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mudanças, ao longo do tempo, considerando-se que, nestes últimos trinta anos, assistimos ao estabelecimento e desenvolvimento de um novo conceito – o da cidade pós-industrial -, caracterizado pela reestruturação da concepção urbana e pela definição de novos modelos e estratégias de planeamento urbano e territorial.

Face a esta constatação, e considerando o desfasamento da prática e disciplina do ordenamento português relativamente a outros países europeus, o objecto de estudo adquire particular relevância, por deter uma base intrinsecamente industrial, quando grande parte da Europa, se encontrava já na década de 1970, a experienciar os paradigmas da cidade pós-fordista. Embora alguns autores refiram que o Projecto de Sines constitui uma estratégia de descentralização do porto de Lisboa, este não pode ser considerado como pós-industrial, o que conduz a que o objecto de estudo adquira especial relevância pela possibilidade de estabelecimentos comparativos e de identificação de fenómenos e configurações face a outras cidades europeias, contextualmente mais avançadas, possibilitando até o estabelecimento de perspectivas de intervenção face a experiências observadas.

Neste sentido, e de forma consentânea com as novas abordagens desenvolvidas, sobretudo desde o início do novo milénio, é possível identificar um conjunto diverso de fenómenos urbanos e opções de desenvolvimento urbano e territorial, os quais reflectem, essencialmente, as transformações progressivas dos sistemas e modelos produtivos. Cada vez mais desenvolvido, no campo do conhecimento, da especialização, da informática e das relações de longa distância, o modelo produtivo que marca a nossa actividade reflecte-se de forma veemente na determinação de estratégias de planeamento e crescimento urbano.

Neste contexto, os modelos de ordenamento e de planeamento, bem como a expansão das cidades e metrópoles, mais ou menos fundamentadas por instrumentos de gestão territorial, tendem a diversificar-se, constituindo formas de desenvolvimento cada vez mais complexas, nas quais se estabelecem relações das mais variadas ordens, escalas e amplitudes.

Surgem assim, conceitos como o de territórios resilientes, que por sua vez, pode ainda ser considerado como uma forma de abordagem conceptual de carácter

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interdisciplinar. Enquanto conceito, a resiliência refere-se à capacidade de absorção e reorganização de um sistema urbano que, mantendo a sua estrutura e identidade básicas, é capaz de se adaptar a novas exigências e a forças de mudança; enquanto abordagem, pode ser entendido pela sua vertente integradora, colaborativa e multidisciplinar, com vista a um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável (SANTOS, 2009).

O interface entre âmbitos, escalas e usos díspares é uma constante cada vez mais comum nas cidades e metrópoles europeias actuais, reflectindo não só a ocorrência de novos usos e cenários urbanos, como um crescimento das ligações funcionais e espaciais ao nível do território. As novas lógicas de desenvolvimento e expansão das cidades são traduzidas em várias conceptualizações teóricas como “Città Diffusa” de Indovina5, “La Città Elementare”, de Viganò6, a “Cidade Extensiva”, de Portas, o “Polycentrism”, de Faludi ou a “Dispersão Urbana”, de Ascher7. De forma transversal aos vários autores, demonstra-se a tendência crescente para que o desenvolvimento das cidades se caracterize, cada vez mais, por uma configuração espacial dispersa, marcada pela diluição dos limites tradicionalmente apreendidos, entre espaços edificados e espaços não edificados.

Estas novas configurações espaciais, traduzem-se normalmente por um afastamento face à estrutura física de suporte, ou seja, face às características morfológicas de cada lugar, caracterizando-se ainda por uma certa dificuldade no estabelecimento e na transparência das suas lógicas organizacionais.

Neste domínio não se pretende um desenvolvimento sobre as potencialidades ou contrariedades destas lógicas e conceitos de desenvolvimento urbano, mas sim a definição de um âmago de referência que permita identificar e explicitar algumas dinâmicas e sinergias com o território de estudo, considerando as suas características e particularidades, que aliam projectos de grande escala, com estruturas e tecidos preexistentes, de base rural, que persistem até hoje.

Assim, o território de estudo torna-se particularmente interessante por integrar estruturas que obedecem a diferentes lógicas e níveis, sendo dotado de uma lógica

5 INDOVINA, F. (1990). La Città Diffusa. In Á. M. RAMOS, Lo Urbano en 20 Autores Contemporáneos (pp. 49-59).

Barcelona: UPC.

6 VIGANÒ, P. (1999). La Città Elementare. Milão: Skira Editore.

7 ASCHER, F. (2010). Novos Princípios do Urbanismo/Novos Compromissos Urbanos, um Léxico. Lisboa: Livros

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funcionalmente dependente da indústria e do porto, pontilhada por sistemas urbanos de índole rural, em cujas previsões de desenvolvimento se integram as dinâmicas da “Terceira Revolução Urbana Moderna”, de Ascher8. Esta complexidade, deve ser entendida, não como um processo estático, mas sim através das suas dinâmicas e dos diversos estádios de formação urbana.

Deste modo, importa ainda evidenciar o conjunto de sinergias entre o território/objecto de estudo, e as práticas e políticas urbanas, em crescente desenvolvimento e estabelecimento, não só a nível europeu, como também a nível nacional. Neste domínio verifica-se que, sobretudo a partir de 1980, acentuando-se com a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, a disciplina urbana, conheceu significativo estabelecimento ao nível legislativo e regulamentador.

Fruto da evolução do sistema de planeamento urbano, floresce não só uma maior consciência da importância do urbanismo, ao nível dos vários estados e até mesmo dos próprios cidadãos, como também surgem novas territorialidades e novas formas de governança. O solo passa a ser entendido como um bem de valor, e o território passa a obedecer a sinergias que não são somente as locais, regionais e centrais, mas são também comunitárias e globais.

Estas dinâmicas territoriais, induzem novas dimensões pelo que se demonstra necessário aclarar as novas realidades, cada vez mais diversas, articulando estruturas urbanas e infra-estruturais com tecidos rústicos. Esta articulação de escalas, fomentada por um interface crescente de estruturas dimensionalmente díspares, é fomentada não só pelos novos sistemas produtivos, mas sobretudo pelo facto das principais actividades já não se restringirem somente aos núcleos urbanos principais e às estruturas metropolitanas.

A policentralidade tende a induzir-se de forma crescente no estabelecimento de redes de centros alternativos, conectados e complementares entre si, não só como um reflexo das novas dinâmicas económicas e produtivas, mas também pela presença veemente que têm ao nível dos vários instrumentos de planeamento.

Da identificação das várias transformações das cidades e metrópoles europeias, e das adaptações naturais dos modelos de planeamento e ordenamento territorial, surge o interesse pelo estudo das várias modalidades urbanas e pelos vários estádios de desenvolvimento do território, com vista ao estabelecimento de sinergias e abordagens

8 ASCHER, F. (2010). Novos Princípios do Urbanismo/Novos Compromissos Urbanos, um Léxico. Lisboa: Livros

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comparativas que permitam não só um entendimento paulatino, como também uma observação e um entendimento prospectivo dos estádios futuros.

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