• Nenhum resultado encontrado

Procede-se, agora, à apresentação dos métodos globalísticos. Esta designação reporta-se aos métodos de aprendizagem da leitura em que se parte da palavra ou da frase como um todo, (Gonçalves, 1967); (Ferreiro & Teberosky, 1986). A origem dos métodos globalísticos remonta ao ano de 1822 e ao seu autor Jacotot, professor da Universidade Belga de Lovaina. O seu método criado de forma intuitiva, iniciava a aprendizagem da leitura a partir de uma frase que os alunos aprendiam de memória, seguindo-se a necessária decomposição até chegar à noção de palavras, sílabas e letras. Apresentando-se em nítida oposição aos métodos sintéticos, o Método Global é descrito da seguinte forma:”Nos métodos sintéticos, ao princípio é a letra, o

espírito só vem depois; nos métodos globais ao princípio é o sentido, a letra só vem no fim.”(Gonçalves, 1967:149).

Decroly viria a utilizar este método na escola de Ermitage, fundada em 1907, sem, no entanto, fazer a decomposição da palavra até à sílaba e à letra. O Método Global também se pode caraterizar por ideovisual, pois alicerça-se na memória visual, aperfeiçoado com a compreensão das frases escolhidas que, normalmente, evocavam cenas vividas no quotidiano e da compreensão das crianças. O método foi muito divulgado e, em seu torno, organizaram-se grandes discussões e entre os próprios partidários estabeleceram-se divergências. A leitura deveria fazer-se começando pela frase, sem se proceder forçosamente à análise dos constituintes, sílaba e letra. A tarefa de analisar e sintetisar far-se-ia de forma intuitiva pela criança.

a) a leitura deveria levar necessariamente de forma analítica à análise da palavra e sílaba, mas nunca até à letra, pois a sílaba é considerada uma unidade indivisível. b) a leitura deveria iniciar-se na palavra mas ser efetuado um processo de análise

O autor aponta ainda possíveis justificações para o facto do Método Global puro não ter muito sucesso. O globalismo puro, tal como descrito em a), parte da frase e não faz o processo de decomposição até à letra e sílaba, sendo por isso apontado como natural, mas moroso, pois deixa por conta da criança a tarefa intuitiva de analisar e sintetizar, chegando à leitura fluente por volta dos dez anos de idade. O método, por ser essencialmente visual, é próprio para as crianças hipervisuais, em especial as surdas, mas desadaptado às crianças normais. A claudicação do Método global puro será, posteriormente, aperfeiçoada pelo Método global analítico-sintético, ou misto, que incorpora a fonética na sua constituição, pois “sendo a nossa

língua fonética todos os métodos têm de o ser também” (ibidem, p. 153).

O autor considera que apesar do Método Global puro se caraterizar pela morosidade na aquisição da leitura tem, no entanto, consideráveis vantagens em basear-se na leitura intelectual, considerando-se esta a leitura de compreensão que é a sua finalidade. Dispondo argumentos a favor dos métodos globais, considera que estes se têm imposto porque se firmam em fundas bases psicopedagógicas. Dirigindo-se à crítica de que os métodos globais, a par de uma leitura visual, implicariam, também, uma escrita puramente visual não havendo memória que pudesse sustentar essa acção, o autor discorda, pois mesmo aprendendo a ler pelo Método global puro, as crianças acabariam por reconhecer os elementos fonéticos das palavras. Esse reconhecimento, mesmo que intuitivo, fornece, segundo o autor, as bases para futuras combinações de palavras.

A memória passa a ser auxiliada pela intuição, isto é pela intervenção dos sentidos, e o interesse dos alunos é vivo e apaixonante, porque as palavras, cujo desenho fixam, não são abstracções como as letras ou as sílabas, antes tomam a sua verdadeira proporção de ideias expressas que evocam objectos, personagens, realidades do conhecimento directo das próprias crianças. Elas sentirão o prazer de ler, porque desde a primeira lição (...) encontraram a mensagem do pensamento (Pestana (s.d.) citado em Gonçalves, 1967:153)

3.2. Método global de palavras

Os métodos considerados globalísticos podem também partir da análise de palavras como um todo. Inicialmente as palavras são aprendidas na sua globalidade e, só mais tarde, são analisados os seus componentes. Como exemplo temos o Método das vinte e oito palavras: as lições decorriam em três fases: a palavra, a sílaba e a letra. Na primeira fase, a da palavra, esta deveria ser lida globalmente até atingir uma série de palavras conhecidas. Na segunda fase, a

da sílaba, a criança já deve possuir um conhecimento intuitivo dos elementos comuns e distintivos entre as palavras, de modo a poder proceder à sua análise. Nesta fase de análise a criança está a iniciar o processo analítico-sintético.A fase da letra é a última fase do processo analítico-sintético e consuma-se na evidência construída de que as letras iguais correspondem aos mesmos sons fixando, assim, a estrutura fonética imprescindível para a formação de novas palavras.

3.3. Método global de frases

Também existente na versão de método global de contos, esta metodologia assenta no mesmo príncipio, o de que a apreensão do estímulo visual se faz de forma ideográfica sem a análise das partes que o compõem. Assemelha-se ao método global de palavras, sendo o único traço distintivo a unidade de pensamento, que neste caso é a frase. O método consubstancia-se com a ideia de que só as frases exprimem uma comunicação completa. Gonçalves (1967) apresenta numa sinopse as vantagens da utilização deste método: motiva para a leitura uma vez que se baseia na compreensão, desenvolve competências específicas necessárias à leitura como as pausas de fixação, a rapidez de compreensão e de articulação e está mais adequado à caraterística sincrética da criança.

O método compreende as seguintes fases:

a) A frase: nesta fase, iminentemente global, faz-se a leitura, fixação e reconhecimento da frase.

b) A palavra: Procede-se ao reconhecimento da palavra com jogos de composição e decomposição de frases com as mesmas palavras e com outras conhecidas.

c) A sílaba: a noção da sílaba adquire-se com jogos de decomposição da palavra.

d) A letra, a última fase deste processo de análise, adquire-se através de operações de decomposição e recomposição de sílabas e formação de outras (ibidem,p.169)

Finalizando as considerações sobre o método global de aprendizagem da leitura e da escrita, quer se trate do método global de palavras, frases ou contos, todos se encontram acoplados ao conceito de sincretismo da criança.

Os métodos globais permitem, além dos resultados práticos na aprendizagem da leitura, os beneficios de um trabalho executado com alegria, o gosto pelo esforço, o prazer da descoberta pessoal, ao mesmo tempo que

desenvolvem os hábitos de observação, de atenção e de reflexão, sempre prontos a manifestarem-se quer na escola quer na vida (ibidem, p. 188)