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Inoculação direta ou por contiguidade

No documento Manual prático de geriatria (páginas 196-198)

Este  mecanismo  é  secundário,  por  exemplo,  a  intubação  orotraqueal,  trauma  torácico  penetrante  ou  disseminação  por contiguidade a partir de um sítio adjacente de infecção (p. ex., abscesso hepático amebiano).

Patologia

O  processo  pneumônico  pode  envolver  primariamente  o  interstício  pulmonar,  causando  pneumonia  intersticial,  ou  os alvéolos. Quando o processo está restrito ao alvéolo contíguo ao brônquio, denomina­se broncopneumonia. As cavidades desenvolvem­se  quando  o  tecido  necrótico  é  liberado  em  uma  via  respiratória  comunicante,  resultando  em  pneumonia necrosante (múltiplas pequenas cavidades menores que 2 cm cada) ou abscesso pulmonar (uma ou mais cavidades maiores que 2 cm em diâmetro).

Epidemiologia

As  circunstâncias  de  vida,  ocupação,  história  de  viagem,  contato  com  pessoas  com  doenças,  exposição  a  animais,  assim como o conhecimento da epidemiologia local proveem informações relevantes para a provável etiologia da pneumonia. A terapêutica  antibiótica  é  geralmente  empírica,  baseada  no  quadro  clínico,  nos  dados  epidemiológicos,  no  padrão

radiográfico e nos resultados dos exames laboratoriais pertinentes, como análise do escarro ou outros fluidos corporais, e no padrão de suscetibilidade do microrganismo suspeito aos agentes antimicrobianos disponíveis.

A  frequência  dos  vários  patógenos  pulmonares  varia  com  o  contexto  em  que  a  pneumonia  foi  adquirida,  se  na comunidade  ou  em  ambiente  hospitalar.  Os  agentes  etiológicos  mais  frequentes  na  pneumonia  comunitária  são  S. pneumoniae, H. influenzae, Chlamydia pneumoniae e M. pneumoniae.6 Bactérias Gram­negativas entéricas e Pseudomonas

aeruginosa, agentes incomuns na pneumonia comunitária, são responsáveis por mais de 50% das pneumonias nosocomiais, enquanto S. aureus  é  responsável  por  cerca  de  10%  dos  episódios.  Em  pacientes  residentes  em  casas  de  apoio  (asilos) devem­se  considerar  os  mesmos  patógenos  causadores  da  pneumonia  comunitária  e  avaliar  a  possibilidade  do acometimento por patógenos MDR ou aqueles encontrados na pneumonia nosocomial.7,8

A  frequência  do  vírus  influenza  como  causa  de  pneumonia  comunitária  ou  em  pacientes  institucionalizados  aumenta durante os meses de inverno e, além disso, provoca um aumento da incidência de infecção secundária por S. pneumoniae, S. aureus e H. influenzae.  Outros  vírus  comumente  implicados  na  pneumonia  comunitária  são  adenovirus,  parainfluenza, vírus sincicial respiratório e metapneumovirus humano.

L.  pneumophila  coloniza  depósitos  de  água  quente,  infectando  indivíduos  que  inalem  aerossóis  contendo  esse microrganismo  (geralmente  em  ambiente  hospitalar  ou  hotéis),  mas  pode  acometer  idosos,  tabagistas  e  pessoas  com alteração  da  imunidade  celular,  insuficiência  hepática  ou  renal,  diabetes  e  neoplasias.  M.  pneumoniae  causa  surtos  em comunidades  fechadas,  como  bases  militares  e  escolas,  acometendo  mais  os  jovens,  e  apresenta  um  longo  período  de incubação (2 a 3 semanas). Nos pacientes com vírus da imunodeficiência humana (HIV­1 e 2), Pneumocystis jirovecii e M. tuberculosis consistem em causas importantes de pneumonia. C. psittaci coloniza as aves, sendo uma causa importante de pneumonia  em  criadores  desses  animais.  A  idade  é  um  importante  indicador  do  agente  etiológico  da  pneumonia.  Em pacientes idosos, H. influenzae e M. catarrhalis são patógenos importantes naqueles com doença pulmonar crônica.

Anaeróbios que colonizam a cavidade oral são causas de pneumonia comunitária e abscesso pulmonar, geralmente em combinação com bactérias aeróbias, em pacientes com distúrbios de deglutição ou diminuição dos reflexos de fechamento da glote ou tosse, sendo responsáveis por cerca de 20 a 30% dos casos de pneumonia.

Algumas  patologias  preexistentes  podem  ser  caracterizadas  por  alterações  imunológicas  que  predispõem  à  pneumonia por  patógenos  específicos.  A  deficiência  de  imunoglobulinas  pode  levar  a  infecções  sinopulmonares  de  repetição, especialmente por microrganismos encapsulados, como S. pneumoniae e H. influenzae. Essa deficiência pode ser congênita ou  adquirida,  e,  nesse  caso,  secundária  às  doenças  linfoproliferativas,  nas  quais  a  produção  dessas  imunoglobulinas  está diminuída,  ou  doenças  renais  ou  enteropatias  perdedoras  de  proteína,  por  perda  urinária  ou  intestinal  dessas  proteínas. Pacientes portadores de HIV podem exibir produção ineficaz de anticorpos, podendo ser suscetíveis à infecção por germes encapsulados.  Quando  a  contagem  de  CD4+  estiver  abaixo  de  500  células/µ ℓ ,  há  risco  aumentado  de  infecção  por  M. tuberculosis. Nas contagens de CD4+ menores que 200 células/µℓ, os patógenos mais frequentemente implicados são P. jirovecii,  H.  capsulatum  e  Cryptococcus  neoformans.  Nas  contagens  abaixo  de  50/µ ℓ ,  há  o  risco  de  infecção  por citomegalovírus  e  M.  avium  intracelular.  A  neutropenia  grave  pode  aumentar  o  risco  de  infecção  por  P.  aeruginosa, Enterobacteriaceae, S. aureus e Aspergillus. O uso prolongado de corticoide aumenta o risco de tuberculose e nocardiose.

Manifestações clínicas

Tosse,  expectoração  purulenta  ou  piossanguinolenta,  dor  torácica  ventilatório­dependente  e  dispneia  constituem  os principais  sintomas  da  chamada  apresentação  típica  da  pneumonia  e  são  encontrados  geralmente  na  infecção  por  S. pneumoniae, H. influenzae e aeróbios e anaeróbios da flora oral. Sintomas como coriza, congestão nasal, mal­estar geral e cefaleia podem preceder a instalação da pneumonia.

Ao  exame  físico,  pode­se  identificar  a  síndrome  de  consolidação  pulmonar,  com  aumento  do  frêmito  toracovocal, macicez à percussão, crepitações, estertores e egofonia. Ocasionalmente, o acometimento dos lobos inferiores pode causar dor abdominal e dor referida no ombro (por irritação diafragmática).

A apresentação clínica típica não é a mais comum, especialmente em idosos. A febre pode estar ausente, e os achados do exame físico podem ser sutis, limitando­se a roncos e estertores esparsos.8,9 O paciente idoso pode se apresentar com

alteração  do  nível  de  consciência,  queda,  incapacidade  de  alimentar­se  ou  agravamento  de  uma  patologia  de  base.  Nesses pacientes, taquipneia e alterações do exame físico geralmente estão presentes.10,11

A apresentação atípica é caracterizada por um curso mais gradual, com tosse seca, dispneia e proeminência de sintomas extrapulmonares,  como  cefaleia,  mialgia,  fadiga,  odinalgia,  náuseas,  vômitos  e  diarreia.12  Essa  apresentação  é

classicamente produzida pela infecção por M. pneumoniae, Legionella sp., C. pneumophila, anaeróbios orais, P. jirovecii, Coxiella  burnetii,  Fransisella  tularensis  e  H.  capsulatum.  A  pneumonia  por  M.  pneumoniae  pode  apresentar  eritema

multiforme,  miringite  bolhosa,  anemia  hemolítica,  encefalite  e  mielite  transversa.  A  pneumonia  por  Legionella  sp.  pode cursar  com  alteração  do  nível  de  consciência,  hiponatremia  acentuada  e  alterações  renais  e  hepáticas.  A  pneumonia  viral pode  ter  apresentação  atípica,  mais  comumente  causada  por  vírus  influenza,  vírus  sincicial  respiratório  (nos imunodeprimidos  e  idosos),  sarampo,  varicela­zóster  e  citomegalovírus  (pacientes  HIV­positivos  ou  transplantados).  A infecção bacteriana pode seguir­se à pneumonia viral em virtude da destruição do epitélio mucociliar pelo vírus.

A  radiografia  de  tórax  em  incidências  posteroanterior  e  perfil  apresenta  sensibilidade  maior  que  o  exame  físico  na detecção dos infiltrados pulmonares, e é útil na confirmação diagnóstica, na documentação da extensão, na identificação de complicações  (cavitação,  derrame  pleural,  atelectasia,  pneumotórax)  e  no  monitoramento  da  evolução  e  da  resposta  ao tratamento.  Na  pneumonia  por  P.  jirovecii,  a  radiografia  de  tórax  pode  ser  normal  em  30%  dos  casos  na  apresentação inicial.  Também  pode  ser  normal  em  pacientes  incapazes  de  formar  uma  resposta  inflamatória,  como  aqueles  com agranulocitose  ou  no  início  do  processo  infiltrativo,  ou  pacientes  desidratados  à  apresentação  inicial.  A  tomografia computadorizada  de  tórax  pode  aumentar  a  acurácia  no  diagnóstico  da  pneumonia,  especialmente  no  acometimento  das áreas  pulmonares  nas  quais  existe  a  sobreposição  com  diafragma,  fígado,  costelas,  clavícula  e  coração  à  radiografia  de tórax.

A  localização  do  processo  inflamatório  tem  implicações  diagnósticas.  Infiltrados  multifocais  sugerem  disseminação hematogênica.  A  distribuição  difusa  sugere  pneumonia  por  P. jirovecii,  citomegalovírus,  hantavírus,  sarampo  e  varicela­ zóster. Anaeróbios orais, tuberculose, S. aureus, S. pneumoniae  subtipo  III,  bacilos  Gram­negativos  anaeróbios  e  fungos podem  apresentar  necrose  e  cavitação.  O  acometimento  dos  ápices  pode  sugerir  reativação  de  tuberculose.  Abscessos anaeróbios  são  localizados  nas  porções  dependentes,  pobremente  ventiladas  e  com  drenagem  menos  eficaz,  e caracteristicamente exibem nível hidroaéreo, mas também podem ser encontrados em outras etiologias, como S. aureus e bacilos Gram­negativos aeróbios.

Em  pacientes  com  curso  clínico  não  complicado,  a  resolução  radiográfica  dos  infiltrados  pode  levar  até  6  semanas. Aqueles  que  não  respondem  adequadamente  ao  tratamento,  que  se  apresentam  com  derrame  pleural,  com  pneumonia obstrutiva  ou  infecção  por  patógenos,  como  S.  aureus,  bacilos  Gram­negativos  aeróbios  ou  anaeróbios,  necessitam  de acompanhamento  mais  intensivo.  Em  algumas  situações,  a  tomografia  computadorizada  pode  auxiliar  no  diagnóstico diferencial das imagens radiográficas.

O leucograma deve ser solicitado, sendo útil como indicador de gravidade e resposta terapêutica. A gasometria arterial deve ser realizada naqueles pacientes em que a internação hospitalar é considerada.

No documento Manual prático de geriatria (páginas 196-198)