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Maria Balbina de Magalhães Gappmayer Valdimir Aparecido Rezende Pereira

1 INTRODUÇÃO

As crianças que apresentam problemas de aprendizagem constituem um desafio para a educação e os profissionais envolvidos com o processo de ensino-aprendizagem. O tema desperta a atenção de várias áreas do conhecimento e, atualmente, é considerado uma das grandes preocupações dos educadores que se sentem impotentes frente à situação.

As Dificuldades de Aprendizagem (DAs) podem ser classificadas como generalizadas quando afetam quase todas as aprendizagens, sendo escolares ou não escolares, e como graves quando afetam vários e importantes aspectos do desenvolvimento da pessoa nas áreas motoras, linguísticos e cognitivos.

Para trabalhar com estas situações podem ser utilizados vários métodos, entre eles a arteterapia, que apresenta enormes possibilidades, uma vez que usa o lúdico como uma forma de capacitar a criança a lidar com suas próprias

dificuldades.

Este estudo de abordagem qualitativa, pode ser classificado como descritivo, do tipo relato de experiência e tem como objetivo geral relatar uma vivência de estágio com crianças atendidas pelo Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), em contraturno com a escola, em um município do interior do Estado de Santa Catarina. As crianças frequentam o ensino fundamental público e suas idades ficam entre 9 e 12 anos. O número de crianças é variável.

Neste relato de experiência optou-se pela utilização de recursos como desenhos em folha sulfite, com lápis de cor, giz de cera e pintura guache. Conforme temática do dia ou tema livre as crianças produzem pequenos textos relacionados aos desenhos. A leitura da produção artística das crianças tem como base o referencial teórico da gestalt-terapia, a partir da teoria de figura e fundo.

2 DISCUSSÕES

A criação artística é a forma de se expressar o sentimento vivido pelo artista, aqui pelas crianças, independentemente do tipo de arte com que se esteja lidando, seja desenho, pintura ou recortes e colagens. Portanto, não se configura apenas como uma simples vivência de sentimentos que se excede à expressão natural (psicológica) de

suas emoções.

A psicologia da Gestalt desenvolveu uma série de conceitos aproveitados pela Gestalt Terapia. Um deles é o conceito de figura e fundo. Sempre que a atenção de um indivíduo se volta para algo foca em alguma coisa chamada figura, busca esta que se realizará sobre um fundo. A

figura se caracteriza por tudo o que é olhado na busca pelo que se precisa, mas não chama atenção, até que o objeto procurado é encontrado. No caso o objeto aqui é a dificuldade de aprendizado.

As atividades são praticadas semanalmente todas às terças e quartas-feiras das 13h30min às 16h. Sempre iniciadas colocando os assuntos em dia, sobre o que fizeram no fim de semana. A cada encontro é escolhida uma temática trazida pelas crianças, a partir de eventos significativos para cada uma delas. Em seguida, trabalha-se as pinturas e desenhos seguidos de uma pequena história escrita pelas próprias crianças no verso do desenho. Pouco antes de encerrar o encontro, discute-se os trabalhos feitos correlacionando-os com o tema abordado para ver o nível de coerência do desenho com a história.

Esta interação é regida pelo contato que acontece com o contexto social que favorece seu ajustamento criativo ao meio. O desenvolvimento sadio e contínuo dos sentidos, do intelecto, do corpo e dos sentimentos da criança constitui a base do seu senso de eu, de sua identidade como um ser humano. Um senso forte de quem sou contribui para um bom contato com o meio e com as pessoas desse meio.

Vários estudos mostram como as emoções podem interferir no processo de aprendizagem e que é dever do educador mediador estimulá-las para que a criança aprenda a desenvolver suas habilidades expressivas e motoras. “As reações que as emoções suscitadas no ambiente funcionam como uma espécie de combustível para sua manifestação” (GALVÃO, 1995, p. 64). As emoções estão diretamente ligadas à convivência social, à autoconfiança, ao autocontrole, à tomada de decisões, desenvolvendo a ética, a responsabilidade e o respeito. Wallon (1995) propôs e defendeu que o processo de evolução depende tanto da capacidade biológica do sujeito quanto do ambiente que o afeta de alguma forma. O sujeito nasce com um equipamento orgânico que lhe dá determinados recursos, mas é o meio que vai permitir que essas potencialidades se desenvolvam. Wallon (1995, s.p.) diz que:

[...] para quem não separa arbitrariamente comportamento e as

condições de existência próprias a cada época do desenvolvimento, cada fase constitui, entre as possibilidades da criança e o meio, um sistema de relações que os faz especificarem-se reciprocamente. O meio não pode ser o mesmo em todas as idades. É composto por tudo aquilo que possibilita os procedimentos de que dispõe a criança para obter a satisfação das suas necessidades. Mas por isso mesmo é o conjunto dos estímulos sobre os quais exerce e se regula a sua atividade. Cada etapa é ao mesmo tempo um momento da evolução mental e um tipo de comportamento.

A emoção, por ser mais visível que as outras duas manifestações, é tida por Wallon (1975) como a forma mais expressiva de afetividade e ganha destaque em suas obras. Neste sentido, ao observar as reações emotivas pode-se encontrar indicadores para analisar as estratégias para serem usadas em sala de aula.

Esta prática de estágio com crianças no CRAS permitiu constatar que as crianças são receptivas ao recurso. Desenhar e tentar descrever o desenho ou escrever algo sobre o desenho, evidencia a pouca familiaridade que as crianças possuem com letras, sílabas, palavras e frases conforme as bases da língua portuguesa. Na maioria dos casos, estas dificuldades estão relacionadas também à dinâmica familiar e instituição escolar. Como fundamenta Gandim (1995, p. 42):

A área da educação nem sempre é cercada somente por sucessos e aprovações. Muitas vezes, no decorrer do ensino, nos deparamos com problemas que deixam os alunos paralisados diante do processo de aprendizagem, assim são rotulados pela própria família, professores e colegas.

Porém existem causas relacionadas a aspectos intrínsecos da criança ou até mesmo deficiências cognitivas. Algumas não sabem nem escrever o próprio nome. A isso, Novaes (1980, p. 119) enfatiza que:

É importante que todos os envolvidos no processo educativo estejam atentos a

essas dificuldades, observando se são momentâneas ou se persistem há algum tempo. As dificuldades podem advir de fatores orgânicos ou mesmo emocionais e é importante que estejam descobertas a fim de auxiliar o desenvolvimento do processo educativo, percebendo se estão associadas à preguiça, cansaço, sono, tristeza, agitação, desordem, dentre outros, considerados fatores que também desmotivam o aprendizado.

É importante salientar que essas dificuldades podem ser passageiras, menos duradouras, e mais ou menos intensas. No entanto,

podem levar alunos ao abandono da escola, à reprovação, ao baixo rendimento, ao atraso no tempo de aprendizagem ou mesmo à necessidade de ajuda especializada. A maioria das crianças do grupo pesquisado, de acordo com relatos da equipe do CRAS, apresentou visível melhora no comportamento das crianças atendidas, diminuindo inclusive alguns comportamentos como a agitação e melhorando a atenção nas atividades realizadas. Além disso, as crianças se mostram mais animadas e pensam em um dia poder escrever a sua própria história.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização da arteterapia em crianças que apresentam diferentes dificuldades de aprendizagem possibilitou, durante o estágio no CRAS, vivenciar a possibilidade que estes recursos oferecem no desenvolvimento delas. Percebeu-se que é fundamental articular os métodos tradicionais de aprendizagem com atividades artísticas, condizentes com a realidade sociocultural dos alunos, para que se tenha um resultado efetivo.

Além disso, o grupo de crianças que

utilizou os recursos de arteterapia apresentou uma sensível melhora, não só a nível das dificuldades

de aprendizagem, mas também no

comportamento, diminuindo agitação e apresentando maior concentração durante as atividades realizadas.

A arteterapia é um recurso que por si só já é terapêutico, além de possibilitar à criança um espaço de atenção e de proximidade afetiva, criando uma atmosfera de cuidado e segurança emocional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALLESSANDRINI, Cristina Dias. Análise micro genética da oficina criativa. São Paulo: