• Nenhum resultado encontrado

Identidade física do juiz

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 81-85)

3. PRINCÍPIOS REGENTES DO INSTITUTO

3.9. Identidade física do juiz

Este princípio guarda estreita relação com a imediatidade ou imediação do juiz na instrução probatória, estando também diretamente relacionado com o princípio da oralidade que rege o processo, sobretudo o processo do trabalho.

Segundo este princípio, o juiz que concluir a audiência de instrução deve também proferir a sentença, a fim de garantir que o julgado resgate, de forma fiel, a verdade dos fatos captada pela cognição do magistrado que presidiu pessoalmente a instrução processual, tendo, portanto, participado diretamente da produção das provas (art. 132 do CPC).

A vinculação do juiz ao processo em que dirigiu a colheita do material probatório, notadamente a prova oral, pode render maior segurança e fidedignidade à decisão judicial em relação à realidade dos fatos.

Isto porque, ao ouvir as partes e as testemunhas em audiência, o juiz não somente apura os fatos objetivos, como também capta, neste momento, todos os elementos necessários à valoração das provas produzidas, analisando detidamente a forma como se comportaram durante os depoimentos, os trejeitos, as interjeições, a segurança e a certeza com que respondem às perguntas formuladas pelo ex adverso e pelo próprio julgador.

Análise destes fatos, à luz do conjunto probatório, por outro juiz que não presidiu a colheita da prova, principalmente a prova oral, poderia gerar incerteza e insegurança à decisão judicial, eis que o julgador que não dirigiu a instrução com pessoalidade não consegue, como aquele que dela participou diretamente, resgatar todos os seus “sentidos”, consistentes nas impressões obtidas durante a inquirição das partes e testemunhas e na avaliação psicológica daqueles que depuseram.

Ademais, importante ressaltar que a prova oral, embora da maior importância para o processo, sobretudo para o processo do trabalho, não deixa de ser aquela que carrega em seu bojo a maior carga de subjetividade.

Isto porque, não há como negar que os depoimentos colhidos deixam- se “contaminar” por uma carga psicológica considerável, eis que os fatos que são transmitidos por meio da prova oral passam pelo crivo do juízo sensorial daqueles que são inquiridos em audiência.

Por mais fidedigna que seja uma testemunha, por maior que seja a boa-fé da parte, depõem sobre fatos que passaram por sua percepção, sendo que esta operação complexa, que se inicia com a captação dos fatos pelo sujeito, submetendo-se a seu juízo sensorial e findando com o depoimento em audiência, acaba por contagiar a prova pelas impressões pessoais e pela carga emocional daquele que viu ou ouviu o fato controvertido.

Nesta toada, entendemos que o juiz que presidiu a audiência de instrução, ouvindo partes e testemunhas, determinando diligências

complementares e encerrando a instrução processual, tem melhores condições para proceder ao julgamento, uma vez que é durante a colheita pessoal da prova oral que o magistrado percebe inúmeras situações relativas à conduta daqueles que perante ele depõem, elementos estes que acabam por auxiliá-lo na formação de seu convencimento.

Por todas estas razões, concluímos ser a identidade física do juiz de suma importância para o processo, razão pela qual defendemos a sua aplicação ao processo do trabalho após a extinção da representação classista na Justiça do Trabalho e, por conseguinte, a instituição dos juízos monocráticos de primeira instância (Emenda Constitucional 24).

Na situação pretérita que vigorava no modelo trabalhista, dos juízos colegiados de primeiro grau, não havia qualquer sustentação jurídica para a aplicação do referido princípio ao processo do trabalho, eis que o julgamento não era ato monocrático.

No panorama atual, todavia, com o advento da Emenda Constitucional nº 24 que conferiu nova roupagem aos juízos de primeiro grau, não há mais porque se aplicar a Súmula 136 do Tribunal Superior do Trabalho96 que, a nosso ver, se mostra incompatível com a nova estrutura do Judiciário Trabalhista.

Neste sentido, embora de forma minoritária, a jurisprudência trabalhista já tem acenado nesta direção. Senão, vejamos:

“Recurso ordinário. Prova testemunhal. Valoração. O julgador que colhe a prova oral e prolata a sentença, em face de sua proximidade com as partes e testemunhas quando dos depoimentos, encontra-se em situação privilegiada no que tange à valoração da prova produzida. Neste compasso, as impressões por ele recolhidas e que firmam seu convencimento não podem ser menosprezadas. tal máxima ganha

96 Súmula 136 do TST: JUIZ. IDENTIDADE FÍSICA. “Não se aplica às Varas do Trabalho o princípio da identidade física

relevância quando se reflete sobre o princípio da identidade física do juiz para buscar a verdade real, sopesando os fatos para deles extrair suas conclusões firmando seu convencimento”. 01656-2006-034-01- 00-5. Julgado em 27/11/2007, por unanimidade. Publicação DORJ de 23/01/2008, p. II, S. II, Federal. Relator designado: Desembargadora Maria José Aguiar Teixeira Oliveira. 8ª Turma 97.

A doutrina também é vacilante acerca do tema, razão pela qual merece destaque o entendimento vanguardista de Jorge L. Souto Maior, ao encontrar na oralidade a razão principal para a aplicação inequívoca da identidade física do juiz. Segundo o jurista, o Tribunal Superior do Trabalho, relativamente à Súmula 136,

“...adotou como regra aquilo que somente por exceção poderia ser concebido, desconsiderando, por inteiro, o fato de que o procedimento trabalhista é oral, desmantelando toda a sistemática processual trabalhista e causando-lhe imensos transtornos no que se refere à sua celeridade e efetividade” 98.

97 Prevalece, todavia, entendimento em sentido contrário, conforme se observa da leitura das seguintes ementas: “PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ. VARA DO TRABALHO. INAPLICABILIDADE. Nos termos da Súmula 136 do C. TST, não se aplica, no processo do trabalho, o princípio da identidade física do juiz, insculpido no art. 132 do diploma adjetivo, tendo em vista que o processo trabalhista é informado também pelo princípio da celeridade. Recurso ordinário não provido, no aspecto”. Recurso Ordinário. Data de julgamento: 29/05/2008. Relator(a): DAVI FURTADO MEIRELLES. Acórdão nº: 20080463856. Processo nº: 01242-2005-201-02-00-5. Ano: 2007. Turma: 12.

“PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ. INAPLICABILIDADE NA JUSTIÇA DO TRABALHO MESMO APÓS A EXTINÇÃO DA REPRESENTAÇÃO CLASSISTA. A inobservância, no âmbito do Judiciário Trabalhista, do princípio da identidade física do juiz que, aliás, tem sido paulatinamente mitigado, não fere os princípios de economia e de concentração processual. Inolvidável a interpretação das regras de proteção ao trabalho, nas suas diretrizes basilares, em que a informalidade, revestida de absoluta cautela, assume posição de relevância. A característica essencialmente pragmática permite, por exemplo, que a constatação da inexistência de prejuízo às partes em decorrência da alteração da presidência da Vara, inviabilize a decretação de nulidade da sentença, de conformidade com o artigo 794 da CLT, que insculpe o princípio da transcendência norteador das lides trabalhistas”. TRT/SP - 20010262746 - RO - Ac. 2ªT 20030123164 - Rel. MARIANGELA DE CAMPOS ARGENTO MURARO - DOE 08/04/2003

Concluímos, portanto, que negar a aplicação princípio da identidade física do juiz é o mesmo que afastar a finalidade e os efeitos da oralidade e da imediatidade na colheita da prova.

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 81-85)