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Redefinição do Sistema de Desenvolvimento Urbano

| Fotografia 54 | Bairro das Panteras e Centro de Saúde de Santo André | Vila Nova de Santo André | 06.Ago.2010 | Vila Nova de Santo André.

As vicissitudes e contingências políticas, sociais e económicas da década de 1970, que se estenderam, de forma mais presente até 1982, alteraram em muito as concepções definidas durante a elaboração do Plano Geral da Área de Sines. Desde modo, foi necessário proceder a adaptações e reajustes que adequassem o projecto às novas premissas, cada vez mais voltadas para o seu enquadramento na perspectiva nacional e internacional.

No final da década de 1980, é possível identificar quatro fases distintas do desenvolvimento urbano da região: (1) de 1971 a 1976, (2) de 1976 a 1981 e (3) de 1981 a 1983 (RODRIGUES, 1997, p. 142) e (4) de 1983 a 1989.

O primeiro período, tem início com a criação do GAS76 e é, sem dúvida o que regista um desenvolvimento mais acentuado, com uma forte aposta na nova cidade, desenhada de acordo com o conceito de cidade poli-nucleada. Apesar de o desenvolvimento se centrar principalmente na cidade nova de Santo André, o desenvolvimento dos aglomerados urbanos de Sines e Santiago do Cacém registam também eles, um relativo desenvolvimento urbano, colmatando as carências habitacionais da época.

76 Organismo incumbido de realizar, de modo integrado, o processo de urbanização nas várias fases que o compõem

– planeamento, programação, concepção, financiamento, realização, gestão (do parque habitacional e respectivos equipamentos urbanos) (RODRIGUES, 1997, p. 140).

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A segunda fase de desenvolvimento, reflecte de forma mais evidente as alterações económicas e sociais decorrentes do 25 de Abril de 1974, levando ao desenvolvimento de vários estudos, por parte do GAS, que culminaram no abandono do conceito de cidade- polinucleada. Apesar de manter um desenho urbano baseado nos blocos habitacionais, agrupados segundo bandas, normalmente paralelas de forma a formar ruas e corredores interiores, é definido um novo modelo de desenvolvimento da cidade, baseado no conceito de continuum urbano, vertebrado por um sistema linear que engloba os vários sistemas da cidade77 (RODRIGUES, 1997, pp. 142, 152). Os ajustes efectuados ao projecto inicial não se cingiram apenas à componente urbana, sendo que, em termos económicos, foram também necessárias alterações, passando-se de uma estratégia de pólo de crescimento económico para outra de pólo de desenvolvimento integrado (SALGUEIRO, 1999, p. 189). Não obstante, este é o período em que o novo aglomerado urbano registou um aumento populacional mais significativo, paralelamente a Santiago do Cacém78 (CARVALHO, 2005,

p. 129).

No início da década de 1980 levantam-se novos valores sobre o projecto da área de Sines, nomeadamente a possibilidade de integração de grandes infra-estruturas e empreendimentos estruturantes como a fábrica de automóveis Ford, o Hospital Distrital, a Euro Disney e Escola Nacional de Bombeiros79 (RODRIGUES, 1997, p. 156), sendo que o primeiro motiva a formação, em 1981, do Departamento de Projecto do Centro Urbano (DPCU).

77 Proposta esta da responsabilidade do Arquitecto Silva Dias, Director do Serviço de Planeamento Urbano de 1976 a

1979.

78 Tendo Sines manifestado um abrandamento do seu desenvolvimento urbano. 79 Nenhum dos projectos foi executado, tendo sido reportados para outras áreas.

| Fotografia 55 | Bairro da Atalaia | Vila Nova de Santo André | 06.Ago.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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A última fase de desenvolvimento urbano tem início em 1983 e é marcada pelo declínio do Gabinete da Área de Sines. Em 1986, o novo aglomerado urbano detêm cerca de 10 500 habitantes, dos quais cerca de 60% são provenientes das ex-colónias (RODRIGUES, 1997, pp. 142,153), colocando-se como o segundo aglomerado urbano da região com mais população, a seguir a Sines, superando Santiago do Cacém. Verifica-se porém, neste período que a oferta de habitação, no centro urbano de Santo André excede a procura. No ano 1986, face às vicissitudes que afectaram o projecto, à sua inviabilidade e à consciência da sua megalomania completamente desfasada da realidade nacional, o GAS procedeu ao pedido de reintegração da área a si adjudicada, para a administração pública, autárquica e privada, alterando assim, o estatuto institucional da operação (RODRIGUES, 1997, p. 153). Concretizados apenas parcialmente os objectivos que levaram à criação do Gabinete da Área de Sines, decorrentes de factores endógenos e exógenos, em 1989, através do Decreto-Lei nº 228/89, de 17 Julho, é oficialmente extinto

o respectivo organismo.

As várias fases descritas demonstram que, para além do estabelecimento de metas bastante desfasadas da realidade e conjuntura nacional, a forma como foi conduzida a realização do próprio projecto levou a que este iniciasse, de forma precoce um processo de estagnação no que concerne à componente urbana. A manifestação mais evidente desta realidade foi um sub-desenvolvimento de equipamentos, serviços e outros requisitos face a um precoce processo de instalação das populações. Para além destes insucessos há que referir que o novo aglomerado urbano de Santo André80, constitui uma cidade sem

80 Que passará posteriormente a ser definido como Vila Nova de Santo André.

| Fotografia 56 | Bairro do Pinhal - Zona Verde entre Blocos | Vila Nova de Santo André | 06.Ago.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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referências históricas e que o próprio projecto, no seu conjunto urbano, industrial e portuário, se institui neste território num processo de “tábua rasa”, ao qual ficam alheias quaisquer referências urbanas preexistentes81. Já na década de 1980, com uma população maioritariamente originária de outros locais do país, e com a completa ausência de referências históricas, culturais ou territoriais, o aglomerado urbano de Santo André apresenta-se como a “terra de ninguém”, cenário esse que acaba por enfatizar ainda mais, a segregação dos vários elementos territoriais, provocada por um desenvolvimento muito marcado pelo zonamento funcional.

Neste contexto, em que grande parte das infra-estruturas previstas no projecto já se encontram em funcionamento, é já possível identificar alguns dos enclaves existentes que de certo, conduzirão à intensificação da fragmentação deste território. É já perceptível que este território tende a desenvolver-se segundo três sistemas – cidade, porto e paisagem - independentes entre si, com sérias entropias nos seus pontos de

contacto.

A tendência demonstrada na análise da cartografia relativa à década de 1940, para o desenvolvimento urbano na faixa que acompanha a infra-estrutura rodoviária que liga os aglomerados urbanos de Sines e Santiago do Cacém, é visivelmente quebrada, não só pela redefinição do perfil da antiga via (na década de 1980, com perfil de auto-estrada), mas também pela introdução das infra-estruturas industriais a meia distância dos centros urbanos e por uma série de infra-estruturas técnicas de apoio às mesmas de que é

81 Neste sentido, o Arquitecto G. Câncio Martins, referiu aquando do Seminário “Santo André uma Cidade para a

Indústria”, terem sido disponibilizados meios para que arqueólogos e outros especialistas, efectuassem os seus estudos e levantamentos, antes de se avançar com a proposta, uma vez que depois, esta seria esquecida e dificilmente referenciável.

| Fotografia 57 | Bairro Pôr-do-Sol | Vila Nova de Santo André | 06.Ago.2010 | Fotografia de Cátia Assunção.

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exemplo a central de distribuição eléctrica ou a chamada raquete de Sines82. Neste sentido, regista-se uma regressão do desenvolvimento rural, mais ou menos disperso neste corredor, o que para além dos factores anteriormente descritos, se deve também às expropriações que abrangeram este território e, paralelamente, é possível observar já uma intensificação deste tipo de desenvolvimento urbano, no corredor que liga o novo aglomerado urbano e Santiago do Cacém (que por sua vez, não foi tão intensamente abrangido pela política de expropriações levada a cabo pelo GAS).

Paralelamente às questões de âmbito local, há que referir as alterações introduzidas no âmbito do planeamento urbano e territorial, decorrentes da adesão de Portugal à CEE. Para além da necessidade de constituir regiões83, acto fundamental e indispensável para a obtenção e posterior administração dos Fundos Estruturais, nomeadamente do FEDER, Portugal necessitou concertar os objectivos e políticas nacionais com os europeus/comunitários. Embora neste período os efeitos destas medidas não estejam muito patentes no território em estudo, são de referir algumas medidas, de que é exemplo a legislação produzida, ainda na década de 1980, relativa aos Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT), consagrados no Decreto-Lei nº 176-A/88, de 18 de Maio. Os PROT são definidos como instrumentos de índole programática e normativa, cujo objectivo visa o correcto ordenamento do território através do desenvolvimento harmonioso das diferentes parcelas que o compõem, pela optimização das implantações humanas e do uso do espaço, pelo aproveitamento racional e equilibrado dos seus recursos. As novas medidas e políticas no âmbito do planeamento urbano e territorial bem como do desenvolvimento regional, determinam, através da Resolução do Conselho de Ministros nº 8/89, de 27 de Fevereiro, a elaboração do Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo Litoral (PROT ALI), o qual integra a totalidade da área de estudo, considerando o Alentejo Litoral como o território prioritário no contexto na região do Alentejo, a possuir um instrumento de planeamento desta natureza.

82 Conformação da infra-estrutura ferroviária que permite dar a volta às composições sem desacoplar a máquina da composição (Seminário organizado pela Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos que decorreu em Vila Nova de Santo André, a 18 de Abril de 2009).

83 Momento em que as CCR viram o seu papel reforçado, uma vez que corresponderam aos territórios NUT II, num processo que ainda hoje gera controvérsia no que respeita à equidade da definição das regiões.

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