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Pela experimentação animal

6. EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL

6.3. O Modelo Animal em Questão

6.3.1. Pela experimentação animal

A razão mais representativa pela qual se justifica a instrumentalização do animal nas pesquisas científicas, endossada por algumas organizações e outros autores é a de que os benefícios para a saúde dos animais humanos e não-humanos, advindos de tal prática são muitos, então, deve ser mantida a qualquer custo (Paixão R, 2001, pp. 22-23). É ainda de se observar, como elucida Paixão (2001, p. 23) que mesmo frente a uma pesquisa que não resulte imediatamente em benefícios terapêuticos ou práticos, o conhecimento adquirido através da prática é tido como um bem em si mesmo, justificando assim a experimentação com animais. Esse conhecimento é, portanto de acordo com o vivisseccionistas, considerado significativo e, sendo assim, contribui para o avanço do conhecimento científico fundamental que se julga necessário para obtenção dos benefícios alegados (Paixão R, 2001, p. 23). A experimentação com

o animal pode ser justificada tendo muito pouco em conta, desde que contribua para o conhecimento científico fundamental.

Nessa circunstância a American Medical Association (AMA), uma das principais organizações em defesa do uso do animal em experimentações, em uma incisiva publicação94 que se intitula “O

uso de animais na pesquisa biomédica”, segundo Paixão (2001, p. 23) reflete e evidencia o pensamento da comunidade científica como um todo, a partir dos seguintes apontamentos da AMA:

 a AMA se opõe ativamente a qualquer legislação, regulamentação ou ação social que inapropriadamente limite tal pesquisa (pesquisa em animais);

 os cientistas acreditam que tanto a pesquisa básica (i.e, laboratorial) quanto a aplicada (i.e, clínica) requerem o uso de animais para a continuidade do progresso médico;

 60 de 82 prêmios Nobel atribuídos em Fisiologia ou Medicina desde 1901 são devidos a descobertas envolvendo o uso de animais;

 os avanços biomédicos dependem da pesquisa com animais, e não usá-los poderia ser não ético porque privaria humanos e animais dos benefícios da pesquisa;

 os cientistas justificam o uso de animais na pesquisa biomédica em dois aspectos: as contribuições que a informação traz ao bem-estar e à saúde, humana e animal, e a falta de métodos alternativos para se obter a informação e o conhecimento;

 a pesquisa animal detém a solução para a Aids, o câncer, doenças cardíacas, envelhecimento e defeitos congênitos (AMA, 1992: 23 apud Paixão R, 2001, p. 23).

Outra das maiores e mais antigas organizações científicas, The Scientific Research Society

,

SigmaXi, também argumenta pelo uso de animais nas experimentações através de suas declarações, e nesse sentido publicou SigmaXi Statement on the Use of Animals in Research, que

94 The American Medical Association White Paper. AMA (American Medical Association). (1992). Statement on

the Use of Animals in Biomedical Research: The Challenge and Response (revised), Chicago: American Medical Association.

resultou de uma reunião de membros e não membros desta mesma sociedade que utilizam e que não utilizam animais em pesquisas e definiram alguns posicionamentos, claramente a favor da experimentação:

 A pesquisa básica é vital para o sucesso do processo de pesquisa, frequentemente, de forma que nem sempre é evidente durante o momento em que a pesquisa está sendo realizada;

 a pesquisa bem conduzida em animais forneceu e continua fornecendo informações, idéias e aplicações que não podem ser obtidas de outra forma;

 questões significativas em relação à conduta na pesquisa animal incluem tratamento, número e uso apropriado de animais, a eficiência do delineamento experimental, a utilização de alternativas e a duplicação dos resultados (SigmaXi, 1992, pp. 73-74 apud Paixão R, 2001, p. 24).

A organização British Association for the Advancement of Science também estabeleceu uma declaração mostrando-se a favor da utilização dos animais, bem como criticando e se opondo às repressões que os cientistas vivisseccionistas vinham sofrendo (Paixão R, 2001, p. 24).

Nota-se que muitas organizações se posicionaram a favor no que concerne à utilização de animais em experimentos científicos, entretanto, alguns autores, individualmente, não deixaram de se expressar (Wyngaarden, 1986; Smith & Hendee, 1988; Goldsmith, 1989; Marwick, 1990; Von Noorden, 1991; Haas, 1993, Beaver, 1995; Botting, & Morrison, 1997). Seus argumentos não diferem muito das declarações das organizações acima mencionadas. O que se defende fundamentalmente, é que as pesquisas com animais no âmbito biomédico é essencial direta ou indiretamente para o avanço deste mesmo âmbito e que se restrito o uso de animais resultaria sérias consequências para a saúde humana e seu bem estar, não havendo métodos científicos substitutivos para tal, que não complementares. E por fim se argumenta que a similaridade entre animais humanos e não-humanos justifica por si só a experimentação animal (Paixão R, 2001, p. 25). Mas há autores, a exemplo de Goodwin, que discorrem contra até mesmo a adoção dos 3R’s, uma vez que esses modelos já pressupõem uma certa contrariedade moral no uso dos animais. Para ele não deve haver qualquer modelo intentado a substituir o modelo animal que, no seu entender, é perfeitamente pertinente (Paixão R, 2001, pp. 24-25). Esta é, sem dúvida, uma percepção mais radical, mas que deve ser mencionada. Outros autores (Patrick Wall, 1992; LaFollete & Shanks, 1995) argumentam que a experimentação animal deve ser vista não

objetivando resultados práticos, mas relevando-se a construção do conhecimento (Paixão, 2001, p. 25).

6.3.2. Pela antivivissecção

Quais são então os argumentos pela não utilização de animais na investigação científica, já que tão bem e seguramente são colocados os argumentos a favor por importantes organizações no âmbito científico mundial?

Mesmo nos argumentos favoráveis podem-se observar versões mais atenuantes do uso do animal pois se prescreve uma certa consideração pelo bem-estar do animal a ser experimentado. Os argumentos pela antivivissecção também estão divididos. Existem as ‘críticas absolutas’ que se fundamentam na impossibilidade de extrapolação de dados obtidos em animais para seres humanos, considerando a experimentação animal um método ruim que obtém resultados inúteis desvirtuando-se de métodos e modelos que seriam mais adequados e eficazes, o que causa graves equívocos. Existem também as ‘críticas seletivas’ que avaliam certas características do modelo animal que inviabilizam a validade e confiabilidade de um experimento (Paixão R, 2001, p. 26).

Uma abordagem ‘crítica absoluta’ é considerada mais recente que a crítica arrimada na moralidade. Ela se caracteriza pelo seu viés científico. Abordagens como essa tomaram e vêm tomando forma e solidez, especialmente, através dos médicos cientistas e seus legados Hans Reuch (1978), Robert Sharpe (1988, 1989, 1994), Moneim A Fadali (1996) e Pietro Croce (1999). Tais autores destacaram o modelo animal como perigoso e até mesmo prejudicial, no que diz respeito à obtenção de dados de utilidade para a espécie humana (Paixão R, 2001, pp. 26-27).

O argumento que mais se tem em vista, inicialmente, é o de extrapolação de informações. Croce (1999 apud Paixão R, 2001, p. 27) afirma que nenhum experimento realizado em uma espécie pode ser extrapolado para outra qualquer. Tal afirmação se sustenta pela grande variedade de distinções entre uma espécie e outra. Um estudo desenvolvido em 1989, tinha como amostra 520 ratos e 520 camundongos, sobre os quais foram aplicadas doses diárias de fluoridos durante dois anos. Os ratos apresentaram diversas alterações prejudiciais de saúde, até mesmo câncer nos ossos e na boca, enquanto que todos os camundongos não foram afetados pela administração do mineral. Tal estudo tinha o propósito de avaliar a carcinogenecidade de fluoridos e revelam que mesmo entre ratos e camundongos – organismos de imensa semelhança – há discrepâncias na extrapolação de informações, imagina-se então extrapolar tais dados para a espécie humana –