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Estratégias farmacológicas

No documento Manual prático de geriatria (páginas 90-92)

A terapia de suporte multidisciplinar deve ser iniciada imediatamente para todos os pacientes, visando corrigir fatores de risco para delirium frequentes em idosos, como desidratação, desnutrição, distúrbios hidreletrolíticos, úlceras de pressão, aspiração, entre outras complicações da imobilidade.

Os antipsicóticos são recomendados como adjuvantes no manejo do delirium nos casos com sintomas comportamentais e  emocionais  graves  e  não  responsivos  aos  métodos  não  farmacológicos.  Essas  medicações  podem  apresentar  efeitos adversos significantes, incluindo o potencial de piorar o delirium, além disso, de acordo com estudos em demência, podem ocasionar  risco  de  mortalidade.  Até  o  momento,  não  há  nenhuma  substância  oficialmente  indicada  para  o  tratamento  do delirium.

Alguns  autores  sugerem  que  diferentes  perfis  clínicos  do  delirium  (hipoativo  versus  hiperativo)  podem  requerer estratégias terapêuticas distintas, embora apenas alguns estudos tenham investigado essa hipótese. Breitbart et al. (2002),14

em  um  estudo  sobre  delirium  em  idosos  portadores  de  neoplasia,  sugeriram  que,  apesar  de  menos  responsivo  aos antipsicóticos,  o  subtipo  hipoativo  seria  tão  angustiante  para  os  pacientes  quanto  os  subtipos  misto  e  hiperativo.  Os psicoestimulantes  têm  sido  propostos  para  o  tratamento  do  delirium  hipoativo,  embora  haja  pouca  evidência  sobre  o  seu benefício e devam ser evitados em caso de alucinações e delírios.

Antipsicóticos

Até  o  momento,  as  evidências  são  limitadas  para  sugerir  que  um  antipsicótico  seja  mais  eficaz  que  outro,  e,  portanto,  a escolha deve ser baseada em outros fatores, como a suscetibilidade do paciente a sintomas extrapiramidais, a propensão da substância  a  causar  esse  efeito,  a  opção  por  uma  substância  mais  ou  menos  sedativa,  o  risco  de  arritmias  cardíacas,  as interações medicamentosas e a via de administração disponível.

O tratamento com antipsicóticos deve ser iniciado sempre com a menor dose possível, reavaliando­se periodicamente a possibilidade de suspensão. No idoso frágil, a dose necessária pode ser menor do que a dose habitualmente recomendada. Antes de se iniciar o tratamento, é importante realizar um eletrocardiograma basal para posteriores comparações, bem como para  avaliar  distúrbios  do  ritmo  ou  doenças  cardíacas  prévias  capazes  de  aumentar  a  suscetibilidade  a  arritmias  por antipsicóticos (prolongamento QT/torsade de pointes).

Dentre  os  antipsicóticos,  o  haloperidol  é  o  mais  amplamente  empregado.  Por  ser  um  antipsicótico  típico  de  alta potência,  está  associado  a  altas  taxas  de  efeitos  colaterais  extrapiramidais  e  distonias  agudas.  Quando  necessária  a administração parenteral, o haloperidol pode ser administrado pelas vias intravenosa ou intramuscular, estando a primeira relacionada  com  o  rápido  início  de  ação  e  a  curta  duração  do  efeito,  enquanto  as  vias  oral  e  intramuscular  apresentam duração  de  ação  mais  constante  e  otimizada.  Além  disso,  a  via  intravenosa  está  associada  a  menor  risco  de  efeitos extrapiramidais, embora esteja associada a maior risco de arritmias cardíacas.

A  dose  inicial  recomendada  é  de  0,5  a  1  mg  de  haloperidol  oral  ou  parenteral.  Essa  mesma  dose  deve  ser  repetida  a cada 30 minutos após verificação dos sinais vitais e até se alcançar a sedação. O objetivo deve ser um paciente vígil, porém sob controle. A maior parte dos idosos sem história prévia de terapia com neurolépticos deve requerer uma dose de ataque total de não mais de 3 a 5 mg de haloperidol. Uma dose subsequente de manutenção consiste em 50% da dose de ataque e deve  ser  administrada  em  doses  divididas  ao  longo  das  24  horas  seguintes,  com  doses  sucessivamente  menores  tão  logo esteja resolvido o quadro de agitação.

O  haloperidol,  bem  como  outros  antipsicóticos,  não  tem  papel  preventivo  com  o  delirium.  Entretanto,  um  estudo controlado  por  placebo  mostrou  associação  de  haloperidol  em  baixas  doses  (<  3  mg/dia)  com  redução  da  gravidade  e duração, mas não da incidência de delirium em pacientes pós­operatórios.18

Antipsicóticos  atípicos,  como  olanzapina,  risperidona,  clozapina  e  quetiapina,  oferecem  menor  risco  de  efeitos extrapiramidais quando comparados ao haloperidol, e, portanto, são recomendados em situações de restrição ao uso deste último, como em pacientes com demência com corpos de Lewy e na doença de Parkinson.

A  partir  de  2004,  muitos  estudos  foram  publicados  comparando  segurança  e  eficácia  dos  antipsicóticos  atípicos  ao haloperidol.  Skrobik  et  al.  (2004)19  demonstraram  que  a  olanzapina  seria  uma  alternativa  segura  ao  haloperidol,  com

mesma  eficácia,  porém  com  menos  efeitos  extrapiramidais.  Resultados  semelhantes  foram  demonstrados  posteriormente com quetiapina e risperidona em estudos pequenos e não controlados. Um estudo prospectivo,20 monocego, randomizado,

controlado,  comparou  eficácia  e  segurança  do  haloperidol,  da  olanzapina  e  da  risperidona  no  tratamento  do  delirium, mostrando  eficácia  semelhante  dos  3  na  redução  da  sua  intensidade,  não  tendo  sido  demonstradas,  porém,  diferenças quanto ao perfil de efeitos colaterais.

Em 2010, um estudo­piloto prospectivo, randomizado, multicêntrico e controlado por placebo com pacientes críticos21

foi  publicado  demonstrando  que  a  quetiapina  associada  ao  haloperidol  usado  “quando  necessário”  reduziu  a  agitação  e  a duração do delirium, e aumentou os índices de não hospitalização. No entanto, além desse estudo­piloto não existem, até o

momento, estudos publicados randomizados, duplos­cegos, controlados por placebo para se estabelecer eficácia e segurança de qualquer medicação antipsicótica no controle do delirium.11

Benzodiazepínicos

Apesar  de  não  recomendados  como  agentes  de  primeira  linha  no  tratamento  do  delirium,  dado  o  risco  aumentado  de supersedação  e  de  exacerbação  do  quadro  confusional  agudo,  os  benzodiazepínicos  permanecem  como  terapia  de  escolha para o delirium causado por quadros convulsivos e síndromes de abstinência relacionadas com medicações e álcool.

Anticolinesterásicos

Acredita­se  que  parte  da  fisiopatologia  do  delirium  seja  atribuída  a  um  déficit  colinérgico  central,  o  que  tem  motivado  o estudo dos anticolinesterásicos para o tratamento dessa síndrome.

Em  pequenos  estudos,  a  donepezila  não  demonstrou  benefícios  em  termos  de  redução  da  incidência  de  delirium.  Um estudo muticêntrico em unidade de terapia intensiva, randomizado, duplo­cego e controlado por placebo mostrou que a ri­ vastigmina não reduziu a duração do delirium e aumentou a mortalidade desses pacientes. No grupo estudado havia mais pacientes  doentes  que  receberam  haloperidol  IV,  lorazepam  ou  propofol  em  associação  à  rivastigmina,  o  que  pode  ter contribuído para o delirium e aumentado a taxa de mortalidade.22

Dexmedetomidina

A  dexmedetomidina  é  um  agonista  dopaminérgico  alfa­2  central  com  propriedades  sedativas,  analgésicas  e  ansiolíticas. Tem  a  vantagem  de  aliviar  os  sintomas  do  delirium  sem  causar  sedação  excessiva,  com  menos  efeitos  colaterais  quando comparado  ao  haloperidol  e  com  menor  interação  medicamentosa,  sendo  de  fácil  titulação  de  dose.  Seu  efeito  analgésico também aparece como benefício, pois a dor é um precipitador de delirium, de modo que é possível evitar o uso de opioides. Vários estudos já demostraram o uso da dexmedetomidina com sucesso no contexto de pacientes clínicos em unidades de terapia  intensiva,  favorecendo  seu  uso  em  detrimento  de  outros  agentes  sedativos  (midazolam  ou  propofol)  em  pacientes em ventilação mecânica. Estudos também relataram melhora de desfechos, se comparada ao haloperidol, em pacientes com dificuldade de extubação por agitação associada ao delirium. Entretanto, sua eficácia e segurança em controlar agitação em outras  condições  clínicas  comuns  ou  perigosas,  como  agitação  em  pacientes  não  entubados,  permanecem  desconhecidas, pois o risco de depressão respiratória por sedação pode requerer entubação de emergência, constituindo um alto risco. Em um  estudo  recente,  que  avaliou  o  uso  da  dex­medetomidina  em  controle  de  agitação  em  pacientes  não  entubados  não responsivos  ao  haloperidol,  a  dexmedetomidina  mostrou­se  mais  eficaz  e  mais  segura  que  o  haloperidol,  com  melhor custo­benefício, porém, dadas as restrições do desenho do estudo (não randomizado, não cego, com amostra limitada), os resultados ainda são preliminares.23

No documento Manual prático de geriatria (páginas 90-92)