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A escala de níveis da lexicogramática (Adaptado de Gouveia 2009: 21) Segundo se representa no Diagrama 1.6 por meio de uma seta descendente, o complexo

Parte I Enquadramento teórico

Diagrama 1.6. A escala de níveis da lexicogramática (Adaptado de Gouveia 2009: 21) Segundo se representa no Diagrama 1.6 por meio de uma seta descendente, o complexo

oracional representa o nı́vel mais alto da escala, decompondo-se progressivamente nos nı́veis mais baixos de oração, grupo/sintagma e palavra. O papel central do nı́vel da oração encontra-se

47 No original lê-se: “the most fundamental message structure in any language – in terms of message that

has any sense of completeness about it – is a clause” (Butt et al. 1994/2000: 33).

48 Embora seja também correto dizer que a oração se realiza em grupos/sintagmas e que estes se

realizam em palavras. Assim se pode ler em Martin e Rose (2003/2007: 96; itálico e negrito no original): “[i]n Halliday’s 1994/2004 model, clause, group and word are different ranks in the grammar; a clause is realized by a configuration of word groups; each of which is realized by a configuration of words.”

49 No que respeita à dupla designação do nı́vel do grupo/sintagma, sublinhe-se que, em LSF, o termo

“sintagma” é utilizado exclusivamente para “sintagma preposicional”; estrutura que se entende como aparentada da oração (Halliday e Matthiessen 2004: 310-11). As restantes unidades oracionais têm a designação de “grupo”, sendo os principais o grupo nominal, o grupo verbal e o grupo adverbial.

50 As palavras organizam-se em classes gramaticais. Conforme se pode conferir em Halliday e Matthiessen

(2004: 52), a LSF reconhece três classes principais: a classe nominal, a classe verbal e a classe adverbial. A classe nominal subdivide-se adicionalmente em nome (comum, próprio, pronome), adjetivo, numeral e determinante; a classe verbal em verbo (lexical, auxiliar, finito) e preposição e a classe adverbial em advérbio e conjunção.

51 Tecnicamente, a combinação de unidades em complexos não se limita ao nı́vel da oração, podendo haver

complexos de sintagmas, complexos de grupos de palavras e complexos de palavras (Halliday e Matthiessen 2004: 9). Esta é, aliás, uma das razões pelas quais a maioria dos autores prefere excluir o complexo oracional da escala de nı́veis. Julgamos, contudo, que a natureza aplicada do presente trabalho justifica a sua inclusão na escala. No Programa R2L, cuja implementação na disciplina de PLNM se pretende demonstrar no presente estudo, a leitura e a discussão do texto à luz das suas frases constituintes constitui um passo fundamental da “Leitura Detalhada” (cf. adiante, os Capı́tulos 3 e 4). Enquanto unidade da escrita, a frase pode corresponder a uma oração simples ou a um complexo oracional. Manusear uma escala de nı́veis que contemple estas duas unidades lexicogramaticais facilita, em nosso entender, o diálogo entre a Pedagogia de Género e a teoria linguı́stica subjacente.

33 representado por meio do uso de negritos.

Segundo Halliday e Matthiessen (2004: 58), o significado de qualquer oração resulta da convergência de três linhas de significado complementares, em concordância com as três metafunções da linguagem referidas anteriormente: ideacional, interpessoal e textual. Nesta perspetiva trinocular, a oração constrói uma representação, encena trocas sociais e organiza-se enquanto mensagem semiótica. Estas três linhas de significado são simultâneas, na medida em que um mesmo constituinte oracional desempenha três funções distintas, uma ideacional, outra interpessoal e outra, ainda, textual, admitindo-se a sua desagregação apenas para efeitos analı́ticos. Cada uma das linhas é realizada por meio de padrões funcionais especı́ficos, também designados sistemas lexicogramaticais.

A Tabela 1.2, adiante, resume os tipos de significado básicos codificados pela oração, bem como os seus respetivos sistemas lexicogramaticais52. Seguindo convenções da LSF (e.g. Martin

2013c: 14), os sistemas semânticos são grafados em caixa alta reduzida (small caps).

Metafunções Tipo de significado Estatuto da oração Sistemas lexicogramaticais ideacional: experiencial construir um modelo

experiencial

a oração enquanto

representação TRANSITIVIDADE ideacional: lógica construir relações lógicas --- TAXIS

interpessoal encenar relações sociais a oração enquanto troca MODO ORACIONAL

Textual criar relevância ao contexto

a oração enquanto

mensagem TEMA

Tabela 1.3. Metafunções, reflexos na gramática oracional e sistemas lexicogramaticais (A partir de Halliday e Matthiessen 2004: 61, Eggins e Martin 1997: 242)

Como fica evidente pela organização da tabela, os padrões de significado da oração resultam das escolhas ativadas em quatro sistemas distintos: TRANSITIVIDADE, TAXIS, MODO ORACIONAL e TEMA.

A linha da metafunção ideacional: experiencial encontra-se destacada na Tabela 1.3 porque a generalidade das análises lexicogramaticais apresentadas no presente trabalho é de natureza experiencial. Por esta mesma razão, segue-se neste mesmo subponto uma caracterização mais detalhada dos princı́pios de construção gramatical da experiência e do sistema da TRANSITIVIDADE.

Em contrapartida, os padrões de significado lógicos, interpessoais e textuais são identificados pontualmente, ao longo do trabalho, nas análises textuais de base genológica (Parte II), discursivas e lexicogramaticais (Parte III) e ainda na análise da interação professor-aluno na

52 Note-se que apenas se encontram identificados na Tabela 1.3. os sistemas lexicogramaticais oracionais,

estando omissos os sistemas que operam ao nı́vel do grupo/sintagma e da palavra. Para uma sistematização desses sistemas, veja-se, por exemplo, Halliday e Matthiessen (2004: 63).

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Pedagogia de Género (Parte IV). Em todo o caso, serve a Tabela 1.3 para a contextualização desses padrões na gramática oracional sistémico-funcional, sendo dadas, ao longo da exposição, eventuais definições mais especı́ficas sempre que necessário.

Vista numa perspetiva experiencial, a oração constrói um modelo representacional da experiência humana. Segundo este modelo, a experiência é codificada, por excelência, sob a forma de um Processo que se desenrola no tempo, envolvendo entidades mais ou menos animadas, qualidades e espaços (Martin e Rose 2003/2007: 74). Esta configuração ganha forma, na oração, sob a forma de uma Figura semântica53, que tem como elemento central o Processo, um ou mais

Participantes envolvidos no Processo e, eventualmente, uma ou mais Circunstâncias associadas ao Processo. Halliday e Matthiessen (2004) caracterizam de seguinte modo o papel central do Processo na construção da experiência, bem como o seu impacto sobre a configuração gramatical da oração:

Our most powerful impression of experience is that it consists of a flow of events, or “goings on”. This flow of events is chunked into quanta of change by the grammar of the clause: each quantum of change is modelled as a figure – a figure of happening, doing, sensing, saying, being or having (see Halliday e Matthiessen, 1999). All figures consist of a process unfolding through time and of participants being directly involved in this process in some way; and in addition there may be circumstances of time, space, cause, manner or one of a few other types. (…) All such figures are sorted out in the grammar of the clause. (Halliday e Matthiessen 2004: 170)

Os diferentes elementos da Figura semântica são concebidos, portanto, segundo uma visão orbital da oração, segundo a qual o Processo constitui o elemento central da oração (centro); a configuração do Processo e dos Participantes forma o núcleo experiencial (núcleo), sendo as Circunstâncias interpretadas como elementos marginais ou periféricos (periferia). Esta visão orbital pode ser traduzida por diferentes representações multimodais (e.g. Halliday e Matthiessen 2004: 176, Martin e Rose 2003/2007: 75, Rose e Martin 2012: 245). No Diagrama 1.7, adiante, apresenta-se a representação de Rose e Martin (2012), usando o exemplo da frase (1), adaptada54

de um manual de CN:

(1) Em geral, os pais alimentam a cria durante os primeiros tempos de vida (adaptado de Peneda et al. 2011: 62)

53 Em LSF, as funções semânticas são grafadas com letra inicial maiúscula, assim se distinguindo das

estruturas lexicogramaticais, grafadas integralmente com letras minúsculas.

54 No fraseado original, a oração é passiva, estando o participante “a cria” elidido, como se pode conferir

em: “Em geral, é alimentado pelos pais durante os primeiros tempos de vida.” Sendo experiencialmente idêntica à versão adaptada, esta última parece-nos mais adequada para ilustrar a constituição orbital da oração.

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Diagrama 1.7. A Figura semântica numa visão orbital da oração

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