• Nenhum resultado encontrado

PRINCÍPIOS DO DIREITO APLICADO

SEGURANÇA JURÍDICA

66. PRINCÍPIOS DO DIREITO APLICADO

abstrata, para transformar-se em norma jurídica individualizada. Entre os principais, destacamos os seguintes: decisão de casos pendentes e sua execução, prévia calculabilidade da sentença, firmeza

jurídica (respeito à coisa julgada), uniformidade e continuidade da jurisprudência.

66.1. Decisão de casos pendentes e sua execução. Como a priori lógico dos princípios afetos ao Direito aplicado, tem-se o julgamento dos processos judiciais e administrativos. O art. 126 do Código de Processo Civil, como nos lembra o civilista Francisco Amaral, consagra aquele valor, ao impedir que os juízes se abstenham de julgar ou despachar sob a alegação de que a lei é ambígua ou lacunosa.23

O processo administrativo brasileiro, por força do art. 2o da Lei no 9.784/99, merece especial destaque nesta abordagem, pois, além de invocar expressamente o valor segurança, se acha afinado, com suas várias disposições, com o princípio. No caput do citado artigo, a Lei discrimina os princípios a serem observados no processo administrativo: legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade,

proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. Quanto aos critérios a serem observados, entre outros, enumera: motivação fática e legal da

decisão; forma simples, para a compreensão do procedimento pelos administrados e respeito aos seus direitos; interpretação das normas administrativas pelo modo mais favorável ao fim público, vedado o efeito retroativo às novas interpretações.

66.2. Prévia Calculabilidade da Sentença. As decisões judiciais e administrativas devem assentar- se em elementos objetivos, extraídos da ordem jurídica. Os critérios aleatórios, adotados na Antiguidade e na Idade Média, são incompatíveis com a era científica do Direito. O princípio da prévia calculabilidade da sentença, fruto dos tempos modernos, revela que, se os fatos estão claros e definidos, se a lei está ao alcance de todos, havendo, assim, a certeza jurídica, como em um silogismo, as partes poderão deduzir, antecipadamente, o conteúdo da sentença judicial. O advogado poderá orientar o seu cliente quanto à conveniência do ajuizamento de uma ação. A não prevalecer este critério, a busca da justiça nos pretórios se assemelhará ao “processo” kafkiano, em uma aventura que provocará o desprestígio da justiça e, por extensão, de todos aqueles que participam do drama judiciário. O raciocínio jurídico do advogado, como expõe Kenneth J. Vandevelde, “ é essencialmente o processo de

tentar prever a decisão do tribunal”.24

66.3. Respeito à Coisa Julgada. Dá-se a coisa julgada quando a decisão judicial é irrecorrível, não admitindo qualquer modificação. A presunção de verdade que a coisa julgada estabelece constitui princípio de segurança jurídica. Onde a garantia da parte vencedora em juízo se, em qualquer tempo, as decisões judiciais pudessem ser reversíveis? Como se programar para o futuro com base em uma sentença judicial, se esta for passível de reforma futura? O respeito à coisa julgada é princípio indeclinável de segurança.25

66.4. Uniformidade e Continuidade Jurisprudencial. Para que haja certeza jurídica é indispensável que a interpretação do Direito, pelos tribunais, tenha um mesmo sentido e permanência. A divergência jurisprudencial, em certo aspecto, é nociva, pois transforma a lei em Jus Incertum. A segurança que o Direito estabelecido pode oferecer fica anulada em face da oscilação e da descontinuidade jurisprudencial.

BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL

Ordem do Sumário:

Díaz, Sociología y Filosofía del Derecho; Recaséns Siches, Nueva Filosofía de la Interpretación del Derecho; 63 – José Corts Grau, Curso de Derecho Natural; Luiz Legaz y Lacambra, Filosofía del Derecho;

64 – Heinrich Henkel, op. cit.

65 – Heinrich Henkel, op. cit.; Flóscolo da Nóbrega, Introdução ao Direito; Ángel Latorre, Introducción al Derecho; 66 – Heinrich Henkel, op. cit.; Flóscolo da Nóbrega, op. cit.; Francisco Amaral, Direito Civil – Introdução.

____________

1 Wilhelm Sauer, op. cit., p. 221. 2 Heinrich Henkel, op. cit., p. 544. 3 Elías Díaz, op. cit., p. 47.

4 No dizer de José Corts Grau, “o homem é animal insecurum, frente aos demais animais, cujas possibilidades de evolução estão já definidas em sua situação, determinadas perfeitamente através de sua natureza. As infinitas possibilidades do homem observam-se já pelo seu exterior, nos infinitos matizes de sua expressão, de seus olhos, de suas mãos, que lhe criam uma radical inquietude, em contraste com a segurança do animal, verdadeiro regalo da natureza” (Curso de Derecho

Natural, 4a ed., Editora Nacional, Madrid, 1970, p. 26).

5 Luis Recaséns Siches, Nueva Filosofía de La Interpretación del Derecho, 2a ed., Editorial Porrua S.A., México, 1973, p. 294. 6 E.F. Camus, Filosofía Jurídica, Universidad de la Habana, 1948, p. 221.

7 Ebert Chamoun, Instituições de Direito Romano, 5a ed., Rio de Janeiro, Editora Forense, 1968, p. 253.

8 Edgar Bodenheimer, Ciência do Direito, Filosofia e Metodologia Jurídicas, Forense, Rio de Janeiro, 1966, p. 23.

9 Jean Cruet, sobre o assunto, fez a seguinte alusão: “Desde que não passe de uma dedução dos costumes preexistentes, a lei tem necessidade de ser ensinada como uma língua estrangeira, de ser pregada como uma religião” (op. cit., p. 236) 10 Hobbes, op. cit., p. 169.

11 Ángel Latorre, Introducción ao Derecho, 2a ed., Ediciones Ariel, Barcelona, 1969, p. 40.

12 Em sua famosa obra Dos Delitos e das Penas, cap. V, Beccaria fez uma referência sobre a importância do conhecimento do Direito: “Quanto maior for o número dos que compreendem e tenham em suas mãos o sagrado código das leis, com menor frequência haverá delitos, porque não há dúvida de que a ignorância e a incerteza das penas ajudam à eloquência das paixões.”

13 João Arruda, Filosofia do Direito, 3a ed., Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 1942, 1o vol., p. 425: “O Código pertence aos profissionais. O Código há de ser manejado por pessoas profissionais, que tenham o curso de uma academia, ou que de outro modo tenham feito estudos regulares de Direito, por homens que conheçam a Técnica Jurídica. Isso de Código para o vulgo é tão absurdo como pretender que um homem, sem a menor cultura, possa manejar um instrumento de engenharia, de cirurgia, de ótica, de astronomia ou mesmo de guerra.”

14 Em O que é o Código Civil, São Paulo, Livraria e Oficinas Magalhães, s/d., p. 5. A obra é uma coletânea de conferências realizadas na Universidade de São Paulo, logo após a promulgação do Código Civil de 1916.

15 Cf. Norberto Bobbio, O Positivismo Jurídico – Lições de Filosofia do Direito, Rio de Janeiro, Ed. Ícone, 1995, p. 117. 16 Philipp Heck, El Problema de la Creación del Derecho, Ediciones Ariel, Barcelona, 1961, p. 37.

17 René David, Los Grandes Sistemas Jurídicos Contemporáneos, trad. daa ed., Biblioteca Jurídica Aguilar, 1969, Madrid, p. 76.

18 Hans Kelsen, Teoria Pura do Direito, ed. cit., vol. II, p. 116.

19 Apud João Franzen de Lima, Curso de Direito Civil Brasileiro, 4a ed., Forense, Rio, 1960, vol. I, p. 64.

20 Em sua permanente preocupação em invalidar princípios e instituições que informam os sistemas jurídicos de Estados capitalistas, a corrente socialista do Direito critica a “irretroatividade da lei”, por favorecer a classe dominante, que possui bens e direitos subjetivos. Considera que o respeito aos direitos adquiridos é prática conservadora e reacionária que impede a correção de situações jurídicas formadas injustamente, à base de privilégios (V. Eduardo Novoa Monreal, El Derecho

como Obstáculo al Cambio Social, 3a ed., Siglo Veintiuno Editores, México, 1979).

21 “O Direito deve ser estável e, contudo, não pode permanecer imóvel” (Roscoe Pound, apud Benjamim N. Cardozo, A

Natureza do Processo e a Evolução do Direito, Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1943, p. 117).

22 “No Direito a traditio e a reformatio devem ser equivalentes, como peso e contrapeso, mantendo reciprocamente o equilíbrio da balança” (Heinrich Henkel, op. cit., p. 73).

23 Direito Civil – Introdução, 4a ed., Rio de Janeiro, Editora Renovar, 2002, p. 19.

24 Pensando como um Advogado, 1a ed., São Paulo, Editora Martins Fontes, 2000, p. XV.

25 Para situações extraordinárias, mediante a ação rescisória, prevista no artigo 485 do Código de Processo Civil, é admitida a reabertura de um processo, cuja sentença final haja transitado em julgado. A revisão de processos findos, com sentença condenatória, excepcionalmente é também possível em matéria criminal, como dispõem os arts. 621 e seguintes do Código de Processo Penal.

Capítulo 13