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Máximas de experiência

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 130-134)

6. PRESUNÇÕES, INDÍCIOS E MÁXIMAS DE EXPERIÊNCIA

6.1. Presunções e indícios

6.2.1. Máximas de experiência

O ato de julgar é realizado por um homem que não vive isolado do mundo exterior, mas por um ser que está inserido no contexto social, razão pela qual sofre influência deste mundo, vivência esta que lhe agrega experiência, discernimento e sabedoria para bem decidir.

Em razão disso, ao interpretar a lei, subsumindo-a ao caso concreto, o juiz não somente utiliza o raciocínio e a lógica, como também subministra as experiências do que ordinariamente acontece em sua volta, nas mais diversas áreas da atuação humana (comércio, indústria, artes etc), decidindo com razoabilidade e bom senso.

E justamente por estar envolvido e em contato com o mundo que o rodeio, ao avaliar a prova e os elementos que informam a instrução processual, o magistrado acaba, por vezes, lançando mão de dados empíricos que acumulou ao longo de sua vida, analisando-os e aplicando-os ao caso concreto, sempre norteado por seu prudente arbítrio, como bem ponderou Eduardo J. Couture:

“O juiz, seja-nos permitido insistir, não é uma máquina de raciocinar, mas, sim, essencialmente um homem que toma contato com o mundo que o rodeia e que ele conhece por meio de seus processos sensoriais e intelectuais. O prudente arbítrio é, portanto, a apreciação lógica de certas conclusões empíricas do que todo o homem se serve para movimentar-se na vida. ” 160

Consoante esclarecemos anteriormente, as máximas de experiência consistem em juízos hipotéticos e empíricos constituídos a partir da análise do que ordinariamente acontece na vida cotidiana (regras de experiência comum), podendo também ser resultantes de conhecimentos técnicos, científicos ou de um dado ramo profissional (regras de experiência técnica).

Estas regras de experiência, que fazem parte do cabedal de cultura do julgador, são extraídas dos acontecimentos gerais da vida ou de verdades científicas, não sendo específicas ao caso individual concreto para o qual se destinam, razão pela qual pode o juiz delas se valer como importante instrumento para a solução de quaisquer litígios, bem como método auxiliar para a busca da verdade.

Embora decorram da análise dos fatos cotidianos observados na vida e nas ciências, se caracterizam como normas abstratas, aplicáveis, por conseguinte, às mais diversas situações não contempladas pelas normas jurídicas particulares, adaptando-se às especificidades de cada caso concreto.

As máximas de experiência, portanto, consistem no meio pelo qual se presume a verdade do fato principal objeto do litígio.

Assim como os indícios, tais regras de experiência comum e técnica são métodos dos quais se utiliza o julgador para o desenvolvimento do raciocínio lógico-dedutivo necessário à demonstração da verdade de um fato litigioso; a única diferença entre tais instrumentos auxiliares de julgamento é que as regras de experiência são verdadeiras “normas hipotéticas”, de caráter geral, enquanto aqueles se constituem a partir dos fatos circunstanciais, secundários e individualizados do processo. Porém, como dito, ambos conduzem à formação das presunções hominis.

Coqueijo Costa, cujas lições foram transcritas por Isis de Almeida, assim definiu máxima de experiência, cotejando-a com os indícios:

“É uma presunção natural que tem por fonte uma norma de experiência. Ao invés de se apoiar nas circunstâncias que rodeiam o

caso concreto, repousa exclusivamente na experiência da vida, substituindo o fato básico pela máxima de experiência”.161

Da redação do art. 335 do CPC162 depreendemos que as regras de experiência comuns e técnicas só podem ser utilizadas pelo julgador na ausência de norma particular ao caso ou presunção legal específica ao fato.

O que o legislador disse no referido dispositivo legal foi que as regras de experiência comum somente podem ser invocadas caso não haja: 1) presunção legal expressamente prevista para aquele fato (CLT, art. 477) – tornando inútil, por conseguinte, a utilização da presunção comum firmada a partir das regras de experiência -; 2) norma legal estabelecendo taxativamente a forma da prova do fato litigioso (é o caso de atos jurídicos cuja validade depende de formalidade específica, a teor da situação contemplada no art. 366 do CPC).

Nada obsta, porém, que sejam utilizadas como hábeis instrumentos coadjuvantes na interpretação da prova conflitante, como regras auxiliares de julgamento, consoante lições de Tostes Malta: “As máximas têm sido apontadas como capazes de sugerir uma justa solução dos conflitos de interesses quando a interpretação da prova suscita dúvidas”.163

O sistema de valoração probatória adotado por nosso ordenamento jurídico, como será analisado oportunamente, primou pela livre apreciação da prova com vistas à preservação da finalidade social do processo, sendo que as máximas de experiência, dependendo do panorama que se configurar ante as circunstâncias dos autos, exercem função de destaque na interpretação da prova duvidosa.

161 Manual de direito processual do trabalho, p. 170.

162 “Em falta de normas jurídicas particulares, o Juiz aplicará as regras de experiência comum, subministradas pela

observação do que ordinariamente acontece e ainda as regras de experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial”.

163 MALTA, Cristóvão Piragibe Tostes, “Interpretação da prova no processo trabalhista”, in PAMPLONA FILHO, Rodolfo (coordenador), Processo do trabalho, p. 177.

No magistério de Teixeira Filho:

“As máximas de experiência constituem, portanto, a expressão legal, regras de que o Juiz poderá valer-se para atingir a verdade dos fatos e cuja importância ainda mais se avulta nos sistemas que consagram o princípio da livre apreciação da prova”. 164

Adequadamente subministradas ao caso concreto, portanto, as máximas de experiência comum e técnicas são juízos empíricos de importante valia para a decisão acerca de fatos que não restaram elucidados pelos elementos concretos dos autos, hábil ferramenta a auxiliar o julgador na busca da verdade e na humanização do processo, instrumento para a justa pacificação do conflito, conforme bem retratado por Dinamarco:

“seja no processo das pequenas causas ou no comum, está institucionalizado o valor das máximas de experiência, às quais é lícito ao juiz recorrer para justificar sua convicção, sempre com a preocupação de fazer justiça e evitar que a rigidez de métodos preestabelecidos o conduza a soluções que contrariem a grande premissa de que o processo é um instrumento sensivelmente ético e não friamente técnico”.165

Neste sentido, as regras de experiência comum, por refletirem aquilo que iterativamente acontece no cotidiano, são flexíveis, mutáveis, uma vez que as relações fáticas evoluem, razão pela qual nada obsta que sejam estabelecidos novos parâmetros para tais juízos hipotéticos extraídos da experiência da vida. Da mesma forma, as ciências não são estáticas, motivo pelo qual podem ser criadas novas regras de experiência técnica a partir do estabelecimento de novos padrões científicos.

164 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio, A prova no processo do trabalho, p. 105. 165 DINAMARCO, Cândido Rangel, A instrumentalidade do processo, p. 254.

Por todas estas razões as máximas de experiência exercem papel fundamental não somente por atuarem como regras auxiliares de julgamento, como também, por seu caráter dinâmico, por fomentarem a evolução do próprio direito, enquanto ciência que visa a atender às demandas sociais.

6.2.2. Máximas de experiência, fatos do conhecimento particular do

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 130-134)