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História clínica

No documento Manual prático de geriatria (páginas 110-112)

As  queixas  dos  idosos  com  problemas  de  sono  são  organizadas  em  3  grupos  principais:  (a)  dificuldade  para  iniciar  ou manter o sono (queixa de insônia); (b) movimentos, comportamentos e sensações anormais durante o sono ou durante os despertares  noturnos;  (c)  sonolência  diurna  excessiva  (SDE)  e  fadiga.  É  fundamental  indagar  sobre  as  circunstâncias  do início do problema de sono, sua duração, fatores que melhoram/exacerbam e sintomas associados. Devem­se verificar as rotinas do dia e da noite, incluindo: horário de deitar­se; lapso de tempo para adormecer; número e duração dos despertares; horário de sair da cama pela manhã e características dos cochilos diurnos. Alguns sintomas matutinos levam a indagar mais sobre a apneia obstrutiva do sono: cefaleia, boca seca e aumento de congestão nasal. É relevante perguntar sobre cansaço e SDE além de rever a história de doenças que possam modificar o sono, como o histórico de medicações. A sonolência pode passar despercebida ou o seu significado pode ser subestimado devido ao início insidioso e o caráter crônico. O paciente pode não descrever sintomas como sonolência, mas pode usar outros termos, tais como a fadiga (falta subjetiva de energia física ou mental percebida pelo indivíduo ou cuidador que interfere em suas atividades habituais).

As  causas  mais  comuns  de  SDE  no  idoso  são:3  privação  de  sono  (sono  insuficiente);  medicações  e  substâncias

(incluindo  cafeína,  álcool  e  tabaco);  transtornos  psiquiátricos  e  doenças  do  sistema  nervoso  central  (SNC);  síndrome  de apneia/hipopneia  obstrutiva  do  sono  (SAHOS)  e  outros  transtornos  respiratórios  do  sono;  outras  doenças  médicas  e transtornos circadianos. Um questionário simples, a Escala de Sonolência de Epworth (Tabela 9.2), já validada no Brasil, é um método rápido para detectar a SDE. O escore máximo é de 18 pontos, porém valores acima de 10 pontos sugerem o diagnóstico.

Tabela 9.2 Escala de sonolência de Epworth (versão brasileira).

Qual a probabilidade de você cochilar ou dormir, e não apenas se sentir cansado, nas seguintes situações? Considere o modo de vida que você tem levado recentemente. Mesmo que não tenha passado por algumas dessas situações recentemente, tente imaginar como elas o afetariam. Escolha o número mais apropriado para responder cada questão

Situações Chance de cochilar: 0 a 3

1. Sentado e lendo  

2. Assistindo à televisão  

3. Sentado, quieto, em um lugar público (p. ex., teatro, reunião ou palestra)   4. Andando de carro por uma hora sem parar, como passageiro  

5. Sentado quieto após o almoço sem bebida com álcool  

6. Em um carro parado no trânsito por alguns minutos  

Total  

0. Nunca cochilaria

1. Pequena probabilidade de cochilar 2. Probabilidade média de cochilar 3. Grande probabilidade de cochilar

1. 2. 3. Fonte: Bertolazi et al., 2009.4 Várias patologias contribuem para os transtornos de sono no idoso como: ansiedade, depressão (aumento da latência do sono, despertares frequentes ou prolongados, despertar precoce, início adiantado com aumento do sono REM, redução do estágio  3  do  sono),  transtorno  de  estresse  pós­traumático,  doença  de  Alzheimer  (DA),  demência  com  corpos  de  Lewy, doença  de  Parkinson  (DP),  cardiopatias,  doença  pulmonar  obstrutiva  crônica,  doenças  reumáticas,  doença  do  refluxo gastresofágico, noctúria, menopausa, doenças dermatológicas pruriginosas e dor crônica, entre outras. Os maus hábitos de sono também são comuns, especialmente com a aposentadoria e a mudança do estilo de vida, incluindo a possibilidade do sono diurno.

Na Tabela 9.3 é possível ver como alguns medicamentos e substâncias afetam o sono em idosos. Na Tabela 9.4 são apresentados os dez passos iniciais na avaliação clínica dos transtornos do sono. Tabela 9.3 Medicamentos e substâncias que podem contribuir para o quadro de insônia em idosos.

Substância Provável efeito

Etanol Apesar de induzir o sono, promove fragmentação do mesmo durante a noite Anticolinesterásicos Insônia e pesadelos durante a noite

Betabloqueadores Alteração da siologia do sono com manifestação de pesadelos em alguns casos Xantinas e fenilefedrinas Efeito estimulante. Deve-se dar preferência ao uso longe do horário de dormir

Levodopa Insônia e pesadelos

Corticoides sistêmicos e inalatórios Efeito estimulante e agitação psicomotora durante a noite. Dose-dependente Diuréticos e bloqueadores do canal de cálcio Noctúria. Deve-se evitar o uso próximo à hora de dormir

Nicotina Insônia. Deve-se desestimular uso e/ou evitar durante a noite. Aumenta risco de apneia do sono

Cafeína Efeito estimulante, redução do tempo e e ciência do sono. Despertares noturnos em demenciados

Fenitoína Insônia

Teo lina Efeito estimulante (deve ser substituída por um broncodilatador dosimetrado ou outra opção terapêutica)

Antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina e duais

Insônia inicial ou terminal

Benzodiazepínicos Ação hipnótico-sedativa, com alteração importante na cognição. Sonolência diurna excessiva, fragmentação do sono, insônia e aumento de risco de quedas. Devem ser evitados em idosos Anti-histamínicos Podem alterar a arquitetura do sono

Opioides (mor na e hidromorfona) Insônia

Fonte: Freitas e Py, 2016.5

Tabela 9.4 Os dez passos iniciais da avaliação dos transtornos do sono.

Diário do sono, realizado por pelo menos 2 semanas, especi cando os seguintes dados: hora de deitar, hora de se levantar em de nitivo, se demora a dormir, se acorda na madrugada (possíveis causas relacionadas), se tem di culdade de retomar o sono e se acorda cedo demais

Avaliação do ambiente (nível de ruído, nível de claridade, qualidade da cama e do travesseiro) Pesquisar se há sintomas clínicos associados à di culdade de dormir (dor, dispneia, prurido, noctúria)

4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. ■ ■

Listar medicações em uso e veri car se houve introduções ou suspensões recentes Veri car se há associação do transtorno de sono com abuso de drogas ilícitas ou etilismo Listar as comorbidades presentes

Se usa, ou já usou, algum medicamento para dormir

Avaliar como o idoso sente-se durante o dia (bem-disposto ou sonolento) Veri car se o quadro é de início recente ou crônico

Pesquisar a existência de sintomas psiquiátricos (depressão, fobias, ansiedade, alucinações, pesadelos)

Fonte: Bonnet et al., 2016.6

Exames complementares

Polissonogra a

Não é usada rotineiramente na investigação, mas é muito importante quando há suspeita clínica de distúrbio respiratório do sono  (incluindo  a  SAHOS,  na  qual  é  considerado  o  exame  padrão­ouro  para  este  diagnóstico),  ausência  de  resposta terapêutica e/ou dúvida diagnóstica. A polissonografia (PSG) consiste basicamente no registro assistido, de noite inteira, de múltiplos parâmetros fisiológicos, obtendo­se o tempo total de sono, a latência do sono, a latência para o sono REM, os estágios do sono, os despertares noturnos e outros parâmetros fisiológicos. Recomenda­se o registro de diversas variáveis fisiológicas  (eletroencefalograma,  eletro­oculograma,  eletromiograma  submentoniano,  eletromiograma  do  músculo  tibial anterior)  e  cardiorrespiratórias  (fluxo  com  cânula  de  pressão  nasal  e  termistor  oronasal,  esforço  respiratório, eletrocardiograma  e  oximetria).  Um  vídeo  pode  ser  acoplado  ao  registro  polissonográfico  para  a  detecção  de comportamentos anormais durante o sono, tais como: parassonias, transtornos de movimentos e crises epilépticas. Há três tipos  de  PSG:  basal,  titulação  de  aparelhos  de  pressão  positiva  (pressão  positiva  contínua  nas  vias  aéreas  [CPAP]  e/ou pressão positiva nas vias aéreas em binível [BiPAP]) e split­night (no qual a PSG basal é feita na primeira metade da noite e, na segunda metade, realiza­se titulação de pressão respiratória positiva, fornecendo dados para diagnóstico e tratamento). Já estão disponíveis aparelhos portáteis que avaliam e gravam muitas das variáveis do sono, com a vantagem de o paciente estar em seu ambiente usual, o que influencia a qualidade do sono.

Actigra a

Neste  teste  o  indivíduo  usa  pequenos  equipamentos  eletrônicos  (actímetros)  para  medir  e  armazenar  os  movimentos, enquanto  o  paciente  realiza  suas  rotinas  diárias  por  períodos  de  pelos  menos  3  dias.  Os  dados  são  transferidos  para  um computador e fornecem uma estimativa do tempo de vigília e de sono, da periodicidade do sono e dos ritmos circadianos de atividade­sono.  É  um  método  diagnóstico  com  acurácia  e  validade  comparada  à  PSG,  mostrando  concordância  maior  que 90% no estadiamento de sono­vigília. Não é indicada na avaliação rotineira da insônia e, de preferência, deve ser associada a outros instrumentos.

No documento Manual prático de geriatria (páginas 110-112)