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A INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO E OS CURRÍCULOS DOS CURSOS JURÍDICOS NO BRASIL

SISTEMA DE IDEIAS GERAIS DO DIREITO

4. A INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO E OS CURRÍCULOS DOS CURSOS JURÍDICOS NO BRASIL

A primeira disciplina jurídica de caráter propedêutico, em nosso País, foi o Direito Natural – denominação antiga da Filosofia do Direito –, a partir de 11 de agosto de 1827, com a criação dos cursos jurídicos em São Paulo e em Olinda. Em 1891, com o advento da República, o currículo do curso jurídico sofreu alterações e a disciplina Direito Natural foi substituída pela Filosofia e História do Direito, lecionada na primeira série. Em 1895, houve o desmembramento desta disciplina, figurando a Filosofia do Direito na primeira série e a História do Direito, que pouco tempo sobreviveu, na quinta série. Já em 1877, Rui Barbosa reivindicava a substituição da disciplina Direito Natural pela Sociologia Jurídica, em sua “Reforma do Ensino Secundário e Superior”, conforme nos relata Luiz Fernando Coelho.15

Em 1912, com a reforma Rivadávia Correia, foi instituída a Enciclopédia Jurídica, que permaneceu como matéria de iniciação durante três anos, sendo posteriormente suprimida pela reforma Maximiliano. A Filosofia do Direito passou então a ser estudada como disciplina introdutória, lecionada na primeira série até que, em 1931, com a chamada Reforma Francisco Campos, passou a ser ensinada na última série e nos cursos de pós-graduação. Em seu lugar, para a primeira série, foi criada a Introdução à Ciência do Direito. A Resolução no 3, de 2 de fevereiro de 1972, do então Conselho Federal de Educação, alterou a

sua nomenclatura para Introdução ao Estudo do Direito e a Portaria no 1.886, de 30 de dezembro de

1994, do Ministério da Educação e do Desporto, ao estabelecer novas diretrizes para o curso jurídico, confirmou o caráter obrigatório da disciplina, passando a denominá-la Introdução ao Direito.

Estão em vigor, a partir de 1o de outubro de 2004, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de

Graduação em Direito, instituídas pelo Conselho Nacional de Educação, com a Resolução CNE/CES no

9, de 29 de setembro de 2004. A nova orientação pretende assegurar aos acadêmicos “ sólida formação

geral, humanística e axiológica, capacidade de análise, domínio de conceitos e da terminologia jurídica, adequada argumentação, interpretação e valorização dos fenômenos jurídicos e sociais ...”.

Diferentemente das fórmulas anteriores, a atual não indica as disciplinas que devam integrar o chamado

Eixo de Formação Fundamental, optando por assegurar aos estudos “conteúdos essenciais sobre Antropologia, Ciência Política, Economia, Ética, Filosofia, História, Psicologia e Sociologia.” Cabe,

assim, às coordenações de curso, a indicação das disciplinas capazes de atender aos objetivos propostos. Inequivocamente, as disciplinas que se encaixam no perfil delineado do Eixo de Formação

Fundamental, dado o atual nível de nossa cultura e experiência acadêmica, são: Introdução ao Estudo do Direito, Sociologia Jurídica, Filosofia do Direito, Introdução à Ciência Política, Economia

Aplicada ao Direito e História do Direito.16

BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL

Ordem do Sumário:

1 – Benjamim de Oliveira Filho, Introdução à Ciência do Direito; Miguel Reale, Lições Preliminares de Direito; 2 – Miguel Reale, op. cit.; Mouchet e Becu, Introducción al Derecho;

3 – Mouchet e Becu, op. cit.; Benjamim de Oliveira Filho, op. cit.; 4 – Luiz Fernando Coelho, Teoria da Ciência do Direito.

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1 Benjamim de Oliveira Filho, Introdução à Ciência do Direito, 4a ed., José Konfino Editor, Rio de Janeiro, 1967, p. 86.

2 “... é oportuno, antes de baixar aos pormenores, abarcar num relance o conjunto, sob risco de deixar o todo pelos pormenores, a floresta pelas árvores, a filosofia pelas filosofias. O espírito exige a posse de uma representação geral do escopo e da finalidade do conjunto para saber a que deva consagrar-se” (Hegel, Introdução à História da Filosofia, Armênio Amado, Editor, Sucessor, 3a ed., Coimbra, 1974, p. 42). Em sua Carta aos Jovens, dirigida aos estudiosos de sua pátria, o

russo I. Pavlov aconselhouos: “... Aprendam o ABC da ciência antes de tentar galgar seu cume. Nunca acreditem no que se segue sem assimilar o que vem antes. Nunca tentem dissimular sua falta de conhecimento, ainda que com suposições e hipóteses audaciosas. Como se alegra nossa vista com o jogo de cores dessa bolha de sabão – no entanto, ela,

inevitavelmente, arrebenta e nada fica além da confusão...”

3 O termo jurisprudência está empregado no sentido romano, ou seja, de Ciência do Direito.

4 “Introduzir é um termo composto de duas palavras latinas: um advérbio (intro) e um verbo (ducere). Introduzir é conduzir de um lugar para outro, fazer penetrar num lugar novo” (Michel Miaille, Uma Introdução Crítica ao Direito, 1a ed., Moraes Editores, Lisboa, 1979, p. 12).

5 Filosofia do Direito, Sérgio Antônio Fabris Editor, Porto Alegre, 1993, p. 161. O antigo professor da Faculdade de Direito de Santo Ângelo reproduziu o seu trabalho publicado na Revista Jurídica, vol. V, 1953, onde apresenta uma lúcida visão do objeto da Introdução ao Estudo do Direito e de suas conexões com a Filosofia do Direito, Sociologia Jurídica e Teoria Geral do Direito. Entre nós aquele estudo foi um dos pioneiros.

6 Introducción al Derecho, 1a ed., Aguilar, Buenos Aires, 1960, p. 32.

7 Introducción a la Ciência del Derecho, 3a ed., Cultural S.A., La Habana, 1945, p. 22.

8 Ainda sobre o objeto da disciplina, importante estudo subordinado à visão de autores brasileiros é apresentado por Paulo Condorcet Barbosa Ferreira, em sua obra A Introdução ao Estudo do Direito no Pensamento de Seus Expositores, Editora Líber Juris Ltda., Rio de Janeiro, 1982.

9 Edmond Picard, O Direito Puro, Francisco Alves & Cia., Rio de Janeiro, s/d, pp. 5 e 6. A primeira edição francesa – Le Druit

Pur – data de 1899. O autor belga viveu no período de 1836 a 1924 e advogou nas Cortes de Apelação e de Cassação de

seu País.

10 A Introdução ao Estudo do Direito foi comparada, por Pepere, com o alto de um mirante, de onde o estrangeiro observa a extensão de um país, para fazer a sua análise. Mostrando a absoluta necessidade de uma disciplina de iniciação, Vareilles- Sommières comentou que começar o curso de Direito sem uma disciplina introdutória é o mesmo que se pretender

conhecer um grande edifício, entrando por uma porta lateral, percorrendo corredores e saindo por uma porta de serviço. O observador não se aperceberá do conjunto e nem terá uma visão da harmonia e estética da obra. (Apud Benjamim de Oliveira Filho, op. cit., pp. 96 e 98.)

11 Théorie Générale du Droit, 1a ed., Établissements Émile Bruylant, Bruxelles, 1948, p. 19.

12 A obra Princípios de Sociologia Jurídica, publicada pelo brasileiro Queiroz Lima, destinada aos estudos preliminares de Direito, obteve, na realidade, aprovação nos meios universitários, contudo, os capítulos nela desenvolvidos não são próprios da Sociologia do Direito e configuram, antes, a temática da Introdução ao Estudo do Direito.

13 Entre as críticas que Piragibe da Fonseca faz à denominação, destaca a circunstância de que “hoje pesa sobre o vocábulo suspeição nada lisonjeira: enciclopedismo é sinônimo de superficialismo pretensioso e pedante, e “enciclopédico” é o

indivíduo que nada sabe, precisamente porque pretende saber tudo” (Introdução ao Estudo do Direito, 2a ed., Livraria Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1964, p. 36).

14 Filomusi Guelfi, Enciclopedia Giuridica, 6a ed., Nicola Jovene & Cia. Editori, Napoli, 1910.

15 Luiz Fernando Coelho, Teoria da Ciência do Direito, 1a ed., Edição Saraiva, São Paulo, 1974, p. 2.

16 Louvável, por um lado, a preocupação do Conselho Nacional de Educação ao traçar o perfil do homo juridicus dentro de uma perspectiva de sólido embasamento científico e filosófico, mas pecou pela falta de praticidade, ao deixar em aberto as disciplinas que realizam tal ideário, correndo-se o risco de um recuo histórico à época em que não havia consenso sobre as unidades de estudo. O bom-senso há de nortear as coordenações de curso, a fim de não se renunciar a experiência

Capítulo 2