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Paisagem Florestal e Protecção Ambiental

| Fotografia 45 | Instalações da Indústria Petrolífera Repsol, YPF e Pinhal de Protecção | Sines | 01.Abr.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

Na década de 70, na qual foi desenvolvido o Plano Geral da Área de Sines, a base florestal deste território já se encontrava bastante antropizada no sentido, em que existiam já grandes manchas de pinhal e algumas incursões, menos significativas de eucaliptal, que substituíam, paulatinamente a vegetação autóctone. Tal fenómeno teve início, tal como anteriormente referido66, na década de 1960, através da implementação de políticas de fomento à florestação por parte do Estado e de outras entidades como, por exemplo, o Banco Mundial.

Este processo de florestação, já bastante consolidado na década de 1970, para além de alterar significativamente o território, sobretudo do ponto de vista da apreensão da paisagem, constitui um factor positivo no estabelecimento da área concentrada de indústrias base.

Dado o impacto ambiental das indústrias deste tipo, a existência de extensos pinhais e eucaliptais, constituía um enorme benefício, redutor da pegada ecológica67 deste complexo industrial, portuário e urbano. Deste modo, e para além de uma das premissas estipuladas, prever a instalação das áreas industriais, portuárias e de armazenamento de ramas e graneis a Sul dos aglomerados urbanos, a estrutura florestal constituiu um elemento determinante na escolha da localização da nova cidade. Neste sentido, qualquer das infra-estruturas associadas ao complexo portuário e industrial, deviam localizar-se a

66 No capítulo “A Paisagem Florestal”.

67 Do inglês footprint, a expressão é actualmente utilizada como indicador de sustentabilidade ambiental.

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juzante dos aglomerados urbanos, existindo entre ambos e sempre que possível uma barreira florestal.

Estas florestas deixavam de ter um carácter puramente produtivo e passavam a adquirir simultaneamente, a função de zonas verdes intermédias68, com funções de protecção do ambiente.

No âmbito do Plano Geral da Área de Sines, foi prevista também a criação de uma zona de conservação ecológica (PORTUGAL, PRESIDÊNCIA DO CONSELHO Gabinete da Área de Sines, 1973, p. 111), ao longo da costa. A preservação das áreas densamente povoadas foi uma das premissas contempladas no plano do novo aglomerado urbano, abrangendo este, os princípios decorrentes das primeiras críticas aos malefícios da cidade industrial69. Foram previstos no plano, um conjunto de espaços verdes e diversos tipos de parques urbanos sendo, a integração paisagística das grandes infra-estruturas, um dos objectivos contemplados.

| Fotografia 46 | Vista sobre Tanques da Refinaria Petrogal SA. e o extenso Pinhal e Santiago do Cacém | Sines | 01.Abr.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

68 Intermédias por se colocarem como separação entre o novo centro urbano e as zonas de industriais.

69 Segundo o arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, as primeiras reacções contra esses malefícios foram o

“Pulmão Verde”, o “Green Belt”, a “Garden City” e os “Hortos Operários” (TELLES, 1997).

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Síntese

| Fotografia 47 | Bairro do Liceu | Vila Nova de Santo André | 06.Ago.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

No início dos anos 70 do século XX, Portugal era um país assolado por fortes condicionalismos económicos e industriais e por uma agricultura obsoleta. A consciência desta situação leva a que, no final da década de 1950 se comecem a desenvolver estratégias políticas e económicas que contrariem essa tendência. O Plano Geral da Área de Sines, constituiu uma efectivação dessas políticas.

Neste sentido, era colocada neste porto e indústrias, e no conjunto do projecto, uma grande expectativa, considerando-se que este poderia elevar o país a um nível economicamente superior, desenvolvendo ainda a economia de um Baixo Alentejo, marcadamente subdesenvolvido.

Porém, e apesar de se perceber, em certa medida, o entusiasmo conferido a este projecto, à que identificar, ainda na fase de plano, uma série de questões que a priori se manifestam de certo modo exageradas e megalómanas.

A política de expropriações levada a cabo, é talvez a primeira demonstração da megalomania deste projecto, com cerca de 18 800 hectares de terra expropriados. Porém, são as previsões relativas ao número de habitantes do novo aglomerado urbano a desenvolver, que efectivam esse fenómeno de modo mais evidente.

A conjuntura do país e o entusiasmo do próprio Estado, dos arquitectos, urbanistas e outros técnicos, pouco experientes em projectos desta envergadura, e a própria congeminência da arquitectura, levaram a que este projecto se desenvolve-se com base num modelo extremamente inovador para a época, baseado puramente em modelos matemáticos. Este tipo de modelos, apesar de extremamente útil em alguns aspectos, não

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contempla uma série de questões, nomeadamente as questões relativas ao foro social, por vezes mais sensitivas, ou às preexistências do território.

Verifica-se no âmbito do Plano Geral e sobretudo no que respeita ao plano da nova cidade, um certo alheamento a questões como a estrutura fundiária, que sofre, à partida, um “efeito limpeza”, com a política de expropriações, não sendo contemplada no desenho do novo aglomerado. A estrutura fundiária e os padrões, modos e direcções de ocupação constituem um verdadeiro acervo documental, indispensável na definição de estratégias de desenvolvimento urbano. Neste caso, não são contempladas quaisquer tendências de desenvolvimento preexistente, o que de certo terá efeitos marcantes no território (tal como analisaremos ao longo do estudo), nomeadamente pela perda de homogeneidade entre os três subsistemas pelos quais se determina o estudo e também, pela perda das lógicas de desenvolvimento, agregadas a eixos de oportunidade estabelecidos por razões morfológicas, produtivas ou de maior infra-estruturação.

Por outro lado, sob a premissa de evitar conflitos de índole social, entre as populações locais e a nova população, é justificada a localização e desenvolvimento do novo aglomerado, enfatizando-se desde modo a precariedade do centro urbano que, no âmbito da escolha de localização de uma área concentrada de indústrias base, associadas ao desenvolvimento de um porto oceânico de águas profundas, havia sido apontado como um dos principais elementos a favor. Os modelos de desenvolvimento definidos para Sines, demonstravam notoriamente uma falta de adequação aos modos de vida da população e, associados ao baixo desenvolvimento de serviços e equipamentos previsto, de certo contribuiriam em muito para a precariedade do aglomerado, que mais sofre física e socialmente, com perda de proximidade ente a cidade, a população e o mar.

A implementação do Plano Geral da Área de Sines, constituirá a primeira alteração a esta região que começa, sobretudo a partir de 1972, a sofrer um processo de transformação de território puramente rural em grande sintonia com o mar e com a terra para um território industrial/portuário, fortemente infra-estruturado (no que respeita a estradas, ferrovias, cais e outras estruturas) no qual se prevê um desenvolvimento urbano comparável a uma verdadeira Milton Keynes. Ao nível urbanístico, o Plano Geral da Área de Sines, inicia um novo processo de desenvolvimento, com lógicas e escalas próprias, cuja implementação encobre todo um processo previamente enraizado.

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Os Novos Desafios