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CAPÍTULO 4 A CULTURA DE SAFETY NA PERSPETIVA DA COMUNICAÇÃO INTERNA

4.2 C OMUNICAÇÃO I NTERNA

4.2.6 Influência na cultura e clima de safety

A comunicação é uma das caraterísticas tipicamente ligada à cultura de safety (Ek et al., 2007; EUROCONTROL/FAA, 2008; Louvar, 2013; Reason, 1997; Sorensen, 2002; Stroeve, Sharpanskykh, & Kirwan, 2011).

A importância da comunicação na cultura de safety manifesta-se em várias vertentes, passando pela comunicação consistente dos componentes do sistema de gestão de safety, desde a gestão sénior até à linha operacional (Hale, Guldenmund, van Loenhout, & Oh, 2010), e pela evidência da divulgação de objetivos de safety e dos resultados dos relatórios de incidentes que devem ser partilhados com os operacionais (Frazier et al., 2013).

Sendo o objetivo primeiro da gestão de safety, reduzir ou eliminar o processo que desencadeia um acidente através de uma cultura positiva de safety (Louvar, 2013), é necessária a comunicação consistente pela gestão sénior dos componentes SGS a serem aplicados pelos profissionais de safety. Complementarmente, deverá existir uma adequada comunicação descendente para sensibilizar a gestão intermédia e os operacionais no sentido que as iniciativas apropriadas (e.g. comunicação de objetivos, partilha de relatórios de incidentes), são vitais para o sucesso organizacional.

Para acompanhar uma cultura positiva de safety, a comunicação deve fazer parte das competências da gestão (Louvar, 2013), estando a sua génese dependente da existência de um sistema de comunicação baseado em confiança mútua (Booth & Lee, 1995).

A relação de simbiose que White et al. (2010), observaram entre a comunicação e a cultura organizacional resulta numa influência mútua, de tal forma que, a perceção de um sentido positivo de comunidade na organização contribui para uma cultura positiva. Encontra-se ainda

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reconhecida, a relação entre a comunicação interna e o grau de informação dos colaboradores com o desempenho e a satisfação no trabalho.

A comunicação organizacional produz um efeito ambivalente no safety na medida em que, sendo o seu maior facilitador pelo diálogo aberto e honesto que proporciona relativamente aos incidentes de safety, pode, por outro lado, constituir a sua terceira maior barreira quando o receio de represálias conduz à omissão da comunicação de perigos e incidentes (CANSO, 2014b). Noutra ótica, Jo e Shim (2005), testaram a comunicação interpessoal entre a gestão e a formação de atitudes de confiança entre os colaboradores, indiciando que a influência pessoal constitui uma forte componente da comunicação relacional.

Idealmente, a comunicação deve estar equilibrada entre extremos para evitar que a sua escassez crie um vazio que origine desconfiança e especulação ou o seu excesso provoque uma sobrecarga tal que despolete a reação de ignorá-la. Além de que, conforme Bartoo e Sias (2004) salientam, receber grande quantidade de informação não significa que o seja na medida certa, ou mesmo sendo-o, não significa que seja a mais adequada para os destinatários.

A comunicação organizacional condiciona outras componentes importantes da cultura de safety que incluem a confiança mútua, apontada na literatura como um componente essencial para o seu desenvolvimento (Guldenmund, 2010; Hatch, 1993; Reason, 1997; Sorensen, 2002), ou como percursora de um clima forte através da relação com o líder (Luria, 2010).

Noutra perspetiva, Hatch (1993), assegura que aspetos da cultura global como a eficácia da comunicação têm maior peso e influência nas taxas de acidentes que muitos elementos dos programas de safety organizacionais. Preconiza, por isso, a implementação de sistemas de comunicação que possibilitem a integração do safety nos processos e a completa divulgação da informação na organização.

O desempenho de safety é influenciado pelo nível de comunicação, conforme provaram Cox e Cheyne (2000) e Mearns et al. (2003), que o consideraram na rúbrica “comunicação e feedback” dos seus inquéritos. Mais tarde, Vinodkumar e Bhasi (2010), consideraram este fator como uma prática de gestão, mensurável através de itens relacionados, como no caso do sistema de relato de perigos, políticas com abertura para questões de safety ou comunicação descendente de objetivos e metas de safety.

A comunicação de safety efetuada no sentido ascendente é importante para alertar questões e problemas que os operacionais possam identificar mas que, doutra forma, permaneceriam no desconhecimento da gestão. É fundamental existir uma comunicação aberta e um clima de

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confiança estimulantes deste fluxo comunicacional entre operacionais e supervisores, uma vez que se prova que tal prática diminui a ocorrência de eventos críticos. A perceção das atitudes da gestão relativamente ao safety é considerado o fator mais importante para que este fluxo de comunicação seja efetivo (Kath, Marks, & Ranney, 2010).

O clima de safety apresenta-se como uma forma específica do clima organizacional que descreve as perceções individuais acerca do valor do safety no ambiente de trabalho (Neal et al., 2000). A inclusão da comunicação no constructo do clima de safety é referida frequentemente na literatura por constituir um fator que relaciona o clima com o desempenho, ou pelo efeito mediador, identificado por Hofman e Stetzer (1998), entre o clima de safety e a atribuição de causas dos acidentes organizacionais, assim como, o relacionamento entre a comunicação de

safety no sentido ascendente e o clima de safety.

Neal et al. (2000), incluem-se entre os autores que atribuem ênfase à comunicação enquanto fator presente no constructo do clima de safety e por inerência no cerne da cultura de safety. Ao estudarem o envolvimento dos colaboradores no safety, identificaram o clima de safety como um fator composto por valores e práticas de gestão, comunicação, formação e sistemas de safety, onde o conhecimento de safety e a motivação têm um efeito mediador entre o clima e o comportamento.

A comunicação de safety no sentido ascendente é importante para alertar questões e problemas que os operacionais identificam mas que, doutra forma, permaneceriam no desconhecimento da gestão. Igualmente, é fundamental compreender a forma de estimular a comunicação entre os operacionais e os supervisores, uma vez que se prova que uma maior abertura para levantar questões e preocupações de safety diminui a ocorrência de eventos críticos. Note-se ainda, que a perceção das atitudes da gestão relativamente ao safety é considerado o fator dominante na previsão da comunicação ascendente de safety (Kath et al., 2010).