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1 INTRODUÇÃO

De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, todo cidadão tem direito ao acesso à água e ao saneamento básico, fatores primordiais à vida e ao desenvolvimento humano e social. A água é um bem indispensável à vida; é utilizada diariamente para matar a sede, para tarefas básicas como a limpeza e o preparo de alimentos, para a higiene pessoal e da habitação, para a limpeza de utensílios domésticos e para a eliminação de dejetos sanitários. A privação ao seu acesso compromete esses usos aumentando o risco de adoecimento e limitando o desenvolvimento de projetos pessoais e de desenvolvimento urbano (PONTES; SCHRAMM, 2004, p. 06).

Cerca de 71% do nosso planeta é coberto por água, 97,5% dela encontra-se nos mares, de forma não potável, devido ao alto grau de salinidade. Sobram apenas 2,5% de água doce; deste total, 68,9% encontram-se em geleiras e calotas polares, 29,9% estão presentes em reservatórios subterrâneos, 0,9% fazem parte da umidade presente no solo e pântanos, e apenas 0,3% é considerada água doce de fácil acesso, presente em rios e lagos. A distribuição global

desta água de fácil acesso apresenta-se de forma heterogênea. A América do Sul possui 26%, Ásia 36%, América do Norte 15%, Europa 8%, África 11%, Oceania 5% e América Central 2% (VERIATO et. al, 2015).

Neste contexto, o Brasil conta com a maior reserva de água doce do planeta, possuindo em seu território cerca de 11,6% do total. A distribuição geográfica desta água se apresenta de forma bastante irregular, sendo que a Região Norte possui 70% dos recursos hídricos, as Regiões Sul e Sudeste 12,5% e a Região Nordeste 5%. O país também é um dos que mais sofre com perdas e desperdícios nos processos de distribuição da água: cerca de 40% a 60% destes recursos são desperdiçados, muito mais do que em países desenvolvidos onde os índices ficam entre 5% e 15% (OLIVO; ISHIKI, 2014).

O desperdício da água seja pelos processos de distribuição, ou pelo consumo irresponsável, demonstra que a preocupação com a escassez deste bem tão precioso é muito recente e não reflete a importância do tema. O possível desabastecimento, impacta diretamente de forma negativa na qualidade de vida e na saúde da

população. Dados indicam que, globalmente, cerca de 1,4 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável e cerca de 80% de todas as doenças no mundo estão, de alguma forma, relacionadas com a poluição da água; uma criança morre a cada 8 segundos devido ao uso de água contaminada (FERREIRA et al, 2017).

Os atos que geram os desperdícios, o desabastecimento e a contaminação da água podem estar relacionados a um fator essencial para a vida em sociedade: a educação. “A educação pode ser entendida como o conjunto de ações, processos, influências, estruturas, que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social” (PICCOLI et al, 2016, p. 799).

Assim, este trabalho busca encontrar formas para amenizar a falta de acesso à água potável no Brasil a curto prazo, sem deixar de vislumbrar uma possível solução definitiva para o

problema no futuro. Neste sentido, o objetivo do trabalho foi identificar fatores-chaves que possam ser trazidos à discussão e que possam gerar mudanças e impactos positivos na nossa sociedade.

Desta maneira, foi realizada uma pesquisa qualitativa do tipo bibliográfica, utilizando a plataforma EBSCO, fornecida pela Faculdade Avantis, a fim de evidenciar artigos publicados em revistas científicas, escritos em português e publicados entre os anos de 2013 e 2018, utilizando as palavras-chave: água, acesso, saneamento básico, educação, renda e Brasil.

O resultado desta pesquisa foi avaliado pelos integrantes do grupo e, após a análise, os trabalhos foram separados em um banco de dados com o objetivo de organizar informações relevantes sobre o acesso e a distribuição de água no Brasil e no mundo.

2 DISCUSSÕES

Quando comparamos a quantidade de água potável disponível com o total de água do planeta, fica claro o quanto este recurso é limitado. Isto, por si só, já seria fator de grande relevância para que o tema fosse tratado como prioridade global. Infelizmente, ainda não observamos um comprometimento real de todas as nações neste sentido. O fato da distribuição global da água se mostrar heterogênea nos faz pensar nos possíveis problemas e questões envolvendo o seu abastecimento no futuro. Não seria exagero prever que a escassez de água possa gerar conflitos armados, um cenário assustador, afinal, cerca de 5 bilhões de pessoas podem ser afetadas pela escassez de água em 2032 (SOUZA; GHILARDI, 2017).

No Brasil, embora tenhamos a maior reserva de água doce do mundo, observamos inúmeros problemas relacionados a sua distribuição e ao seu acesso. A distribuição geográfica dos recursos hídricos e a densidade demográfica populacional são bastante irregulares e conflitantes. Na região com maior disponibilidade hidrográfica (Região Norte),

temos apenas 7% da população; já nas regiões com maior densidade populacional (Regiões Sul e Sudeste), encontramos apenas 6% da água doce de fácil acesso. Também na Região Nordeste, vemos apenas 3,3% dos recursos hídricos para atender uma demanda de 28,91% da população brasileira. São somente 30% do total da água disponíveis para atender a 93% da população (OLIVO; ISHIKI, 2014).

Além da irregularidade geográfica, também podemos citar a discrepância na finalidade a qual a água é utilizada no Brasil. Apenas 18% dos recursos hídricos são utilizados para consumo humano; 20% são utilizados para fins industriais; enquanto 62% são utilizados na produção agrícola (CARMO; DAGNINO; JOHANSEN, 2014).

Neste contexto, observamos que a agricultura, juntamente com a pecuária, são os maiores consumidores de água no país. Possivelmente também sejam os que mais a desperdiçam e, com certeza, são os que mais a contaminam, sendo responsáveis pela maior carga de impacto negativo na qualidade e na quantidade

de água disponível para consumo humano (SOUZA; GHILARDI, 2017).

Somam-se a isso problemas de infraestrutura no tratamento e distribuição da água e saneamento básico no país, má gestão dos recursos hídricos pelos governantes, distribuição geográfica irregular, perdas e desperdícios nos processos de distribuição, uso indiscriminado e irresponsável por parte da população e de empresários; e o que vemos é um cenário bastante preocupante no tocante à disponibilidade futura deste recurso.

Pelos números apresentados, supor que a conscientização da população que consome a água em seus domicílios e nas suas atividades diárias irá causar grande impacto na preservação deste recurso, seria ingenuidade. Apesar de tal conscientização ser de extrema importância para geração de cidadãos participativos, esta medida seria de pequena relevância.

É preciso que, além disto, os setores industriais e agropecuários sejam conscientizados e se ajustem ao máximo possível a um sistema de consumo consciente e inteligente da água, com o uso de novas tecnologias e sistemas que permitam garantir a produção e o desenvolvimento de alimentos e bens de consumo, sem que haja o desperdício e a contaminação dos recursos hídricos. Estes setores podem impactar significativamente na preservação das reservas de água.

O engajamento nas ações de preservação dos recursos hídricos, seja por meio do consumo consciente e da preservação do meio ambiente, seja pela gestão governamental correta e efetiva de

tais recursos, seja pelo ajuste e o engajamento dos setores industrial e agropecuário, seja pelo desenvolvimento de tecnologias que possibilitem a obtenção de água potável a partir de novas fontes ou que permitam o aumento da produção pelos setores produtivos diminuindo seu consumo; partem de um mesmo ponto e convergem para um mesmo denominador comum: a educação.

A educação, particularmente a ambiental, incentiva o cidadão a desenvolver senso crítico na reflexão sobre as questões ambientais, promovendo uma forma de conscientização, incentivando uma mudança de mentalidade e da realidade por ele vivida (TEIXEIRA; MOURA; COELHO, 2016). Nesse sentido, a formação de indivíduos conscientes é fundamental para que, no futuro, eles enquanto profissionais, possam influenciar positivamente por meio de processos tecnológicos relevantes na utilização da água em larga escala.

Neste contexto, a educação como fator de mudança na preservação dos recursos hídricos deve estar voltada e disponível principalmente para os cidadãos que irão ocupar cargos importantes na tomada de decisões sobre eles, tais como: os futuros gestores públicos destes recursos, empresários do setor produtivo e industrial e grandes produtores agrícolas e pecuários. O cidadão comum deve ser educado e orientado também a cobrar dos principais responsáveis o devido cuidado com os recursos. Além disso, somente a educação poderá promover o desenvolvimento tecnológico capaz de prover novas tecnologias capazes de auxiliarem na luta para superar esses desafios.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como podemos perceber, haverá uma maior disputa pela água entre usuários, que necessitam dela para sobreviver; e de sistemas produtivos, sejam agrícolas ou industriais, que a utilizam nos seus processos. Esta disputa tende a gerar um déficit importante de água, comprometendo toda a cadeia produtiva e o acesso a bens como alimentos, entre outros. Isto poderá impactar negativamente no acesso a outros

direitos básicos assegurados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, tais como a saúde. Além disso, a escassez de água pode ser um fator gerador de diferentes tipos de conflitos entre povos e nações.

A educação, numa visão global, parece ser o fator-chave para a mudança no paradigma da água, permitindo que tanto cidadãos comuns quanto cientistas, políticos, empresários e

formadores de opinião, possam desenvolver uma atitude consciente de engajamento no cuidado,

proteção e manutenção dos recursos hídricos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARMO, R. L.; DAGNINO; R. S.; JOHANSEN, I. C. Transição demográfica e transição do

consumo urbano de água no Brasil. R. Bras. Est. Pop., v. 31, n. 1, p. 169-190, Jan./Jun. 2014.

FERREIRA, F. S.; QUEIROZ, T. M.; SILVA, T. V.; ANDRADE, A. C. O. À margem do rio

e da sociedade: a qualidade da água em uma comunidade quilombola no estado de Mato

Grosso. Saúde e Sociedade, v. 26, n. 3, p. 822-828, set. 2017.