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2.3 Principios Gerais, Principios Juridicos, Objectivos e Destinatários do Ordenamento do Território

2.3.2 Princípios Jurídicos

No Art. 5º da LBPOTU encontram-se plasmados determinados princípios de cariz jurídico em que assenta a política de ordenamento do território e urbanismo, que devem nortear as actuações das entidades públicas com responsabilidades na mesma.

Princípios da sustentabilidade, da solidariedade intergeracional e da economia

O princípio da sustentabilidade impõe que se encontre um equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a conservação e preservação dos recursos naturais. Não se deverá promover uma protecção máxima e absoluta dos recursos naturais, mas o desenvolvimento económico deve também ser limitado pela necessidade de garantir a preservação dos recursos naturais existentes. (Oliveira 2009).

Estes dois objectivos (desenvolvimento económico e protecção e salvaguarda dos recursos naturais) têm de ser harmonizados –eco-desenvolvimento - pois apenas assim se consegue alcançar uma melhor qualidade de vida das populações ( Alfonso 1987).

O princípio da sustentabilidade assume três vertentes: a vertente económica, a vertente ambiental e a vertente social.

Vertente económica do princípio da sustentabilidade

A vertente económica deste princípio parte da ideia de que os planos territoriais são instrumentos de desenvolvimento económico, pelo que as opções essenciais dos mesmos devem ser sempre o resultado de opções de desenvolvimento económico-social.

A vertente ambiental da sustentabilidade

A dimensão ambiental da sustentabilidade postula a defesa do ambiente como interesse a ponderar pelo plano, como um dos objectivos a ser prosseguidos pelo mesmo e até como sua finalidade. Encontra-se subjacente a necessidade de garantir os legítimos interesses das gerações actuais e futuras num adequado nível de protecção ambiental.

A integração, no procedimento de elaboração dos instrumentos de gestão territorial, do processo de avaliação ambiental estratégica (AAE), é disso exemplo.

A vertente social da sustentabilidade

A vertente social do princípio da sustentabilidade no planeamento do território demonstra a necessidade de este se assumir como um planeamento social e democrático, fornecendo um importante contributo para a paz social e a melhoria da qualidade de vida.

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O planeamento deve prosseguir as ideias de equidade ou justiça social, garantindo a distribuição justa dos custos e benefícios gerados pela cidade, o que pode ser particularmente alcançado pela planificação pública que deve exigir uma discriminação positiva a favor dos grupos desfavorecidos em razão dos seus estados económicos e do nível de qualidade de vida de que desfrutam (Oliveira 2009).

A vertente social da sustentabilidade é também patente nas ideias de democracia e promoção da participação do público nos processos territorial e ambientalmente relevantes.

Principio da solidariedade intergeracional

O princípio da solidariedade intergeracional preconiza o desenvolvimento sustentável e durável sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas necessidades.

Princípio da economia

O princípio da economia encontra-se plasmado na alínea b) do Art. 5º da LBPOTU, postulando que a política de ordenamento de território deve assegurar a utilização ponderada e moderada dos recursos naturais e culturais.

Princípio da coordenação

O princípio da coordenação é um dos mais relevantes neste domínio e encontra-se descrito na alínea a) do Art. 5º da LBPOTU. Este preconiza a articulação e compatibilização do «ordenamento do território com as políticas de desenvolvimento económico e social, bem como com as politicas sectoriais com incidência na organização do território, no respeito por uma adequada ponderação dos interesses públicos e privados em causa.» (Oliveira 2009).

Relativamente a este princípio está em causa a necessidade de coordenar e articular as diversas atribuições e políticas públicas sobre o território.

Tal coordenação deve ser estabelecida primeiramente entre a política do ordenamento do território e as políticas de desenvolvimento económico e social (alínea c) do Art. 5º, 1ª parte da LBPOTU), o que implica que os planos de ordenamento do território atendam às grandes opções fixadas nos planos de desenvolvimento económico e social.

Tal sucede designadamente com o PNPOT, porquanto um dos seus objectivos específicos é «estabelecer a tradução espacial das estratégias de desenvolvimento económico e social ( Art. 27º, alínea c) do RJIGT) devendo também definir as “orientações para a coordenação entre as políticas de ordenamento do território e de desenvolvimento regional, em particular para as áreas em que as condições de vida ou da qualidade do ambiente sejam inferiores à média nacional ( alínea c) do nº1 do Art.28º do RJIGT).

Tal sucede com os PROT, que assumem também a finalidade da tradução em termos espaciais, dos grandes objectivos de desenvolvimento económico e social sustentável formulados no plano de desenvolvimento regional (Art. 52º, alínea b) do RJIGT).

Os instrumentos de ordenamento do território, mormente o PNPOT e os PROT realizam uma espacialização ou plasmação geográfica das políticas económicas ( Lopez, Rámon, 2005).

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O princípio da coordenação preceitua também a articulação e compatibilização da política de ordenamento do território com as políticas sectoriais com incidência na organização do território (alínea c) do Art.5º, 2ª parte da LBPOTU). Mostra-se assim necessário garantir uma coordenação e articulação da política de ordenamento do território com as políticas agrícola, florestal, ambiental, cultural, urbanística, turística e a articulação de cada uma destas políticas entre si. Tal papel coordenador cabe em grande parte ao PNPOT que visa articular também as políticas sectoriais com incidência na organização do território (alínea d) do Artigo 27º do RJIGT).

O princípio da coordenação assume também importância no sector do respeito pela adequada ponderação dos interesses públicos e privados (alínea c) do Art. 5º, parte final da LBPOTU).

Decorre do Art.8º do RJIGT que os instrumentos de gestão territorial devem identificar os interesses públicos prosseguidos, justificando os critérios utilizados na sua identificação e hierarquização. A ponderação implica vários passos: recolha e identificação dos interesses públicos relevantes, análise e ponderação desses interesses, hierarquização entre eles, com utilização de critérios de ponderação. Por último surge a decisão de planeamento como resultado do processo de ponderação.

A tarefa dos instrumentos de gestão territorial destinada à harmonização dos vários interesses públicos com expressão territorial deve atender às estratégias de desenvolvimento económico e social, bem como à sustentabilidade e à solidariedade intergeracional na ocupação e utilização do território. Cumprimento do Princípio da Coordenação

O Art. 9º do RJIGT estabelece a forma de cumprimento do princípio da coordenação, na vertente da obrigação de ponderação de interesses públicos, aí se fornecendo o critério de ponderação.

Determina este normativo o seguinte: “Nas áreas territoriais em que convirjam interesses públicos entre si incompatíveis, deve ser dada prioridade aqueles cuja prossecução determine o mais adequado uso do solo, em termos ambientais, económicos, sociais e culturais, excepcionando-se os interesses respeitantes à defesa nacional, à segurança, à saúde pública e à protecção civil, que têm prioridade sobre os demais”.

Encontra-se aqui patente o princípio jurídico da optimização do uso dos solos com prevalência dos interesses públicos ambientais, económicos, sociais e culturais. No entanto, estabelece a prioridade hierárquica dos interesses relativos à defesa nacional, segurança, saúde pública e protecção civil.

Igualmente os Arts. 10º e seguintes do RJIGT identificam interesses públicos ( designados por factores territoriais) que devem ser identificados e ponderados pelos instrumentos de gestão territorial e a função específica de cada um desses instrumentos relativamente a eles.

Princípio da subsidiariedade

O princípio da subsidiariedade acarreta a necessidade de coordenação dos procedimentos dos diversos níveis da Administração Pública, de forma a privilegiar o nível decisório mais próximo do cidadão, conforme postula a alínea d) do Artigo 5º da LBPOTU.

Este princípio é um corolário dos princípios da descentralização e da desconcentração administrativas, da desburocratização, da aproximação dos serviços às populações, mas sem esquecer

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a necessária eficácia e unidade de acção das entidades com atribuições específicas no domínio do ordenamento do território ( Art. 267º da CRP).

Segundo Oliveira (2009), com o princípio da subsidiariedade não se pretende apenas que as decisões importantes do ordenamento do território tenham de ser tomadas pelo nível administrativo mais próximo dos cidadãos, o que implica a sua atribuição aos municípios.

O princípio da eficiência da acção administrativa implica uma tarefa de ponderação do legislador quando procede à repartição concreta das atribuições em matéria de ordenamento do território, que poderá terminar com a atribuição de crescentes e importantes tarefas ao Estado.

Tal compreende-se porque não existe entre nós um nível administrativo intermédio entre o estado e os municípios, que seriam as regiões administrativas, pelo que cabe a este assumir as atribuições típicas destas.

Desta forma, o princípio da descentralização administrativa, conjuntamente com o princípio da subsidiariedade, mostra-se como um princípio que deve necessariamente ser ponderado conjuntamente com outros princípios relevantes.

O reforço do princípio da subsidiariedade

Neste âmbito, cumpre referir que as alterações ao RJIGT promovidas pelo Decreto-Lei nº 316/2007, de 19 de Setembro vêm concretizar e intensificar tal princípio. Segundo Oliveira, podemos ressaltar como alterações relevantes neste domínio, operadas pelo diploma:

A descentralização de competências para os municípios, associada à correspondente maior responsabilização e autonomia destes, traduzida na ausência de vinculatividade dos controlos de legalidade efectuados pelas CCDR e na desnecessidade de ratificação dos planos directores municipais, bem como dos planos de urbanização e dos planos de pormenor que alterem planos municipais de hierarquia superior.

A desconcentração de competências no âmbito da Administração central, reforçando -se o papel das CCDR neste domínio, visto que estas procedem à verificação final da legalidade dos planos municipais.

Princípio da Equidade

Na alínea e) do Art. 5º da LBPOTU encontra-se vertido o princípio da equidade. O princípio da equidade é fulcral no domínio do ordenamento do território, porquanto este visa o reforço da coesão nacional, organizando o território, corrigindo as assimetrias regionais e assegurando a igualdade de oportunidades dos cidadãos no acesso às infra-estruturas, equipamentos, serviços e funções urbanas (Art. 3º, alínea a) da LBPOTU).

A vertente do princípio da equidade referida na alínea e) do Art.5º prende-se com a justa distribuição dos encargos e benefícios decorrentes da aplicação dos instrumentos de gestão territorial. Princípio da participação

O princípio da participação, reforçando a consciência cívica dos cidadãos através do acesso à informação e à intervenção nos procedimentos de elaboração, execução, avaliação e revisão dos

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instrumentos de gestão territorial (Alínea f) do Art. 5º da LBPOTU), é um princípio jurídico que deverá estar sempre presente em todos os âmbitos de actuação dos entes públicos.(Oliveira, 2009).

Como corolário do princípio da imparcialidade da administração, e de reforço do princípio democrático impõe-se a necessidade de participação dos particulares de molde a garantir a ponderação dos interesses privados nas decisões com implicações no ordenamento do território.

Da formulação deste princípio resultam duas importantes vertentes: o direito à informação, e o direito à participação atinente aos momentos relevantes da vida dos planos em matéria de ordenamento do território - elaboração, execução, avaliação e revisão dos instrumentos de gestão territorial (Oliveira 2009).

Princípio da Responsabilidade

O princípio da responsabilidade encontra-se plasmado na alínea g) do Art. 5º da LBPOTU e visa assegurar a prévia ponderação das intervenções com impacto relevante no território e estabelecer o dever de reposição ou compensação dos danos que ponham em causa a qualidade ambiental.

Este princípio transcende a responsabilização, abrangendo também um princípio da prevenção em matéria de ordenamento do território, determinando a necessidade de garantir, de uma forma preventiva, a ponderação das intervenções com impacto relevante no território.

Princípio da contratualização

A alínea h) do Art. 5º da LBPOTU refere-se ao princípio da contratualização como destinado a incentivar modelos de actuação baseados na concertação entre iniciativa pública e iniciativa privada na concretização dos instrumentos de gestão territorial.

O recurso a mecanismos de cariz contratual e de concertação no ordenamento do território enquadra-se numa nova tendência de formas de actuação da administração para a prossecução do interesse público.

Princípio da segurança jurídica

O princípio da segurança jurídica, assim como o princípio da protecção da confiança visam garantir a estabilidade dos regimes legais, a protecção da confiança e o respeito pelas situações jurídicas validamente constituídas. (alínea i) do Art. 5º da LBPOTU)