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Exames complementares

No documento Manual prático de geriatria (páginas 88-90)

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Não existem exames laboratoriais específicos para identificação de delirium, mas alguns exames devem ser solicitados para todos  os  pacientes,  visando  ao  diagnóstico  de  infecções  ou  outros  fatores  precipitantes.  Dentre  esses  exames,  devem­se incluir: hemograma completo, eletrólitos, provas de funções hepática e renal, glicose, saturação de oxigênio, hemoculturas e  urinocultura.  Caso  o  fator  contribuinte  permaneça  inconclusivo,  considera­se  incluir  testes  para  avaliação  da  função tireoidiana,  gasometria  arterial,  níveis  séricos  de  vitamina  B12,  cortisol  e  de  determinadas  medicações,  além  de  exames toxicológicos.

As indicações de análise do liquor, exames de imagem e eletroencefalograma (EEG) são controversas em função de seu baixo  rendimento  diagnóstico.  Estima­se  que  sejam  necessários  em  menos  de  5  a  10%  dos  casos  de  delirium. A punção lombar é indicada para pacientes com suspeita de meningite ou encefalite. Já os exames de neuroimagem (tomografia ou ressonância)  devem  ser  reservados  para  os  casos  com  novos  sinais  neurológicos  focais,  história  de  queda  recente  ou traumatismo craniano, febre de origem obscura ou quando não houver causa identificável para o delirium após investigação inicial. Alguns sintomas neurológicos estão associados ao delirium com tremor e asterixe.

O  EEG  está  indicado  em  caso  de  suspeita  de  atividade  convulsiva  subclínica  ou  na  diferenciação  entre  delirium  e transtorno psiquiátrico não orgânico. Em casos de delirium, espera­se encontrar no EEG uma desaceleração generalizada da atividade cortical, com lentificação do ritmo alfa dominante posterior, e aparecimento de atividade anormal de ondas lentas.

Diagnóstico diferencial

Dentre  os  principais  diagnósticos  diferenciais  para  delirium  estão  outras  causas  de  distúrbio  cognitivo  global,  como demência, depressão, mania e outros transtornos psicóticos não orgânicos, como esquizofrenia.

Dentre  esses,  a  demência  representa  o  principal  desafio  diagnóstico.  Início  agudo,  inatenção  e  flutuação  do  nível  de consciência  não  são  características  frequentes  nas  formas  leve  e  moderadas  de  demência  e  corroboram  o  diagnóstico  de delirium. Contudo, algumas formas de demência podem mimetizar sintomas de delirium,  como  a  demência  vascular,  que pode ter início agudo; e a demência com corpos de Lewy, de sintomas flutuantes.

A  depressão  pode  evoluir  com  sintomas  como  comportamento  apático,  lentificação  motora  e  transtorno  do  sono, também  encontrados  no  delirium  hipoativo.  Todavia,  a  depressão  ocorre  gradualmente  e  não  está  associada  a  alterações cognitivas ou da atenção pronunciadas, além de o nível de alerta estar, em geral, preservado.

As psicoses não orgânicas iniciam­se mais cedo na vida do paciente (antes dos 40 anos de idade). Pacientes idosos com psicose funcional costumam apresentar história psiquiátrica anterior. Nestes, o estado de alerta é mantido, não há flutuação dos sintomas, as alucinações são predominantemente auditivas e as ideias delirantes são mais organizadas e duradouras.

Prevenção

A prevenção primária (Tabela 6.4) é a estratégia mais efetiva para se reduzir a incidência de delirium, bem como os eventos adversos  com  ele  relacionados.  Um  ensaio  clínico  controlado12  mostrou  a  efetividade  de  algumas  estratégias  preventivas

direcionadas  a  fatores  de  risco  específicos,  listadas  na Tabela  6.4.  Quando  comparadas  aos  cuidados  habituais,  essas intervenções  preventivas  mostraram  redução  em  40%  do  risco  de  delirium  em  idosos  hospitalizados.  Outros  estudos controlados  com  estratégias  multifatoriais  ou  educacionais  (orientação  da  equipe  multiprofissional)  têm  demonstrado resultados positivos quanto à redução na incidência e/ou duração do delirium.13

Em outro estudo randomizado controlado,14 o acompanhamento geriátrico de pacientes em pós­operatório de fratura de

fêmur  resultou  em  redução  de  40%  no  risco  de  delirium  por  meio  de  estratégias  multidimensionais  direcionadas  para  a otimização  desses  10  domínios:  saturação  adequada  de  oxigênio,  equilíbrio  hidreletrolítico,  controle  da  dor,  redução  de medicações  psicoativas,  função  vesical/intestinal,  nutrição,  mobilização  precoce,  prevenção  de  complicações  pós­ operatórias, estímulo ambiental apropriado e tratamento do delirium.

Tratamento

O tratamento do delirium envolve 2 abordagens concomitantes:

Identificação e tratamento da causa básica e minimização dos fatores contribuintes Manejo dos sintomas de delirium.

Ao  se  iniciar  a  investigação  dos  fatores  etiológicos  envolvidos,  deve­se  sempre  revisar  a  lista  de  medicamentos, avaliando­se a redução ou suspensão de substâncias que poderiam estar implicadas, bem como interações medicamentosas. A retirada súbita do álcool ou de sedativos, com consequente síndrome de abstinência, deve ser sempre considerada.

Inúmeras  condições  patológicas,  especialmente  as  doenças  infecciosas,  metabólicas,  cardiovasculares  e cerebrovasculares,  que  se  manifestam  muitas  vezes  de  modo  atípico  no  idoso,  devem  ser  minuciosamente  investigadas  e tratadas o mais precocemente possível.

Tabela 6.4 Estratégias para prevenção de delirium.

Fator de risco Intervenção

Desidratação Reconhecer desidratação e restaurar estado volêmico Dé cit auditivo Manter próteses auditivas

Dé cit visual Permitir a permanência dos óculos ou fornecer equipamentos adaptativos, como lentes de aumento Imobilidade Mobilização precoce. Evitar condições restritivas (cateteres vesicais, contenção física etc.)

Dé cit cognitivo Reorientação frequente para pessoas, tempo e lugar. Calendários e relógios visíveis são úteis

Uso de sedativos ou psicoativos Evitar substâncias psicoativas, administrando-as sempre na menor dose e tempo possíveis, evitando aquelas com meia-vida longa. Usar protocolos não farmacológicos para insônia ou ansiedade. Descontinuar medicações desnecessárias

Insônia Protocolos não farmacológicos (música relaxante, redução de ruídos, leite quente, chás sem cafeína). Evitar sedativos e procedimentos noturnos de enfermagem que interrompam o sono

Fonte: Inouye et al., 1999.12

Recomenda­se  iniciar  o  manejo  de  todos  os  pacientes  delirantes  com  estratégias  não  farmacológicas,  que  geralmente resultam  na  melhora  do  quadro.  Em  casos  selecionados,  essas  estratégias  devem  ser  suplementadas  por  terapia farmacológica,  em  geral  reservada  a  pacientes  nos  quais  os  sintomas  de  delirium  ameaçam  a  continuidade  de  terapias médicas  necessárias  (ventilação  mecânica,  acessos  venosos  centrais,  sondas  nasoenterais  etc.)15,16  ou  possam  ameaçar  a

segurança do paciente ou de outras pessoas. A prescrição de qualquer medicamento requer o equilíbrio entre o controle do delirium e os potenciais efeitos adversos dessas medicações.

No documento Manual prático de geriatria (páginas 88-90)