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2 DA TEORIA DA SAVANA À INSERÇÃO DO NEGRO NO ENSINO SUPERIOR Partindo da Teoria da Savana, por volta

de 6 milhões de anos, os hominídeos se originaram nas Savanas africanas. De pele escura, inicialmente viviam sobre as árvores, porém com o esgotamento de recursos decorrente do crescimento da população foi necessária a adaptação aos campos abertos. Segundo esta teoria, esses ancestrais dos seres humanos “desceram das árvores” e se adaptaram a uma vida

nos campos abertos. A maior parte das características anatômicas do ser humano foi desenvolvida a este novo modo de vida.

Inicialmente, os hominídeos tinham pele mais escura e só comiam carne. Com a migração em sentido ao Norte, sua exposição ao sol foi diminuindo e adquiriram habilidades em agricultura, passando a depender menos da carne. À medida que seguiam ao Norte obtiveram uma

característica decorrente de adaptação da espécie em novo ambiente: a pele caucasiana.

Há indícios de escravidão desde os tempos mais remotos da humanidade. Na Antiguidade os escravos eram os resíduos de guerras entre nações ou então aqueles que não podiam pagar suas dívidas eram escravizados até quitá-las.

Na Era Moderna o preceito para escravizar outros homens foi a cor da pele. Com o surgimento do Direito, a escravatura foi positivada, sendo os escravos considerados mercadoria.

Na África, decorrentes das guerras santas eram presos os que negavam a premissa religiosa mulçumana. Com a exploração da América, por volta do século XVI, estes prisioneiros foram comprados e escravizados pelos colonizadores europeus.

O presente território brasileiro, antes mesmo de ser Brasil, já tinha escravos, uma vez que os índios também escravizavam seus prisioneiros de guerra. Quando os portugueses chegaram, índios de tribos rivais foram vendidos para serem escravizados pelos colonizadores.

Entre 1539 e 1542 os colonizadores optaram em trazer escravos da África, contudo, muitos não sobreviviam à viagem ao Brasil, pois as condições das embarcações eram muito precárias. Durante todo o período colonial e imperial ocorreram lutas de resistência dos negros contra a escravidão, muitos fugiam e ao se reunirem formavam os quilombos. Mesmo antes da Abolição da Escravatura diversos senhores libertaram famílias de escravos, em vista de que idosos e crianças não produziam e geravam custos. Mediante imposição da Inglaterra para negociar as riquezas do Brasil, foi necessária adequação de mão-de-obra já que o modo escravagista não se adequava ao viés do capitalismo. Assim, aos poucos, entraram em vigência leis que libertavam parcelas de escravos até que em 13 de maio de 1988 ocorreu a Abolição da Escravidão.

Os negros em sua nova condição, mas, acostumados ao cativeiro, não conseguiram inicialmente, se adaptar ao modelo capitalista, não

compreendiam a nova lógica de produção. Por outro lado, os antigos senhores tinham dificuldades em se relacionar com os antigos escravos. Diante dessa situação, os produtores optaram, na maioria das vezes, pelos imigrantes europeus, pois estes compreendiam o trabalho livre, respeitando as regras, já acostumados com o modo de produção capitalista.

O Estado foi omisso, nada fez para facilitar a adaptação do negro em sua nova condição de liberdade. Desamparados pelo Estado e excluídos da sociedade não se adequaram à nova realidade e o único caminho para muitos foi a marginalização.

Os negros trilharam dois caminhos distintos, sendo nomeados em grupos de “os negros do eito” e “os negros da casa grande”. A classe dos “negros do eito” era composta pelos que exerciam na escravidão funções na lavoura, analfabetos, consequentemente, na nova realidade, as mulheres conseguiram trabalhos de empregada doméstica, lavadeiras, costureiras, entre outras. Já os homens, com muita dificuldade conseguiam trabalhos de produção temporária e em suas horas vagas reuniam-se em botequins, levando muitos ao alcoolismo. Não possuíam uma unidade familiar, viviam em ambiente de promiscuidade sexual, assim o fruto desse meio era a influência negativa; prostituição e roubo.

Já o grupo “os negros da casa grande” era composto pelos negros que na época de sua escravidão trabalhavam na casa dos senhores. Com educação diferenciada, alguns eram alfabetizados e possuíam amizade com os brancos, consequentemente, enquadravam-se melhor no mercado de trabalho, eram copeiros, chofer, entre outros. As famílias desse grupo eram mais bem- estruturadas e conseguiam manter razoavelmente existência digna, contudo, não acompanhavam o desenvolvimento do capitalista urbano. Não existiam oportunidades para os negros, mesmo para aqueles capazes de gerar desenvolvimento econômico e social.

Refletindo o sentimento de impotência perante uma sociedade segregada, a maioria das famílias optou em não encaminhar seus filhos à escola. Consequentemente, a falta de escolaridade

gerou influência negativa no futuro, não conseguindo bons salários, boas colocações e, principalmente, respeito.

Contudo, vivemos um longo período com a ideia de que havia uma democracia racial no Brasil; falsamente transparecia que brancos e negros viviam harmonicamente e em igualdade de oportunidades e condições.

Estudiosos das questões sociais e dos movimentos sociais são unânimes em apontar a Constituição de 1988 como um marco importante para as mudanças sociais ocorridas no país. Tais ações podem ser interpretadas como uma resposta às reivindicações do movimento negro e se caracterizam por uma forma de reconhecimento. Ou seja, garantir aos grupos discriminados o reconhecimento apropriado de seu valor histórico e cultural.

O tema da educação sempre recebeu destaque tanto na atuação da militância negra

como nos estudos acadêmicos sobre

desigualdades raciais devido a sua inquestionável importância na compreensão e no enfrentamento das desigualdades sociais e raciais no país.

As evidências de que processos discriminatórios operaram no sistema de ensino brasileiro, dificultando a permanência de crianças, jovens e adultos negros nos bancos escolares, fundamentam a justificativa para implementação de políticas de ações afirmativas que visam

enfrentar as visões estereotipadas e

preconceituosas presentes nas salas de aula. Nesse ambiente nada é tão claro como a necessidade da utilização da Educação para a Paz,

que trará o benefício da boa forma de convivência entre todas as etnias.

Assim, no segundo mandato do governo de Fernando Henrique Cardoso houve, mesmo que ainda de maneira tímida, demanda social visando a inserção de maior número de negros nas universidades brasileiras. Neste sentido, o referido presidente assinou decreto visando maior valorização da população negra e instituindo ações afirmativas referentes às Cotas Raciais, beneficiando os negros que foram discriminados ou excluídos do acesso ao ensino superior. Mas apenas em 2004 a Universidade de Brasília foi pioneira em disponibilizar vagas para negros no vestibular.

Também em seu segundo mandato, o então presidente José Inácio Lula da Silva, sanciona a Lei 12.711/2012, conhecida como Lei de Cotas, que regulou a porcentagem de vagas destinadas às pessoas autodeclaradas pretas, pardas e indígenas e determina quem acompanha as reservas de vagas.

Neste interim, várias e importantes legislações no âmbito do Estado foram invocadas para reprimir práticas ilegais decorrentes da discriminação, da injúria e do racismo, contudo, a paz não pode ser apenas garantida por políticas públicas antidiscriminatórias. No fundo, ela depende do comprometimento sincero e sustentado de todas as pessoas. Cada um de nós, independentemente da idade, do sexo, da condição social, crença religiosa ou origem cultural é chamado à criação de um mundo pacificado.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos que os negros são prejudicados desde que o racismo se enraizou no seio das sociedades, quando os escravagistas optaram por subjugar pessoas de raça, as quais consideravam inferior, logo espalhando negros escravos em suas colônias, tirando sua identidade, sobrando somente sua força para trabalhar.

O racismo perdura até hoje no Brasil, consequência da falta de política de inserção dos negros ex-escravos na sociedade, restando a

escolha das famílias negras pela não inserção de seus filhos ao ensino, temendo frustrações. Assim, sem instrução, não se adaptaram às regras de trabalho e para muitos só restaram o crime e a prostituição, generalizando a raça negra como suposto “perigo social”.

Na tentativa de superar toda essa história de preconceito e desigualdades sociais, foram criadas legislações para o enfrentamento da discriminação racial e efetivação do direito de

igualdade racial. Nós, operadores do direito, devemos valorizar e otimizar uma abordagem ampla e criativa das soluções normativas disponibilizadas pelo sistema jurídico brasileiro. Porém, nada adianta esses recursos legais se, aos que interessam, faltam conhecimentos de seus direitos disponíveis, ou seja, como lutar ou ter expectativas sobre algo que desconhecem?

Portanto, é neste ponto que devemos refletir sobre o papel do operador do direito.

Somos mais do que aplicadores de leis, devemos disseminar conhecimento sobre elas, assim, entregaremos uma arma que não fere, mas uma arma que os fortalece, que cria expectativas de bons caminhos, e esta arma é o Direito.

Para isso, torna-se imperiosa a utilização de ferramentas como a Educação para a Paz que tornará a nossa sociedade num ambiente de cooperação e bom convívio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei n. 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades