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Loteamentos aprovados até a década de 1950 e a mancha urbana de 1945 14 Fonte: dados SEUMA, organizados pela autora

_A formação das localizações em Fortaleza e o planejamento urbano excludente

MAPA 02. Loteamentos aprovados até a década de 1950 e a mancha urbana de 1945 14 Fonte: dados SEUMA, organizados pela autora

14 A mancha urbana de 1945 foi desenhada a partir da Carta da Cidade de Fortaleza e Arredores, levantada, desenhada e

Durante a década de 1950, a produção dos loteamentos promoveu grande impacto no processo de expansão urbana, visto que foi durante essa década que mais se implantou loteamentos na cidade (Mapa 01) e que as terras parceladas não estavam previamente localizadas na área urbana delimitada pelo Plano Diretor de Remodelação e Extensão de Fortaleza, desenvolvido por Sabóia Ribeiro, em 1947 (SANTOS, 2012, p. 125).

Destaca-se, durante essa década, a identificação de novas famílias que se incorporaram ao processo de intervenção fundiária, além daquelas já inseridas nas décadas anteriores, segundo cadastro da prefeitura. Também começaram a aparecer as primeiras empresas criadas para exercer essa função, que começa a ser profissionalizada, e elas passam a ser as donas dos terrenos. As empresas ainda pertenciam às mesmas famílias, que por vezes dão seu nome a elas: Imobiliária Gentil, Imobiliária Patriolino Ribeiro, Imobiliário Antônio Diogo etc., segundo cadastro da prefeitura. Ainda nessa década, houve a transferência do porto da Praia de Iracema para o Mucuripe, no extremo leste do litoral da cidade. Esse processo consolidou a área no entorno imediato do centro com o foco comercial e o litoral a partir da Praia de Iracema em direção ao leste como atividade de veraneio das classes dominantes, que também estavam iniciando a atividade residencial no litoral. A relação da cidade com o mar ainda era incipiente, mas era crescente, e o litoral passava por processo de valorização, consolidado a partir da década de 1970, com investimentos públicos concentrados nele.

Durante a década de 1960, poucos loteamentos foram feitos, mas a área parcelada foi muito superior em relação a décadas anteriores, com a incorporação de muitos terrenos novos à área urbana, dispersos em todas as direções (SANTOS, 2012, p. 128). Entretanto, conforme pode ser visto na Figura 08, esses loteamentos não foram construídos de forma contígua, mas deixando espaços entre eles, e entre eles e a malha urbana, gerando especulação imobiliária e promovendo a valorização de algumas áreas específicas. Também nessa época, surgem novas famílias que se incorporam ao ramo de investimentos fundiários.

A cidade sofre nova explosão populacional resultante de grande processo migratório advindo do interior do estado, ainda na década de 1950, devido a duas grandes secas (1952 e 1958), o que volta a se repetir na década de 1970. Entretanto, esses fenômenos coincidem com o período de valorização da terra resultante daqueles parcelamentos. O crescimento populacional aliado ao aumento de preço da terra provocou, então, a intensificação da construção ilegal e irregular de moradias, representada pela favelização e pelos loteamentos periféricos clandestinos.

Em 1963, foi desenvolvido o principal plano desse período, o primeiro Plano Diretor da cidade, com esse nome, por uma equipe interdisciplinar sob a coordenação do arquiteto Hélio Modesto. O plano trouxe algumas inovações, como, por exemplo, a abordagem de diversos temas, “abrangendo aspectos de natureza física, social e econômica” (FARIAS FILHO, 2008, p. 6). Além disso, foi elaborado a partir

de levantamento aerofotogramétrico de 1959 e do Censo Demográfico do IBGE de 1960, o que possibilitou maior aproximação com a realidade urbana.

Apesar das inovações, o plano continuou muito centrado na temática da circulação, tratando diversas intervenções viárias, aberturas de vias etc. Entretanto, a abordagem viária estava articulada ao zoneamento. O plano propôs ainda a expansão e o desenvolvimento da área central e a descentralização de atividades e equipamentos através da concepção de centros de bairro.

Hélio Modesto abordou nesse plano diversos usos já consolidados na cidade nessa década: residencial, comercial, industrial, misto, especial e paisagístico e recreativo. Dessa forma, foi proposta a incorporação de algumas áreas de praias, como a Beira-Mar, por exemplo, a partir da proposta da construção da Avenida Beira-Mar, e a zona oeste, a partir da construção da Avenida Leste-Oeste, que só aconteceu em 1973.

Ainda em relação aos usos, o plano inovou quando tratou do uso residencial, pela primeira vez de forma concisa, referindo-se aos assentamentos precários, já representados nesse período pelas favelas.

O segundo padrão residencial específico é o definido como favelas. O Plano – primeiro a incorporar a questão da habitação popular a um contexto social mais amplo – identifica que as causas do surgimento deste tipo de moradia são vinculadas a problemas econômicos e sociais da região (seca, falta de trabalho/escassez de emprego, falta de assistência etc.) e escapam ao âmbito da ação da Prefeitura, gerando consequências nefastas ao ordenamento urbano (desorganização da expansão urbana; ausência de código de zoneamento e de regulamentação municipal adequadas). Neste sentido, as proposições para solucionar esta problemática extrapolam o aspecto físico propriamente dito e, consequentemente, extrapolam também o âmbito de ação municipal, a saber:

• Para o município, o Plano propõe: um planejamento habitacional baseado num zoneamento racional, com regulações realísticas e a criação, junto à universidade, de um serviço social de favelas, para atender os problemas já existentes.

• Para a região, o Plano propõe: a criação, junto com os municípios vizinhos, do Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC) de núcleos agrícolas com o intuito de garantir a permanência da população no interior do Estado, evitando a migração para a capital (BRASIL et al., 2012).

Apesar da identificação da problemática das favelas, já numerosas nesse período (Mapa 03), o plano não tem propostas de intervenção para essas áreas; dessa forma, o que foi feito em relação à política habitacional15 esteve descolado do planejamento urbano.

15 A década de 1960 coincidiu com o início da centralização da política habitacional no país, a partir da criação do SFH

(Sistema Financeiro de Habitação) e do BNH (Banco Nacional de Habitação), que, em Fortaleza, promoveu a construção de diversos conjuntos habitacionais.

O plano sugeriu ainda a criação de um centro cívico fora da área central, que desencadearia a saída de diversas atividades institucionais do centro da cidade, o que aconteceu nas décadas seguintes e provocou um processo de monofuncionalização daquela área, com consequente degradação física e esvaziamento em determinados horários e dias da semana.

Durante a década de 1970, muitos loteamentos foram feitos, mas pouca área foi incorporada, pois eram de menor porte (Mapa 01) e as famílias envolvidas eram praticamente as mesmas. Assim como nas décadas anteriores, é possível perceber que esses loteamentos deixaram hiatos entre eles, promovendo a especulação imobiliária e gerando expansão territorial da cidade, incorporando terras rurais (Mapa 03). Os espaços que ficaram vazios continuaram sendo ocupados pelos assentamentos precários, consolidando parte das favelas existentes até hoje. Aqueles que não conseguiam localizar- se na cidade centralmente continuavam a ocupar as periferias precárias.

MAPA 03. Loteamentos aprovados até a década de 1970, as favelas identificadas nessa década, e o grandes conjuntos