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3.5 Princípios, Conceitos, Instrumentos, e Metodologias do Planeamento Estratégico

3.5.1 Linhas Directivas do Planeamento Estratégico

Podemos estruturar as linhas directivas do planeamento estratégico, ou seja os seus alicerces e bases conceptuais em três âmbitos: Directrizes, Objectivos e Vectores estratégicos. No presente ponto abordaremos cada um deles.

A) Directrizes

Podemos enunciar como principais directrizes do planeamento estratégico:

Integração- É uma concepção e técnica de planeamento que integra as vertentes económica, social, cultural, urbanística e ambiental. Tradicionalmente, distinguia-se o planeamento urbanístico e territorial do planeamento económico e social. Ora o planeamento estratégico integra e abarca de forma coordenada as diversas componentes.

Flexibilidade- Surge em oposição ao planeamento clássico, racionalista, finalista, normativista, rígido, e em particular ao planeamento urbanístico funcionalista.

Caracteriza-se pela sua adaptabilidade às especificidades das situações e à evolução dos contextos de elaboração e aplicação, preconizando instrumentos de gestão territorial flexíveis e moldáveis à realidade.

Selectividade- A estratégia implica realização de escolhas, selecção e hierarquização. No quadro de uma previsão integrada, selecciona as acções indutoras de mudança, afastando as acessórias. É uma metodologia de selectividade e hierarquização das acções a realizar. Face à escassez dos recursos, mormente os financeiros, há que definir os investimentos e prioridades estratégicas, indutoras das mudanças que se visam alcançar.

Participação- O planeamento estratégico é um processo de participação, de diálogo, persuasão, concertação e contratualização. É imperativo um amplo consenso e o empenhamento dos actores responsáveis pela sua execução.

Prospectiva- O planeamento estratégico é um processo de prospectiva de tendências, oportunidades e ameaças. Analisa os factores e os actores, indica objectivos desejáveis e viáveis e explicita os objectivos, estratégias, acções e recursos para os alcançar.

Continuidade- O planeamento estratégico é um processo que exige continuidade. A elaboração do plano é apenas o momento de definição de objectivos, estratégias e acções a realizar. Assim, mais importante do que a elaboração do plano é a sua execução, que deverá ser participada, flexível, monitorizada e avaliada, aberta às adaptações que a realidade externa exija. O planeamento estratégico é concebido numa perspectiva de continuidade e de longo prazo, e toma em conta a envolvente dos sistemas no sentido de definir as oportunidades e ameaças que dela resultam.38

38 O planeamento estratégico territorial é um processo de acção e decisão que compreende: a construção de uma visão de futuro, prospectiva, com definição dos objectivos e metas desejáveis e possíveis e as linhas estratégicas para o desenvolvimento, qualificação e competitividade duma cidade ou região; a participação, empenho e mobilização dos actores urbanos e territoriais na elaboração e execução do projecto de desenvolvimento; a selecção dos projectos e acções-chave através dos quais se obtém a evolução da cidade ou região da situação de partida para o estádio ambicionado.

3 | PLANEAMENTO TERRITORIAL: A BUSCA DE UM CONCEITO – PLANEAMENTO TRADICIONAL VS PLANEAMENTO ESTRATÉGICO

Liderança- De molde a assegurar o êxito de um processo de acção estratégica, mostra-se necessário garantir a liderança empenhada e afirmativa dos responsáveis máximos, presidente da câmara ou da região, e uma profícua cooperação público-privada, traduzida na contratualização para a realização ou gestão de projectos e acções nucleares da estratégia definida.

B) Objectivos

Mostra-se também útil apontar os grandes objectivos visados pelo planeamento estratégico. Esses objectivos estratégicos deverão estruturar as medidas e acções concretas a ponderar durante a fase de formulação do plano estratégico.

Podem ser definidos três grandes objectivos estratégicos, desdobráveis em diversos sub- objectivos:

1. Melhoria da qualidade do meio urbano, do ponto de vista de:

 Eficiência económica e competitividade empresarial;

 Qualidade de vida, integração e equidade social;

 Qualidade ambiental e patrimonial;

2. Eficiência institucional, do ponto de vista de:

 Modernização das estruturas decisórias

 Reforço da descentralização

3. Democracia local, numa óptica de:

Desenvolvimento sustentado que não se limite a criar melhores condições para as gerações futuras, mas que leve simultaneamente em conta a necessidade de melhorar a qualidade do meio urbano, sobretudo no que se refere aos grupos e áreas da cidade mais vulneráveis.

C) Vectores Estratégicos

O planeamento estratégico constitui um novo paradigma cultural introdutor de quatro grandes virtudes inovadoras, que se assumem como verdadeiros vectores estratégicos no âmbito do processo de planeamento, os chamados 4 P‟s: Previsão, Positivismo, Pragmatismo e Participação.

1. A Previsão

No contexto português verifica-se uma grande tendência para a falta de previsão, visível na improvisação, no casuísmo e no imediatismo.

Tais características constituem fortes obstáculos à competitividade da nossa economia e ao bem-estar da sociedade, bem como a um desenvolvimento rápido e qualificado do país.

Como processo que se baseia na previsão prospectiva, o planeamento estratégico pode contribuir para uma cultura de previsão que permita pensar e projectar a prazo, antecipar oportunidades e riscos.

No desenvolvimento urbano e no desenho das cidades, a ausência de previsão tem tido graves consequências no funcionamento e na qualificação dos espaços urbanos.

3 | PLANEAMENTO TERRITORIAL: A BUSCA DE UM CONCEITO – PLANEAMENTO TRADICIONAL VS PLANEAMENTO ESTRATÉGICO

Ora, o planeamento estratégico é fundamentalmente prospectiva e previsão. Trata da construção da cidade no presente, mas com uma visão de futuro. Daí que ele possa contribuir, decisivamente para a inflexão das mentalidades e dos processos de trabalho dos autarcas, técnicos e gestores.

2. O positivismo

O planeamento estratégico traça um diagnóstico no qual se apontam os aspectos negativos e positivos dos sistemas, ou seja os pontos fortes, os fracos e as tendências de evolução. Mas como metodologia de acção, o planeamento estratégico coloca a tónica nas potencialidades e oportunidades de mudança, sendo as debilidades e ameaças devidamente consideradas para serem corrigidas e não para frustrarem os processos de mudança. O positivismo é portanto um vector estratégico de peso desta abordagem de planeamento.

3. O pragmatismo

O planeamento estratégico embora defina metas estratégicas e advogue a utopia, e aquilo que deveria ser feito, afirma o primado do pragmatismo, ou seja aquilo que é viável e exequível fazer, ainda que numa perspectiva processual e de mudança.

4. A participação

O nosso País apresenta uma administração sectorizada, uma grande descoordenação interdepartamental e um grande défice de relacionamento público-privado.

Nesta medida, o planeamento estratégico vem prestar um contributo para a democratização e abertura da administração, baseando a sua filosofia no relacionamento com os agentes sociais, culturais, económicos e urbanos. Ajuda a criar e sedimentar uma cultura de diálogo, concertação e contratualização, constituindo um relevante contributo para uma cultura de sociedade aberta, numa época em que os cidadãos e as organizações exigem mais participação e transparência em domínios vitais da vivência individual e colectiva.

A participação constitui um meio de mobilização das comunidades, dos actores, do desenvolvimento, e uma garantia reforçada da concretização dos projectos e acções propostos, conduzindo igualmente à legitimação pública das propostas e dos processos de planeamento conduzidos pelas administrações.