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6. EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL

6.4. Controle da Experimentação Animal

6.4.1. Legislação

O surgimento de leis relativamente ao uso de animais no âmbito científico é uma evidência de que os movimentos de proteção animal estão a dar resultado. Embora cada vez mais restritivas, as leis são frequentemente criticadas por não serem abolicionistas, uma vez que inúmeros casos de equívocos científicos resultantes da experimentação animal são elencados.

São as manifestações sociais que acabam por estimular o desenvolvimento de políticas mais apropriadas em função de suas exigências e preocupações. Um bom exemplo disso é o Laboratory Animal Welfare Act de 24 de agosto de 1966103, primeira legislação americana com a finalidade de regular a experimentação animal nos laboratórios. Lei esta que passou por emendas e com o tempo englobando maiores especificidades até se tornar em 1985, Animal Welfare Act. É interessante colocar que nessa lei surge a obrigatoriedade em se estabelecer comissões institucionais para a prática ética em experimentos envolvendo animais, destacando que a sociedade civil passa a participar dessa comissão com um representante não pertencente à

103 A história por trás do surgimento dessa lei vem de um episódio datado de 1965, após o

desaparecimento de um cão dálmata, chamado Pepper. Seus ‘proprietários’, tiveram conhecimento de que Pepper fora levado para um laboratório e submetido a experimentações e morreu devido a estas. Entretanto, como não havia, até então, legislação específica para o assunto, o ocorrido não pôde ser caracterizado como crime (Paixão R, 2001, p. 34).

instituição no intuito de pautar os interesses da comunidade, algo inédito até aquele momento (Paixão R, 2001, p. 34).

Considerando algumas das exigências sociais, o Animal Welfare Act de 1985 introduziu novos parâmetros: “1- treinamento adequado do pessoal de laboratório; 2- ambiente para primatas não-humanos que garanta o seu bem-estar psicológico, e 3- a possibilidade de fazer exercícios deve ser fornecida aos cães”. As críticas surgiram de ambos os lados, tanto da comunidade científica vivisseccionista, acusando as pressões das organizações envolvidas com a proteção dos direitos animais, bem como pelo movimento antivivisseccionista. Ironicamente, a maior parte dos animais que são utilizados nos laboratórios foi excluída desses parâmetros: ratos, camundongos, coelhos, aves e também animais utilizados na agricultura (Paixão R, 2001, pp. 34- 35).

Na mesma altura a lei britânica, Animals (Scientific Procedures) Act, de 1986, instituiu-se efetivamente, embora a lei de proteção animal já existisse na Inglaterra desde 1886. Naturalmente, mudanças foram requeridas de maneira a regulamentar mais precisamente a experimentação animal no Reino Unido. Também as manifestações sociais contribuíram para a evolução dessa lei através de importantes movimentos104. Nesse sentido, os principais objetivos da legislação foram assim definidos, e por meio deles a lei estabelecida: “1) restringir a dor; 2) uma redução substancial no número de animais utilizados; 3) o desenvolvimento e a utilização de métodos alternativos humanitários de pesquisa; 4) consideração pública” (Paixão R, 2001, p. 35).

Em países como a Suíça, a Suécia, a Itália, a Alemanha, a Austrália, entre outros, ocorreram mudanças no processo legislativo que envolve a experimentação animal. Fundamentalmente, as mudanças se deram no que diz respeito ao estabelecimento obrigatório de comissões de ética para o uso de animais para fins experimentais, redução no número de animais, promover maior bem estar e no uso de métodos e modelos alternativos quando constatado desnecessário o uso de animais, medida obrigatória em algumas legislações como o é o caso da Itália (Paixão R, 2001, p. 37). No Reino Unido e Nova Zelândia, por exemplo, já está proibido a experimentação envolvendo grandes primatas (Pereira A, 2005, p. 159).

Entretanto, enquanto constituída por Estados-Membros, a Comunidade Européia procura homogeneizar as legislações nos seus limites e por isso, adota em 24 de novembro de

104 “O ‘ano do bem-estar animal’ (1976/77), o “Memorando Houghton/Platt” e uma coligação formada

pela Associação Britânica de Veterinária (British Veterinary Association –BVA), pelo Comitê para a Reforma da Experimentação Animal (Committee for the Reform of Animal Experimentation - CRAE) e pelo Fundo para Substituição dos Animais em experimentos médicos (Fund for the replacement of animals in Medical Experiments

1986 a diretiva 86/609/EEC relativamente à proteção dos animais às experimentações. O que não significa que um Estado-Membro não possa especificar sua respectiva legislação no sentido de aprimorá-la. Tal diretiva assume qualidades dos 3R’s (substituição, redução e refinamento) restringindo as experimentações, no entanto, possibilitando-as, sempre que devidamente justificadas:

“Considerando que as legislações dos Estados-membros devem ser harmonizadas no sentido de se eliminarem tais disparidades; considerando que essa harmonização deve garantir que o número de animais utilizados para fins experimentais ou outros fins científicos seja reduzido ao mínimo, que tais animais sejam adequadamente tratados, que não lhes sejam infligidos desnecessariamente dor, sofrimento, aflição ou dano duradouro e que, se inevitáveis, tais padecimentos sejam reduzidos ao mínimo” (Europa, 1986).

Comparativamente à legislação norte-americana, a européia no que diz respeito à proteção jurídica do animal não-humano está à frente em muitos sentidos (Pereira A, 2005, p. 159). Destaca-se, nesse sentido, a proibição da utilização de animais em experimentações na indústria cosmética através da reformulação do Regulamento (CE) n.º 1223/2009 do Parlamento Europeu relativo aos produtos cosméticos.

Os preceitos básicos dos 3R’s são as características balizadoras da maior parte das legislações que venham a ser redigidas sobre a proteção dos animais para fins experimentais. Isto significa que, mesmo que cada vez mais restritivas, há sempre um resguardo nas legislações que as tornam permissivas em situações excepcionais, dependentes, contudo, dos conselhos e comissões. Por isso a importância da idoneidade e seriedade ética desses conselhos e comissões reguladoras, para além da pluralidade.

A diretiva 86/609/EEC que regulamenta e rege os aspectos técnicos fundamentais envolvidos na experimentação animal na Europa, passou, recentemente, em 2010, em Bruxelas, por uma intensa discussão de modo a ser revista e atualizada, tendo por base fundamental os princípios dos 3R’s. A revisão do documento promete padrões mais elevados para a proteção dos animais utilizados para fins experimentais, reforçando certas alíneas e especificando e detalhando outros tópicos. Consideraram-se significativas, pela comissão, as alterações previstas nesta revisão: 1) a obrigação de avaliações éticas a serem realizadas anteriormente às autorizações de projetos que utilizam animais em experimentos; 2) atualização das normas relativamente aos

alojamentos e cuidados dispensados aos animais; 3) distinção que abrange a utilização de animais em universos variáveis, como na “educação, formação, investigação fundamental”; 4) “abrange todos os animais vertebrados não-humanos vivos e algumas outras espécies que possam ser dotadas de sensibilidade à dor”; 5) fica proibida a utilização dos grandes símios para fins experimentais, salvo em situações excepcionais que coloquem em causa a sobrevivência da espécie ou apresente riscos para espécie humana; não obstante, outros primatas não-humanos são passíveis à utilização, se devidamente justificada (Europa, 2010).

A Comunidade Européia julga ainda impossível cessar por completo a utilização de animais para fins experimentais. Mas considera que os animais só devem ser utilizados quando não houver outra maneira possível de se investigar. Esta revisão reflete esse posicionamento, exigindo maior cautela e rigor nos projetos, pois todos eles passarão por um processo de avaliação; exigindo que a utilização de animais seja totalmente justificada; exigindo ainda, acompanhando o padrão das legislações em todo o globo, maior capacitação daquele que virá a lidar com os animais.

Existe o discurso de que a Comissão Européia apóie veementemente os esforços empreendidos para que sejam validados modelos e métodos de investigação alternativa à modelagem animal, e assim prevê um laboratório referência que virá a incentivar e validar esses modelos e métodos alternativos (Europa, 2010).

Esta nova diretiva terá efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2013, considerando que os Estados-Membros têm 24 meses para transpor suas legislações, com a autonomia de vetar determinadas alíneas (Europa, 2010)105. Apesar de todo rigor e detalhada regulamentação na revisão da Diretiva 86/609/EEC, é ainda muito recente para se prever resultados.

Enquanto isso, a diretiva européia 86/609/EEC – anterior à revisão – foi assumida e transposta pela legislação portuguesa através do Decreto de Lei n.º 129/92, de 6 de Julho, seguido de sua alteração através do Decreto de Lei 197/96, de 16 de Outubro, e regulamentado pela Portaria n.º 1005/92, de 23 de Outubro. Apesar das muitas componentes legislativas que ajudam a regulamentar a experimentação animal em Portugal106, está sempre tangente, o

105 Para maiores informações sobre a revisão da Diretiva 86/609/EEC consultar:

http://register.consilium.europa.eu/pdf/en/10/st06/st06106-re01.en10.pdf

106 “O Decreto-Lei n.º 129/92, de 6 de Julho, que transpõe a Directiva n.º 86/609/CEE, do Conselho, de

24 de Novembro de 1986, relativa à protecção dos animais utilizados para fins experimentais e outros fins científicos (alterado pelo Decreto-Lei n.º 197/96 de 16 de Outubro); Portaria n.º 1005/92 de 23 de Outubro, que aprova as normas técnicas de protecção dos animais utilizados para fins experimentais e outros fins científicos (alterada pela Portaria n.º 44/95 de 17 de Maio e pela Portaria n.º 1131/97 de 7 de Novembro); Portaria n.º 124/99 de 17 de Fevereiro, que estabelece as normas a que devem obedecer os

tratamento dispensado ao animal a afirmação do art. 1.º da Lei n.º 92/95 de 12 de Setembro – Lei de Protecção do Animal: “São proibidos todas as violências injustificadas contra animais, considerando-se como tais os actos consistentes em, sem necessidade, se infligir a morte, o sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal”. Embora sob muitas legislações a respeito, conclui-se que o controle da experimentação animal em Portugal está mais sujeito ao aspecto procedimental e técnico, e menos exposto à consideração e controle ético (Pereira A, 2005, pp. 158-161).

Muito se possa argumentar que o controle ético das práticas experimentais com animais seja rigoroso, nunca será o bastante para a plena proteção dos animais, desde que sejam abolidas tais práticas. Pereira (2005, p. 161) faz um questionamento interessante, digno de realce:

Deveriam as Comissões de Ética dos Hospitais ou das Faculdades de Medicina que avaliam projectos de investigação em seres humanos, ser competentes para avaliar projectos de experimentação com animais? Especialmente quando em alguns destes centros de investigação se realiza essencialmente investigação com animais?

Não será, talvez, essa uma das razões de haver tão pouco controle ético da experimentação animal? Questão não restrita à realidade portuguesa, mas dispersa em todo o globo.

ensaios clínicos a realizar em animais, de modo a garantir a sua integridade física e a eficácia dos medicamentos veterinários. No plano europeu: a Directiva 86/609/CEE do Conselho, de 24 de Novembro de 1986, relativa à aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-Membros respeitantes à protecção dos animais utilizados para fins experimentais e outros fins científicos; a Convenção Europeia sobre a Protecção de Animais Vertebrados Utilizados com Fins Experimentais e Outros Fins Científicos, de 18 de Março de 1986, do Conselho da Europa (que entrou em vigor no território da Comunidade em de Novembro de 1998); a Decisão 90/67/CEE da Comissão, de 9 de Fevereiro de 1990, que institui um comité consultivo no domínio da protecção do animais utilizados para fins experimentais ou outros fins científicos; a Decisão 1999/575/CE do Conselho, de 23 de Março de 1998, relativa à conclusão pela Comunidade da Convenção Europeia sobre a protecção dos animais vertebrados utilizados para fins experimentais e outros fins científicos (um Protocolo de Alteração da Convenção foi objecto da Decisão do Conselho 2003/584/CE, de 22 de Julho); a Proposta de Directiva do Parlamento Europeu e do Conselho, de 28 de Novembro de 2001, que altera a Directiva 86/609/CEE; a Directiva 2003/15/CE do Conselho e do Parlamento Europeu, de 27 de Fevereiro de 2003,que visa reiniciar a proibição de comercialização de cosméticos cuja produção tenha envolvido testes em animais (reformulando a Directiva do Conselho 76/768/CEE, de 27 de Julho de 1976); e a Directiva 2003/65/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de Julho de 2003, que modifica a Directiva 86/609/CEE do Conselho para pôr de acordo as suas disposições com o que resulta da Convenção Européia” (Pereira A, 2005, p. 159).

No Brasil é a lei n.º 11.794/08 (Lei Arouca) que regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, a Lei responsável pela regulação da experimentação animal. Até então, era a lei 6638, de 8 de maio de 1979 que regulamentava a experimentação animal no Brasil, mas era bem rudimentar e não abarcava pressupostos minimamente suficientes. A ‘Lei Arouca’ sugere uma adesão aos principais preceitos dos 3R’s e passa a referir fortemente a comissões e conselhos de ética para o uso de animais. Fica então criado o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) que fica responsável pela criação de normas e pelo monitoramento de seu respectivo cumprimento e credenciamento de instituições que se interessam pelo desenvolvimento da prática experimental que envolve animais. É interessante observar que a sociedade civil passar a ter representação nesse conselho e destaca-se a participação de dois membros de sociedades de proteção animal devidamente registradas em território nacional. Ficam também criadas as Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUA’s) às quais compete monitorar os credenciamentos de instituições, fiscalizar, fazer cumprir o disposto na Lei, entre outras responsabilidades (Brasil, 2008).

Comparativamente, a ‘Lei Arouca’ apresenta alguns retrocessos não somente no sentido abolicionista da experimentação animal, mas inclusive no sentido dos pressupostos apregoados pelos 3R’s. Na Lei 6.638/79, revogada pela ‘Lei Arouca’, a experimentação animal no ensino era restrita às instituições de ensino superior, enquanto que na 11.794/08, permite a experimentação com animais também em estabelecimentos de educação profissional técnica de nível médio da área biomédica. Muito embora tenha surgido uma grande diversidade e quantidade de cursos técnicos na área da biomedicina, a experimentação apenas tende a aumentar e não diminuir. Muitos países, como Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Itália, para citar alguns, já vêm eliminando, ou já tem eliminado, a prática experimental envolvendo animais em suas instituições de ensino. Como considerar um avanço em uma Lei tão recente que vem legitimar as práticas no ensino fomentando ainda mais pesquisas que anteriormente? Retrocesso ainda mais controverso é o conflito que a Lei 11.794/08 representa diante da chamada ‘Nova Lei de Crimes Ambientais’ a Lei n.º 9.605 de 12 de Fevereiro de 1998 que em seu art. 32, § 1.º afirma que será penalizado criminalmente aquele “[...] realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos” (Brasil, 1998). “Ora, ‘recursos alternativos’ é sabido que já existem, e provavelmente existiriam muito mais, caso os recursos voltados para pesquisas que utilizam a vivissecção, fossem revertidos para pesquisa de métodos substitutivos ao uso de animais” (Tinoco, 2009, p. 9).

Em um momento em que se tenta buscar e incentivar práticas alternativas ao modelo animal, aplicados à condição humana, a ‘Lei Arouca’ acaba por legitimar a utilização de animais

em qualquer tipo de pesquisa desde que seja justificada. E em nome da ciência essa justificação não parece ser tão difícil de acontecer para muitos pesquisadores, mesmo diante das comissões e conselhos éticos.

Por conseguinte, são esses os objetivos que vêm fundamentalmente caracterizar as legislações no âmbito da experimentação: 1) avaliação e autorização para os projetos, incluindo a avaliação dos propósitos da pesquisa e dos níveis de dor e estresse nos animais; 2) inspeção das condições e procedimentos nos experimentos em animais; 3) assegurar padrões ‘humanitários’ na criação e nos cuidados com os animais; 4) assegurar visibilidade pública.

No Direito Civil, o estatuto jurídico do animal evoluiu de maneira considerável no âmbito Europeu. A Áustria, por exemplo, em seu Código Civil (ABGB – Algemeines Burgerliches Gesetzbuch), em 1988, acolhe em seu parágrafo 285a a afirmação: “Os animais não são coisas; estes são protegidos mediante leis especiais. As normas relativas às coisas são aplicáveis aos animais, na medida em que não existam disposições divergentes” (Pereira A, 2005, p. 153).

Não existe inocuidade ao se afirmar que os animais não são coisas, pois tem implicações nos domínios materiais, o que levou a alterações nos processo de obrigações de indenizações. Entretanto não caberá adentrar nesse assunto aqui107.

O Código Civil Alemão (BGB), em 1990, acolhe no parágrafo 90a, relativo aos animais, os mesmos pressupostos encontrados no Código Civil Austríaco ao afirmar: “1. Os animais não são coisas. 2. Eles serão protegidos por legislação especial. 3. As normas relativas às coisas serão correspondentemente aplicáveis aos animais, salvo disposição em contrário”.(Pereira A, 2005, p. 154).

Também assim o é na Suíça, em seu ordenamento jurídico civil, os animais não são mais juscivilisticamente considerados coisas e requereu mudanças ainda mais significativas em seu ordenamento jurídico108. Na França, também estão claramente distinto animais de objetos, após 1999 (Pereira A, 2005, pp. 155-156).

Entretanto, é importante realçar que: tais alterações do estatuto jurídico dos animais em ordem civil, não provocam alterações diretas na consideração dos animais, mas sobretudo aos direitos do ‘proprietário’ do animal, isto é, a consideração ao animal continua sendo indireta, em função de seu ‘proprietário’; e se aplica apenas a animais de companhia. Por isso, essas mudanças

107 Para maiores detalhes a respeito consultar Pereira (2005).

108 “Não só se leva a cabo a alteração conceptual e linguística no sentido de os animais deixarem de ser

considerados juscivilisticamente coisas (cfr. art. 641a do Código civil suíço), mas também se operam verdadeiras modificações substantivas no direito das obrigações, no direito das sucessões, nos direitos reais e no processo executivo” (Pereira A, 2005, p. 156).

não se refletem minimamente ao tratamento que é dispensado aos animais, entretanto, é uma ferramenta a mais para sua proteção, comparativamente aos Estados em que o animais são ainda considerados coisas como é o caso de Portugal quando se afirma: “Podem ser adquiridas por ocupação os animais e outras coisas móveis [...]”, como regula o art. 1318.º de seu Código Civil (Pereira A, 2005, p. 158). No Brasil não é diferente, os animais ainda são considerados objetos, coisas, segundo o art. 47 do Código Civil Brasileiro, bens semoventes, isto é: “bens móveis suscetíveis de movimento próprio”, ou ainda segundo o art. 593, “coisas sem dono sujeitas à apropriação, ou meramente “caça” conforme os art. 596 ao 598 (Noirtin C, Molina S, Elie M, Chapelle V, 2009).

Se a comunidade humana concorda ao afirmar que animais não são coisas, por que ainda são os animais tratados como tal?

Com mais de trinta anos de existência, a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada em 1978 pela Unesco, representou um grande passo, não tão somente no sentido de promover o respeito aos animais, mas para o bom senso de humanidade que ainda resta. A caminhada legislativa precisa ainda percorrer um longo caminho para que um dia possa ser cumprido o último Art. da Declaração Universal dos Direitos Animais109: “Os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do homem”.

A emergência dos direitos dos animais é uma evidência e o Biodireito e a Bioética apenas podem ficar enriquecidos com o dinâmico, aberto e fértil debate em torno desta questão. Respeitando os outros animais [promove-se] – e forma reforçada – a protecção e a dignidade dos seres humanos. De todos os seres humanos, especialmente os que se encontram em situação de vulnerabilidade (Pereira A, 2005, p. 163).