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Novos Modelos de Desenvolvimento Urbano

| Fotografia 97 | Zona de Actividades Mistas e Zona de Actividades Ligeiras | Vila Nova de Santo André | 06.Ago.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

Passados cerca de trinta anos sob a implementação do projecto portuário, industrial e urbano de Sines, assumido está que o desenvolvimento urbano deste território há muito perdeu a sua relação de simbiose com as estruturas económicas, provenientes da agricultura e da pesca, e com a estrutura morfológica do espaço.

Desde 1970, se iniciou aqui uma nova dimensão territorial, fundamentada em novos padrões de organização do espaço, reflexo da evolução das estruturas políticas, económicas e sociais, caracterizada desde o início, pela fragmentação territorial a qual podemos associar, de forma quase directa, a uma mudança dos modelos produtivos ou, mais concretamente, a mudança para um sistema de base industrial. Neste sentido, verifica-se que a apropriação deste território reflecte as consequências do incremento repentino de estruturas de níveis e escalas diferenciadas que geram interacções diferenciadas entre o local, regional, nacional ou global.

No que respeita aos principais aglomerados, tem-se verificado uma certa inércia no seu desenvolvimento urbano, sobretudo quando comparado com o desenvolvimento das infra-estruturas portuárias, que têm vindo a merecer crescente destaque, nos últimos anos, perspectivando um futuro promissor na afirmação deste complexo portuário, industrial e logístico no contexto nacional e europeu. De forma transversal aos três principais aglomerados urbanos, tem-se registado uma tendência para o desenvolvimento urbano maioritariamente habitacional, caracterizado por uma baixa densidade. Normalmente localizadas junto ao limite dos perímetros urbanos, este desenvolvimento habitacional é caracterizado pela predominância de moradias do tipo unifamiliar, no qual

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nem sempre são perceptíveis as lógicas de organização espacial. Porém, e embora se reforce o facto do desenvolvimento urbano, não ter acompanhado, ao logo destes trinta anos, o desenvolvimento das restantes infra-estruturas, sobretudo portuárias e industriais, verifica-se que, contrariamente ao planeado no Plano Geral da Área de Sines, o aglomerado urbano de Sines é o que regista maior crescimento, verificando-se uma tendência para a ocupação de espaços vazios intersticiais entre edifícios e infra- estruturas, em detrimento de uma expansão associada aos limites.

Ao nível dos equipamentos e serviços, tem-se registado intervenções pontuais, mas de grande importância, sobretudo nas sedes de concelho170, verificando-se contudo, que neste domínio este território se encontra ainda, relativamente subdesenvolvido, dependendo em grande medida, da oferta potenciada pela AML.

Ao nível dos aglomerados urbanos de menor dimensão, caracterizados ainda pelo seu carácter marcadamente rural, verifica-se uma tendência para o seu

desenvolvimento171, associado mais uma vez, às estruturas de ocupação de carácter habitacionais, o que demonstra não só uma tendência crescente para a preferência de zonas rurais de maior proximidade com a terra, como se reflecte como uma consequência do valor do solo, praticado nos aglomerados urbanos de maior dimensão.

Ao nível dos instrumentos de gestão territorial e de ordenamento do território de domínio municipal, constata-se uma significativa discrepância no que respeita a esta actividade nos concelhos de Sines e Santiago do Cacém. O concelho de Sines tem desenvolvido, nos últimos anos, um significativo conjunto de planos, sobretudo de níveis

170 De que são exemplo: o Hospital do Litoral Alentejano ou o Centro de Artes de Sines.

171 A título de exemplo, podem identificar-se os aglomerados urbanos rurais de Brescos, Deixa-o-Resto, Aldeia de

Santo André ou Relvas Verdes.

| Fotografia 98 | Centro de Artes de Sines | Sines | 06.Ago.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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inferiores, como os Planos de Pormenor e Planos de Urbanização172, contrariamente ao concelho de Santiago do Cacém173, no qual se verifica, uma ausência de Planos de Urbanização nas principais freguesias. A inexistência de regulamentação ao nível municipal, pode constituir um factor potenciador da fragmentação e descaracterização urbana, pela ausência de indicações ao nível das zonas de crescimento da cidade e das respectivas tipologias a desenvolver.

Porém, ao nível dos instrumentos de gestão territorial de nível superior, tem-se verificado significativos avanços, incrementados em parte, por um sistema mais informado e desenvolvido no domínio do ordenamento, planeamento e gestão do território. Ao nível do PNPOT, são identificadas patologias ao nível do ordenamento do território nacional, que são, de certo modo, transponíveis para a área de estudo, nomeadamente: (1) efeitos de fragmentação e desqualificação dos tecidos urbanos e áreas envolventes correlativas a expansões urbanas desordenadas, (2) inexistência de cultura nos domínios do

ordenamento do território e sistemas de informação, gestão e planeamento ineficazes, (3) inadequação do desenvolvimento de infra-estruturas e equipamentos de uso colectivo relativamente às dinâmicas de desenvolvimento urbano e das necessidades de nível social (DIRECÇÃO GERAL DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E DO URBANISMO, 2007, p. 85). O PNPOT, enquanto instrumento primaz sobre os demais instrumentos de gestão territorial em vigor, introduz novas directrizes no domínio do ordenamento do território,

172 Consultar Tabela de Instrumentos de Gestão Territorial com Incidência no Território em Estudo – Apêndice

Documental – p.7.1.

173 Dispõe apenas de Plano de Urbanização, aprovado em 1983 e revisto em 1998 (COMISSÃO DE COORDENAÇÃO

DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL DO ALENTEJO)

| Fotografia 99 | Desenvolvimento Urbano de Baixa Densidade | Vila Nova de Santo André | 06.Ago.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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constituindo o primeiro documento legislativo a fazer referência ao “triângulo urbano”174 formado pelos aglomerados de Sines/Santiago do Cacém/Santo André. De entre o conjunto de directrizes e objectivos estratégicos, destaca-se a importância atribuída ao desenvolvimento urbano de nível regional e à promoção de redes de cidades e subsistemas locais, apoiadas em sistemas policêntricos, como forma de constituir pólos de competitividade e gerar complementaridades, especialização e qualificação.

Os princípios gerais para a afirmação de uma política de ordenamento territorial baseada num modelo policêntrico, surgem no ano de 1999, no âmbito do Conselho de Ministros da União Europeia, com objectivo de incrementar a integração e fomentar a conexão interubana, de forma a intensificar o desenvolvimento económico de nível regional e introduzir condições para a internacionalização. Embora não constitua uma orientação exclusiva do modelo de desenvolvimento territorial fomentado pela União Europeia, facto é, que desde então, este conceito tem integrado a base da grande maioria

das políticas de ordenamento do território, entre os diversos Estados-Membros.

Reflectindo, como seria de esperar, as directrizes da U.E., o PNPOT promove o desenvolvimento policêntrico dos territórios e o reforço da coesão territorial, influenciando directamente o PROTA, que por sua vez, salienta a necessidade do Alentejo apostar neste modelo de desenvolvimento, baseado numa rede regional de pólos urbanos. Segundo o documento, o objectivo da adopção deste modelo, advém da necessidade de reforço e integração territorial e de redução das desigualdades e disparidades dos vários territórios.

174 Expressão utilizada no PROTA ( COMISSÃO DE COORDENAÇÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL DO

ALENTEJO, 2010, pp. 76-77).

| Fotografia 100 | Avenida Vasco da Gama (Marginal) | Sines | 29.Jul.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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Ao nível do PROTA, os aglomerados urbanos de Sines, Santiago do Cacém e Santo André, são apontados como uma centralidade elementar, enquanto conjunto, na estruturação e desenvolvimento de um sistema urbano regional, assegurados pelas infra- estruturas portuárias, industriais e logísticas ( COMISSÃO DE COORDENAÇÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL DO ALENTEJO, 2010, pp. 76-77). Neste sentido, a proximidade e a interdependência entre os três aglomerados, leva a que se afirme, no documento, que o seu desenvolvimento como um agregado, gere complementaridades, facilitando e viabilizando projectos a desenvolver no futuro ( COMISSÃO DE COORDENAÇÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL DO ALENTEJO, 2010, pp. 76-77). Deste modo, o “triângulo urbano” formado pelos três aglomerados, constituirá o principal pólo do Alentejo Litoral, apontando-se porém, a sua qualificação urbana e ordenamento dos espaços intersticiais, como premissas essenciais175 para o afirmar da retaguarda urbana da principal porta atlântica de Portugal ( COMISSÃO DE COORDENAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO REGIONAL DO ALENTEJO, 2010, p. 111).

Embora sejam compreensíveis a lógica e a intenção subjacentes ao modelo de desenvolvimento urbano policêntrico, consagrado neste e noutros documentos, verifica-se a necessidade de uma maior definição das medidas a adoptar com vista a sua consagração. No caso do Alentejo, região caracterizada por fortes assimetrias e disparidades, nomeadamente entre o litoral – marcadamente povoado –, e o interior – caracterizado pela sua ruralidade -, torna-se claro que as directrizes do PROTA têm um carácter relativamente generalista, o que, em certa medida, se vai reflectir nos

175 Para além da verdadeira consolidação de um sistema urbano policêntrico.

| Fotografia 101 | Urbanização do Pinheiro Manso - Desenvolvimento Urbano de Baixa Densidade | Vila Nova de Santo André | 20.Set.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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instrumentos de gestão territorial de nível inferior. Deste modo, e reportando à área de estudo, verifica-se que caso não se desenvolvam estratégias de concertação intermunicipais e métodos de governança mais eficazes, este modelo de desenvolvimento, apoiado em relações de distância e complementaridades entre vários centros urbanos, integrados em rede, pode traduzir-se no efeito contrario ao esperado, fomentando, por exemplo, relações cada vez mais independentes entre os vários aglomerados176. Ao nível do conjunto urbano formado por Sines, Santiago do Cacém e Santo André verifica-se, apesar da proximidade, uma carência de inter-relações municipais, que advêm de uma falta de concertação política, recorrente no modelo de gestão português.

Outra questão que importa referir ao nível da implementação de um modelo de desenvolvimento policêntrico neste território, reporta-se à acessibilidade, uma vez que, tal como anteriormente mencionado, este modelo tem por base uma lógica de complementaridades, à qual está intrínseca a distância. Deste modo, torna-se necessário

o fomento da acessibilidade e mobilidade, através da definição de acções e projectos concretos, não tanto ao nível das infra-estruturas, mas sobretudo ao nível da implementação e adequação de transporte público colectivo, possibilitando-se assim, o acesso mais justo e equitativo, por parte da população, aos bens e serviços dispersos pelo território.

Embora introduzido no âmago dos instrumentos de gestão territorial mais recentes177, os efeitos do modelo de desenvolvimento policêntrico são já reconhecíveis ao

176 A título de exemplo, pode identificar-se a falta de concertação ao nível de equipamentos e serviços públicos,

desenvolvidos pelas várias autarquias, que conduz à multiplicação da oferta em vez da diversidade.

177 Sobretudo desde finais de 1990.

| Fotografia 102 | Urbanização Vila Plátano - Desenvolvimento Urbano de Baixa Densidade | Vila Nova de Santo André | 20.Set.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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nível da estrutura e organização do território nacional e do próprio território em estudo. A expansão, modernização e melhoria generalizada das condições de acessibilidade, sobretudo rodoviárias, constituem um marco importante na redefinição e expansão da área de influência da AML, permitindo um acesso mais rápido e facilitado178 da capital a localidades como Sines e Évora179. Consequência deste facilitismo, do modelo de desenvolvimento adoptado e, naturalmente, de outros factores, grande parte do território NUT II do Alentejo, está actualmente inserido no Arco Metropolitano de Lisboa, ou seja, está abrangido pela sua área de influência. Esta nova Região Metropolitana induz, transfere e consolida novas funções em alguns núcleos da região do Alentejo, criando novas centralidades urbanas, de que é exemplo o território em estudo, enquanto suporte portuário, industrial e logístico. Considerando as prospectivas em relação ao porto de Sines e o investimento na sua ampliação e afirmação, complementarmente ao crescimento das actividades logísticas e industriais, prevê-se, num futuro próximo o reforço da

influência da AML180. Tal como refere o PROT AML, esta nova dimensão territorial da Área Metropolitana de Lisboa, traduz um renovado, embora mais complexo, sistema territorial, no qual se passa de uma estrutura do tipo centralizadora, extremamente dependente da capital, para uma estrutura na qual as funções de articulação inter-urbana, decorrentes na Periferia Urbana, desempenham um papel fundamental para o equilíbrio e organização de toda a Região Urbana181. Na realidade, a macrocefalia da região de Lisboa sente-se um

178 Para os detentores de transporte individual/próprio. 179 Cerca de 90 minutos de automóvel.

180 A crescente afirmação do complexo de Sines, constitui um dos factores para a expansão dos limites da AML. 181 Traduzindo, de forma muito clara, o conceito de policentrismo.

| Fotografia 103 | Desenvolvimento Urbano de Baixa Densidade | Vila Nova de Santo André | 20.Set.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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pouco por todo o país, sobretudo no que respeita à concentração de serviços e equipamentos, tendência esta que tende a alterar-se através do afirmar de um modelo verdadeiramente policêntrico, apoiado por um conjunto de novas políticas, dinâmicas de ordenamento do território e novas e mais justas formas de governança.

No que respeita ao território em estudo, e uma vez que não só se insere na região de polarização metropolitana, ou seja na sua área de influência, como ainda se institui na retaguarda de um grande complexo portuário, industrial e urbano, sugere a emergência de um sistema de governança multi-nível cada vez mais complexo, para o qual será necessário desenvolver um sistema de gestão integrada. Os instrumentos de gestão territorial e as políticas de planeamento urbano, devem deste modo, focar-se na concertação das várias escalas das estruturas que compõem o território, considerando as complementaridades entre o sistema portuário/industrial/logístico, o sistema urbano e até mesmo o desempenho do espaço rural, que continua a marcar de forma presente o território.

Conclui-se assim, que o desenvolvimento urbano deste território deve responder, através da afirmação de iniciativas mais incisivas, ao progresso e expansão dos restantes sistemas, mantendo com estes não uma relação de causa/efeito, mas encontrando neles, sobretudo, uma motivação. Por sua vez, considera-se ainda, que apesar das marcas que o projecto do complexo de Sines e os trinta anos da sua implementação, deixaram no território, se torna imperativo recuperar alguns elementos da sua estrutura base, verdadeiramente rural e algumas das directrizes preexistentes para o desenvolvimento urbano. Efectivamente, a recuperação destes elementos requer não só um ajuste a novos modelos de desenvolvimento, como uma verdadeira interacção no âmbito da política e gestão do território.

| Fotografia 104 | Desenvolvimento Urbano de Baixa Densidade | Vila Nova de Santo André | 20.Set.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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