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4 PERCURSO DA PESQUISA: DESCRIÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO

4.1 MÉTODO FENOMENOLÓGICO NA PESQUISA DESCRITIVA

Esta pesquisa apresentou-se como sendo de natureza qualitativa ao definir o tema, a sua problemática, as questões orientadoras, os objetivos precisos e as proposições teóricas preliminares, pois neles estão expressas as características de uma pesquisa qualitativa que visa à investigação do “[...] conhecimento humano em sua dinâmica gerativa e em sua organização vital, em sua natureza histórica e existencial, e em seu modo de comportamento conjuntural e complexo.” (GALEFFI, 2009, p. 13). Esta escolha também se dá por ser esta uma abordagem que apresenta muitas vantagens quando se pretende conhecer os fenômenos da vida social concernente a cultura e a experiência vivida pelos sujeitos, o permitem a abertura ao mundo empírico assim como ele se apresenta.

Pode-se considerar, dentre outros aspectos, que segundo Pires (2012, p. 90), a pesquisa qualitativa é caracterizada pela sua flexibilidade de adaptação durante o desenvolvimento na construção do próprio objeto de investigação, por sua capacidade de englobar dados heterogêneos e de descrever em profundidade os vários aspectos que podem aparecer na pesquisa. Esta abordagem permite a valorização da investigação do campo empírico em que o

pesquisador tem a abertura para utilizar de maneira criativa e com o rigor necessário os variados métodos para melhor atingir os objetivos da pesquisa.

Os aspectos teórico-metodológicos da pesquisa qualitativa apresentam possibilidades diversas quanto aos seus variados enfoques com suporte teórico que sustenta a adesão à concepção de vida, de homem e de mundo do pesquisador. Isto implica em uma orientação segura nos âmbitos teóricos e práticos da pesquisa para a escolha de seus métodos e na aplicabilidade destes, bem como na análise, discussão e considerações das investidas do pesquisador em seu campo de estudo para a melhor compreensão dos dados apreendidos em meio às possíveis dificuldades de diferentes naturezas que podem surgir no decorrer da pesquisa até chegar ao alcance dos objetivos pretendidos.

Este estudo, compreendido a partir dos seus objetivos mais gerais como sendo de abordagem descritiva (GIL, 2010), buscou referências no método fenomenológico para a compreensão dos fenômenos7 observados em seu contexto, enfatizando as experiências vividas pelos sujeitos, na busca dos aspectos circunstanciais até a essência das relações sobre o que aparece, o que se manifesta ou se revela ao que se deseja investigar cientificamente.

Martins e Bicudo apud Garnica (1997) nos orienta que o pesquisador que utiliza o método fenomenológico deve perceber a si e a realidade em termos de possibilidade do que se pretende investigar, a partir do que aparece a ele ao dirigir-se a fenômenos e não aos fatos (observáveis e mensuráveis, tais como eventos, realidades objetivas, dados empíricos, etc.).

O método fenomenológico na pesquisa constitui-se em uma abordagem descritiva, partindo do princípio de que se pode deixar o fenômeno falar por si, para o alcance do sentido da experiência, ou seja, do que a experiência significa para as pessoas que passaram ou estão passando por ela, estando, portanto aptas a dar uma descrição compreensiva da experiência vivida através das descrições individuais, de onde são derivadas as “essências” ou estruturas das experiências. Edmund Husserl (1989) lançou as bases da fenomenologia enquanto método filosófico, sendo esta a “ciência dos fenômenos”. Devendo portanto, ser estudado e aplicado de maneira apegada às suas raízes filosóficas e científicas de modo a evitar que se caia num vazio conceitual de pesquisa empírica e garanta a sua validade interna e externa. (MOREIRA, 2002).

Garnica (1997) a partir da teoria husserliana, dá ênfase ao rigor na pesquisa fenomenológica, que implica em não recorrer a nenhum dado científico como fundamento

7 Um fenômeno no contexto fenomenológico significa sempre que o que é dado ou se apresenta dele próprio não se

compreende senão em sua relação com a consciência, porém todo o dado deve ser compreendido como fenômeno e não como existente real.

teórico abandonando as referências prévias a princípio e por abrir mão do modelo positivista de ciência. Assim, o pesquisador precisa ser rigoroso ao procurar fundamentar e justificar devidamente todas as afirmações que se fizer sobre o objeto, utilizando as exigências de uma boa pesquisa descritiva do fenômeno investigado.

Giorgi (2012) caracteriza a pesquisa fenomenológica como sendo o tipo de pesquisa que busca o entendimento sobre os fenômenos humanos através da descrição das experiências dos sujeitos que viveram ou vivem o fenômeno em estudo, dá ênfase aos fenômenos subjetivos que são baseados no que as pessoas vivenciam no seu dia a dia, sendo importante a experiência tal como se apresenta e não o que se lê ou se pensa sobre ela para a descoberta das essências dos fenômenos que se investiga.

A escolha pelo método fenomenológico nesta pesquisa se deu, dentre outros motivos, por existir uma necessidade de maior clareza na investigação do objeto aqui estudado; por ser a experiência vivida e compartilhada a melhor fonte dos dados para entender o fenômeno em estudo; e especialmente por entender que este método seja o mais indicado para responder a perguntas do tipo: o que significa ter tal experiência ou como ela se apresenta?Em vista destes aspectos, buscou-se compreender em Husserl (1989) as bases deste método, algumas das variantes que se deram a partir desta base e que pudessem também estar mais próximas do objeto desta pesquisa.

As circunstâncias empíricas que estão descritas mais adiante foram apreendidas através dos relatos dos sujeitos envolvidos com o objetivo de saber como alguém experienciou ou experiencia o fenômeno e atribuiu significados a elas. O pesquisador ao interrogar os sujeitos da pesquisa, caminha em direção “ao que se manifesta por si através do sujeito que experiencia a situação”. (MOREIRA, 2002, p. 111). Ao investigar o que significam as experiências para os sujeitos que as vivem, buscou-se nesta pesquisa, saber como foco de maior interesse, a relação entre as vivências com a doença renal crônica em crianças e adolescentes e o seu processo de escolarização, não apenas para saber se a criança estuda, ou por que não estuda, ou em quais condições ela estuda, mas também para saber qual o sentido que a escolarização passa a ter na vida destes sujeitos marcados por rupturas em decorrência da doença.

Desse modo, é importante destacar que estudar aqui se refere a todas as questões relacionadas aos modos formais de escolarização: Estar matriculada e frequentar a escola, ser e compreender-se como aluno da classe hospitalar nos momentos do tratamento de hemodiálise, ou outras formas em que se considera como sendo a continuidade da escolarização.

Giorgi (2012, p. 398) destaca que “é importante que a pesquisa fenomenológica seja tão precisa e detalhada quanto possível e que o número de generalidades ou de abstrações seja reduzido ao mínimo”. Especificamente nesta pesquisa que pretendeu tratar da educação escolar da criança e adolescentes com doença renal crônica em hemodiálise, houve um esforço para permanecer bastante consciente desta perspectiva, bem como do fenômeno que se desejava compreender, pois vários caminhos foram aparecendo, a partir do que buscou-se saber, sendo estes, outros temas que necessitam ser investigados cientificamente.

Vale aqui, trazer uma caracterização importante sobre a fenomenologia utilizando as ideias de Husserl como fundamento. A esse respeito diz Bueno (2003):

Ao tomarmos a fenomenologia como ciência ou o estudo daquilo que aparece, das coisas como elas se manifestam em sua pureza original, ela se torna um meio que revela o que, na maior parte dos casos, não se manifesta. A fenomenologia busca, então, a revelação dos fenômenos, que nos são dados através da experiência. O seu papel é o de distinguir e revelar o que há de essencial na percepção do fenômeno, o que requer a suspensão dos juízos sobre a realidade que nos cerca. É como se o indivíduo adotasse uma espécie de abandono provisório do mundo para melhor captá-lo. Husserl denominou esse processo de “redução fenomenológica” ou epoché. A preocupação básica da fenomenologia é a de contribuir para a superação do senso comum (atitude natural), para que os indivíduos possam assumir uma postura fundamentada e crítica (atitude fenomenológica). (BUENO, 2003, p. 19).

Para tanto, prosseguindo a pesquisa em busca do entendimento sobre o que se desejou investigar, foi imprescindível adquirir a compreensão sobre as categorias apresentadas por Husserl, que são a redução fenomenológica (ou epoché), a redução eidética e a intencionalidade. Estes foram fundamentais na condução desta pesquisa que buscou iniciar a investigação sem pressupostos na sua descrição e orientada pela intencionalidade do pesquisador para a superação do que Husserl chama de atitude natural (senso comum).

Estes e outros “procedimentos” que o pesquisador deve adotar são importantes em fenomenologia para buscar o rigor do método que implica em garantir a sua validade científica e a natureza deste tipo de estudo de campo com a máxima exatidão possível dos fenômenos encontrados, sem que se imponha ou se conclua algo sobre ele para compreender a sua realidade (MOREIRA, 2002).

No âmbito da Educação que visa a emancipação humana, as ciências precisam investir na busca das explicações da realidade social em uma perspectiva de superação da realidade que muitas vezes exclui os indivíduos de sua participação integral nos seus processos, o conhecimento produzido nesta área possui uma tentativa de análise das questões circunstanciais. Em síntese, as referências teóricas e metodológicas tratam do que são

produzidos pela comunidade científica e, ao mesmo tempo, possibilitam delinear particularidades que serão materializadas com a investigação de campo.

As informações e os recursos (desenhos, jogos e imagens) que foram utilizados na pesquisa de campo com as crianças/adolescentes e que estão aqui expostas retratam um cenário e uma problemática muito pouco conhecida e como já foi explicitado na revisão de literatura, de pouca abordagem especialmente na Educação. Espera-se, assim, que nesta pesquisa, tenha sido possível registrar, organizar e sistematizar os achados para compor este trabalho.

Nesse sentido é que na descrição foram traçados os caminhos possíveis e os instrumentos que foram utilizados no sentido de se adequarem para conseguir atender aos objetivos propostos nesta pesquisa na obtenção das respostas aqui buscadas.