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Os Primeiros Instrumentos de Gestão Territorial

| Fotografia 74 | Vista sobre o Castelo e o Porto de Sines | Sines | 12.Set.2008 | Fotografia de Cátia Assunção.

Do ponto de vista dos instrumentos legais e regulamentares do ordenamento do território, Portugal conheceu significativos avanços ao nível do quadro legislativo no pós 25 de Abril de 1974. Embora a primeira legislação date de 1932, só em 1975 se inicia uma abordagem mais abrangente do ordenamento do território que, a partir de então, ultrapassa os limites dos aglomerados urbanos de maior dimensão, passando a ser encarado como um processo interdisciplinar e intersectorial com vista à integração e coordenação das políticas de uso de solo e organização territorial. Na década de 1980, aperfeiçoa-se o conceito de ordenamento e, consequentemente, apruma-se o seu quadro legislativo, definindo-se instrumentos como os PDM, os PROT e ainda a REN e RAN109 (ABREU & ESPENICA, Associação de Municípios do Distrito de Évora, p. 2).

Neste sentido, e na sequência das atribuições das autarquias e das competências dos seus órgãos, definidas na Lei nº 79/77, de 25 de Outubro, é definida a figura do Plano Director Municipal como instrumento operacional do ordenamento do território submetendo, deste modo, todos os municípios à elaboração do seu próprio PROT110.

Com regulamento publicado através da Portaria nº 623/90, o PDM Sines constitui o primeiro instrumento de gestão territorial, de âmbito municipal da chamada primeira

109 DL nº208/82, de 20 de Maio; DL nº338/83, de 20 de Julho, posteriormente revogado pelo DL nº176-A/88, de 18 de

Maio; DL nº 321/83, de 5 de Julho; DL nº 196/89, de 14 de Julho, respectivamente aos instrumentos de gestão territorial supra citados.

110 Através da publicação do DL nº208/82, de 20 de Maio.

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Urbanas

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geração111, integrando já as disposições contidas no Decreto-Lei nº 69/90, de 2 de Março. Aprovado em 1990, o PDM de Sines constitui um instrumento essencialmente regulador. A inexistência de estratégias e regulamentos, anteriores a estes planos, traduz-se numa certa inexperiência dos municípios, na abordagem e domínio das matérias relacionadas com o ordenamento do território, factor que acaba por se reflectir nas opções estratégicas contidas nos planos. Por sua vez, os PDM de primeira geração, demonstram uma certa tendência para a definição e estabelecimento de zonamentos, muitas vezes mono- funcionais, condicionando a estruturação equilibrada do espaço, contribuindo para a dispersão e desenvolvimento de enclaves e entropias urbanas.

Á semelhança do PDM de Sines, também o PDM de Santiago do Cacém manifesta uma certa rigidez que impede, por vezes, a flexibilidade de adequação do plano à realidade. Por sua vez, o Plano Director Municipal de Santiago do Cacém representa, notoriamente um instrumento representativo da transferência de competências do domínio

do poder central (neste caso, maioritariamente afecto e representado pela figura do Gabinete da Área de Sines), para o poder local. Em vigência desde 1993, o PDM de Santiago112 foi elaborado de acordo com a regulamentação vigorante, nomeadamente o Decreto-Lei nº 211/92, de 8 de Outubro113, incluindo todavia, as disposições do Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo Litoral (PROT ALI).

111 Tal como referido no website oficial da Câmara Municipal de Sines; consultar fonte:

http://www.sines.pt/PT/Viver/Urbanismo/pdmvigor/Paginas/default.aspx, consultado a 01.Mar.2010.

112 Ratificado pela Resolução do Conselho de Ministros nº62/93, de 3 de Novembro.

113 Alteração instituída ao Decreto-Lei nº 69/90, de 2 de Março, justificada pela criação do Ministério do Ambiente e

Recursos Naturais, com intenção de dotar os municípios de maior autonomia, colocando as câmaras municipais em situação similar à dos particulares nos casos de operações de loteamento, quando se trate da aprovação de planos que integrem áreas sujeitas a planos hierarquicamente superiores.

| Fotografia 75 | Fortificação do Castelo de Sines | Sines | 27.Ago.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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A figura dos planos regionais de ordenamento do território, instituída em 1983, através do Decreto-Lei nº338/83, de 20 de Julho, visa o estabelecimento de instrumentos de gestão territorial de nível regional enquanto ferramentas programáticas e normativas com vista a caracterização e o desenvolvimento harmonioso do território. Alterado ainda na década de 1980, através do Decreto-Lei nº 176-A/88, de 18 de Maio, pretendeu-se uma maior operacionalização com os estatutos da administração local, reconhecendo-se a conveniência de integração da participação e consulta das populações como uma mais- valia para o desenvolvimento e gestão urbanística e territorial. De acordo com este regulamento, os PROT deviam assegurar não só uma visão supra-municipal de territórios homogéneos, do ponto de vista económico e ecológico, como também, a representação dos interesses e conteúdos que revelem a necessidade de uma abordagem integrada (ABREU, BACHAREL, & CATITA, Os PROT's no Alentejo, 2002, p. 18).

Nesta sequência, e de acordo com a Resolução do Conselho de Ministros nº 8/89,

de 27 de Fevereiro, é determinada a elaboração do Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo Litoral, considerando-se esta região, que abrange a totalidade de cinco concelhos114, uma área de intervenção prioritária, por integrar um conjunto de ecossistemas de grande fragilidade, dotados de significativas diferenças e complementaridades (ABREU, BACHAREL, & CATITA, Os PROT's no Alentejo, 2002, p. 18). O PROT ALI tinha como objectivos não só a compatibilização entre as realidades distintas da faixa litoral e do interior, como também pretendia a valorização dos ecossistemas naturais e a compatibilização turística, recreativa e produtiva, tendo por

114 Para além de Sines e Santiago do Cacém, fazem parte do PROT ALI, os concelhos de Alcácer do Sal, Grândola e

Odemira.

| Fotografia 76 | Centro Histórico de Sines | Sines | 06.Ago.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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base a capacidade de carga do território, valorizando e destacando, no contexto regional, a importância do Complexo de Sines. Este instrumento de gestão territorial destaca especialmente a necessidade de atenuar os desequilíbrios entre a consistência de uma faixa costeira de cerca de 130 quilómetros de extensão, com fortes pretensões turísticas e sem instrumentos de gestão territorial de nível sectorial, e uma faixa interior, marcada pelo processo de desertificação e obsolescência.

Do conjunto de objectivos específicos do PROT ALI, destaca-se a vontade de reforçar o potencial estratégico da faixa litoral, com vista ao desenvolvimento económico e turístico em consonância com o desenvolvimento das infra-estruturas portuárias e industriais, bem como potenciar as vantagens da sua localização face à Área Metropolitana de Lisboa e ao Algarve, melhorando assim, a integração do Alentejo Litoral a nível nacional e regional.

Por sua vez, o PROT ALI integra também, preocupações de carácter ambiental e de

protecção e conservação dos recursos naturais, manifestando a plena integração das mesmas no domínio do ordenamento do território. Neste contexto, são definidas como áreas de interesse para a conservação da natureza, a faixa litoral compreendida entre Sines e a Lagoa de Santo André, sendo definida como Área de Protecção Litoral (APLSSA) e a Área de Paisagem Protegida do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (APPSACV).

Embora marcados por uma certa inexperiência na abordagem das questões do domínio do ordenamento do território, que se traduz numa certa rigidez, abrangência e por vezes inoperatividade, os Planos Directores Municipais e os Planos Regionais de Ordenamento do Território (entre outros instrumentos), marcam a década de 1980 e, sobretudo a de 1990 com significativos avanços no âmbito do planeamento e gestão urbana e territorial. Neste sentido destaca-se, ainda na década de 1990, o início de um

| Fotografia 77 | Praia de São Torpes (APPSACV) | Sines | 27.Jul.2010 | Fotografia de Cátia Assunção

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novo capítulo no domínio das iniciativas e políticas públicas de planeamento urbano e ordenamento territorial do espaço português, com a publicação da Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo (LBPOTU)115 (CALDEIRA, 2008, p. 1).

A LBPOTU representa o amadurecimento do quadro legislativo português no âmbito do planeamento e gestão territorial, reflectindo um longo processo evolutivo que se iniciou ainda, na década de 1930. Tratando-se de um elemento estruturante no sistema de planeamento e gestão do território, a LBPOTU tem como objecto, a definição do quadro da política de ordenamento do território e urbanismo e dos instrumentos de gestão territorial, apresentando um grande conjunto de opções ao nível do seu modelo de organização. A LBPOTU institui ainda, novas formas de regulação dos diversos níveis da Administração Pública – nacional, regional e local -, e desta com a população e seus respectivos representantes. A definição e constituição de um verdadeiro sistema nacional de gestão territorial visa, acima de tudo, o desenvolvimento e utilização equilibrada e racional do território nacional com vista o seu desenvolvimento económico, social e cultural. A LBPOTU constituiu ainda um instrumento de referência para o desenvolvimento do quadro legislativo, norteando as opções de desenvolvimento urbano e territorial desde então, do qual resulta, a título de exemplo, o Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT)116, ainda no final da década de 90.

| Fotografia 78 | Porto de Pesca | Sines | 27.Jul.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

115 Correspondente à Lei nº 48/98, de 11 de Agosto.

116 Aprovado pelo Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro.

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