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A Paisagem Florestal

| Fotografia 14 | Vista sobre o Pinhal (Pinheiro Bravo) – Barragem de Morgavel | Sines | 25.Abr.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

A região a Sul do Tejo é, no contexto do país, a região que transparece de forma mais vincada, as características mediterrânicas, reproduzindo de forma fiel o seu clima, os seus invernos aprazíveis e os estios quentes, secos e luminosos (GOMES, 1969, p. 37). A combinação entre os desígnios climáticos e a influência geológica, determinou a propensão da orla litoral, para o desenvolvimento de povoamentos florestais puros26, na qual o sobreiro (Quercus Suber), se assume como espécie mais representativa.

Até meados da década de 1950, a ocupação florestal, detinha nos concelhos de Santiago do Cacém e de Sines27, uma significativa importância e representatividade económica, sendo que, a percentagem de área florestal, rondava os 15% em ambos os concelhos, na qual o sobreiro era apontado como a espécie com maior expressão, com cerca de 34% e 14% (GOMES, 1969, pp. 45-46). O pinheiro bravo (Pinus Pinaster), apresentava-se como uma espécie residualmente representada, sobretudo no interior, ocupando, uma percentagem de cerca de 2% e 5%, nos concelhos de Santiago do Cacém e Sines, respectivamente.

De acordo com estudos mais recentes, a floresta ocupa cerca de 37% da área total de Portugal continental, o que totaliza cerca de 3 323 000 hectares (COELHO, 2003).

26 Entenda-se povoamentos florestais puros como aqueles, que surgem de uma forma natural, ou seja, sem que a

acção humana seja demasiado vincada.

27 A taxa de ocupação florestal, no período de 1951-1953, correspondia, para o concelho de Santiago do Cacém, à

classe de 30 a 40%, sendo que Sines detinha uma taxa de ocupação entre 10 a 20% (GOMES, 1969, p. 43).

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Porém, cerca de 49 % desta área está integrada em áreas de exploração agrícola nas quais 70% são ocupadas, predominantemente, por montados de sobro e azinho.

De um modo geral, a estrutura florestal do país, começou a alterar-se ou, a antropizar-se/artificializar-se devido a políticas florestais delineadas a partir do século XIX, pelo Estado28, que num primeiro momento se incumbiu de desenvolver a florestação das terras de domínio público e comunal, nomeadamente dunas litorais e baldios (COELHO, 2003). Importa desde já referir, que a estrutura da propriedade fundiária desempenha, nestes processos de antropização e de desenvolvimento florestal fomentados pelo Estado, um papel de extrema importância apresentando-se como extremamente influentes.

É sobretudo a partir da década de 1960, com o inicio do desenvolvimento de políticas estaduais de fomento à florestação em propriedades privadas, que se registam alterações mais significativas do ponto de vista da antropização florestal do território em

estudo. Estas alterações advêm sobretudo como consequência da implementação do Programa Florestal do Banco Mundial, e fizeram-se sentir não só na região mas um pouco por todo o país. Surgem então extensas matas de pinheiros bravos, alinhados entre si, que percorrem sobretudo a faixa mais costeira, estendendo-se quase ininterruptamente entre o Cabo de Sines e a Península de Setúbal, adaptando-se facilmente à estrutura geológica de base Cenozóica e a solos marcados pela sua difícil retenção de água. Paralelamente ao pinheiro bravo, surgem, em menor número algumas florestas de

28De que é exemplo o Plano Florestal Português, instituído pela Lei nº1971, de 15 de Junho de 1938, com previsão

de implementação de 1939 a 1960, cerca de 30 anos.

| Fotografia 15 | Pinhal (Pinheiro Bravo) – Lagoa da Sancha | 01.Abr.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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eucalipto (Eucalyptus), também elas muito ordenadas, sendo que, entre ambos, se encontram pequenas parcelas de pinheiro manso (Pinus Pinea).Estas florestas têm uma marca muito perceptível na apreensão visual deste território, provocando ainda, à primeira impressão, um certo estranhamento relativo à escala do seu ordenamento e à sua geometrização.

Embora o Estado, ao fomentar a florestação de propriedades privadas tenha privilegiado sobretudo, as grandes propriedades do interior Sul, verifica-se, no território em estudo, que há, em certa medida um efeito contrário. Em suma, o que se verifica, é que a estrutura fundiária do território, marcada pela pequena propriedade, mais no concelho de Sines do que propriamente no de Santiago do Cacém, tende a agregar-se, em propriedades de maior dimensão, sob a influência dos programas de florestação do Estado, do Banco Mundial e da instituição do Fundo de Fomento Florestal. Esta alteração da estrutura fundiária, terá acentuado relevo posteriormente, na década de 1970, na política de expropriações levada a cabo para a implementação do núcleo industrial e urbano.

O processo de florestação intensiva desta região teve e tem um forte impacto no território, marcando-o não somente na sua apreensão visual. Para além do importante contributo a nível ambiental, estas florestas têm uma importante componente económica, uma vez que se tratam de florestas de extracção, das quais provêm resinas e matérias- primas que, para além de outros usos, são utilizadas na produção de pasta de papel.

A importância, escala e impacto (sobretudo visual) que estas florestas antropizadas têm na paisagem e no território, justificam a sua introdução na matriz de análise, enquanto uma das principais determinantes do processo de formação do território, instituindo a componente ambiental e paisagística que jamais pode ser dispensada num estudo de planeamento urbano e territorial que pretenda uma rigorosa interpretação dos processos e agentes do território.

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Uma Estrutura Fortemente Ruralizada