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O Emergir da Questão Regional e a Infra-Estrutura Portuária

| Fotografia 50 | Vista sobre a Praia Vasco da Gama, Marina de Sines e Instalações Portuárias | Sines | 01.Abr.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

Apesar de nos III e IV Planos de Fomento (1968/1973 e 1974/1979, respectivamente) ser dado algum destaque ao planeamento de nível regional, manifestando-se a necessidade da definição de um esquema geral de ordenamento do território (III P.F.) e a importância de articular a correcção das assimetrias regionais com o ordenamento do território (IV P.F.), a questão regional emerge, de forma mais evidente, como uma consequência quase directa do processo de construção da democracia, no pós 25 de Abril de 1974.

Em meados da década de 1970, a questão regional encontrava-se marcadamente associada à necessidade de divisão do país segundo regiões – a chamada regionalização -, defendida por muitos como um acto imprescindível para o desenvolvimento de um planeamento mais eficaz no que concerne à distribuição e acesso a recursos, acabando por integrar a Constituição de 1976 (permanecendo na agenda política dos vários partidos e Governos até aos nossos dias). Contudo, apesar da consciencialização da importância de um desenvolvimento e planeamento que minimizassem as assimetrias territoriais, escassos são os progressos verificados no que concerne à governabilidade e às políticas territoriais, até à integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia, em 1986.

O passo mais significativo a registar, ocorreu ainda no final da década de 1970, com a constituição das cinco Comissões de Coordenação Regional (CCR – Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve, de acordo com o Decreto-Lei nº494/79, de 21 de Dezembro), permitindo o processo de reestruturação dos órgãos de apoio regional,

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consolidando, de certo modo, a estrutura administrativa do Governo Central, com competências no domínio da coordenação do planeamento e na distribuição, ao nível regional, dos programas de investimento público.

A ideia de desenvolvimento de uma área concentrada de indústrias base, com origem ainda no final da década de 1960 e da qual resultou o projecto da área de Sines, tem já inerentes algumas destas concepções. Mais do que uma estratégia económica e política, visa a aproximação do mercado português ao grande mercado europeu, em processo de crescente unificação, a valorização dos produtos, recursos e capacidades nacionais, e o desenvolvimento da região do Alentejo marcadamente subdesenvolvida, no contexto do país.

Trata-se portanto de uma concepção estratégica que, contudo, só começa a transparecer, em meados da década de 1980, com algumas das infra-estruturas já em funcionamento (mesmo que ainda não na totalidade), de que são exemplo:

- o terminal de carga geral70, ainda que provisório;

- o molhe Oeste, que permite a primeira descasca de petróleo bruto, ainda em 1977; - o terminal petroleiro em actividade desde 1978;

- a refinaria de Sines, cujo primeiro ano de laboração foi 197971; - o terminal petroquímico em exploração desde 1981.

70 Na época, ainda provisório. Constituía uma infra-estrutura de apoio às obras de construção do porto, possibilitando

a acostagem de navios de Transporte Marítimo de Curta Distância (S.S.S).

71 Embora que com uma taxa de utilização de apenas 5,5%.

| Fotografia 51 | Vista sobre Sines e os Terminais Petroleiro e Petroquímico | Sines | 23.Out.2009 | Fotografia de Cátia Assunção.

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No ano de 1983, o número de navios a fazer escala em Sines perfazia já os 705, o que faz com que este porto, essencialmente dedicado ao sector energético, se aproxime rapidamente, ainda durante os primeiros anos de actividade, das tonelagens movimentadas no porto de Lisboa, na época, o porto que mais toneladas movimentava (CARVALHO, 2005, p. 170).

O desempenho registado pelo porto de Sines, logo desde os primeiros anos de funcionamento, deve-se em grande medida, ao suporte dado por um conjunto de infra- estruturas, que acompanharam o ritmo de desenvolvimento das obras. No final da década de 1980, a área de Sines, dispunha já de uma rede rodoviária com cerca de 500 quilómetros de asfalto, composta por duas vias de circulação interna, por três vias rápidas, que fazem a ligação entre a rede interna e a variante à E.N. 120, e por um conjunto de vias que servem os complexos industrial e portuário. Para além de permitirem e melhorarem a ligação entre os centros urbanos e as zonas portuária e industrial,

fomentaram a circulação e mobilidade da região a nível local e regional permitindo, simultaneamente, a ligação rodoviária a Setúbal, Lisboa e ao interior do Alentejo (eixos Sines/Aljustrel e Sines/Beja).

No âmbito do Plano de Modernização e Reconversão dos Caminhos-de-Ferro72 (com horizonte compreendido entre os anos de 1988 e 1994), uma das acções principais, tomada no século XX, no domínio da modernização da rede ferroviária herdada do século XIX, que visa torná-la apta às novas solicitações do mercado, começa a ser preparada a adaptação da Linha de Sines, em funcionamento ao tráfego de passageiros até Janeiro de 1990. A adaptação da linha e a construção da chamada Raquete de Sines, tem já marca

72 Aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros nº6/88, de 4 de Fevereiro.

| Fotografia 52 | Carvão - Terminal Multiporpose | Sines | 23.Out.2009 | Fotografia de Cátia Assunção.

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visível na cartografia de finais da década de 1980, e tem a intenção de desenvolver o tráfego de carvão, entre o terminal multiusos73, a Central do Pego e cimenteiras (CARVALHO, 2005, p. 203).

O porto de Sines, tratando-se de um porto moderno, para a época, beneficiário do desenvolvimento tecnológico no âmbito dos sistemas de transporte, do manuseamento e movimentação de cargas, apresenta-se como um elemento polarizador de um vasto hinterland, opondo-se aos portos tradicionais que, até à década de 1960, detinham uma área de influência muito bem determinada, quer no espaço quer no tempo (MARTINS, O Planeamento de Uma Cidade Nova: Santo André. Conceitos e Métodos, 1981, pp. 53,57). Desenvolvido como um pólo de desenvolvimento capaz de promover um melhor equilíbrio regional, este complexo industrial, portuário e urbano, veio alterar a área de influência da AML, sendo apontado como um elemento que, sem prejudicar o desenvolvimento da capital, compensaria o seu poder de atracção, estimulando e direccionando o

desenvolvimento para o interior (MARTINS, O Planeamento de Uma Cidade Nova: Santo André. Conceitos e Métodos, 1981, p. 57).

Porém, a área de Sines, na década de 80, pouco beneficia da integração na área de influência da capital, continuando a depender exclusivamente desta, do ponto de vista de serviços e equipamentos.

Deste modo, é possível concluir que as vantagens seguem uma trajectória top- down, sendo as escalas mais elevadas as que mais beneficiam das vantagens deste complexo urbano-industrial agregado a um porto de águas profundas.

73 Ou, em alternativa, Terminal Multiporpose.

| Fotografia 53 | Linha Ferroviária de Mercadorias de Ligação ao Porto de Sines | Relvas Verdes | 08.Ago.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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Do ponto de vista local e até mesmo regional, poucas são as vantagens encontradas, para além de uma melhor infra-estruturação viária que permite acesso mais rápido e facilitado quer a Setúbal e Lisboa, quer ao interior do Alentejo. Para além de uma profunda alteração na paisagem natural da região, as populações locais beneficiam em muito pouco com este projecto: (1) perdem as suas actividades económicas tradicionais - agricultura e pesca - e a relação de proximidade com o território, devido à política de expropriações desenvolvida; (2) a relação entre a cidade, a população e o mar é cada vez mais distante, devido à infra-estruturação pesada e massiva, e ao não desenvolvimento de um porto de pesca capaz de satisfazer as necessidades dos pescadores, (4) não são integrados nas indústrias, no porto e nos poucos serviços já em funcionamento, por falta de qualificações74, porque grande parte das empresas envolvidas na construção detinham mão-de-obra efectiva e que acabou por ingressar no processo de laboração e devido à vaga de mão-de-obra recém chegada das ex-colónias e ainda (5) são obrigados a abandonar as suas propriedades, sendo-lhes conferidas habitações que, na maioria dos casos, não se adequam com o seu estilo e modo de vida75.

Naturalmente que a estratégia de desenvolvimento do projecto da área de Sines, tem inerente, desde a decisão de desenvolvimento de uma área concentrada de indústrias base, aliada a um porto de águas profundas, uma intenção de aproximação às políticas e iniciativas desenvolvidas no âmbito da Comunidade Económica Europeia, que facilitem a sua integração. Apesar de Portugal apenas integrar a CEE no ano de 1986, o Plano Geral da Área de Sines, embora tenha sofrido algumas adaptações até à fase em que se encontra na década de 1980, manifesta já, uma aproximação às iniciativas desenvolvidas no âmbito do ordenamento transnacional do espaço europeu que começam a despoletar, precisamente na década de 1980.

74 Muito embora o projecto privilegia-se, durante o processo de obra, mão-de-obra pouco qualificada e deste modo,

menos dispendiosa.

75 E que justificam que desde cedo, comecem a surgir adaptações às habitações, como anexos, quintais, jardins.

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