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1 INTRODUÇÃO

Com o tema “Educação para a paz e a excelência educativa”, a Semana de Iniciação Científica da Faculdade Avantis, edição 2018, trouxe a oportunidade de discutir as práticas e o método de ensino utilizado no primeiro semestre da graduação em Psicologia da referida instituição, por meio dos trabalhos produzidos pelos acadêmicos, identificando e analisando as abordagens utilizadas pelos docentes nas disciplinas dessa etapa, visando alcançar o objetivo geral do curso.

Compreendendo que o objetivo geral do curso é formar profissionais aptos para atuarem de forma crítica, social e eticamente responsáveis no exercício de sua profissão, torna-se importante que as discussões sobre esse tema sejam ressaltadas e trabalhadas pelos estudantes desde o início de sua vida acadêmica, não somente quando ingressa no ensino superior, mas também durante toda a sua formação.

A metodologia empregada consiste em um relato de experiência de modo participante, classificada como uma pesquisa qualitativa e

exploratória. A observação se concentrou em uma atividade realizada durante as aulas da disciplina de ‘Filosofia, Ética, Cidadania e Direitos Humanos’, denominada de ‘autofotografia’, que proporcionou aos discentes uma interação entre teoria e prática por meio da linguagem fotográfica.

Entendida como o processo de ensino aprendizagem, a educação, em todos os níveis, é uma ferramenta significativa na construção da cidadania que possibilita nesse processo educacional ser abordada por uma gama diversificada de linguagens.

Não somente professores, mas todos os profissionais, cidadãos atuantes na sociedade, possuem o direito e o dever, no cotidiano de seu ofício, de exercer e incentivar a prática cidadã. A exemplo, temos o fotógrafo mineiro Sebastião Salgado, que por meio de suas fotografias transmite uma reflexão de realidades conhecidas, mas ignoradas, de modo que haja uma visibilidade maior de tais situações, promovendo a sensibilização social e política, auxiliando a

discussão, o debate e a efetivação social do tema em questão.

A Psicologia, inserida nesse mundo cada vez mais rodeado de imagens de todos os tipos, há algum tempo vem discutindo o uso da fotografia em suas práticas, não somente como uma simples plataforma de exposição, um documento, mas como produto do ser com o mundo, carregado de representações e significados. Nesta perspectiva, pensamentos, percepções e sensações, assim como outros

significantes do comportamento humano, possuem sentido e atribuições por meio da análise da fotografia.

Portanto, de acordo com os argumentos supracitados, esta pesquisa tem como objetivo analisar as relações entre a fotografia e a Psicologia como ferramentas para a construção da cidadania, tanto quanto discutir a importância da educação na conscientização de um sujeito crítico, ético e cidadão.

2 DISCUSSÕES

Com o avanço e aprimoramento da tecnologia as reflexões sobre o ensino na educação superior trazem à tona a necessidade de fomentar novos mecanismos e metodologias na prática docente de modo que o professor tenha subsídios capazes de dar viabilidade aos objetivos de aula. Nesse contexto, segundo Ribeiro e Souza (2016), a análise crítica deve ser a pauta central de uma aula perfeita e, é por meio do método, processo e o instrumento utilizado, que o caminho passa a ser traçado, possibilitando direcionar a real busca do conhecimento.

Diante da nova realidade da sociedade moderna a educação necessita reinventar-se, produzindo abordagens e temáticas que contemplem o aluno como um agente ativo na construção do saber. Essa transformação deve atingir esse novo sujeito que se apresenta atualmente, adaptando-se a uma nova demanda profissional, social, política e cultural. Desta forma, o professor deve agir como mediador na construção de um pensamento cognitivo para a formação de um cidadão e futuro profissional crítico e participativo, constituindo um sujeito autônomo que seja capaz de realizar uma leitura da realidade.

Ganha destaque, portanto, o emprego da metodologia ativa no processo de ensino quando concebe a construção do conhecimento a partir da participação do aluno. Para Morán (2015), isso só ocorre mediante atividades e dinâmicas específicas que despertam habilidades, fazendo

emergir conhecimentos apropriados, estimulando por meio de recompensa, misturando a ação em grupo com o individual e possuindo como apoio, plataformas digitais atreladas a vários tipos de tecnologia.

Os métodos ativos são processos interativos de ensino em que a aprendizagem depende do aluno e, nesse caso, o professor atua como um mediador, estimulando a autoaprendizagem e a educação contínua por meio de pesquisas que despertem a sua curiosidade em apresentar propostas e soluções relacionadas à comunidade em que se encontra inserido (BASTOS, 2006).

Ainda sobre a construção desse novo sujeito autônomo e participativo e mediante as necessidades de uma construção de um olhar crítico, a fotografia se encontra como ferramenta de análise e interpretação das diversas subjetividades que compõem tanto o indivíduo quanto o seu meio, na configuração de um sujeito consciente de seu papel como agente de mudança dentro da sociedade.

Sob este prisma, essa forma de expressão vem ao encontro à metodologia ativa como suporte no ensino-aprendizagem para que professores possam trabalhar quaisquer perspectivas metodológicas de forma interativa. Cita-se como exemplo a metodologia ativa, utilizando a linguagem fotográfica, empregada no primeiro semestre de Psicologia, em 2018, na Faculdade Avantis, dentro da disciplina de

Filosofia, Ética, Cidadania e Direitos Humanos, a qual propôs uma atividade pautada na temática ‘Períodos da História da Filosofia’.

Por meio do uso da fotografia o aluno participa das aulas, seja como produtor ou como leitor das fotografias, ou ambos, expressando suas opiniões em conjunto com seus colegas, compartilhando conceitos e estimulando o pensamento crítico, deixando de ser um agente passivo na construção do conhecimento, dando enfoque à importância do debate e da troca de experiência para o desenvolvimento do sujeito, reforçando o papel do educador que nesse processo, de acordo com Freire (2002, p. 21), deve “saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

A imagem fotográfica é uma forma de comunicação visual que contribui na expressão e reflexão da subjetividade presente no indivíduo e na sociedade, facilitando a interlocução e exteriorizando ideias, olhares, opiniões e sentimentos individuais de forma não-verbal e impregnada de emoções, dificilmente percebidas verbalmente. Desta forma, “[...] pode-se pensar na potência fotográfica para fins de expressão e reflexão. Utilizar uma imagem fotográfica, criada pelo próprio sujeito é uma das formas de facilitar a comunicação, fazendo com que surjam sentimentos, ainda ocultos ou inconscientes” (ZANELATO; WERBA, 2017, p. 158).

Na Psicologia, Segundo Tittoni (2009), a fotografia é utilizada de maneira diversa, desde a produção de conhecimento até como um instrumento, ferramenta ou estratégia de trabalho. Nesta dimensão, a fotografia é dividia em quatro funções principais, a saber: 1 - de registro (evidencia o acontecimento); 2 - De modelo (percepção do observador e na sua possível interpretação) ; 3 - Feedback (avaliar a reação dos participantes ao especificar um tópico); 4 - Autofotografia (fotografia para análise de conteúdo).

Durante a disciplina de ‘Filosofia, ética, cidadania e direitos humanos’ foi proposta uma atividade sobre a temática ‘Períodos da História da Filosofia’ utilizando a autofotografia, a qual consiste em selecionar e pedir a um determinado grupo de pessoas para que tirem fotos de um tema específico com o objetivo de avaliar e interpretar a singularidade dos participantes, atribuindo significado à imagem e reforçando um importante papel da fotografia para a psicoterapia (NEIVA-SILVA; KOLLER, 2002). A priori, materiais sobre o conteúdo foram disponibilizados para leitura prévia, sendo discutido posteriormente em sala de aula. Foi pedido para que cada grupo fotografasse nos arredores do campus elementos geométricos que representassem, na sua configuração, conceitos importantes de cada período histórico da Filosofia. Uma fotografia por período histórico deveria ser produzida e apresentada em preto e

branco buscando um significado

contextualizado, por meio de uma perspectiva crítica e reflexiva.

Foi feita uma exposição oral dos trabalhos com a turma, propiciando uma discussão acerca do conteúdo abordado, compartilhando e exteriorizando a percepção subjetiva de cada aluno e grupo. Com isso, objetivou-se que os discentes tivessem uma compreensão além da teoria, pois fizeram uma análise crítica sobre suas próprias fotografias além das próprias interpretações e significados com uma atitude reflexiva e filosófica, facilitando, a partir desta metodologia, a comunicação, a interação e o esclarecimento de dúvidas; visto que muitos alunos apresentavam uma dificuldade de verbalizarem e expressarem suas ideias, reforçando a afirmação de Neiva- Silva e Koller (2002, p. 238), “[...] o uso da fotografia poderia auxiliar na comunicação destes significados, permitindo melhor compreensão destes conteúdos [...]”.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desta maneira, evidenciou-se que a fotografia pode e deve ser utilizada como um instrumento unificador na relação entre Psicologia, Cidadania e Educação. Ela permite uma leitura crítica da realidade, auxiliando a construção de um sujeito autônomo e ético que, para isso, deve ser conhecedor de sua realidade. Além de representar uma forma acessível e interativa de abordar diversos temas,

inclusive aqueles relacionados às questões de desigualdade, preconceito e violência, a fotografia juntamente a uma abordagem metodológica adequada aplicada nos dias atuais à educação, faz novamente emergir a possibilidade de integrar uma nova forma de discussão de problemas e desafios para a proliferação e manutenção da paz.