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1 INTRODUÇÃO

A humanidade está passando por um período de transição. As estruturas sociais que até então supriam e controlavam os indivíduos já perderam a sua eficiência. Neste contexto, a sustentabilidade surge como ferramenta de equilibrar a balança e prover a evolução aos povos, como também a manutenção do meio-ambiente para as gerações futuras.

Vislumbrando o futuro e a forma com que se portava a humanidade, as Organizações das Nações Unidas (ONU) propuseram uma agenda com o objetivo de organizar a evolução, focalizando os esforços e facilitando a busca pelos resultados. De acordo com a ONU (2015, p. 1): “Todos os países e todas as partes interessadas, atuando em parceria colaborativa, implementarão este plano. Estamos decididos a libertar a raça humana da tirania da pobreza e da penúria e a curar e proteger o nosso planeta”.

Na atualidade, a sustentabilidade deixa de ser uma ação de indivíduos e ganha força nas organizações sobre uma perspectiva ampliada conhecida como Triple Botton Line para o

Desenvolvimento Sustentável, sendo que, de acordo com Dias (2017), a efetividade desta relação deve ser equivalente, logo todos os braços da sustentabilidade devem ser preenchidos de igual forma, e não por conveniência, por todos os envolvidos.

Atrelado com a sustentabilidade, o desenho arquitetônico surge para aperfeiçoar o conceito de acessibilidade; uma vez que é por meio desta colocação que se fundamenta a importância dela em instituições de ensino superior. Além desta afirmação, a ONU (2015) corrobora com a importância da acessibilidade dentro de seus objetivos para 2030, pois busca “[...] garantir que todos os seres humanos possam realizar o seu potencial em dignidade e igualdade”.

Sobre o que foi discorrido até então, apresenta-se a pergunta problema que norteará este trabalho, a saber: a acessibilidade pode ser considerada um elemento para a manutenção da paz?

2 DISCUSSÕES

2.1 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE PAZ

Muito se fala a respeito da paz na humanidade e no meio acadêmico, porém o conceito desta grande máxima tem evoluído com o passar do tempo, justamente para se adaptar à sociedade, que da mesma forma, sofre mudanças drásticas proporcionadas pelo avanço da tecnologia e do conhecimento no mundo.

Os primeiros conceitos que se tem conhecimento sobre o construto paz têm origem na Grécia, onde Isócrates, no Discurso sobre a Paz (em 356 a.C) apresenta a temática da seguinte maneira:

Afirmo a necessidade de estabelecer a paz não só com Quios, Rodes e Bizâncio, mas com toda a gente, e de aplicar não só os tratados que alguns redigem atualmente, mas os que foram feitos com o rei [da Pérsia] e com os lacedemônios, os quais prescrevem que os gregos serão independentes, que as guarnições serão evacuadas das cidades estrangeiras e que cada um será senhor do seu próprio território. Com efeito, não encontraremos nada de mais justo nem de mais útil para a cidade (ISÓCRATES, 1986, p. 16).

Seu pensamento abordava a máxima por dois princípios que, por sua abrangência, podem ser fundamentos para a evolução do conceito moderno. Os princípios são: a Justiça, que é a representação do que é bom ou mau, e a Utilidade, que é onde se utiliza a paz como um meio para se alcançar um fim.

O segundo princípio é o que nos levará ao conceito moderno de Paz, que para Isócrates:

Ora, a guerra privou-nos de todos os bens que enumeramos; tomounos [sic] mais pobres, obrigou-nos a suportar muitos perigos, desacreditounos [sic] perante os gregos e infligiu-nos toda a espécie de sofrimentos. Se fizermos a paz e nos

mostrarmos tais como nos prescrevem os tratados comuns, habitaremos a cidade em plena segurança, afastados dos perigos da guerra e dos tumultos [internos] que agora nos opõem uns aos outros; todos os dias faremos progressos na abundância, libertos de contribuições, de trierarquias [sic] e de outras liturgias concernentes à guerra; cultivaremos as terras sem medo e sem medo navegaremos e nos entregaremos às outras atividades que agora, por causa da guerra, jazem abandonadas (ISÓCRATES, 1986, p. 19-20).

Visualiza-se que Isócrates já entendia a paz como não somente a ausência de guerra, conceito amplamente utilizado até pouco tempo atrás, mas como a instituição de segurança, de respeito e de liberdade. Neste sentido, a modernidade e as necessidades da sociedade atual propuseram alterações no conceito de Paz para que assim estas características possam fazer parte desta máxima, tornando-a assim mais completa.

Esta posição de Isócrates pode ser corroborada pelo conceito de Paz Positiva, instituída por Johan Galtung (1995), onde ela significa uma ajuda mútua dos povos para a educação e interdependência com o objetivo de construção de uma sociedade melhor.

De acordo com Silva (2002) busca-se introduzir a temática Paz em áreas multidisciplinares no meio acadêmico e educacional. Esta iniciativa é mundial e é justificada e apoiada pela ONU, por meio da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Trata-se de assimilar a paz a diferentes ciências, para que a disseminação e a construção científica possa ser o caminho para a reeducação cultural da sociedade. A lógica é quanto mais se falar sobre a paz, mais paz haverá no mundo.

2.2 ACESSIBILIDADE

A multidisciplinariedade do moderno conceito de paz surge principalmente para propor solução e reflexão à sociedade onde, deste modo, aqueles que até então eram desproporcionais, possam ser equiparados de acordo com a sua desproporcionalidade. Pelas palavras de Teles et. al (2006, p. 17) “Ser móvel é percorrer a nossa espantosa condição urbana, que é condição humana, porque o território, muito para além de sua vertente física, é uma imensa construção social”.

Neste contexto é impossível visualizar a paz mundial sem a devida proporcionalidade entre a população, principalmente porque a cidade é:

[...] lugar de exponencial fonte de informação, múltiplas formas de comunicação, diversidade de cultura e informações, absoluta mobilidade, oportunidade de ofertas, relações sociais. Lugar de encontros, culturas, religiões, mas também memórias, ideias, atitudes, aprendizagens. Em suma, a polis é o lugar da própria democracia (TELES et

al. 2006, p. 17).

Os estudos arquitetônicos e de engenharia evoluíram de acordo com a demanda da sociedade em sanar a desproporcionalidade destes indivíduos, e por meio da NBR 9050, as regras que regem as estruturas da construção civil pública e privada já podem ser visualizadas por todos os responsáveis pelas construções de edificações residenciais e comerciais.

A partir da construção desta teoria diversas melhorias foram propostas para organizar e distribuir a estrutura de um edifício comercial ou público, propondo a mesma experiência de locomoção para qualquer indivíduo que necessite utilizar este local. Além disto, as urbanizações das cidades tornam-se cada vez mais viáveis para a mobilidade e liberdade dos portadores de deficiência. As implementações urbanísticas se dão por meio de faixa de pedestres elevadas, rampa de acesso, ladrilhos e marcações táteis, entre outras.

2.2.1 Acessibilidade em Instituição de Ensino Superior

É cada vez mais comum o crescimento do

ingresso de pessoas com algum tipo de deficiência nas Instituições de Ensino Superior brasileiras nos últimos anos, em busca de não só pleno conhecimento, mas de uma formação que lhe ofereça melhores condições de vida. Sendo assim, essa demanda submete as instituições de Ensino a implementarem medidas para se adequarem e realizarem adaptações em suas infraestruturas, conforme as necessidades dos alunos com deficiência.

Algumas orientações, segundo a NBR 9050 (ABNT, 2015), devem ser seguidas para adaptações para pessoas portadoras de deficiência, a saber:

a) as áreas de circulação deverão estar sinalizadas com o símbolo Internacional de acesso. Os trajetos para as diversas áreas deverão estar livres de obstáculos

(escadas) para o acesso das pessoas que se utilizam de cadeira de rodas. Todas as portas apresentam largura de no mínimo 0,80cm para garantir o acesso das pessoas que utilizam cadeira de rodas. Os portões laterais com largura mínima de 0,80cm em locais de acesso com catraca. Os balcões de atendimento, inclusive automático, permitem a aproximação frontal de pelo menos uma cadeira de rodas e apresentam altura de 0,80m com altura livre mínima 0,70m do piso. Os elevadores apresentem o símbolo Internacional de acesso fixado nas portas, possuam abertura de acesso de no mínimo de 0,80m de largura e laterais com altura de no mínimo 0,80m e no máximo 1,20m. b) Os banheiros deverão estar adaptados apresentando porta de acesso de no mínimo 0,80m de largura, maçaneta tipo

alavanca, área para manobra de cadeirante, barras laterais de apoio para uso de sanitários, a altura da pia de 0,80m do piso livre de 0,70 com torneira do tipo pressão, a borda inferior e dos espelhos e uma altura de 0,90m do piso, podendo atingir o máximo de 1,10m e com inclinação de 10 graus, a porta de acesso ao boxe dos banheiros de no mínimo 0,80m de largura, os assentos das bacias sanitárias a uma altura de 04 m do piso ou quando utilizada a plataforma para campo a altura estipulada, apresentar projeção horizontal da plataforma de no mínimo 0,05m do contorno da base da bacia. A disposição de mobiliário deve garantir área para circulação plena de cadeirante. No estacionamento deve haver reserva de vagas para pessoa portadora de deficiência ambulatória, bem como sinalização com placas de identificação. c) Quanto às adaptações para pessoas com deficiência visual, nas áreas de circulação recomenda-se que se utilizem faixas no piso, com textura e cor diferenciadas, para facilitar a identificação do percurso para deficientes visuais. Nos elevadores, as botoeiras e comandos devem ser acompanhados dos signos em Braille. Para um número de paradas superiores a 02 andares, deve também haver comunicação auditiva dentro da cabine do elevador, indicando o andar onde o elevador se encontra parado. Identificar os

sinais luminosos que existem no ambiente, para que sejam acompanhados por sinais sonoros. Nos computadores devem implantar software com sintetizadores de voz.

d) Nas adaptações para pessoa com deficiência auditiva, devem-se observar o nível de ruído no local. Identificar os sinais sonoros existentes no ambiente para que sejam acompanhados por sinais luminosos. Utilizar pager e celulares, com possibilidade de recebimento e envio de mensagens escritas, que também auxiliará a pessoa com deficiência auditiva. Garantir acessibilidade é tarefa de toda e quaisquer instituição. De acordo com a Lei 5296, de 2004, que determina prazos para que as Instituições de Ensino Superior se adequem às exigências de garantia de acessibilidade, Rodrigues (2017) afirma que esta legislação tem intenção de unir a sociedade e o Estado para que eles abracem essa questão.

Entende-se que tornar o ambiente universitário acessível abre possibilidades e cria condições de escolha para o uso de quaisquer esferas, sem impedimentos. Masini e Bazon (2006) reiteram que acessibilidade é um processo de reestruturação de ambiente, da organização físico-espacial, do atendimento, das atitudes, do comportamento, além de transformar as ações que possam diminuir a sequela determinada pela deficiência.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A paz mundial é o objetivo primal das nações; ela regula a sensibilidade diplomática entre as nações e os seus respectivos povos e, além disto, interfere no coeficiente econômico mundial, por fim, e não menos importante, ela interfere (de acordo com o conceito moderno) na segurança, estabilidade, legislações e qualidade de vida dos indivíduos.

A acessibilidade se torna elemento da paz a partir do momento que engloba a equidade entre

os indivíduos, com e sem deficiências. Todos devem partilhar dos mesmos espaços e obter as mesmas oportunidades, logo, a inclusão social deve ser responsabilidade de todas as pessoas e organizações.

Levando-se em consideração que a universidade é o berço do conhecimento o seu papel de responsabilidade se torna extremamente alto, justamente porque é um exemplo a ser seguido, tanto por seus acadêmicos como pela

sociedade, compreendemos que a universidade deve focar os seus recursos (financeiros, intelectuais e de influência) para proporcionar a estes acadêmicos (com deficiência) uma experiência de convívio e uso do espaço total.

A disseminação destas ações se dá de forma intensa, principalmente porque a sustentabilidade é um fator determinante de escolha, sendo considerado vantagem competitiva, pois a organização que se preocupa

em despender recursos para proporcionar a equidade entre seus “clientes” possui responsabilidade social e está alinhada com a sustentabilidade social e seus conceitos.

Pode-se concluir que a política de acessibilidade é sim um elemento para a manutenção da paz e que os esforços localizados neste setor e por esta causa estão ligados diretamente com a necessidade global para 2030, baseados no calendário da ONU.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 9050: