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Parte I Enquadramento teórico

Diagrama 4.5. A especificação no ciclo de interação apoiada da LD (Adaptado de Rose e Martin 2012: 310)

4.4.2 Paráfrases de significados experienciais

A segunda pista de significado identificada na literatura do Programa R2L é a paráfrase. Conforme esclarecem Rose e Martin (2012), destina-se esta pista a ser implementada sempre que (se preveja que) os alunos não compreendam o significado de uma dada estrutura lexicogramatical:

Whenever students are unlikely to understand the wording, it is essential to tell them what it means, so they can identify and comprehend it. With synonyms or paraphrases, the task is to identify an unfamiliar wording from the familiar meaning cue. (Rose e Martin 2012: 157)

Tanto quanto é do nosso conhecimento, a paráfrase não é objeto de uma definição explı́cita na literatura sobre o Programa R2L. A definição manuseada neste trabalho é assim da nossa autoria, embora legitimada pela citação supra e pelos exemplos comentados da implementação

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da LD de textos factuais, principalmente em Rose e Martin (2012) e Rose (2011e). Entendemos por paráfrase: a substituição de uma estrutura lexicogramatical por outra estrutura lexicogramatical com um significado idêntico ou semelhante. O nosso foco recai sobre as paráfrases que esclarecem o significado experiencial das estruturas selecionadas, podendo por isso ser designadas, também, paráfrases experienciais.

Consideramos que a paráfrase tem por base uma oração relacional identificativa do tipo “x significa y”. Neste tipo de oração, a estrutura lexicogramatical do texto corresponde ao Participante x, com a função de Caracterı́stica, e a formulação alternativa corresponde ao Participante y, com a função de Valor. O Processo relacional que une os dois Participantes tem uma função definidora. Tanto a Caracterı́stica como o Valor se reportam ao mesmo fenómeno experiencial, ainda que por meio de recursos linguı́sticos distintos. Particularmente relevante é o facto de o Valor se realizar por meio de uma estrutura lexicogramatical e/ou uma estrutura de conhecimento que seja familiar aos alunos. No que respeita às estruturas de conhecimento mobilizadas, e aqui seguimos especificamente Rose (2011e: 26), estas podem pertencer a domı́nios especializados, desde que tenham sido previamente abordados em sala de aula (assim se assegurando que se trate de um conhecimento partilhado) ou, em alternativa, ao senso comum164.

As paráfrases podem ser realizadas por meio de orações declarativas. Neste tipo de orações, definidas como orações que transmitem informação, o professor torna verbalmente explı́cita a estrutura do texto sob foco. Mais frequentemente, porém, realizam-se sob a forma de orações interrogativas, ou orações que solicitam informação. Neste caso, o professor explicita o Valor, fazendo da Caracterı́stica o objeto da interrogação e, em lugar da estrutura do texto, indica (apenas) a sua natureza gramatical e, eventualmente, a sua localização, como por exemplo em “Qual é a palavra (no inı́cio da frase) que significa ...?”. Em resposta à interrogação, os alunos devem identificar a estrutura correspondente no texto, guiando-se pelas pistas relativas à sua natureza gramatical e à sua localização e, sobretudo, pela formulação alternativa com a função de Valor.

Conforme aponta Rose (2011e), a Tarefa dos alunos envolve três passos: (i) interpretar o texto à luz da paráfrase, (ii) identificar a estrutura lexicogramatical pretendida e (iii) compreender o significado dessa estrutura. Estes três passos equivalem, na prática, à reconstituição mental da oração identificativa na sua integridade: “The students (…) have to reason from the paraphrase to the words on the page. (…) They can then find and understand the words for themselves, even if they have never heard the words before.” (Rose 2011e: 15-6).

164 Confira-se Rose (2011e: 26): “With factual texts, meaning cues in detailed reading are more often

paraphrases of technical or abstract wordings, than “wh” words. These paraphrases may be drawn from commonsense, or from previously built up knowledge in the topic.”

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Parece-nos pertinente, para efeitos do presente estudo, distinguir entre três tipos de paráfrase: paráfrase geral, paráfrase lexical e paráfrase gramatical. Esta distinção, bem como as definições abaixo reproduzidas são da nossa autoria, fundamentadas sobretudo em Martin e Rose (2005, 2007), Rose (2011e) e Rose e Martin (2012). Crucialmente, e como demonstraremos mais adiante, é possı́vel ilustrar cada um destes tipos a partir dos exemplos de implementação da LD apresentados pelos referidos autores.

4.4.2.1 Paráfrase geral

A paráfrase geral caracteriza-se principalmente por ocorrer no âmbito da Preparação geral da frase. Em conformidade com o propósito pedagógico deste momento do ciclo de apoio, este tipo de paráfrase visa a reformulação da frase no seu todo, sem focar – ainda – nenhuma estrutura lexicogramatical em particular (como a oração, o grupo de palavras ou a palavra). De acordo com a abordagem discursiva da Preparação geral, a frase é perspetivada enquanto mensagem, dando- se conta da sua função no contexto de uma fase, de uma etapa ou do género do texto. Crucialmente, esta explicitação é feita com recurso a linguagem e conhecimento de senso comum, como no exemplo: “esta frase descreve as funções das escamas/identifica as partes dos pulmões/explica a metamorfose das rãs”.

Do ponto de vista da metafunção textual, a frase (leia-se, a oração ou o complexo oracional) resulta da articulação entre informação previamente introduzida no discurso (tecnicamente, o Dado) e informação nova (tecnicamente, o Novo). Embora a paráfrase geral diga respeito à frase no seu todo, na prática tende a recair mais especificamente sobre o Novo, uma vez que aı́ que se concentra o contributo particular da frase no fluxo discursivo165.

O facto de a paráfrase geral ocorrer maioritariamente na Preparação geral da frase significa, ainda, que, numa perspetiva interpessoal, tende a apresentar-se como uma oferta de informação. Realizada por meio de uma oração declarativa, a paráfrase geral constitui, pois, uma pista para a compreensão da frase, sem, contudo, propor uma tarefa de identificação aos alunos.

Um exemplo de paráfrase geral pode ser encontrado em Rose e Martin (2012: 201-4), a

165 Veja-se Halliday e Matthiessen (2004: 87-94) para uma discussão mais detalhada das funções de Dado

e Novo ao nı́vel da oração. Segundo estes mesmos autores (idem: 392-5), os princı́pios da organização textual observados ao nı́vel da oração operam também noutras unidades gramaticais, nomeadamente no complexo oracional. De acordo com este entendimento, o complexo oracional apresenta duas camadas de Dado e Novo. Por um lado, cada oração constituinte tem os seus picos individuais de informação previamente introduzida e informação nova. Por outro lado, o complexo oracional é também ele composto por um Dado e um Novo, sendo que estes picos não coincidem necessariamente com os picos verificados nas orações constituintes (e.g. uma oração constituinte pode, na sua globalidade, desempenhar a função de Novo num complexo oracional). No nosso entender, a paráfrase geral deve incidir principalmente sobre a informação nova do complexo oracional, dada a natureza mais abrangente da referida unidade face à oração.

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propósito da LD de textos argumentativos166. A passagem textual sob foco encontra-se

reproduzida como o Texto 4.2, adiante. Trata-se da primeira etapa de um género designado “discussão”, que tem como propósito sociocomunicativo debater dois ou mais pontos de vista. A estrutura definidora da discussão é a seguinte: Questão ^ Lados ^ Resolução (cf. Rose e Martin 2012: 130).

Texto 4.2

Whenever we turn on the TV or radio, we are dazzled by sports heroes celebrating their victory by drinking alcohol or smoking tobacco. At first, we may think it is entertaining and harmless, but if we examine the issue more closely, questions arise in our minds about the effect these advertisements have on people.

Para ilustrar a paráfrase geral, interessa-nos em particular a primeira frase do Texto 4.2: “Whenever we turn on the TV or radio, we are dazzled by sports heroes celebrating their victory by drinking alcohol or smoking tobacco” (em diante, frase 1 do Texto 4.2). A Preparação geral desta frase encontra-se reproduzida no Exemplo 4.2, adiante.

Exemplo 4.2. Leitura Detalhada da frase 1 do Texto 4.2 – paráfrase geral (Em: Rose e Martin 2012: 303; sublinhado nosso; negrito original)

Teacher Prepare sentence

The first sentence states the issue – that sports heroes promote smoking and drinking in the media. “Whenever we turn on the TV or radio, we are dazzled by sports heroes celebrating their victory by drinking alcohol or smoking tobacco.”

Como se pode ler no Exemplo 4.2, a Preparação da frase inclui uma paráfrase geral da frase 1 do Texto 4.2, sendo a frase lida em voz alta em seguida. A paráfrase engloba dois momentos. No primeiro momento, o professor identifica o propósito sociocomunicativo da frase 1, a saber o de introduzir uma questão passı́vel de argumentação (“the first sentence states the issue”). Note-se como o professor recorre a metalinguagem genológica explı́cita (“issue”). A explicitação do propósito constitui um significado contextual, interpretativo que transcende os significados lexicogramaticais mais imediatos da frase. No segundo momento, o professor particulariza a questão do Texto 4.2, reformulando as estruturas lexicais e gramaticais da primeira frase do texto (“that sports heroes promote smoking and drinking in the media”).

A fim de ilustrar melhor a paráfrase geral implementada no Exemplo 4.2, veja-se a análise

166 O facto de a paráfrase geral surgir, na literatura, associada à desconstrução de um texto argumentativo

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reproduzida no Diagrama 4.6, adiante167. O diagrama representa multimodalmente as principais

reformulações lexicogramaticais envolvidas no segundo momento da desconstrução do tı́tulo, organizando-se a análise em duas linhas. Na linha superior, reproduz-se a primeira frase do Texto 4.2; na linha inferior, a paráfrase oral correspondente “sports heroes promote smoking and drinking in the media”. Delimitaram-se os constituintes de ambas as frases, de acordo com as convenções apresentadas antes, no Capı́tulo 1. Encontram-se sublinhadas, na frase 1, as estruturas que transitam para a frase oral, seja ipsis verbis, seja após sofrerem reformulação. As restantes estruturas da frase 1 estão assinaladas a fundo cinzento. As setas que separam as duas linhas dão conta das correspondências estruturais entre a frase do texto e a sua paráfrase geral.

Diagrama 4.6. Reformulações lexicogramaticais na paráfrase geral da frase 1 do Texto 4.2

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