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Sistema Urbano Rural e Pouco Dinâmico

| Fotografia 19 | Ocupações Rurais | Sines | 01.Abr.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

Até à elaboração do Plano Geral da Área de Sines, na década de 70 do século XX, o desenvolvimento urbano, esteve à mercê, quase exclusivamente, das vicissitudes e condicionalismos históricos com forte influência na posse da terra e das suas potencialidades e fragilidades a nível fisiográfico e morfológico. Dotada de um mar que se estabelece como motivação preponderante no estabelecimento e desenvolvimento de núcleos urbanos, carece de uma boa percentagem de solos pouco produtivos, localizados sobretudo, na faixa litoral, o que justifica a falta de apetência dos mesmos para a urbanização.

A fertilidade e produtividades dos solos, impõe-se aqui, à semelhança do que é natural, como guia para a determinação das áreas urbanizadas. Modelando-se aos percursos da água e ao trajecto dos solos aluvionares, indiscutivelmente mais férteis e produtivos, este fenómeno mais facilmente constatável, na forma de ocupação, do corredor definido entre a Lagoa de Santo André e Santiago do Cacém. Acompanhando o recorte da lagoa, define-se uma ocupação urbana de carácter rural na qual a estrutura de parcelamento, merece destaque, pela sua regularidade que em tudo se relaciona com a optimização dos recursos e produção. Em contraponto, é possível verificar, a quase inexistente ocupação, no núcleo compreendido entre a Ribeira de Moinhos e a Lagoa de Santo André, que apesar de apresentar as mais extensas planuras do território, propícias ao estabelecimento de assentamentos urbanos, não demonstra qualquer predisposição para tal, devido à composição arenosa do solo que não se demonstra eficazmente produtiva,

"Sines.

Interpretação

das Relações

Urbanas

entre

Cidade,

Porto

e Paisagem."

Uma Estrutura Fortemente Ruralizada Sistema Urbano Rural e Pouco Dinâmico

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Sines e Santiago do Cacém impõem-se como aglomerados urbanos motores deste território, se bem que não se possam, na época denominar de verdadeiramente urbanos. Apesar de se assumirem, indiscutivelmente como os aglomerados principais de urbanização contínua, têm eles próprios, um carácter muito rural, marcada baixa densidade e por uma rede de serviços e equipamentos incipiente. Tendencialmente, junto aos aglomerados urbanos desenvolveram-se estruturas urbanas de carácter rural, mais ou menos dispersas. No caso de estudo verifica-se, até meados de 1900, uma estrutura de ocupação mais dispersa, com maior incidência nas imediações de Santiago do Cacém, o que se deve sobretudo, às contingências da topografia, que constrangem, naturalmente, uma estrutura de parcelamento tão regular, como a que ocorre, em igual período, na envolvente de Sines.

Paralelamente a uma modelação da área urbanizada às determinantes fisiográficas do território, denota-se já uma forte tendência para que estas se desenvolvam

paralelamente às infra-estruturas rodo e ferroviárias32, acompanhando os seus traçados, caracterizando-se pela sua base predominantemente rústica e pela sua maior pulverização (dispersão) no território, que eventualmente traduza uma estrutura e forma de propriedade mais fragmentada. Esta constatação é sobretudo mais evidente na envolvente da via que liga os dois aglomerados urbanos principais – Sines e Santiago do Cacém, e que se julga tratar-se, de acordo com as referências mais remotas, da mais antiga via de comunicação neste território.

32 Embora esta última de uma forma não tão expressiva, uma vez que é implementada apenas no final da década de

1930, acompanhando o traçado da via rodoviária pré-existente.

| Fotografia 20 | Espaço Rural – Aldeia de Santo André | Vila Nova de Santo André | 06.Ago.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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As características da via rodoviária, o seu estreito perfil e a ferrovia dotada de uma estação a meia distância dos dois aglomerados33, fomentavam a acessibilidade, comunicação e mobilidade destes territórios, podendo prever-se, uma vez mantidas as condições da época, uma tendência para a união destes dois aglomerados, cuja relação mais ou menos intensa, experienciou sempre, ao longo da história, uma dependência correlacional. Apesar de incomparável do ponto de vista temporal, contextual, tipológico e dimensional, é possível estabelecer analogia com a descrição de Indovina, sobre o Veneto, em “La Città Diffusa”, na medida em que é a base infra-estrutural associada às vias de comunicação que potencia o desenvolvimento urbano.

Apesar da distinção entre estes dois aglomerados urbanos, um de carácter piscatório e outro de carácter mais rústico, associado a uma agricultura mais intensiva e a uma diferente estrutura da propriedade, a sua evidente separação é irrompida pelos eixos viários principais, que se instauram como espaços de oportunidade para o desenvolvimento urbano (MORGADO, Protagonismo de la Ausencia. Interpretación Urabnística de la Formación Metropolitana de Lisboa desde lo Desocupado, 2005).

Deste modo, pode atribuir-se à carência infra-estrutural, uma cota parte da ausência de um desenvolvimento urbano mais intenso. Porém, e uma vez que a agricultura se estabelece aqui como elemento económico preponderante e equiparável à actividade piscatória, deve referir-se que, para além destes factores endógenos, que não contribuíram de todo para a intensificação do povoamento, este território padeceu igualmente dos fenómenos migratórios e de êxodo rural registados por todo o país (e Europa), ocorridos em vários períodos do século XIX e XX, e que, de entre outras coisas, manifestavam uma forte carência de modernização e competitividade agrícola de Portugal.

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33 Estação da Ortiga, relacionada com a propriedade da Quinta da Ortiga, um dos importantes latifúndios da região,

na época.

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