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Fase do ioga indiano conhecendo os iogues latino-americanos

No documento DOUTORADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO (páginas 78-80)

Capitulo 3 : IOGA NO BRASIL

3.1. As origens do ioga brasileiro a partir da história latino-americana

3.1.3. Fase do ioga indiano conhecendo os iogues latino-americanos

Com o primeiro contato estabelecido entre iogues latino-americanos e os indianos, inicia-se uma inevitável comparação - e busca por legitimação - entre o ioga praticado por décadas de transmissão via as grandes ordens místico-esotéricas europeias - da primeira fase descrita acima - com o ioga de “tradição” ou linhagem de

gurus “verdadeiramente” indianos, sobretudo dos iogues advindos da segunda fase

latino-americana. Isso ocasiona, a partir de 1970, um movimento entre a comunidade ioguica sul-americana por regularizar o que era ou não ioga e quem estaria ou não autorizado a ensiná-lo. Assim, congressos e confederações de ioga começam a surgir nas principais capitais sul-americanas. É também nesta fase, que os iogues indianos começam a visitar a América Latina com maior interesse proselitista. As escolas e organização de ioga indianas já percebem o interesse pelo ocidente de sua religiosidade, algo que inicia com Vivekananda, como já mostramos anteriormente, mas o olhar agora também se volta a promissores países como Argentina, Brasil e Uruguai.

Mesmo o registro histórico desses acontecimentos venham de fontes não acadêmicas, em geral, de documentos fornecidos pelas próprias instituições, não nos furta de estabelecer o registro. De qualquer forma, acredita-se que depois do swami Yogananda, em 1929 no México, apenas em 1950, que pequenos círculos de meditação da Self-Realization Fellowship (SRF) do swami Yogananda se fizeram presentes na capital cubana36. Em 1970, o indiano swami guru Devanand Sarawati Ji Maharaj, discípulo de Mauna Swami, funda pessoalmente na Nicarágua a primeira organização ioguica latino-americana, a Sociedade Internacional da Realização

Divina (ou Escola de Yoga Ascética e Iniciática de Shankara)37. Alguns anos mais tarde, os discípulos mexicanos Sri Ramesh e Jose Luis Pallaviccini Norori fundam na capital mexicana, em 1974, a ordem do Centro Devanand de Meditação já com distintos traços sincréticos cristãos, como podemos ler nos pronunciamentos de Norori abaixo:

Cristo volverá para no irse nunca más ¡Cristo es un estado evolutivo que se alcanza cuando se Ilumina el quinto Chacra, un estado sublime de verdad, Amor, Armonía, Paz, nosotros en esta escuela y con la gracia de nuestro Amado Maestro, estamos en un estado más profundo.38

Entre os anos de 1971-1972, em viagem pela América Latina, swami Satyananda Saraswati, discípulo de Sivananda, estabelece as bases da Bihar School of

Yoga no Uruguai, Colômbia, Brasil, Chile, Argentina, Cuba e Porto Rico. Mas será

apenas em 1976, agora pelas mãos do swami Vishnudevananda que o primeiro instituto sul-americano de ioga de Sivananda - o Divine Life Society (DLS) – é fundado no Uruguai 39, depois na Argentina em 2000 e, posteriormente no Brasil em 200140. No Paraguai, em 1972, conforme fonte de seus próprios discípulos, o indiano Shrii Shrii Anandamurti, discípulo de Dada Haratmananda, lança as bases da

Sociedade de Yoga Ananda Marga (AVADUTHA, 1996). Em 1975, swami

Satyananda, discípulo de Sivananda, funda o Satyananda Ashram em Brasília/Brasil sob a orientação do brasileiro, iniciado na Índia, swami Hamsananda Sarasvati.

Ao longo dos anos de 1980, um fato peculiar pode representar o que pretendo salientar na próxima fase de implantação da espiritualidade ioguica brasileira. Ocorre um dos mais marcantes sincretismos do ioga com as religiões nativas latino- americanos, a fusão deste com o Santo Daime. Um terapeuta holístico e pertencente da religião brasileira Santo Daime veio configurando o que mais tarde se tornará a primeira fusão do ioga com uma religião nativa sul-americana, o Caminho do

Coração, hoje com filiais nos Estados Unidos, Índia e Brasil (ver LABATE, 2000).

Nesta mesma toada e período, outros dois iogues também irão configurar contornos

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http://elmaestrodelpresente.org/category/maestros-de-sabiduria/ acessado 05/01/2015

38

http://elmaestrodelpresente.org/actual-guru-devanand-eloy/ acessado 05/01/2015. “Cristo voltará para nunca mais voltar. Cristo é um estado evolutivo alcançado quando se ilumina o quinto Chakra, um estado sublime de verdade, amor, harmonia, paz, nós, desta escola almejamos com a graça de nosso Amado Mestre de Luz, que está em um estado mais profundo.”

39

http://www.sivananda.org/montevideo/ acessado 05/01/2015

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bem brasileiros, como a Iogaterapia do Prof. Hermógens que mescla muito bem elementos cristãos, espíritas e da medicina holística e o SwáSthya Yôga do Mestre DeRose que, mesmo influenciado por ordens ocultistas, trilhou um caminho ortodoxo no ioga. A justificativa para o seu “tradicionalismo” reside na codificação que recebeu através de processos mediúnicos de um ioga pré-védico, portanto, antes até mesmo do IS de Patanjali. No entanto, mesmo que velado, é possível identificar fortes elementos da magia umbandistas em seus discursos e construções espirituais ioguicas, como a utilização de amuletos e diversos processos de “proteção espiritual”, que são ausentes na literatura do ioga moderno norte-americano e europeu, por exemplo. Os paradoxos e ambivalências são uma característica do ioga brasileiro, assim, precisaria de uma outra tese para me aprofundar nas influências específicas que cada líder do ioga brasileiro recebeu para configurar o ioga que professa. De qualquer modo, nos concentraremos na dialética que nos interessa aqui entre saúde-salvação e as transformações soteriológicas em samadhi, kaivalya e os klesas.

Parece lícito estimar que nesta terceira fase, entre os anos de 1950 e meados de 1980, o ioga na América Latina começa a conhecer e se aprofundar com o ioga advindo da Índia propriamente dita e a desenhar o que os acadêmicos estrangeiros denominaram posteriormente de ioga moderno (DeMICHELIS, 2004), mas com fortes nuances do sincretismo religioso brasileiro.

No documento DOUTORADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO (páginas 78-80)