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3. Respondentes

4.5. Observação participante

A observação participante é uma das técnicas de recolha de dados mais utilizadas na investigação qualitativa e também neste estudo de caso. Na conceção de Yin (1994) a observação participante é um tipo de observação durante a qual o observador pode assumir uma variedade de papéis e, até mesmo, participar das situações que observa, sendo por isso uma forma especial de recolha de dados em que o observador é mais do que um sujeito passivo. Os papéis podem variar de intensidade de acordo com a imersão do observador. Podem variar entre encontros casuais na comunidade, ao papel de alguém que toma decisões. Esta é de facto a caraterística distintiva da observação participante, segundo o autor, pois permite captar a realidade do ponto de vista do interior do estudo de caso de melhor forma do que alguém do exterior. A segunda caraterística peculiar consiste na oportunidade que o investigador tem de manipular alguns acontecimentos para testar a reação dos participantes. Esta oportunidade só é possível através da observação participante e não da observação meramente passiva, como na consulta de documentos e entrevistas. Acrescenta que o nível de experimentação não é equivalente ao dos estudos experimentais, mas constituem raras oportunidades de recolha de dados (Yin, 1994).

Este tipo de observação proporciona invulgares oportunidades de recolha de dados nos estudos de caso, mas está fortemente dependente da habilidade do pesquisador em ganhar acesso ao terreno e obter a confiança dos observados. Para clarificar o assunto recordo um estudo realizado por Ferreira (2005) no qual se descreve a necessidade de utilizar a observação participante com uma criança com autismo profundo. Sem a presença de comunicação ou de contacto visual por parte da criança, o observador não tem outra opção senão interpretar o seu comportamento através das respostas musculares. A rigidez ou descontração dos músculos eram as formas de comunicação para indicar prazer/desprazer e não podiam ser detetadas sem o contacto direto com a criança. Nessa situação, explica a autora, os benefícios do envolvimento do observador com a criança são superiores aos custos que possam advir dessa sobreposição de papéis.

A observação participante, única forma de recolha de dados nesta situação, reafirma o seguinte princípio, “Quanto maior for o distanciamento do investigador, menor será o seu

acesso à área secreta do objecto a observar” (Hermano e Ferreira, 1998:112). Para a definir

vou utilizar o conhecimento de Taylor e Bogdan (1987) segundo os quais a expressão é utilizada para designar um tipo de investigação que permite a interação social entre o investigador e os informantes no meio natural, durante a qual se recolhem dados de modo sistemático e não intrusivo. Na definição de Cohen e Manion (1990) a observação participante é uma técnica eminentemente educativa por compor-se de pessoas, estar cheia de significado e ser utilizada diariamente pelos professores. Segundo estes, os estudos que utilizam a observação participante têm melhores resultados comparadamente com os arranjos experimentais, se utilizados em situações em que os dados assentam em comportamentos não verbais. Um observador participante é capaz de distinguir se um comportamento é típico pela frequência com que ocorre e tomar notas sobre as suas caraterísticas; desenvolver uma relação de proximidade com os observados em ambientes mais naturais que os que se desenvolvem em laboratório ou através de amostras; as observações têm mais validade que as experimentais em que as perguntas estruturadas se polarizam em volta de um juízo negativo ou positivo.

A observação participante relaciona-se com o tipo de envolvimento do pesquisador na vida da escola. Este, por sua vez, associa-se à negociação de acesso ao terreno. A situação e os objetivos da observação definem o tipo de participação. Lapassade (1998) distinguiu diferentes graus de observação participante, consoante o papel que o observador pretende desenvolver na instituição e que podem estar relacionados com a negociação de acesso ao terreno. O tipo de participação utilizado foi ativo pois a observadora desempenhou um papel dentro da instituição, no caso de professora de ensino especial.

Les mérites de cette stratégie qui pérmet une entrée facile dans l’école en réduisant les résistances des enseignants. Elle diminue l’ampleur de la perturbation que le chercheur introduit dans la situation et lui permet d’observer les normes, les valeurs, les conflits: ils ne peuvent pas demeurrer cachés pendant une période prolongée. (Lapassade, 1998:54).

Algumas situações exigiam uma participação ativa, como no contacto com os alunos e professores, noutras em que o objetivo era mais registar do que participar, o nível de participação reduziu-se e a atitude do pesquisador passou a ser a de espetador. São exemplo dessa situação as reuniões de Conselho Escolar no final do ano letivo. Em qualquer das

situações só se realiza mediante consentimento do professor e da direção das instituições. Não se efetuaram registos vídeo ou áudio e as identidades foram omissas conforme o compromisso estabelecido com os informantes e com o princípio ético.

O tratamento dos dados recolhidos através da observação participante faz-se por um processo de inferência. A compreensão de um comportamento não pode ser feita apenas pela observação direta do mesmo, mas também por um processo de inferência. Se quisermos compreender o que os sujeitos fazem e porque o fazem temos de entrar na cabeça das pessoas. Por todo o mundo o processo de aprendizagem de uma cultura consiste na observação do que as pessoas fazem, os comportamentos culturais, do que as pessoas dizem, o discurso verbal, do que as pessoas fazem e usam, os artefactos culturais. Esta última fase do tratamento das observações e a inferência que o aprendiz cultural faz instintivamente é também empregue pelo presente estudo como forma de ir mais além do comportamento observado, de forma a compreender o que as pessoas sabem e, por que razão, fazem o que fazem. Se as crianças ou aprendizes culturais o fazem de forma instintiva, o investigador fá-lo através de evidências e premissas, ou seja, identificando o óbvio e o que se assume do comportamento. Por vezes os informantes são tão claros nas suas afirmações que a inferência é um simples exercício de repetição. Inicialmente cada inferência não tem valor só por si, constitui uma hipótese que o investigador vai confirmar através de outros comportamentos e, porventura, através de outras fontes de recolha de dados. Nenhuma das fontes isoladas, comportamento, discurso e artefactos, contêm em si a totalidade do valor cultural, mas quando combinadas podem levar a uma boa descrição da cultura (Spradley, 1980).