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CAPÍTULO 4. Saberes e competências em início de carreira docente

XXI. A formação dos professores e o desafio da avaliação Brasil Porto Alegre: Artmed Editora, pp 113-135.

4.2.5. O Ensino por competências no início da carreira docente

Um ponto importante a se perceber é que em um ensino com base nas competências as dificuldadesa serem enfrentadas pelo professor são bem maiores, principalmente para aqueles que possuem basicamente os saberes acadêmicos como única fonte de referência. Tendo em vista que não há apoio total no saber acadêmico para um ensino de excelência, a possibilidade de ocorrer descréditos, medos, inseguranças ou até mesmo desgostos pela profissão passam a rondar a figura do professor que inicia sua carreira.

Outro prejuízo refere-se diretamente aos alunos que sem a preparação adequada para situações-problema com as quais poderão se deparar em sua vida, poderão ter consequências no futuro, fruto de um dia não terem sido formalizadas e sistematizadas nos exercícios de sala. A partir do momento em que um professor tiver ciência da importância do ensino por competências, usando os conteúdos pertinentes, permitirá ao aluno obter desenvoltura em lidar com os conhecimentos, traçando assim novas hipóteses para as situações-problema que venha ter na vida. É nesse sentido que Perrenoud (1999b) alerta que um ensino por competências não significa abandonar o ensino organizado a fim de utilitarismo da vida, mas sim um equilíbrio a partir de escolhas, tendo em vista a impossibilidade de se ensinar tudo. Tal condição é mais favorável àqueles que já obtiveram os saberes da experiência e já conseguiram dar sentido aos saberes acadêmicos. Para um professor em início de carreira, o grande problema está na descontextualização e pouco significado dos problemas reais dos alunos, como alerta Perrenoud, (1999b,p.55):

Ao responder a uma pergunta, o professor tem a tentação de antecipar e responder, de antemão, a todas as perguntas que ainda não lhe foram feitas, o que transforma a resposta em uma aula. Trabalhar na construção de competências significa aceitar

aportar o mínimo requerido, sabendo-se que o restante virá depois, oportunamente, de maneira mais desordenada, é verdade, porém em função de uma real necessidade.

Um professor que inicia sua carreira tende a realizar um ensino norteado por objetivos acadêmicos, ou seja, os conhecimentos ocupam posição principal, favorecendo a participação individualizada do aluno, pois ouvir, anotar, memorizar e ser avaliado já é suficiente para esse método. Por outro lado, em um ensino por competências a participação do aluno no processo de ensino é mais exigente como também para o professor, já que todos elaborarão um trabalho coletivo do projeto e construção da solução de situações-problema, mobilizando saberes a fim de se chegar a novas competências.

O recém-formado que inicia sua atuação docente geralmente acaba encontrando outro problema além da escolha da situação-problema e da elaboração dos caminhos que se refere ao

tempo. Segundo Perrenoud (2000) mediar quanto tempo irá gastar para conquistar um

determinado propósito é fundamental a fim de que não haja uma resolução rápida demais, não trabalhando as habilidades necessárias, nem caindo no risco de abandoná-la por não vislumbrar um produto final, ou um propósito social. O professor assim tem de administrar não só a dinâmica da sala de aula, mas o tempo em que estará com os alunos, correndo o risco do desânimo e desinteresse dos mesmos na retomada do tema em aulas posteriores. Reforçar os pontos chaves do processo de aprendizagem, retomando propostas anteriores torna-se fundamental, deixando claro desde o início que em uma formação por competências os prazos são maiores e consequentemente os resultados aparecerão posteriormente e em muitos casos o professor nem verá suas conquistas já que se tornarão práticas na vida do aluno, muitas vezes longe da escola.

Outro ponto muito comum ao recém-formado é a insegurança. A dificuldade em se ensinar por competência geralmente é bem maior, no qual o controle do processo de aprendizagem é mais complexo que por conteúdos simples. Geralmente no ensino por competências as estratégias mais utilizadas se baseiam em situações-problema e em projetos. Nessa forma de ensino o professor perde aquela certeza que teria no caso de um ensino por conteúdos, no qual os exercícios são de mera transmissão de um saber contido em boa parte em apostilas ou livros didáticos, responsabilizando a construção do conhecimento ao aluno. Como foi visto, Perrenoud (1999a) lembra um questionamento comum dos alunos: “Onde vou usar isso?” ou mesmo “para que serve estas coisas?”. Num ensino restrito a conteúdos tais questionamentos ficam sem resposta.

A partir do momento em que se conquista a habilidade de se ensinar por competências tais respostas serão respondidas no próprio processo, garantindo ao aluno o acesso aos saberes que lhes serão úteis fora da escola através de um processo constante de tomada de decisões e escolhas, confrontação, construção, entre outros. Para isso seria necessário que ao entrar em sala de aula, o projeto de ensino caminhe permanente com o projeto de aprendizagem, ou seja, o que o professor deve ter em mente que não é só o que ensinar ao aluno, mas o que o aluno deve aprender.

O professor começando logo no início de sua atuação docente a adaptação ao ensino por competências verificará que os objetivos irão muito além da simples informação ou mesmo do desenvolvimento do conhecimento intelectual. A formação humana e social da pessoa estará no foco principal do processo de ensino, já que envolvem valores, conhecimento, comportamento, atitudes, saber, conceitos, procedimentos, fazer e ser, que são competências essenciais, nas quais o educador deve organizar-se perante aos desafios impostos pelo atual sistema educacional.

Como se percebe, a aquisição dos saberes da experiência geralmente são os grandes entraves para fazer uso de competências e habilidades, tendo em vista que o docente deve constantemente ter condições de se adaptar as regras do “jogo”, ou seja, deve ter condições de agir conforme a reação dos alunos percebendo a evolução pedagógica e do contexto inserido, para que as informações se transformem em saberes úteis aos alunos.