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Prognóstico

No documento Manual prático de geriatria (páginas 92-96)

O delirium pode persistir mesmo após a alta hospitalar e deve ser acompanhado até sua resolução. Entre pacientes com e sem  demência,  sintomas  de  delirium  podem  persistir  por  até  12  meses  após  o  diagnóstico.  Muitos  mantêm  queixas  de memória  mesmo  após  a  recuperação  total  do  delirium,  apresentando  maior  risco  de  diagnóstico  de  demência  após  este evento. Seja em pacientes idosos clínicos ou cirúrgicos, os principais desfechos desfavoráveis pós­alta relacionados com o delirium são: declínio funcional/institucionalização, declínio cognitivo e aumento da mortalidade.

Um estudo prospectivo24 mostrou que, no primeiro ano pós­alta, 20% de 51 idosos que haviam desenvolvido delirium

ao  longo  da  internação  foram  admitidos  em  instituições  de  longa  permanência.  Já  em  um  estudo  de  Edelstein  et  al. (2004),25  5,1%  de  921  idosos  com  delirium  pós­cirurgia  para  fratura  de  fêmur  mostraram­se  menos  propensos  a  se

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27.

O  declínio  cognitivo  não  é  apenas  um  fator  predisponente  para  o  delirium,  mas  também  pode  ser  causado  de  forma independente por ele. Em um estudo de Rahkonen et al. (2000),24 14 de 51 pacientes (27%) sem o diagnóstico de demência

pré­mórbida foram diagnosticados como demenciados imediatamente após a remissão dos sintomas de delirium, enquanto outros  14  pacientes  receberam  o  diagnóstico  de  demência  no  primeiro  ano  após  alta  hospitalar,  resultando  em  uma incidência cumulativa de demência no primeiro ano pós­delirium de 55%.

Taxas  elevadas  de  mortalidade  pós­alta  têm  sido  descritas  para  pacientes  após  um  primeiro  episódio  de  delirium, chegando a mais de 10% de incidência no primeiro ano após o evento. A mortalidade associada ao delirium é alta mesmo após  6  a  12  meses  da  hospitalização,  principalmente  se  concomitante  com  demência  e  enfermidade  aguda  grave  (p.  ex., sepse).  Estudos  que  correlacionaram  a  duração26  do  delirium  com  prognóstico  mostraram  que  o  delirium  agudo  ou

rapidamente reversível (duração menor que 2 dias) tem curso mais benigno e com pouco impacto no prognóstico.27

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Introdução

James Parkinson, médico inglês nascido em 1755, escreveu, em 1817, a monografia An Essay on Shaking Pally, na qual descreveu  a  doença  de  Parkinson,  caracterizada  por  tremor  involuntário,  perda  da  força  muscular,  alteração  da  marcha  e postura. Os estudos de Braak et al., publicados em 2003, elaboraram um comprometimento progressivo, lento, iniciado nas regiões  caudais  do  tronco  encefálico,  ascendendo  no  sentido  caudorrostral.  São  6  os  estágios  que  reforçam  que manifestações não motoras precedem em anos os sintomas motores.1

Definição

A  doença  de  Parkinson,  parkinsonismo  primário  ou  doença  de  Parkinson  idiopática  é  uma  doença  neurodegenerativa, multissistêmica  e  progressiva  decorrente  da  disfunção  neuroquímica  dopaminérgica  associada  a  déficit  colinérgico, serotoninérgico,  noradrenérgico,  além  de  alterações  neuroanatômicas  do  tronco  encefálico.  Caracteriza­se  principalmente por  comprometimento  motor:  bradicinesia,  condição  obrigatória,  associada  a  rigidez  ou  alteração  postural  e/ou  tremor  de repouso. Sintomas não motores, como hiposmia, constipação intestinal, transtorno do humor, alterações comportamentais do sono REM, dor e fadiga, podem preceder em anos o surgimento dos sintomas motores. A doença de Parkinson tem alta prevalência em idosos, com predominância no sexo masculino, sem distinção de classe socioeconômica ou grupo genético. É considerada a segunda doença neurodegenerativa em idosos.2­4

Etiopatogenia

Neurotoxinas ambientais, estresse oxidativo, anormalidades mitocondriais, excitotoxicidade, fatores inflamatórios e fatores genéticos atuam de modo combinado, desencadeando uma cascata de eventos relacionados com a etiopatogenia da doença de Parkinson. A idade e o processo de envelhecimento são os principais fatores de risco para a doença de Parkinson.5

Características clínicas

Os  sinais  cardinais  da  doença  de  Parkinson  são:  bradicinesia,  rigidez,  instabilidade  postural  e  tremor  de  repouso. Bradicinesia,  lentificação  e/ou  diminuição  da  velocidade  ou  amplitude  do  movimento  são  condições  obrigatórias  e  os principais  sintomas  motores  no  idoso.  As  manobras  de  tocar  o  polegar  no  indicador,  o  abrir  e  fechar  as  mãos, supinação/pronação  dos  braços,  bater  os  pés  são  úteis  na  identificação  desse  sintoma.  A  rigidez  muscular  é  evidenciada pela fragmentação do movimento com resistência à movimentação passiva de membros, pescoço e tronco. A instabilidade postural decorre de alterações dos reflexos posturais, eleva o risco de quedas e, na fase mais avançada, ocasiona síndrome de  imobilidade.  O  tremor  de  repouso  assimétrico  acometendo  um  ou  mais  membros  é  o  sintoma  que  os  idosos,  seus familiares  e  profissionais  da  área  de  saúde  mais  correlacionam  com  doença  de  Parkinson  e  o  principal  motivo  de encaminhamento para os ambulatórios de distúrbios do movimento. Com a evolução da doença, o tremor pode agravar­se por  uma  ação  ou  postura.  Outras  manifestações  motoras,  como  postura  flexionada  para  frente  com  braços  à  frente  do corpo, cotovelos e joelhos flexionados e a marcha de passos curtos, arrastados, sem participação do braço no movimento, podem  ser  observadas.  Fácies  hipomímica,  micrografia,  alterações  do  olfato,  sono,  humor,  fala,  deglutição  e  hábito intestinal podem complementar o quadro fenomenológico da doença de Parkinson.6

Os critérios do Banco de Cérebros da Sociedade de Parkinson do Reino Unido e os da Movement Disorders Society são os mais  usados  para  o  diagnóstico  da  doença  de  Parkinson.  Conforme  o  Banco  de  Cérebros  da  Sociedade  de  Parkinson  do Reino Unido, o diagnóstico deve ser efetuado em 3 etapas. Na primeira, identifica­se a bradicinesia associada a pelo menos mais  um  sinal  motor  entre  rigidez  muscular,  instabilidade  postural  e  tremor  de  repouso.  Na  etapa  seguinte,  excluem­se outras  formas  de  parkinsonismo  secundário,  como  as  decorrentes  de  acidente  vascular  encefálico,  traumatismo  craniano, uso de antipsicóticos, processo expansivo cerebral, dentre outras condições clínicas. A terceira etapa é de confirmação com base na resposta ao uso de levodopa, progressão da doença e evolução clínica. A Movement Disorders Society define como critério para o diagnóstico da doença de Parkinson a bradicinesia associada a tremor de repouso e/ou rigidez muscular. A exclusão da instabilidade postural é justificada por ser um sintoma frequente em idosos por uma série de situações clínicas de alta prevalência, sendo considerado um fator de confusão.7,8

Diagnóstico diferencial

O  tremor  essencial  e  o  parkinsonismo  decorrente  de  uso  de  medicamentos  são  os  2  diagnósticos  diferenciais  mais importantes no idoso. Os demais parkinsonismos secundários, como acidentes vasculares encefálicos de repetição, toxinas e  infecções  do  sistema  nervoso  central,  também  são  causas  a  serem  afastadas.  As  síndromes  parkinsonianas­plus como paralisia supranuclear progressiva, atrofia de múltiplos sistemas, degeneração corticobasal, demência com corpos de Lewy, doença  de  Alzheimer  e  doenças  heredodegenerativas  como  Huntington  devem  fazer  parte  da  exclusão  etiológica  do parkinsonismo.  Anamnese,  exames  laboratoriais,  exame  de  imagem,  preferencialmente  a  ressonância  de  crânio,  são  úteis para o diagnóstico diferencial dessas condições clínicas. A tomografia cerebral com emissão de pósitron com fluorodopa tem  sido  usada  com  mais  frequência  para  aumentar  o  arsenal  de  exames  complementares  na  melhora  da  acurácia diagnóstica.9

Evolução

A doença de Parkinson é degenerativa e progressiva. Os estágios de 0 a 5 da Escala de Hoehn e Yahr modificada são úteis para avaliar o comprometimento. Essa escala codifica­se em:

0: ausência de sinais visíveis da doença 1: presença de sinais em apenas um lado do corpo

1,5: sintomas em apenas um lado do corpo com envolvimento axial 2: sintomas dos 2 lados do corpo e sem di culdade para caminhar 2,5: sintomas dos 2 lados do corpo com recuperação no pull test 3: sintomas dos 2 lados do corpo e com di culdade mínima para caminhar 4: sintomas dos 2 lados do corpo e com di culdade moderada para caminhar 5: restrito à cadeira de rodas ou ao leito, precisa de cuidador

No documento Manual prático de geriatria (páginas 92-96)