidades

( ) Atitude apreensiva aparente no rosto ou fala ( ) Medos expressos sem serem inquiridos 11. Ansiedade somática

Concomitantes siológicos de ansiedade, tais como:

Gastrintestinais: boca seca, atulência, indigestão, diarreia, cólicas, eructação Cardiovasculares: palpitações

Respiratórios: hiperventilação, suspiros Outros: cefaleia, frequência urinária; sudorese ( ) Ausente

( ) Leve ( ) Moderada ( ) Grave ( ) Incapacitante

( ) Nenhum

( ) Perda de apetite, mas se alimenta voluntariamente. Sensações de peso no abdome

( ) Di culdade de comer se não insistirem. Solicita ou exige laxativos ou medicações para os intestinos ou para sintomas digestivos 13. Sintomas somáticos em geral

( ) Nenhum

( ) Peso nos membros, nas costas ou na cabeça. Dores nas costas, cefaleia, mialgias ( ) Qualquer sintoma bem caracterizado e nítido, marque esta alternativa 14. Sintomas genitais

Sintomas como: perda da libido, distúrbios menstruais ( ) Ausente

( ) Leves ( ) Intensos 15. Hipocondria ( ) Ausente

( ) Auto-observação aumentada (com relação ao corpo) ( ) Preocupação com a saúde

( ) Queixas frequentes, pedidos de ajuda etc. ( ) Ideias delirantes hipocondríacas 16. Perda de peso (marcar A ou B) A – Quando avaliada pela história clínica: ( ) Sem perda de peso

( ) Provável perda de peso

( ) Perda de peso de nida (de acordo com o paciente) ( ) Não avaliada

B – Avaliada semanalmente pelo psiquiatra responsável, quando são medidas alterações reais de peso: ( ) Menos de 0,5 kg de perda por semana

( ) Mais de 0,5 kg de perda por semana ( ) Mais de 1 kg de perda por semana ( ) Não avaliada

17. Consciência

( ) Reconhece que está deprimido e doente

( ) Reconhece a doença mas atribui a causa à má alimentação, ao clima, ao excesso de trabalho, a vírus, à necessidade de repouso etc. ( ) Nega estar doente

18. Variação diurna

A – Observar se os sintomas são piores pela manhã ou à tarde. Caso NÃO haja variação, marcar “nenhuma”: ( ) Nenhuma

( ) Pior de manhã ( ) Pior à tarde

B – Quando presente, marcar a gravidade da variação. Marcar “nenhuma” caso NÃO haja variação: ( ) Nenhum

( ) Leve ( ) Grave

Nota: caso haja variação diurna, só a contagem referente à sua gravidade (1 ou 2 pontos no item 18B) será incluída na contagem nal 19. Despersonalização e perda da noção de realidade

Tais como: sensações de irrealidade, ideias niilistas ( ) Ausente ( ) Leve ( ) Moderadas ( ) Graves ( ) Incapacitantes 20. Sintomas paranoides ( ) Nenhum ( ) Descon ança ( ) Ideias de referência

( ) Delírio de referência e perseguição 21. Sintomas obsessivos e compulsivos ( ) Nenhum

( ) Leves ( ) Graves

Somar os pontos obtidos em todos os itens (exceto 18A) Contagem total: ____(0 a 62)

Com base na escala usada pelo Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal – FAMED/UFRGS.

Escala de depressão geriátrica (EDG) (versão resumida – Yesavage)

No documento Manual prático de geriatria (páginas 74-79)