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4.7 Os instrumentos de desenvolvimento territorial

4.7.1 O Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT)

A Lei n.º 58/2007, de 4 de Setembro, aprovou o Programa Nacional de Ordenamento do Território em Portugal, alterando os pressupostos do sistema de planeamento português que possui agora um instrumento delimitador da política de ordenamento do território, coordenador dos restantes instrumentos com repercussão territorial, fornecendo uma visão integrada deste (Oliveira 2009).

A aprovação deste instrumento revestiu-se de relevância fulcral para o ordenamento territorial português, e correspondeu a uma manifestação da dinâmica de elaboração de instrumentos de gestão territorial da responsabilidade da Administração central, contemporânea do esforço do Governo em avançar com a aprovação dos planos regionais de ordenamento do território (PROT).

Esta dinâmica teve a sua primeira manifestação com a publicação da revisão do Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve, imediatamente seguida da publicação do PNPOT, recentemente da publicação do PROT-OVT (Agosto de 2009), encontrando-se em elaboração os planos regionais de ordenamento do território do Alentejo, e do Norte, e em processo de revisão os restantes.

A)Definição:

O PNPOT é o documento que estabelece as grandes opções com relevância para a organização do território nacional, consubstanciando o quadro de referência a considerar na elaboração dos demais instrumentos de gestão territorial, e constitui um instrumento de cooperação com os demais Estados membros para a organização do território da União Europeia. Trata-se de um instrumento programático e orientador, definindo as directivas e orientações fundamentais em matéria da organização do território nacional.

B) Âmbito territorial:

O PNPOT é um instrumento de aplicação a todo o território nacional. C) Objectivos:

O PNPOT visa definir o quadro para o desenvolvimento integrado harmonioso e sustentável do país; garantir a coesão territorial do país atenuando as assimetrias regionais e garantindo a igualdade de oportunidades; estabelecer a tradução espacial das estratégias de desenvolvimento económico e social; articular as políticas sectoriais com incidência na organização do território; racionalizar o povoamento, a implantação de equipamentos estruturantes e a definição das redes; estabelecer parâmetros de acesso às funções urbanas e às formas de mobilidade; definir princípios orientadores da disciplina de ocupação do território; Os seis objectivos estratégicos visados pelo PNPOT são:

 Conservar e valorizar a biodiversidade e o património natural, paisagístico e cultural, utilizar de modo sustentável os recursos energéticos e geológicos, e prevenir e minimizar os riscos;

 Reforçar a competitividade territorial de Portugal e a sua integração nos espaços ibérico, europeu e global;

 Promover o desenvolvimento policêntrico dos territórios e reforçar as infra-estruturas de suporte à integração e à coesão territoriais;

4 | O SISTEMA DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO EM PORTUGAL

 Assegurar a equidade territorial no provimento de infra-estruturas e de equipamentos colectivos e a universalidade no acesso aos serviços de interesse geral, promovendo a coesão social;

 Expandir as redes e infra-estruturas avançadas de informação e comunicação e incentivar a sua crescente utilização pelos cidadãos, empresas e administração pública;

 Reforçar a qualidade e a eficiência da gestão territorial, promovendo a participação informada, activa e responsável dos cidadãos e das instituições.

Tais objectivos coincidem na sua maioria com os objectivos do ordenamento do território anteriormente referidos.

D) Conteúdo material:

O PNPOT fixa o modelo de organização espacial, estabelecendo, as opções e as directrizes relativas à conformação do sistema urbano das redes das infra-estruturas e equipamentos de interesse nacional, bem como à salvaguarda e valorização das áreas de interesse nacional em termos ambientais, patrimoniais e de desenvolvimento rural:

 Determina os objectivos e os princípios assumidos pelo Estado, numa perspectiva de médio e de longo prazo, quanto à localização das actividades, dos serviços e dos grandes investimentos públicos;

 Estabelece os padrões mínimos e os objectivos a atingir em matéria de qualidade de vida e da efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais;

 Determina objectivos quantitativos e qualitativos a atingir em matéria de estruturas de povoamento bem como de implantação de infra-estruturas e de equipamentos estruturantes;

 Fixa as orientações para a coordenação entre as políticas de ordenamento do território e de desenvolvimento regional, em particular para as áreas em que as condições de vida ou a qualidade do ambiente sejam inferiores à média nacional;

 Estabelece as medidas de articulação entre as políticas de ordenamento do território que assegurem as condições necessárias à concretização de uma estratégia de desenvolvimento sustentado e de utilização parcimoniosa dos recursos naturais;

 Determina as medidas de coordenação dos planos sectoriais com incidência territorial. E) Conteúdo documental:

O PNPOT encontra-se estruturado em dois documentos essenciais: o relatório e o programa de acção. O relatório define os cenários de desenvolvimento territorial e fundamenta as orientações estratégicas, as opções e as prioridades da intervenção político-administrativa em matéria de ordenamento do território, sendo acompanhado de peças gráficas ilustrativas do modelo de organização espacial estabelecido. Para além do enquadramento territorial das políticas nacionais e regionais, o relatório, integra ainda a estratégia e o modelo territorial a adoptar, fornecendo o diagnóstico do ordenamento do território em Portugal nos últimos anos.

Já o programa de acção fixa os objectivos a atingir a médio ou longo prazo; os compromissos do Governo em matéria de medidas legislativas, de investimentos públicos ou de aplicação de outros

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instrumentos de natureza fiscal ou financeira, para a concretização da política de desenvolvimento territorial; as propostas do Governo para a cooperação neste domínio com as autarquias locais e as entidades privadas, incluindo o lançamento de programas de apoio específico; e os meios financeiros das acções propostas. ( Art. 29.º do RJIGT).48

F) Elaboração:

A elaboração do PNPOT é determinada por resolução do conselho de ministros divulgada através da comunicação social (cfr. alínea a) do n.° 3 do Art.6.°) e é da competência do Governo, sendo elaborado sob coordenação do Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território. É acompanhado por uma comissão consultiva composta por representantes das regiões autónomas, das autarquias locais e dos interesses económicos, sociais, culturais e ambientais relevantes, e está sujeito a um período formal de discussão pública (Art. 33.°), devendo ainda a sua proposta ser submetida à avaliação crítica e a parecer de, pelo menos, três entidades universitárias ou científicas nacionais com uma prática relevante nas áreas do ordenamento do território. É aprovado por Lei da Assembleia da República e publicado na II Série do Diário da República, devendo ainda ser objecto de publicação em dois jornais diários e num semanário de grande expansão nacional e na página da internet do Governo, sendo depositado na Direcção-Geral de Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano. Não existe referência no diploma quanto ao prazo de vigência do PNPOT.

G) Eficácia jurídica:

O PNPOT vincula todas as entidades públicas mas não é directamente vinculativo em relação aos particulares.

4.7.2 Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT)