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CAPÍTULO 4. Saberes e competências em início de carreira docente

XXI. A formação dos professores e o desafio da avaliação Brasil Porto Alegre: Artmed Editora, pp 113-135.

4.2.3. A formação docente e as competências

Já não há dúvida que o acúmulo de saberes e conhecimentos obtidos na universidade não são mais suficientes para os novos paradigmas de nosso sistema educacional. A formação com base em habilidades mobilizadoras e articuladoras dos conhecimentos a fim de se conquistar competências devem fazer parte da formação docente, tendo em vista a realidade do mercado de trabalho e do cotidiano em geral. Tal comentário não se baseia simplesmente em questões idearias ou estudos acadêmicos. A formação por competências é imposta por lei105

105 As Diretrizes Nacionais para a Formação de Professores descrevem o ensino por competências da seguinte

forma:

Art. 3º A formação de professores que atuarão nas diferentes etapas e modalidades da educação básica observará

princípios norteadores desse preparo para o exercício profissional específico, que considerem: I - a competência como concepção nuclear na orientação do curso;

II - a coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor, tendo em vista: a) a simetria invertida, onde o preparo do professor, por ocorrer em lugar similar àquele em que vai atuar, demanda consistência entre o que faz na formação e o que dele se espera;

que garantem a aquisição de tais conceitos. Isso ocorre até mesmo com o objetivo de evitar a improvisação na sua formação a fim de padronizar e melhor orientar a profissão docente. Nesse sentido, verifica-se, por exemplo, a reforma educacional implementada no Brasil a partir da Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB), que orienta a formação no modelo das competências fazendo com que o processo de ensino aprendizado tenha sentido em qualquer nível. De acordo com os Parâmetros (LDB, p. 172):

O conceito de aprendizagem significativa, central na perspectiva construtivista, implica, necessariamente, o trabalho simbólico de significar a parcela da realidade que se conhece. As aprendizagens que os alunos realizam na escola serão significativas na medida em que consigam estabelecer relações substantivas e não arbitrárias entre os conteúdos escolares e os conhecimentos previamente construídos por eles, num processo de articulação de novos significados.

Se analisarmos os Planos Curriculares Nacionais (PCN) do Ensino Médio, por exemplo, poderá se observar que o Ministério da Educação e Cultura (MEC) estabeleceu como diretrizes a efetivação de competências com cinco pontos importantes, sendo eles: domínio de linguagens; compreensão de fenômenos; construção de argumentações; solução de problemas; e, elaboração de propostas. Nesse sentido o PCN (p. 24) - Ensino Médio,cita que:

De que competências se está falando? Da capacidade de abstração, do desenvolvimento do pensamento sistêmico, ao contrário da compreensão parcial e fragmentada dos fenômenos, da criatividade, da curiosidade, da capacidade de pensar múltiplas alternativas para a solução de um problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamento divergente, da capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do desenvolvimento do pensamento crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimento. Estas são competências que devem estar presentes na esfera social, cultural, nas atividades políticas e sociais como um todo, e que são condições para o exercício da cidadania num contexto democrático.

b) a aprendizagem como processo de construção de conhecimentos, habilidades e valores em interação com a realidade e com os demais indivíduos, no qual são colocadas em uso capacidades pessoais;

c) os conteúdos, como meio e suporte para a constituição das competências;

d) a avaliação como parte integrante do processo de formação, que possibilita o diagnóstico de lacunas e a aferição dos resultados alcançados, consideradas as competências a serem constituídas e a identificação das mudanças de percurso eventualmente necessárias.

Art. 4º Na concepção, no desenvolvimento e na abrangência dos cursos de formação é fundamental que se busque:

I - considerar o conjunto das competências necessárias à atuação profissional;

II - adotar essas competências como norteadoras, tanto da proposta pedagógica, em especial do currículo e da avaliação, quanto da organização institucional e da gestão da escola de formação.

Art. 5º O projeto pedagógico de cada curso, considerado o artigo anterior, levará em conta que:

I - a formação deverá garantir a constituição das competências objetivadas na educação básica;

II - o desenvolvimento das competências exige que a formação contemple diferentes âmbitos do conhecimento profissional do professor;

Isso demonstra que formar-se e ensinar por competências não é uma questão de vontade, gosto ou simples modismo, está na base do sistema educacional. No entanto, surge um questionamento: será que o professor ao se formar está preparado para um ensino por competências? Será que teve formação suficiente para adquirir tal competência?

Na visão de Libâneo (2002, p. 91) o professor atual está distante daquele necessário para um ensino por competência sendo boa parte da responsabilidade dos cursos de licenciatura, levando em consideração que:

As universidades formam meios futuros professores [...] os professores saem despreparados para o exercício da profissão, com um nível de cultura geral e de informação extremamente baixo, o que resulta num segmento de profissionais sem as competências pessoais e profissionais para enfrentar as mudanças gerais que estão ocorrendo na sociedade contemporânea.

Trabalhando com formação de professores pode-se observar alguns pontos importantes, a partir dos quais se tecem algumas considerações. O que se pode perceber em geral, é que durante a formação docente nos cursos de licenciatura, da forma que geralmente acontece, a ênfase é dada na formação dos conteúdos da área, onde o bacharelado parece ter mais força, fazendo com que o diploma de licenciado seja um complemento de sua formação. Outro problema fácil de perceber é a falta de experiência em sala de aula dos próprios docentes acadêmicos, fazendo com que o discurso teórico supere as providências práticas de ensino. A grande consequência é que boa parte dos docentes formados acabam por ter de enfrentar a sala de aula, até mesmo por falta de mercado na sua área específica, fazendo com que ocorram sérios problemas na sua atuação, principalmente no início de sua carreira onde os saberes da experiência não estão adquiridos.

Na visão de Libâneo (2006), as universidades devem ter condições de formar professores que tenham, ao menos um bom conhecimento de cultura geral, habilidades comunicativas, aptidão de aprender a aprender, competência para saber agir em sala de aula, domínio da linguagem informacional e dos meios de informação, condições de articular as aulas com as mídias e multimídias e valores voltados para a vida coletiva, como solidariedade e colaboração. A mediação vem a ser uma das bases necessárias para o desenvolvimentos dos alunos, reconhecendo estratégias de ensino na intenção de ensinar o aluno a aprender com significados.

Na visão de Altet (2001) as competências profissionais do professor devem se embasar nos conhecimentos teóricos (utilizados para ensinar) e nos conhecimentos práticos (sobre como

ensinar) que na visão da autora são instrumentos de desenvolvimento para análise que tem por objetivo constituir uma meta-competência permitindo a construção de outras competências.