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PROCESSOS DE UNIFICAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA

O DESUSO DAS LEIS

96. PROCESSOS DE UNIFICAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA

Empregamos, aqui, o termo jurisprudência em lato sensu, o qual compreende também as decisões heterogêneas dos tribunais sobre determinada matéria legal. A necessidade de a ordem jurídica oferecer a certeza quanto ao Direito vigente, de dar clara definição às normas jurídicas, para melhor orientação de seus destinatários, faz com que a jurisprudência divergente seja considerada um problema a reclamar solução. O sistema jurídico brasileiro dispõe de recurso especial para combater a jurisprudência conflitante. Com base na divergência de julgados entre dois ou mais tribunais de estados diferentes, a parte interessada poderá, com fundamento no art. 105, III, “c”, da Constituição Federal, interpor um recurso especial para pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça, que julgará, provocando, naturalmente, a unificação nos procedimentos de aplicação do Direito. As súmulas dos tribunais possuem também esse importante papel. Sobre questões de Direito, em que se manifestam divergências de interpretação entre turmas ou câmaras, os tribunais fixam a sua inteligência, mediante ementas, que servem de orientação para advogados e juízes e favorecem à unificação jurisprudencial. O Código de Processo Civil, nos arts. 476 a 479, dispõe sobre as condições para a elaboração de súmulas pelos tribunais.

A título de ilustração, transcrevemos algumas súmulas enunciadas pelo Supremo Tribunal Federal: No 402 – “Vigia noturno tem direito a salário adicional.” No 414 – “Não se distingue a visão direta da oblíqua na proibição de abrir janela, ou fazer terraço, eirado, ou varanda, a menos de metro e meio do prédio de outrem.” No 605 – “Não se admite continuidade delitiva nos crimes contra a vida.”

À vista do disposto no art. 518, § 1o, do Código de Processo Civil, não cabe recurso de apelação contra sentença fundada em súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça.

Matéria bastante polêmica do ponto de vista doutrinário é a súmula vinculante, prevista no art.103-A da Constituição Federal. Por ela, a interpretação de matéria constitucional, aprovada por dois terços dos membros do Supremo Tribunal Federal (STF), se torna obrigatória para os demais órgãos do Poder Judiciário, bem como para a administração pública direta ou indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. Tal efeito visa a evitar o congestionamento de ações junto às altas cortes de justiça, que se veem obrigadas a julgar questões jurídicas anteriormente decididas em numerosos processos. A corrente doutrinária que se posiciona contra o efeito vinculante da súmula entende que a sua adoção é nociva, pois retira dos juízes a liberdade de interpretação, impedindo-lhes de decidir de acordo com suas próprias convicções jurídicas.

Além do Supremo Tribunal Federal, possuem competência para a proposta de criação, mudança ou extinção de súmulas vinculantes: o Presidente da República, diversos órgãos públicos como o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o Procurador-Geral da República, a Mesa do Senado Federal e a da Câmara dos Deputados, Governadores, enfim, todos os que têm legitimidade para a

propositura de ação direta de inconstitucionalidade.

Eis o teor de algumas súmulas vinculantes: “No 2 – É inconstitucional a lei ou ato normativo estadual

ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias”; “No 5 – A

falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição”; “No 12 – A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto no art. 206, IV, da Constituição Federal”.

BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL

Ordem do Sumário:

90 – Abelardo Torré, Introducción al Derecho; Miguel Reale, Lições Preliminares de Direito;

91 – Machado Netto, Compêndio de Introdução à Ciência do Direito; Paulo Dourado de Gusmão, Introdução ao Estudo do Direito; 92 – Aftalion, Olano e Vilanova, Introducción al Derecho; Machado Netto, op. cit.;

93 – Philipp Heck, El Problema de la Creación del Derecho;

94 – José Puig Brutau, La Jurisprudencia como Fuente del Derecho; Hermes Lima, Introdução à Ciência do Direito; Jean Cruet, A Vida

do Direito e a Inutilidade das Leis; A. S. Bustamante y Montoro, Introducción a la Ciencia del Derecho;

95 – Aftalion, Olano y Vilanova, op. cit.;

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1 Miguel Reale, Lições Preliminares de Direito, ed. cit., p. 62.

2 Abelardo Torré, Introducción al Derecho, 5a ed., Editorial Perrot, Buenos Aires, 1965, p. 325.

3 Apud Serpa Lopes, Curso de Direito Civil, 4a ed., Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1962, vol. I, p. 111. 4 Aftalion, Olano e Vilanova, op. cit., p. 363.

5 “Ius praetorium est, quod praetores introduxerunt adiuvandi, vel supplendi, vel corrigendi iuris civilis gratia, propter utilitatem

publicam; quod et honorarium dicitur, ad honorem praetorum sic nominatum.” Digesto, Livro I, tít. I, frag. 7, § 1o. 6 Philipp Heck, op. cit., p. 40

7 Sobre a corrente do Direito Livre, consultar o cap. 27.

8 Apud José Puig Brutau, La Jurisprudencia como Fuente del Derecho, Bosch Casa Editorial, Barcelona, p. 34. 9 Oliver Wendell Holmes, O Direito Comum, O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 1967, p. 29.

10 Apoiando-se no pensamento aristotélico de que “é melhor que tudo seja regulado por lei, do que entregue ao arbítrio de juízes”, Tomás de Aquino limitou as atribuições do magistrado a indagar, por exemplo, “se um fato se deu ou não, ou coisas semelhantes”. Justificou a sua posição apresentando três argumentos: a) “ser mais fácil encontrar uns poucos homens prudentes, suficientes para fazer leis retas, do que muitos que seriam necessários, para julgar bem de cada caso particular”;

b) “os legisladores, com muita precedência consideram sobre o que é preciso legislar; ao contrário, os juízos sobre fatos

particulares procedem de casos nascidos subitamente”; c) “os legisladores julgam em geral e para o futuro; ao passo que os homens, que presidem ao juízo, julgam do presente, apaixonados pelo amor ou pelo ódio...” (op. cit., p. 1.768).

11 Alf Ross, Sobre el Derecho y la Justicia, Editorial Universitária de Buenos Aires, 1974, p. 83.

12 Cf. Ramon Badenes Gasset, Metodologia del Derecho, 1a ed., Bosch Casa Editorial, Barcelona, 1959, p. 87. 13 Apud Ramon Badenes Gasset, op. cit., p. 119.

14 Philipp Heck, op. cit., p. 50.

15 Hermes Lima cita que: “em junho de 1923, no caso Bremer del Transport contra Drewry, o juiz citou e discutiu decisões de 1679, 1704, 1732, 1805, 1818, 1827, 1855 e 1886. A mais recente tinha 49 anos, a mais antiga 254” (op. cit., p. 171). 16 A. S. Bustamante y Montoro, Introducción a la Ciencia del Derecho, 3a ed., Cultural S.A., 1945, La Habana, 1, p. 87. 17 Cabral de Moncada, Estudos Filosóficos e Históricos, Acta Universitas Conimbrigensis, Coimbra, 1958, vol. I, p. 214. 18 Jean Cruet, op. cit., p. 75.

Capítulo 18