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1 INTRODUÇÃO

A escola enquanto instituição fomentadora do desenvolvimento da subjetividade dos indivíduos se apresenta como sendo um dos meios e espaços promotores da construção da cultura de paz declarada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Tal proposta faz interface com a psicologia, pois essa é uma área que engloba conhecimentos do processo escolar e indica concepções e estratégias no campo de intervenção e prevenção, sendo promotora de reflexões e ações auxiliares na edificação da cultura de paz nas instituições escolar.

O bullying, fenômeno que engloba

dimensões psicológicas e sociais, se demonstra como sendo umas das expressões de violência social que se perpetuam em diversos espaços, inclusive no meio digital - nesse contexto intitulado cyberbullying - mas que na escola adquire características particulares que abrangem diversificadas expressões de intolerância e, portanto, possibilita reflexões morais para além do combate à ocorrência da violência. Para tanto, se fez uso de uma pesquisa bibliográfica acerca do bullying e suas esferas e caminhos que a psicologia pode trilhar para contribuir com a implementação da cultura de paz.

2 DISCUSSÕES

À escola, enquanto instituição formativa, compete a tarefa da promoção da paz, de sua vivência e difusão por meio de metodologias específicas, bem como através de ações efetivas que representem as práticas preconizadas no Princípio 7º da Declaração dos Direitos das

Crianças (BRASIL, 1959), que diz “Ser-lhe-á propiciada uma educação capaz de promover a sua cultura geral e capacitá-la a, em condições de iguais oportunidades, desenvolver as suas aptidões, sua capacidade de emitir juízo e seu senso de responsabilidade moral e social, e a

tornar- se um membro útil da sociedade”.

O compromisso de elaboração da cultura de paz tem como finalidade sobrepor a paz e a segurança, por meio da educação, com auxílio das nações. Contudo, em relação à visão geral, a paz não é apenas reconhecida como a ausência de conflitos, mas também como um conjunto de atitudes, comportamentos, valores morais e éticos, constituídos com base no respeito mútuo, promovendo a autotransformação e a mudança social (DUSI; ARAUJO; NEVES, 2005).

Dentre as facetas de violências as quais é preciso enfrentar, o bullying se torna inequívoco. Ele pode transcorrer em inúmeros espaços, mas é no ambiente escolar onde sua prática é mais comum e pode aderir sérias consequências de caráter moral e emocional. O bullying, em suas dimensões, envolve esferas psicológicas e sociais; se trata de divisões hierárquicas que se relacionam com a personalidade promovida por esta hierarquia. Os indivíduos são julgados por categorias sociais, intelectuais, religiosas. Estas proposições não são exclusivas da escola, mas devem ser coerentes com a sociedade

(CROCHÍK, 2012).

O fenômeno bullying é caracterizado pela persistência e intencionalidade da agressão que pode ocorrer por meio de agressões físicas diretas, verbais diretas e agressões indiretas, prática que ocorre sem provocações, de

diferentes modos, concernente com a

desigualdade de poder que suscita em conceder papéis diversificados entre agressores e vítimas (ZEQUINÃO et al., 2016)

O preconceito e a perseguição aos considerados frágeis se reproduz em diversos âmbitos. Características apontadas como fragilidade que são culturalmente desvalorizadas, tais expressões de violências sociais, no cenário escolar adquirem características específicas. (CROCHÍK, 2012).

As consequências podem ser de carácter de curto ou longo prazo. Entre as emocionais podemos destacar o impacto na autoestima, bloqueio ou dificuldades em lidar com sentimentos, medo, solidão, baixo rendimento escolar, e pode ainda abranger consequências

psiquiátricas como ansiedade, depressão ideação suicida (ALBUQUERQUE; WILLIAMS;

D’AFFONSECA, 2013).

A contemporaneidade, com a incorporação da internet, possibilitou a transgressão da violência por meios eletroeletrônicos. Sendo assim o bullying toma uma nova vertente, o cyberbullying ou bullying eletrônico, onde o agressor se utiliza desse meio para ameaçar, assediar, constranger e humilhar, ou até mesmo simular ou violar a senha da vítima. O agressor se acoberta e simula sua identidade podendo assim acentuar a vulnerabilidade da vítima, bem como multiplicar as agressões e número de espectadores (WENDT; LISBOA, 2013).

A ansiedade, o abuso de substâncias psicoativas, depressão, ideação suicida, entre outros fatores podem acarretar a vida dos indivíduos que sofrem com o bullying e o

cyberbullying, demonstrando, dessa forma,

como estes são de prejuízo significativo para o desenvolvimento de quem os sofre (WENDT; LISBOA, 2013).

A solução para tal problemática não é algo alcançada facilmente, pois se trata de um fenômeno de causas ambíguas. Intervenções efetivas carecem de um trabalho coletivo, paciente e ferrenho. Mudanças podem ser promovidas por meio de uma relação com os alunos, participação dos pais e comunidade, bem como envolvimento da escola e professores, uso e percepção do espaço físico, objeções que a psicologia escolar tem competências para contribuir.

A psicologia é uma ciência que possibilita diversos campos para atuação do profissional. Entre seus ramos de atuação temos a psicologia escolar/educacional. A psicologia educacional é uma das áreas de atuação do psicólogo e tem por objetivo a produção de saberes concernente ao fenômeno psicológico constituinte do processo educativo. A psicologia escolar refere-se a um campo de atuação específico: o processo de escolarização; tendo como objeto a escola e as relações ali formadas. Sua atuação é fundamentada no conhecimento

obtido da psicologia da educação e em outras subáreas da psicologia (ANTUNES, 2008).

Neste sentido, a psicologia escolar se faz presente nas questões educacionais relacionadas à promoção de paz, a constituição de uma nova visão de igualdade social, sem distinção ou pré- julgamentos instituídos pela sociedade. A cultura da paz é instaurada pela psicologia escolar no contexto da instituição educativa, na vivência da comunidade e construção de relações baseadas no respeito, na diversidade e na empatia (DUSI; ARAUJO; NEVES, 2005).

O psicólogo, neste contexto, é o profissional que desenvolve um trabalho interdisciplinar com ênfase nas relações interpessoais. De maneira simplória atua como um facilitador das relações tendo como desafio a quebra do modelo individualista e médico que abrangem o campo escolar. Contudo, com a visão de trabalho multidisciplinar, o psicólogo escolar trabalha em junção com os alunos, professores, coordenadores, pais e responsáveis em prol do bem-estar, da promoção da paz e das boas relações humanitárias (MEDEIROS; AQUINO, 2011).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Promover cultura de paz abrange uma percepção acerca do contexto o qual está sendo inserida, pois se trata de comportamentos que são culturalmente perpetuados entre as gerações, e para intervir deve ser olhada a realidade onde vai ocupar-se. A instituição escolar é permeada de desafios e compromissos, e a psicologia, enquanto fomentadora de concepções, ações e estratégias, é capaz, por meio do trabalho interdisciplinar, de contribuir para a efetivação da paz.

Trabalhar a violência se torna emergente para alcançar a paz visto que este é o fator que ocorre em todas as classes sociais e pode ser considerado como um obstáculo a ser enfrentado por todos e, portanto, se faz preciso explorar as causas dentro e fora do ambiente escolar. O

bullying, devido as suas facetas, engloba

diversos fatores que vem ao encontro com uma gama de conflitos da atualidade.

Além das intervenções pautadas nos conflitos já existentes, trabalhar para prevenção é um caminho promissor para o protagonismo da paz. O psicólogo escolar, nesta acepção, tem como obstáculo a quebra do estigma de prática calcada na psicopatologia e problemas de aprendizagem, deve-se considerar seu caráter político, transformador e construtor de soluções. Por fim, trabalhar com o conjunto escolar é complexo, entretanto, possível. Por intermédio do diálogo, das dinâmicas, do respeito mútuo, a paz pode ser alcançada, afinal, as discórdias germinam na cabeça do homem, logo é na mente deste que a paz deve ser semeada, e para isso deve-se atentar às diferenças individuais, sem renunciar a coletividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, M. A. M. Psicologia Escolar e Educacional: história, compromissos