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CAPÍTULO 3. Professor Reflexivo: do pensamento à ação

3.2. Professor reflexivo

Alarcão (2007) analisa o professor reflexivo dentro da concepção de ser humano, sendo este criativo e não um simples reprodutor de ideias e de práticas de outros. Na visão da autora a capacidade de pensamento e de reflexão já é intrínseca ao homem. No entanto, nos alerta que os processos reflexivos são estimulados em contextos que permitam desenvolvimento, a liberdade e a responsabilidade de quem assim queira agir. Querer agir nesse caso torna-se fundamental, já que não basta ter tudo propício se não houver interesse. Parte daí a importância do professor investigador73, não um investigador de conteúdos, mas de si mesmo. Segundo Sacristán (1991, p.85), o professor não “pensa de acordo com a ciência, mas conforme sua cultura” e por isso há um equívoco entre os estudos sobre a formação na medida em que estes educam as mentes e se esquecem de que o desejo não se educa. Por isso, é preciso reconhecer que “os motivos, as motivações do professorado tem sido um capítulo ausente da formação de professores e da investigação sobre a formação de professores” (SACRISTÁN, 1991, p. 86).

73 Nóvoa (2001) em entrevista ao programa Salto para o Futuro (Tv Brasil) relata que o professor pesquisador e o

professor reflexivo, no fundo, correspondem a correntes diferentes para dizer a mesma coisa. São nomes distintos, maneiras diferentes dos teóricos da literatura pedagógica abordarem uma mesma realidade. A realidade é que o professor pesquisador é aquele que pesquisa ou que reflete sobre a sua prática. Portanto, aqui estamos dentro do paradigma do professor reflexivo. É evidente que podemos encontrar dezenas de textos para explicar a diferença entre esses conceitos, mas creio que, no fundo, no fundo, eles fazem parte de um mesmo movimento de preocupação com um professor que é um professor indagador, que é um professor que assume a sua própria realidade escolar como um objeto de pesquisa, como objeto de reflexão, com objeto de análise.

Podemos considerar que o professor investigador tem a necessidade de ser um professor reflexivo, o que se torna uma condição necessária, mas não suficiente, ou seja, no processo investigativo a reflexão é a base, mas não se pode ser suficiente. Como nos diz Alarcão (2007, p. 41) “a noção de professor reflexivo baseia-se na consciência da capacidade de pensamento e reflexão que caracteriza o ser humano como criativo e não como mero reprodutor de ideias e práticas que lhe são exteriores”. A reflexão fornece ao professor informações sobre sua ação, as razões e consequências de tal. Mas, por outro lado, a reflexão pode simplesmente justificar a ação, fazendo com que a qualidade e a natureza da reflexão sejam tão importantes do que a sua simples ocorrência. Cabe então ao professor reflexivo filtrar a melhor forma de agir sobre a reflexão. Segundo Day (1999, p. 47) “se agir como um profissional implica empenhar-se na investigação, então é necessário examinar o que esta implica para o professor. A reflexão constitui o âmago da investigação, mas, ainda que seja uma condição necessária, não é por si só suficiente”.

Isto leva mais uma vez ao professor pensar no âmbito da prática como um ser humano criativo, apto para construir e atuar de forma inteligente, flexível e contextualizada. Segundo Schön (2000), tal capacidade só ocorre, porque o homem vem a ser uma mistura de ciência, técnica e arte (professional artistry) demonstrando a capacidade de se perceber o que está implícito ou o que está sendo revelado. Tal fato só ocorre na reflexão na e sobre a ação dentro de um processo investigativo com o objetivo de se compreender e atuar na melhoria de seu processo de ensino. No entanto, isso só pode ocorrer relacionando a sua prática com a teoria, ou seja, o que relatam sobre ensino com o comportamento no ensino, verificando as compatibilidades entre ambos e as condições de conhecimentos para se atuação reflexivamente na prática com base nas teorias. Professores reflexivos trabalham a sua prática pelo seu próprio ato de investigação-ação permeado por determinado contexto escolar, no qual moldará sua base reflexiva.

Alguns autores (SCHÖN, 1992; ZEICHNER, 2003; LIBÂNEO, 2002; PÉREZ- GÓMEZ, 1992) mostram que os estudos analisam que o conhecimento dos professores é fruto de experiências e de reflexão crítica. Nesse caso a justiça social se faz presente já que as oportunidades que são oferecidas aos estudantes serão resultados das escolhas e as opções que os professores fizeram para si em sua carreira. Caso contrário, ou seja, sem reflexão de suas ações, faz com que seu trabalho se torne mera rotina, aceitando as imposições do mercado, do governo, das escolas, etc. O professor reflexivo pode ser caracterizado então como um

profissional que procura equilibrar a ação do ‘modo de pensar’ enquanto que uma nova prática é fruto da reflexão sobre as experiências profissionais e pessoais.

Dentro dessa linha de pensamento Smyth74 (1991, apud CONTRERAS, 2002) analisa que a reflexão pela reflexão deve ser questionada e acrescenta que a mesma deve ser baseada em quatro fases de ação: descrever, informar, confrontar e reconstruir. Considerando tais fases o autor considera a reflexão crítica e questionadora dentro de seu contexto e dinâmica social, levando-nos a suspeitar da total eficácia do diálogo solitário, apostando na reflexão coletiva para um melhor resultado na ação. Dentro deste conceito Zeichner (2003,p.45), destaca que:

[...] a maior parte do discurso sobre o ensino reflexivo dá pouca ênfase a reflexão como prática social, no qual grupo de educadores apoiem e sustentam o crescimento de cada um dos seus membros. A definição de desenvolvimento do professor como uma atividade a ser exercida unicamente pelos professores individuais limita muito seu potencial de crescimento.

Tendo por base tais considerações, faz com que o ensino reflexivo exercite a autoanálise docente, ou seja, a criticidade de seus atos com relação ao rigor, consciência-social, abertura para novos projetos, dando origem ao professor crítico-reflexivo. Por outro lado, a simples conscientização de tais questões citadas não significa metamorfose das práticas pedagógicas. A consciência da realidade social e as limitações de trabalho geralmente são agravantes para uma abordagem crítico-reflexiva consistente e efetiva. Isso pressupõe que a mudança educacional se dá a partir da transformação conjunta de fatores internos e externos aos muros escolares. A emancipação do professor ocorre com sua ação reflexiva e o desejo de transformação, associada ao contexto social e cultural.

No entanto, a partir da iluminação reflexiva do professor, principalmente em início de carreira sobre sua responsabilidade social, realidade de trabalho e dever de mudança, o auxilia na construção de um guia das ações, que no trabalho em equipe permite avanços sociais, pessoais e coletivos. Diante disso, o professor crítico-reflexivo torna-se um importante ator nas questões relacionadas à educação, focando numa mudança social e pessoal, racionalizando os métodos, currículos e a relação que realmente interessam em sala de aula. Ao ser um professor crítico-reflexivo, seu maior prazer é chegar ao fim do dia, pôr a cabeça no travesseiro e descansar sossegado, tendo feito, pelo menos sua parte.

74 SMYTH, J. Developing and sustaining the critical. In: SMYTH, J. Teachers as collaborative learners: challenging dominant forms of supervision. Buckingham: Open University Press, p. 105-118, 1991.