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Loteamentos aprovados até a década de 1970, as favelas identificadas nessa década, e o grandes conjuntos habitacionais BNH

_A formação das localizações em Fortaleza e o planejamento urbano excludente

MAPA 03. Loteamentos aprovados até a década de 1970, as favelas identificadas nessa década, e o grandes conjuntos habitacionais BNH

Fonte: dados loteamentos: SEUMA; dados favelas: PET-UFC; organizados pela autora

Até essa década a regulamentação dos loteamentos era papel do Código de Obras e Posturas do município, conforme comentado; portanto, era de responsabilidade municipal essa regulamentação. O parcelamento era feito pela iniciativa privada, e ficava à mercê de seus interesses. Entretanto, em 1979

houve a aprovação da Lei de Parcelamento do Solo (no 6.766/79), lei nacional que passou a regulamentar o tema no Brasil. Alguns municípios desenvolveram suas leis de parcelamento municipais, como foi o caso de Fortaleza (Lei no 5122.A/79, posteriormente complementada pelo Decreto no 9476/94). Contudo, naquele ano, a cidade já tinha grande parte de sua área parcelada (Mapa 03).

A produção da cidade de Fortaleza, até o início da década de 1980, ficou, então, dividida entre a produção formal – feita pela iniciativa privada, através principalmente dos loteamentos, mesmo com regulamentação precária – e a produção informal, feita pelos próprios indivíduos, com o intuito de solucionar uma problemática que não está presente adequadamente no planejamento urbano, a habitação popular, e que terminou conformando as favelas e demais assentamentos precários. Para Milton Santos (apud BOULAY; BUHOT, 2013), o formal e o informal constituem um todo “dirigido pelo mesmo sistema de normas”, ou seja, a regulamentação da construção da cidade, que conforma a sua produção formal, exclui grande parte da população que não consegue adequar-se a ela e, consequentemente, induz a produção informal.

A década de 1970 também foi marcada pela construção dos grandes conjuntos habitacionais em Fortaleza, entretanto, eles não estavam previstos pelo planejamento urbano e seguiram as premissas do que aconteceu no país durante esse período: grande quantidade de unidades habitacionais, precariedade de materiais, localização periférica descolada da mancha urbana e em área com infraestrutura precária (Mapa 03).

Além disso, durante a década de 1970, Fortaleza tornou-se região metropolitana (Região Metropolitana de Fortaleza – RMF) de forma compulsória, através da Lei Complementar Federal no 14/73, assim como outras regiões metropolitanas no país. Em 1972, foi elaborado o Plano de Desenvolvimento

Integrado da Região Metropolitana de Fortaleza (PLANDIRF), com o objetivo de consolidar as relações

entre os municípios da RMF, visando solucionar os problemas causados pela intensa migração para a capital. Assim como o anterior, esse plano abordou diversos temas, entre eles o econômico, para atingir aquele objetivo. Mas o foco, entretanto, ainda era muito relacionado com o sistema de transportes e o viário, com o intuito de promover uma melhor circulação interna à RMF.

As intervenções viárias tinham claramente a função de possibilitar as conexões entre os municípios, visto que as atividades econômicas começaram a se dispersar pelo território da RMF, com a criação do Distrito Industrial de Maracanaú, inaugurado em 1969, e, consequentemente, os conjuntos residenciais populares. Entretanto, essas intervenções serviram também para “limpar” a cidade dos assentamentos precários localizados nas áreas de maior interesse da classe dominante.

a construção da avenida Leste-Oeste [por exemplo], nos anos 1970, [...] resulta da adoção de política de controle social (visando erradicar a zona de prostituição

próxima do Centro) e de política de ampliação das vias de circulação e de integração leste-oeste (com construção de via permitindo geração de fluxos entre o porto do Mucuripe e a zona industrial da avenida Francisco Sá). Tal política redunda na quase destruição do Arraial Moura Brasil e na divisão do Pirambu em duas partes, fato cujos impactos explicitam a política de erradicação das favelas.

Os antigos habitantes foram deslocados para conjuntos populares construídos pelo Banco Nacional de Habitação (BNH): o Palmeiras, em Messejana, e o Marechal Rondon, em Caucaia. (DANTAS, 2011, p. 57-58).

A partir dessa década também se iniciou, efetivamente, o processo de valorização das zonas de praia, já densamente ocupadas pela população de baixa renda, visto que eram áreas bem localizadas e de pouco interesse do mercado imobiliário. Essas zonas começaram a transformar-se em áreas de lazer através da construção dos calçadões ao longo de seu percurso: o da Beira-Mar na década de 1970 e os da Praia de Iracema, Praia do Futuro e Leste-Oeste na década de 1980 (DANTAS, 2011).

Também contribuíram para a valorização do litoral as transformações advindas com a aprovação da Lei de Parcelamento do Solo, que permitiu transformações no tamanho dos lotes daquela área, possibilitando a verticalização. Essa mudança atraiu as classes de rendas mais altas, que começaram a utilizá-lo como local de moradia, surgindo os primeiros edifícios.

Essas transformações no litoral provocaram a valorização das terras e, por conseguinte, a substituição da população moradora original (pescadores, estivadores etc.), que foi expulsa para as periferias da cidade, por outra de mais altas rendas. Entretanto, não foi todo o litoral que passou por esse processo de substituição.

A partir da década de 1980 os loteamentos começaram a se intensificar no sentido leste e sudeste (Mapa 01). Foi para essa direção que se expandiu a moradia da população de rendas média alta e alta, é nos bairros dessa localização onde moram essas faixas da população até hoje (Mapa 04).

Novas famílias, além das citadas anteriormente, surgiram no cenário do parcelamento do solo, como as famílias Jereissati, Queiroz e Dias Branco (SANTOS, 2012). Percebe-se que, já nessa época, outros tipos de investidores se interessaram por esse negócio consolidado. Parte das famílias donas das terras é também envolvida na política, como a família Jereissati, por exemplo, dona de shoppings em todo o país e de diversos outros negócios. Há famílias que concentram diversos tipos de empresas, indústrias e meios de comunicação, como a família Queiroz (dona de empresa de gás, água mineral, eletrodomésticos, alimentos etc., e proprietária do Sistema Verdes Mares de Comunicação) e a Patriolino Ribeiro (citada em décadas anteriores e dona do grupo Cidade de Comunicação). Fica claro, dessa forma, que as famílias proprietárias fundiárias são também as famílias mais poderosas da cidade, detentoras dos meios de produção e de comunicação, conforme comentado no capítulo 1.

MAPA 04. Setores Censitários com responsáveis por domicílio com renda acima de 20 s.m. e área de expansão do mercado