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Importância das máximas de experiência para a efetividade da

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 135-141)

6. PRESUNÇÕES, INDÍCIOS E MÁXIMAS DE EXPERIÊNCIA

6.1. Presunções e indícios

6.2.3. Importância das máximas de experiência para a efetividade da

Encampando o princípio da livre apreciação da prova, estabeleceu o art. 131 do CPC, de aplicação subsidiária ao processo do trabalho, que “o juiz apreciará livremente a prova”, observando com atenção os fatos e os elementos dos autos, “ainda que não alegados pelas partes”.

Pretendeu, com isso, o legislador conferir liberdade ao magistrado na apreciação das provas produzidas, atentando para todos os elementos constantes nos autos, mesmo que as partes não os tenham alegado, a fim de preservar o objetivo maior da atividade instrutória, qual seja, o resgate da verdade dos fatos.

Como já ponderamos ao longo deste estudo, a grandeza da justiça se atinge quando há um efetivo compromisso com a perquirição da verdade, motivo pelo qual, a atividade judicial voltada para esta finalidade deve se valer de todos os elementos e circunstâncias dos autos, sejam provas diretas, sejam métodos

indiretos - presunções extraídas de fatos indiciários ou de máximas de experiência.

A propósito, a verdade real emerge, por vezes, não da prova direta do fato principal em que se fundamenta o litígio, mas da prova de fatos circunstanciais, secundários à questão controvertida, tudo corroborado pelas regras de experiência do que comumente ocorre, conforme se observa de reiteradas situações semelhantes ocorridas no cotidiano, bem como retratadas em outros processos.

Não raro ocorre tal situação no processo do trabalho, já que o contrato laboral é consensual, não formal, caracterizando-se mais pela prestação de serviços (animus contrahendi) do que pelo acordo formal, razão pela qual a intenção e a vontade das partes externadas pelo labor por trato sucessivo ganham especial importância.

No processo do trabalho as regras de experiência mostram-se de grande valia na investigação da verdade e na solução justa dos conflitos, em casos de inexistência de normas específicas aplicáveis às provas dos fatos litigiosos.

Além de ser compatível com o processo laboral a regra do art. 335, CLT, por força do quanto dispõem os artigos 765 e 769 da CLT, a própria legislação consolidada prestigiou de forma expressa, na redação do art. 852-D, a aplicação das regras de experiência comum e técnica, como poderosos instrumentos a auxiliar o juiz na interpretação e na valoração dos elementos de convicção dos autos, com vistas à justa pacificação do litígio.

A propósito, note-se que o juiz do trabalho, em razão da especialidade da matéria de sua competência jurisdicional, acaba por acumular vasta experiência a partir da análise dos fatos que ordinariamente acontecem nos litígios ajuizados, extraindo daí regras de experiência comum que podem e devem ser subministradas para a adequada distribuição da justiça. Por exemplo,

o magistrado trabalhista sabe que diante de uma intensa precipitação pluvial, a provocar a interrupção da atividade na lavoura, o trabalhado é provisoriamente interrompido no respectivo período; em contrapartida, em períodos de safra, a produção rural é maior, sendo intensificado o trabalho nestes dias; da mesma forma, durante os períodos festivos intensifica-se o movimento no comércio, o que demanda a prorrogação da jornada de trabalho, bem como fomenta as contratações temporárias; os bancários estendem sua jornada em períodos de balanço; as jornadas de trabalho apontadas de forma “britânica” nos cartões de ponto presumem a ausência de veracidade das anotações.

Nas preleções de Carlos Alberto Reis de Paula o processo do trabalho é seara fértil para aplicação das máximas de experiência como juízos auxiliares no julgamento, in litteris:

“Se observarmos que o contrato é o núcleo do Direito do Trabalho, qual seja, o contrato de trabalho é tecido no dia a dia, com todas as circunstâncias e contingências que lhe são próprias, parece-nos lógico chegarmos à conclusão que as máximas de experiência ocupam papel de relevo na fase probatória no processo do trabalho. Em um pedido, por exemplo, de equiparação salarial, a presunção que decorre da circunstância de dois empregados desempenharem a mesma função, e a observância de que, pelas normas de experiência, o previsível é que o façam de forma igual, leva o juiz a presumir que o trabalho seja de igual valor (art. 461, parágrafo 1º da CLT), cabendo ao empregador a prova do contrário” 167.

A importância da utilização das regras de experiência, em circunstâncias em que os meios de prova convencionais e as normas particulares não se mostram adequados à justa solução da lide, também é largamente acolhida pela jurisprudência. Senão, vejamos:

“Com sabedoria, o art. 852-D, trazido à CLT pela Lei nº 9.957/2000 (procedimento sumaríssimo), preceitua que neste tipo de ritualística processual deve o juiz apreciar o conjunto probatório com "especial valor às regras de experiência comum". Em assim sendo, correto o entendimento de que descabe vale-transporte quando o reclamante admite que ia trabalhar a pé e almoçava em casa, mormente quando dos autos ainda se vê que residia próximo da empresa em que laborava”. (RO – Rito Sumaríssimo. Data do julgamento: 20/01/2003. Relator: Des. RICARDO VERTA LUDUVICE. Acórdão: 20030011714. Processo nº 01295-2002-441-02-00-9. Ano: 2002. 7ª Turma do TRT/SP. Data da Publicação: 07/02/2003)

“Estabilidade Acidentária - Art. 118 da Lei nº 8.213/91. Comprovado que o trabalhador é portador de moléstia ocupacional adquirida no curso do contrato de trabalho insta reconhecer a estabilidade preconizada no art. 118 da Lei nº 8.213/91, independentemente do afastamento mediante percepção de auxílio-doença. Segundo as regras de experiência subministradas pelo quê de ordinário ocorre, é razoável concluir que o empregado somente não se afastou por temor às represálias patronais, pois a doença de instalação lenta e insidiosa não ocorreu na última semana da relação empregatícia. Reputa-se verificada a condição quanto aos seus efeitos jurídicos na forma do artigo 120 do Código Civil.” (RO. Data de julgamento: 23/04/2002. Relator: Des. PAULO AUGUSTO CAMARA. Acórdão nº 20020261688. Processo nº: 20010168766. Ano: 2001. 4ª Turma do TRT/SP. Data de publicação: 07/05/2002).

“Jornadas "britânicas". A incidência do entendimento cristalizado na Súmula no 338, III, do TST se justifica em face da hipossuficiência do obreiro, segundo as regras ordinárias de experiência. Isto porque a marcação de horário em moldes distintos do determinado pelo

empregador implicaria eventual dificuldade em conservação do posto de trabalho”. RO. Data de julgamento: 11/09/2008. Relator: Des. ADALBERTO MARTINS. Acórdão: 20080801395. Processo nº: 01723- 2005-020-02-00-2. Ano: 2007. 12ª Turma do TRT/SP. Data da publicação: 19/09/2008.

VÍNCULO DE EMPREGO. FATOS ALEGADOS PELAS PARTES. FATOS NOTÓRIOS, USOS E COSTUMES COMO SUPORTES Á SOLUÇÃO DA LIDE DIANTE DA FALTA DE CLAREZA ACERCA DA RELAÇÃO MATERIAL. “Quando não há elementos nos autos que evidenciem de maneira satisfatória qual a relação material efetivamente havida entre as partes, diante da inafastabilidade da jurisdição e da fase em que se encontra o feito, outra solução não há que não o uso de fatos notórios, costumes e razoabilidade para se resolver o litígio. Não é controvertido o fato de que houve prestação de trabalho, mas sim a quem esta prestação esteve subordinada. Diante de tantas contradições, considerando a notoriedade em torno do benefício que a promoção de "ducha grátis" traz ao negócio de venda de combustível e, ainda, considerando o costume nacional de se dar gorjetas, afasta-se a tese de que não houve onerosidade, pois esta foi estribada no costume, ambos os contratantes nele se pautaram para fixar a remuneração; então, não poderá ser a forma de retribuição dos serviços (paga de gorjetas, apenas) utilizada em juízo para beneficiar o reclamado como significado de falta de onerosidade. Nem se diga que o raciocínio até aqui realizado padece de suporte legal, pois o art. 8° da CLT prevê em seu caput que se decida com base em usos e costumes e o art. 334 do CPC, subsidiariamente aplicado ao Processo do Trabalho, prevê a desnecessidade de se provarem fatos notórios, sendo que o art. 335 do mesmo diploma processual autoriza o juiz a aplicar 'as regras de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece' para decidir o litígio”. RO. Data de julgamento: 04/11/2002. Relator: YONE FREDIANI. Acórdão: 20020726451.

Processo nº: 36505-2002-902-02-00-8. Ano: 2002. 7ª Turma do TRT/SP. Data da publicação: 22/11/2002.

“SIMULAÇÃO. UTILIZAÇÃO DE PROVAS INDICIÁRIAS. CABIMENTO. Por sua própria natureza, o ato simulado não é facilmente detectável por meio de provas concretas e diretas, pois realizado com o objetivo de “dar aparência de legalidade”, apresentando-se externamente perfeito “aos olhos da lei”, mas escondendo elementos subjetivos que olvidam a legalidade e até mesmo a moralidade. Daí o porquê de o ato simulado ser, por excelência, constatado através de indícios e máximas de experiência, de forma a trazer à baila vícios ocultos em contraposição ao aspecto exterior de legalidade” (Autos nº 0108/2004- 000-24-00-3-AR.0 – Relator: Amaury Rodrigues Pinto Júnior. Publicação: DO Nº 6371 de 23.11.2004 pág. 26). Processo TST-ROAR- 213-2005-0024-00.3.

Como pudemos verificar, as presunções, os indícios e as máximas de experiência desempenham função de destaque para a correta valoração da prova, devendo o julgador, com fundamento no princípio da persuasão racional, lançar mão destes instrumentos sempre que entender necessário para o resgate da verdade dos fatos que, muitas vezes, não se revela pelos elementos diretos, mas sim por meio das circunstâncias secundárias dos autos e pelas regras de experiência da vida.

Assim o fazendo, estará o juiz preservando o escopo social do processo (justa pacificação do conflito) e garantindo efetividade à prestação jurisdicional.

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 135-141)